sexta-feira, 16 de abril de 2010


Sermão: Eudaimonía, a busca por uma felicidade sem Hedonismo

Lucas 6:17-23  E, descendo com eles, parou numa planura onde se encontravam muitos discípulos seus e grande multidão do povo, de toda a Judéia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sidom, que vieram para o ouvirem e serