sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A Cabana - A Perda da Arte de Discernimento Evangélico


Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor, professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher

O mundo editorial vê poucos livros atingirem o status de "sucesso". No entanto, o livro A Cabana, escrito por William Paul Yong, superou esse status. O livro, publicado originalmente pelo próprio autor e dois amigos, já vendeu mais de dez milhões de cópias e já foi traduzido para mais de trinta idiomas. É, agora, um dos livros mais vendidos de todos os tempos, e seus leitores estão entusiasmados.
De acordo com Young, o livro foi escrito originalmente para seus próprios filhos. Em essência, ele pode ser descrito como uma teodicéia em forma de narrativa – uma tentativa de responder à questão do mal e do caráter de Deus por meio de uma história. Nessa história, o personagem principal está entristecido por causa do rapto e do assassinato brutal de sua filha de sete anos, quando recebe aquilo que se torna uma intimação de Deus para encontrá-lo na mesma cabana em que a menina foi morta.

Na cabana, "Mack" se encontra com a Trindade divina, onde Deus, o Pai, é representado como "Papai", uma mulher afro-americana, e Jesus, por um carpinteiro judeu, e "Sarayu", uma mulher asiática, é identificada como o Espírito Santo. O livro é, principalmente, uma série de diálogos entre Mack, Papai, Jesus e Sarayu. As conversas revelam que Deus é bem diferente do Deus da Bíblia. "Papai" é absolutamente alguém que não faz julgamentos e parece determinado a afirmar que toda a humanidade já está redimida.

A teologia de A Cabana não é incidental à história. De fato, em muitos pontos a narrativa serve, principalmente, como uma estrutura para os diálogos. E estes revelam uma teologia que, no melhor, é não-convencional e, sem dúvida, herética em certos aspectos.
Embora o artifício literário de uma "trindade" não-convencional de pessoas divinas seja, em si mesmo, antibíblico e perigoso, as explicações teológicas são piores. "Papai" conta a Mack sobre o tempo em que as três pessoas da Trindade manifestaram-se da seguinte forma: "nós falamos com a humanidade através da existência humana como Filho de Deus". Em nenhuma passagem da Bíblia, o Pai ou o Espírito Santos é descrito como assumindo a forma humana. A cristologia do livro é confusa. "Papai" diz a Mack que, embora Jesus seja plenamente Deus, "ele nunca usou a sua natureza como Deus para fazer qualquer coisa". Eles apenas viveu do seu relacionamento comigo, da mesma maneira como eu desejo me relacionar com qualquer ser humano". Quando Jesus curou o cego, "Ele fez isso como um ser humano dependente que confiava em minha vida e poder para agir nele e por meio dele. Jesus, como ser humano, não tinha qualquer poder em si mesmo para curar alguém".

Embora haja muita confusão teológica a ser esclarecida no livro, basta dizer que a igreja cristã tem lutado por séculos para chegar a um entendimento fiel da Trindade, a fim de evitar esse tipo de confusão – reconhecendo que a fé cristã está, ela mesma, em perigo.
Jesus diz a Mack que ele é "o melhor caminho para qualquer ser humano se relacionar com Papai ou com Sarayu". Não é o único caminho, mas o melhorcaminho.
Em outro capítulo, "Papai" corrige a teologia de Mack afirmando: "Eu não preciso punir as pessoas pelos seus pecados. O pecado é a sua própria punição, que devora você a partir do interior. Não tenho o propósito de punir o pecado; tenho alegria em curá-lo". Sem dúvida, a alegria de Deus está na expiação realizada pelo Filho. No entanto, a Bíblia revela consistentemente que Deus é o Juiz santo e reto, que punirá pecadores. A idéia de que o pecado é a "sua própria punição" se encaixa no conceito do karma, e não no evangelho cristão.

O relacionamento do Pai com o Filho, revelado em textos como João 17, é rejeitado em favor de uma absoluta igualdade de autoridade entre as pessoas da Trindade. "Papai" explica que "não temos qualquer conceito de autoridade final entre nós, somente unidade". Em um dos mais bizarros parágrafos do livro, Jesus diz a Mack: "Papai é tão submisso a mim como o sou a ele, ou Sarayu a mim, ou Papai a ela. Submissão não diz respeito à autoridade e à obediência; é um relacionamento de amor e respeito. De fato, somos submissos a você da mesma maneira".
Essa hipotética submissão da Trindade a um ser humano – ou a todos os seres humanos – é uma inovação teológica do tipo mais extremo e perigoso. A essência da idolatria é a auto-adoração, e essa noção da Trindade submissa (em algum sentido) à humanidade é indiscutivelmente idólatra.
O aspecto mais controverso da mensagem de A Cabana gira em torno das questões do universalismo, da redenção universal e da reconciliação final. Jesus diz a Mack: "Aqueles que me amam procedem de todo sistema que existe. São budistas, mórmons, batistas, islamitas, democratas, republicanos e muitos que não votam ou não fazem parte de qualquer igreja ou de instituições religiosas".

Jesus acrescenta: "Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero unir-me a eles em sua transformação em filhos e filhas de meu Papai, em meus irmãos e irmãs, meus amados".

Em seguida, Mack faz a pergunta óbvia: Todos os caminhos levam a Cristo? Jesus responde: "Muitos dos caminhos não levam a lugar algum. O que isso significa é que eu irei a qualquer caminho para encontrar vocês".
Devido ao contexto, é impossível extrair conclusões essencialmente universalistas ou inclusivistas quanto ao significado de Yong. "Papai" repreende Mack dizendo que está agora reconciliado com todo o mundo. Mack replica: "Todo o mundo? Você quer dizer aqueles que crêem em você, não é?" "Papai responde: "Todo o mundo, Mack".
No todo, isso significa algo bem próximo da doutrina da reconciliação proposta por Karl Barth. E, embora Wayne Jacobson, o colaborador de Young, tenha lamentado haver pessoas que acusam o livro de ensinar a reconciliação final, ele reconhece que as primeiras edições do manuscrito foram influenciadas indevidamente pela "parcialidade, na época," de Young para com a reconciliação final – a crença de que a cruz e a ressurreição de Cristo realizaram a reconciliação unilateral de todos os pecadores (e de toda a criação) com Deus.

James B. DeYoung, do Western Theological Seminary, um erudito em Novo Testamento que conheceu Young por vários anos, documenta a aceitação de Young quanto a uma forma de "universalismo cristão". A Cabana, ele conclui, "descansa sobre o fundamento da reconciliação universal".
Apesar de que Wayne Jacobson e outros se queixam daqueles que identificam heresia em A Cabana, o fato é que a igreja cristã tem identificado, explicitamente, esses ensinos como heresia. A pergunta óbvia é esta: por que tantos cristãos evangélicos parecem ser atraídos não somente à história, mas também à teologia apresentada na narrativa – uma teologia que, em vários pontos, está em conflito com as convicções evangélicas?

Os observadores evangélicos não estão sozinhos em fazer essa pergunta. Escrevendo em The Chronicle of High Education (A Crônica da Educação Superior), o professor Timothy Beal, da Case Western University, argumentou que a popularidade de A Cabana sugere que os evangélicos devem estar mudando a sua teologia. Ele cita os "modelos metafóricos não-bíblicos de Deus" no livro, bem como seu modelo "não-hierárquico" da Tridade e, mais notavelmente, "sua teologia de salvação universal".
Beal afirma que nada dessa teologia faz parte das "principais correntes teológicas evangélicas" e explica: "De fato, essas três coisas estão arraigadas no discurso teológico acadêmico radical e liberal dos anos 1970 e 1980 – que influenciou profundamente os feministas contemporâneos e a teologia da libertação, mas que, até agora, teve muito pouco impacto nas imaginações teológicas de não-acadêmicos, especialmente dentro das principais correntes religiosas".

Em seguida, ele pergunta: "O que essas idéias teológicas progressistas estão fazendo no fenômeno da ficção evangélica?" Ele responde: "Desconhecidas para muitos de nós, elas têm estado presente em muitos segmentos liberais do pensamento evangélico durante décadas". Agora, ele diz, A Cabanaintroduziu e popularizou esses conceitos liberais até entre as principais denominações evangélicas.
Timothy Beal não pode ser rejeitado como um conservador e "caçador de heresias". Ele está admirado com o fato de que essas "idéias teológicas progressistas" estão "se introduzindo aos poucos na cultura popular por meio de A Cabana".

De modo semelhante, escrevendo em Books & Culture (Livros e Cultura), Katharine Jeffrey conclui que A Cabana "oferece uma teodicéia pós-moderna e pós-bíblica". Embora sua principal preocupação seja o lugar do livro "num panorama literário cristão", ela não pôde evitar o lidar com a sua mensagem teológica.

Ao avaliar o livro, deve-se ter em mente que A Cabana é uma obra de ficção. Contudo, é também um argumento teológico, e isso não pode ser negado. Diversos romances notáveis e obras de literatura contêm teologia aberrante e heresia. A pergunta crucial é se as doutrinas aberrantes são características da história ou são a mensagem da obra. Em A Cabana, o fato inquietante é que muitos leitores são atraídos à mensagem teológica do livro e não percebem como ela conflita com a Bíblia em muitos assuntos cruciais.
Tudo isso revela um fracasso desastroso do discernimento evangélico. Dificilmente não concluímos que o discernimento teológico é agora uma arte perdida entre os evangélicos – e esse erro pode levar tão-somente à catástrofe teológica.

A resposta não é banir A Cabana ou arrancá-lo das mãos dos leitores. Não precisamos temer livros – temos de estar prontos para responder-lhes. Necessitamos desesperadamente de uma redescoberta teológica que só pode vir de praticarmos o discernimento bíblico. Isso exigirá que identifiquemos os perigos doutrinários de A Cabana. Mas a nossa principal tarefa consiste em familiarizar novamente os evangélicos com os ensinos da Bíblia sobre esses assuntos e fomentar um rearmamento doutrinário de cristãos evangélicos.

A Cabana é um alerta para o cristianismo evangélico. Uma avaliação como a que Timothy Beal ofereceu é reveladora. A popularidade desse livro entre os evangélicos só pode ser explicada pela falta de conhecimento teológico básico entre nós – um fracasso em entender o evangelho de Cristo. A tragédia de que os evangélicos perderam a arte de discernimento bíblico se origina na desastrosa perda do conhecimento da Bíblia. O discernimento não pode sobreviver sem doutrina.u

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Traduzido por: Wellington Ferreira

Copyright:

© R. Albert Mohler Jr.

Traduzido do original em inglês: The Shack — The Missing Art of Evangelical Discernment.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Não era para ser assim!

O mundo em que vivemos por mais natural que possa parecer, não é o mundo que “deveria” ser. Não quero dizer com isto que algum dos planos de Deus foi anulado ou mudado, mas que quando o Deus criador afirmou que tudo o que fizera era bom, não estava se referindo ao mundo que vivemos atualmente. Este não é o mundo elaborado por Deus, na verdade, é um mundo muito diferente daquilo que nós mesmos poderíamos chamar de bom, quanto mais Deus. Há quem diga que já vivemos no próprio inferno, obviamente se tais pessoas lessem um pouco mais da Bíblia descobririam que estamos num grande paraíso comparado com o que está reservado para satanás e seus anjos, por outro lado, também estamos muito distante daquilo que um dia foi chamado de Jardim dos Prazeres. Mas o que aconteceu!? O que tornou o Jardim dos prazeres no Inferno dos ignorantes Bíblicos? Quando foi que as coisas começaram a piorar tanto? E principalmente, quem é o culpado te toda esta confusão (para que eu possa dar um bom corretivo nele)?

A história começa com a trindade santa criando todas as coisas pelo poder do verbo. Tudo até então era sem forma e vazio e Deus foi agindo e preenchendo todas as coisas e trazendo forma, cor e melodia a tudo que surgia ex nihilo. A esta maravilhosa criação Deus deu o adjetivo tov, que significa bom, mas é claro que este bom, não é tão simples como pensamos em português. Tov é o estado das coisas na sua forma mais perfeita, na forma que em foram criadas, na forma como Deus planejou. Os profetas também usaram um substantivo para designar este estado de perfeição, uma palavra de certa forma comum em nossos dias, e que por conta disto perdeu um pouco do seu brilho, mas que em tempos proféticos era usada para designar o estado desejado de bonança e paz. Refiro-me a palavra Shalom, que normalmente se traduz como paz, mas que tem significado muito mais imponente e desafiador. Podemos encontrar na Bíblia Hebraica pelo menos 267 vezes esta palavra sendo usada. Um texto muito conhecido e que nos parece exprimir bem a ideia de Shalom para Israel é Is 9:6-7:

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.

A paz sem fim estabelecida mediante o juízo e a justiça. “A essa teia que ajunta Deus, homens e toda a criação em justiça e gozo, é que os profetas hebreus chamam de Shalom, (...) um rico estado de coisas no qual necessidade naturais são satisfeitas e dons naturais frutiferamente empregados, um estado de coisas que inspira agradável surpresa à medida que seu Criador e Salvador abre as portas e recebe a criatura em que se deleita. Shalom, em outras palavras, é como as coisas deviam ser.”[1] Mas a história continua e o Shalom foi incomodado pela criatura mais extraordinária e perfeita da criação: O homem. Este ser criado para adorar e satisfazer-se em Deus, para quem foi dado o Jardim do Éden, para quem foi dada toda a criação afim de que cuidasse e aproveitasse dela, este ser desprezou completamente a Deus, perturbou o Shalom e fez com que as coisas que deveriam ser agora não fossem mais, em outras palavras, entrou o pecado no mundo. Nesta definição Pecado é tudo aquilo que se opõe ao Shalom de Deus, é tudo o que afronta e ataca a justiça, paz e gozo do Criador. E por fim ataca todo o resto da criação moldando cada centímetro da criação para um fim que não fora criado. Para fazer um exercício mental, permita-me refletir sobre como as coisas deveriam ser num estado Shalômico: “a constituição e as relações internas de um grande número de entidades – Santa Trindade, o mundo físico em sua plenitude, a raça humana, comunidades dentro dessa raça (como o antigo povo de Israel, a igreja do Novo Testamento, a Associação Brasileira de Músicos), famílias, casais casados, grupos de amigos, e seres humanos como indivíduos. Num estado Shalômico cada entidade teria sua própria integridade ou totalidade estrutural. O clube de veículos Off Road, por exemplo, deveria relacionar-se com os córregos nas florestas colocando-os fora de seus limites a fim de preservar sua saúde ecológica.”[2] “Quem sabe no mundo como deveria ser” não precisaríamos falar “minha igreja” ou mesmo usar a palavra igreja no plural, pois todos faríamos parte de uma única e mesma Igreja. Neste mundo bucólico para os mais árcades, e com prédios “arranha-céu” para os pós-modernos, todo o prazer e alegria seriam estabelecidos e permitidos, a presença viva de Deus seria a garantia da satisfação, e o homem jamais se encontraria numa busca incansável por respostas, pois o Ser que não se move a todos dá com alegria sabedoria. Olhando desta maneira percebemos que realmente perdemos muito com a tão falada queda do homem, e a partir do que foi perdido podemos começar a imaginar o que é PECADO. Para entendermos o que aconteceu precisamos voltar ao agora sonhado jardim do éden e descobrir com nossos próprios olhos o que aconteceu no coração do homem para largar tudo o que Deus havia pactuado com ele.

Gênesis 2:25 - 3:7 Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam. Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu. Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si.

“A Queda envolveu mudanças radicais nas quatro áreas que definem qualquer cosmovisão: conhecimento (epistemologia), existência (ontologia), ação (ética), e alvo do universo (teleologia). Isso quer dizer, com a chegada da palavra da serpente, Adão e Eva enfrentaram dois universos diferentes e contraditórios.”[3]

Tabela de Cosmovisões.[4]

Cosmovisão divina

Cosmovisão satânica

Como Criador, Deus controla e interpreta o universo. A interpretação certa do mundo está na Sua Palavra (Pv. 1:7; 9:10; 15:33).

“É assim que Deus disse?” (v. 1) A clareza da revelação de Deus é questionada, implicando que Deus não é capaz de se revelar. A interpretação de Deus é somente uma possibilidade, ou hipótese, para ser verificada mediante um critério fora dEle. Os princípios para a interpretação do universo existem no mundo independentemente de Deus.

Como Criador, Deus, necessariamente, é capaz de dar uma revelação bastante CLARA para ser entendido, SUFICIENTE para cumprir os fins dEle e providenciar as necessidades do homem, e INERRANTE (Sl. 19, 119; Pv. 30:5; 2Tm. 3:16-7) O ser humano depende de “toda palavra que sai da boca de Deus.” (Mt. 4:4) para a interpretação correta do mundo.

“...nem nele tocareis...” (v. 3) Deus não falou que eles não poderiam tocar no fruto ou na árvore. Eva negou a CLAREZA da Palavra de Deus através da sua interpretação que mudou a Palavra. Ela negou a SUFICIÊNCIA da Palavra acrescentando um outro requerimento. A mudança da Palavra por Eva constituiu uma negação da INERRÂNCIA da Palavra de Deus. Sem uma interpretação inerrante de Deus, a interpretação do ser humano é o ponto de referência final para conhecer a verdade (autonomia epistemológica).

Deus conhece e determina o curso da história (Is. 41:21-29; Pv. 21:1). Ele fez o mundo de tal maneira que os pecadores morrem (Rm. 3:23). Nada acontece por acaso e o futuro do ser humano depende da vontade de Deus (Pv. 16:33; At 17:26; Rm. 9:20-21).

“Certamente não morrereis”. (v. 4) Uma negação total da Palavra de Deus segue naturalmente os pressupostos anteriores. Deus não controla o universo e Ele não “faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade.” (Ef. 1:11). O pecador não vai morrer, porque o futuro é possibilidade pura e indeterminada. O futuro é criado através do soberano livre-arbítrio do ser humano (autonomia metafísica ou ontológica). O princípio último que determina o futuro é o acaso.

Deus é amor (1Jo 4:8) e providencia tudo de que os seus filhos precisam (Mt. 6:25-34).

“Porque Deus sabe que...” (v. 5). O Deus da Bíblia não é um Deus bondoso mas Ele é um tirano que não quer compartilhar coisas boas com o homem.

O conhecimento de Deus vem através da Palavra de Deus e de um relacionamento pessoal com Ele. A mente nunca é desvalorizada, mas tem que ser renovada mediante a Palavra (Rm 12:1-2). É proibido se envolver com o ocultismo, seja ele do tipo que for (Dt. 18:9-14).

“vossos olhos se abrirão...” (v. 5). O conhecimento secreto e oculto é a chave para a vida plena. Portanto, o progresso espiritual é conseguido através do misticismo, da feitiçaria, de organizações ocultas e secretas, e até pela orientação de espíritos.

Só há um Deus e jamais haverá outro (Is. 43:10). Deus é imutável (Tg. 1:17). O fim do homem é conhecer, glorificar, e servir ao único Deus. A salvação é viver com Ele para sempre (1Tss. 4:17; Ap 22:1-5)

“...sereis como Deus...” (v. 5). O fim último da vida é se tornar um deus. Não há distinção entre o Criador e a criatura. O alvo da vida humana é promover ou descobrir sua própria divindade. Deus (o cosmos, etc.) também está evoluindo, crescendo e aprendendo mais e mais. Salvação quer dizer subir na escala da existência (autonomia teleológica).

Deus é o sumo bem e a Palavra de Deus é a fonte do conhecimento do bem e do mal. A lei de Deus é o padrão absoluto (Êx. 20:1-17).

“...conhecendo o bem e o mal.” (v. 5). O homem determina o bem e o mal. Não há uma lei moral absoluta que exista fora da mente do ser humano. Toda ética é relativa (autonomia ética).

Deus deu a Adão e Eva o imperativo cultural. Gn. 1:28-30 - O imperativo cultural é o mandamento de Deus dado ao homem para dominar e sujeitar a terra e os animais. A motivação de ação do homem era desenvolver o reino de Deus na terra como representante de Deus. Adão e Eva eram responsáveis em funcionar como intérpretes do mundo (profetas), em se relacionar pessoalmente com Deus (sacerdotes), e em reinar sobre o mundo (reis).

“...boa para se comer, e agradável aos olhos, e... desejável para dar entendimento ...” (v. 6). A motivação da ação (ética) tornou-se “...a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida.” (1João 2:16). Daí para frente o homem viveria para buscar seu próprio prazer.

O pecador se sente culpado porque ele é culpável objetivamente. O homem perdeu os papéis de profeta, sacerdote e rei. O pressuposto de autonomia significa que a sua interpretação do mundo seria errada, o seu relacionamento com Deus seria rompido, e a terra seria maldita e que ela resistiria ao domínio do homem. O homem não pode cobrir o pecado dele. Somente Deus pode fazer isso, através do derramamento do sangue de um substituto (Gn 3:21). Deus prometeu um Salvador que resgataria o homem (Gn 3:15)

“...e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” Com a autonomia, veio um sentido de ansiedade, rompimento com Deus e falta de paz. A salvação é conseguida por meio de obras humanas (Gn. 3:7). Iniciou-se a tendência de se fugir da responsabilidade de suas próprias ações, culpando-se os outros (Gn. 3:12-13).

Os olhos humanos foram tentados e a cobiça por independência de Deus, a “certeza” de impunidade mediante a desobediência, tornaram atrativas as mentiras de Satã. A infidelidade e o orgulho encheram o coração do homem, que desejou ser ele próprio o centro de todas as coisas. Acreditava que por si só poderia manter o Shalom de Deus, e assim, zombou do criador, preferindo a cosmovisão satânica. “Portanto, arrebatado pelas blasfêmias do Diabo, Adão aniquilou, quanto estava a seu alcance, toda a glória de Deus.”[5]



Ronaldo Barboza de Vasconcelos.



[1] PLANTINGA, Cornelius, Jr. Não era para ser assim: Um resumo da dinâmica e natureza do pecado. Trad: Wadislau Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. Pag. 23-24.

[2] Ibid.

[3] FERREIRA, Franklin, MYATT, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2002.

[4] Ibid.

[5] CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã ou Tratado da Religião Cristã. Vol. 2. Edição Clássica. Trad. Dr. Waldyr Carvalho Luz São Paulo: Cultura Cristã, 1985.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Quem Dá o Crescimento?


Recentemente estive participando de um estudo numa igreja e no decorrer do estudo, surgiu um debate sobre pastores que pastoreiam igrejas de estrutura física pequena e com poucos membros. Os irmãos que ali estavam começaram a expressar opiniões diversas sobre o assunto. Confesso que diante das opiniões fiquei assustado e preocupado.
Teve um grupo de irmãos disseram que o fato da igreja não crescer era porque o pastor não orava. Outros disseram que era conseqüência de um culto antiquado, “paradão”, necessitando assim de uma modernização.
Nesse momento veio a mente I Cor 3.6 “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento”. Paulo no capítulo 3 estava tratando de um problema relacionado às divisões na igreja de corintos, que foi conseqüência da supervalorização dos líderes que lá havia. Essas divisões estavam perturbando a ordem da igreja e seu andamento (I Cor 1.10).
Nesse mesmo capítulo 3, Paulo inicia fazendo uma ilustração de um agricultor que semeia e de outro que rega, mostrando que existem diferentes funções. Através desta ilustração, ele procurou mostrar que Deus o chamou para uma função e que a mesma possui limitações.
Na parte B do versículo 6, Paulo conclui afirmando “...mas Deus deu o crescimento.”os corintos precisavam ver a mão de Deus no trabalho realizado pelo apóstolo Paulo, porém era preciso estar ciente de que o crescimento da obra de Deus dependia do próprio Deus.
Verdadeiramente é raro encontrar alguém capaz de afirmar o que Paulo disse.
Estamos vivendo em tempos difíceis, no qual se usa de diversas formas pragmáticas para aumentar a membresia. Como disse Charles Spurgeon “...eles e estão entretendo as ovelhas em vez de alimentá-las”. Há pastores fazendo até curso de técnicas de crescimento de igreja.
É comum escutar expressões como “que igreja abençoada!”, essas palavras não refletem nada de imediato, mas geralmente quem diz isso correlaciona a benção de Deus ao tamanho do templo, ao número grande de membros, a um grupo de louvor bonito e outros aspectos físicos. Esse pensamento é anti-bíblico. O conselho que dou para todos os cristãos é que deposite a sua fé em Deus. O crescimento do templo e dos membros não dependerá dos nossos esforços, mas inteiramente de Deus. Amém.




Miguel Silva

Simbolo de Fé

Estes são simbolos da cristandade
A igreja a que o texto se refere é a 1 Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte

Símbolos da Fé

ETERNIDADE

Cremos que Deus existe de eternidade a eternidade, Ele é o único ser auto-existente e nós, suas criaturas, somos seres dependentes dEle.

ONIPRESENÇA

Cremos que Deus está presente em todas as partes, mas há uma distinção clara entre o Criador e toda a coisa criada. Não adoramos a criação, mas adoramos o Criador que sustenta toda a criação com sua presença, existindo, contudo, independente dela. Deus não depende da criação, a criação depende de Deus.

IMORTALIDADE

Cremos que somente Deus possui imortalidade. Ao nosso redor, tudo murcha, tudo seca e, por fim, morre. Tudo passa, até nós passamos. Mas Deus não murcha, não seca, não morre! Deus jamais passará. Cremos também que a todos aqueles que receberam a Cristo, Deus deu-lhes vida imperecível, resgatando-os de seu estado de pecado e morte.

REVELAÇÃO

Cremos que Deus ama dar-Se a conhecer, porque Ele é luz, Ele não vive nas trevas, na sombra, não! O próprio céu manifesta a Deus. "...o firmamento anuncia as obras de suas mãos". Em outras palavras, o Deus vivo e verdadeiro é comunicativo. Ele dá a conhecer os Seus planos e propósitos em Sua Palavra, as Escrituras Sagradas do Antigo e do Novo Testamentos.

TRINDADE

A forma última de existência é uma manifestação final de comunhão de amor. Tal como a Bíblia nos ensina, Deus subsiste em Trindade, numa comunhão de amor perfeito entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

NATIVIDADE

Este amor perfeito Deus foi manifesto aos homens, em carne, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, que nasceu da virgem Maria, concebido de forma sobrenatural pelo Espírito Santo, fazendo-se um de nós para levar sobre Si, na Cruz do Calvário, os nossos pecados, nossa culpa e pagar a nossa dívida diante de Deus o Seu Pai. Porque Deus amou o mundo de tal maneira, Ele deu Seu Filho Unigênito.

ONISCIÊNCIA

Cremos que o Deus que tudo sabe, conhece as nossas dores e misérias, sabe tudo de maneira completa, não como um mero espectador dos acontecimentos. O Deus que tudo vê, em Sua Providência, governa cada molécula e determina que uma pequena folha, ou um fio de cabelo de nossa cabeça, caia ou não. Esta convicção de que Deus tudo sabe é para os incrédulos aterrorizante porque o criminoso não está oculto aos olhos de Deus. Saber isto para o crente em Cristo, no entanto, é preciosamente confortador, porque apesar de Deus conhecer cada um dos nossos passos, saber de todos os nossos pensamentos, Ele, ainda assim, decidiu amar aqueles para quem enviou o Seu Filho para morrer pelos pecados deles.

DEUS TRIÚNO

O Deus único que adoramos não é três deuses. Adoramos a um Deus que é três em pessoa, mas que é uno em essência, um único ser. Este mistério da Triunidade de Deus é algo que escapa à nossa compreensão, contudo não é uma contradição lógica, e nem produto da invencionice humana. É assim que a Bíblia nos ensina.

REDENÇÃO

O Deus vivo e verdadeiro, eterno, imortal e triúno, enviou o Seu Filho Jesus Cristo, para prover grande Redenção, permanecendo justo e justificador. O fato é: como Deus poderia justificar aos injustos, pecadores, aqueles que infringiram a sua justa lei? Se Deus é justo teria Ele que punir os injustos. Se Ele justifica injustos não seria justo. Contudo, na cruz, Deus puniu o pecado reivindicando Sua justiça e ao mesmo justificando o pecador, perdoando sem ser conivente, pois é Jesus Cristo a nossa redenção. nEle está a justiça dos injustos, a tal ponto que aqueles que estão em Cristo são nova criação.

FÉ E ESPERANÇA

Duas das três virtudes capitais cristãs são a fé e a esperança representadas por uma âncora. Os benefícios maravilhosos do sacrifício de Cristo são apropriados pelo crente pela fé, pois as Escrituras nos ensinam que "justificados mediante a fé temos paz com Deus." Todos quantos receberam a Cristo foram feitos Filhos de Deus "a saber aos que crêem no Seu nome". Foram adotados na família de Deus e receberam a certeza da salvação, portanto "não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus". Nossa salvação é garantida pela promessa de Deus que não pode falhar. Fomos salvos na esperança de sermos salvos. Nossa esperança é uma âncora firme que está segura na Rocha dos Séculos, nosso Senhor Jesus Cristo.

QUATRO EVANGELHOS

As verdades que transformaram nosso coração foram a nós ensinadas nas páginas dos Evangelhos. Os quatro Evangelhos, que nos contam as boas novas da salvação em Jesus Cristo, foram escritos para que pudéssemos crer e crendo tivéssemos vida em Seu Nome. No centro das "boas novas" (Evangelhos) está a Cruz e em cada um particularmente. Evangelho sem Cruz é evangelho sem redenção. Mas, ainda que preguemos a Cristo e "este crucificado", sabemos que Ele venceu o Diabo, triunfando sobre ele na cruz e ressuscitando ao terceiro dia. Ele é o primeiro de entre os mortos e nós, por fim, o acompanharemos.

TESTEMUNHO

O testemunho que Cristo nos deixou está registrado em Sua Palavra. Não testemunhamos de nós mesmos mas somos testemunhas de Cristo. Tal como a palavra grega "IKTOS", colocada pelos algozes de Jesus no alto da cruz, são as iniciais da frase "Jesus Cristo Filho de Deus Salvador": formam elas a palavra "peixe", e o peixe tornou-se o símbolo do testemunho cristão. Testemunhamos que só Jesus Cristo é o Filho de Deus e este veio ao mundo para salvar todo aquele que nEle crê. Este é o nosso testemunho. Testemunhamos daquilo que temos ouvido, visto e experimentado do poder de Deus revelado nas Escrituras.

CRISTO ETERNO

O poder de Deus revelado é o Cristo Eterno. O Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Nele todas as promessas de Deus encontram cumprimento, nEle todas as bênçãos de Deus encontram um "Amém"! Ele não é somente o cumprimento do que Deus prometeu, como também a garantia do que Deus ainda está por fazer.

ESPÍRITO SANTO

Estas verdades e promessas foram "seladas" em nosso coração pelo Espírito Santo. Ele é para nós um "penhor", como uma garantia de que todas as promessas de Deus haverão de chegar à plena fruição. Ele é em nós um "batismo", dando-nos a convicção de que estamos nEle e Ele está em nós. Ele é para nós também uma "unção". Assim como Deus determinou que se ungissem os profetas, os sacerdotes e os reis do Antigo Testamento, fomos ungidos para sermos o "sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamarmos as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". Estas quatro bênçãos especiais recebemos no momento que Cristo passa a habitar em nossos corações. O Espírito Santo, representado por uma lâmpada, ilumina e faz brilhar, revelando o Senhor Jesus a nós e em nós. A obra do Espírito Santo, por excelência, é revelar a pessoa de Jesus Cristo. Assim, quem tem a Cristo fulgurando em sua vida, tem a "Luz do Mundo", quem tem a Cristo tem a "Vida", quem tem a Cristo tem o Espírito Santo.

RESSURREIÇÃO

Todo aquele que crê em Cristo, Deus lhe dá o poder de ser feito filho de Deus, contudo, aguardamos a manifestação completa daquilo que já somos e temos em Cristo. Esperamos a manifestação de Jesus Cristo quando Ele vier para nos buscar. Então nosso corpo mortal será revestido de imortalidade, aquilo que é corruptível será revestido de incorruptibilidade. Sabemos, conforme nos prometeu Jesus Cristo em Sua Palavra, que os mortos verão a luz da ressurreição. Os que tiveram a ventura de receber a dádiva do amor de Deus, Jesus Cristo, ouvirão de Sua própria boca: "Vinde, benditos de meu Pai, entrai para o reino que vos está proposto desde a fundação do mundo". Contudo, aqueles que O rejeitaram, que dEle não fizeram caso, ouvirão na ressurreição do último dia: "Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e seus anjos."

CONCLUSÃO

A mensagem dos símbolos apostos na parede frontal do templo de nossa Igreja é uma mensagem do soberano amor de Deus em Cristo o Seu Filho para a nossa salvação, e esta mensagem eterna que nos alcançou no tempo de nossa existência é também uma mensagem solene de advertência que responsabiliza a todos nós, a mim e a você. "Se hoje ouvirdes a sua voz não endureçais os vossos corações."


Anderson Queiroz

Entre Blocos e Retiros: O Papel da Igreja no Carnaval

Uma parábola sobre o papel da igreja durante o Carnaval

Em tempos de Carnaval este texto pode levantar vários debates, não sou completamente a favor, mas acredito que tem muita razão no que diz... enfim, um texto para refletir...

Epêneto era o presbítero responsável pela igreja em Roma, desde que Priscila e Áquila tiveram que deixar a cidade em busca de novos campos missionários. Epêneto foi um dos primeiros a se converterem através do trabalho realizado por Paulo nessa cidade.

Aquela igreja era muito ativa, sempre aberta a acolher as pessoas. Quando havia algum cataclismo, fome ou guerra, os cristãos se mobilizavam para socorrer as vítimas. Por causa de seu envolvimento com a dor humana, ganhou a simpatia de todos, inclusive de funcionários do palácio de César.

Num belo dia,
ouviu-se o clangor do clarim. Todos se reuniram para ouvir o que o mensageiro do império tinha para anunciar. Em duas semanas, o exército romano estaria chegando de uma campanha militar bem-sucedida. O próprio César o receberia com uma Parada Triunfal, que seria seguida de um feriado prolongado dedicado aos deuses Marte e Saturno, também conhecidos como Apolo e Baco, divindades da guerra e do vinho, respectivamente. Seria uma grande festa, regada a bebidas alcoólicas e todo tipo de luxúria. A população sairia às ruas para assistir ao desfile das tropas romanas, dando-lhes boas-vindas, e assistiriam à execução de milhares de prisioneiros. Ninguém trabalharia naqueles dias.

Epêneto ficou preocupado com a notícia. Qual deveria ser o papel da igreja durante essa festa pagã? Ainda inexperiente como líder, reuniu alguns dos mais antigos membros da igreja para discutir o que fazer.

Um deles, chamado Narciso, pediu a palavra e deu sua sugestão:
- Amados no Senhor, por que não aproveitamos o ensejo para promover um desfile paralelo, onde demonstraremos ao mundo a nossa força, revelando a todos nossa lealdade ao Rei dos reis, Jesus Cristo? Podemos até copiar algumas de suas canções, adaptando-as à nossa fé. Em vez de exibirmos prisioneiros, exibiremos testemunhos daqueles que foram salvos. Vamos montar nosso próprio bloco, quer dizer, nossa própria parada triunfal. Pode ser uma grande oportunidade evangelística.

Epêneto, depois de algum tempo pensativo, respondeu: Caro Narciso, a idéia parece muito boa. Porém, quem ouviria nossa voz durante os momentos de folia? Nosso modesto bloco se perderia no meio de toda aquela devassidão. Ademais, a maioria das pessoas estará embriagada, incapaz de entender nossa mensagem. Também não estamos preocupados em dar uma demonstração de força. Jesus disse que nosso papel no mundo seria semelhante à de uma pitada de fermento, que de maneira discreta, sem chamar a atenção para si, vai levedando aos poucos toda a massa. Por isso, acho que sua idéia não é pertinente. Quem sabe em gerações futuras, haja quem a aproveite?

Levantou-se
então Andrônico, que gozava de muito prestígio por ser parente de Paulo, e sugeriu:


- Amados, durante o Desfile Triunfal e as Saturnais, a situação espiritual da cidade ficará insuportável. Divindades pagãs serão invocadas, orgias serão promovidas em lugares públicos à luz do dia. Não convém que estejamos aqui durante essa festa da carne. A melhor coisa a fazer é nos retirarmos, buscarmos um refúgio fora da cidade, e aproveitamos esse tempo para nos congratularmos, sem nos expormos desnecessariamente às tentações da carne.

Todos acenaram com a cabeça, demonstrando terem gostado da idéia. Já que seria mesmo feriado, ninguém precisaria trabalhar. Um retiro parecia a melhor sugestão.

O velho presbítero ficou um tempo em silêncio, meditando. Todos estavam atônitos esperando sua palavra, quando mansamente respondeu:
- Irmãos, não nos esqueçamos de que somos o sal da terra e a luz do mundo. Se no momento de maior trevas nos retirarmos, o que será desta cidade? Por que a entregaríamos ao controle das hostes espirituais das trevas? Definitivamente, nosso lugar é aqui. Não Precisamos deexposição, como sugeriu nosso irmão Narciso, nem de fazer oposição à festa, retirando-nos da cidade, como sugeriu Andrônico. O que precisamos é estar à disposição para acolher aos necessitados, às vítimas da violência, aos desassistidos, aos marginalizados.
A propósito, não temos estado sempre disponíveis para atender as pessoas durante as tragédias que tem abatido o império? E o que seriam tais desfiles, senão tragédias morais e espirituais? Saiamos às ruas, mesmo sem participar da folia, e estendamo-los as mãos, em vez de apontar-lhes o dedo, oferecendo compaixão em vez de acusação, amor em vez de apatia. Que as casas que usamos para nos reunir estejam de portas abertas para receber quem quer que seja, e assim, revelaremos ao mundo Aquele a quem amamos e servimos. Afinal, o reino de Deus se manifesta sem alarde, sem confetes, sem barulho, mas perturbadoramente discreto.


Depois dessas sábias palavras, ninguém mais se atreveu a dar qualquer outra sugestão.

Deus Abencoe a todos!

Será que eles estão certos?

Na noite de sábado de carnaval, estava em minha casa com minha esposa assistindo o jornal, quando passou uma reprise do carnaval do Janeiro, minha esposa fez uma indagação: - Seria correto evangelizar durante o carnaval? Esta pergunta é freqüente nesta época. Há muitos líderes que são a favor desta prática, principalmente de igrejas neo-pentecostais, Outros, porém, se posicionam contra o evangelismo no carnaval. Alegam que ao evangelizar no carnaval irá expor seus membros a perigos diversos, enfraquecimento da fé e etc. como já é uma tradição das igrejas do Brasil, muitas preferem acampar. Qual é a posição da bíblia a respeito deste assunto?
A bíblia não estabelece dias e nem tempos específicos para evangelizar. Não existe um calendário apostólico no qual defina datas que podem ou não evangelizar. A escritura nos dá liberdade para escolhermos o dia, a hora e época para cumprirmos este mandamento.
Paulo foi um grande estrategista e sempre aproveitou as oportunidades que aparecia, durante seu ministério. Paulo se adaptou aos costumes judaicos a fim de ganhar os judeus para cristo. Ele mandou circuncidar Timóteo por causa dos judeus (At 16.3). Ele próprio fez o voto de Nazireu para expressar gratidão a Deus pelos livramentos (At 18.18).
Jesus durante seu ministério terreno também ousou das estratégias para evangelizar, não se limitando aos templos e sinagogas. Falou para multidões em diversos lugares, nos montes (Mt 5.1), dentro de casas de gentios(Mc2.1), em praias(Mc 4.1) e até no cemitério (Jo 11.38).
Jesus pregava para qualquer um que estivesse disposto a ouvir: homens, mulheres, judeus, gentios, ricos e pobres. A todos proclamava as boas novas.
Analisando este exemplo aprendemos que a bíblia nos dá total liberdade para evangelizar em qualquer data do ano, tanto no carnaval, quanto em qualquer outra festa ou manifestação cultural. Aqueles que se opõem contra o evangelizar nestes períodos, encontram-se em grade enrascada. No Brasil há festividades culturais em quase todos os dias do ano. Infelizmente essa oposição é anti-bíblica e preconceituosa. Devemos aprender com Jesus e ser simplesmente com Ele.





Miguel Silva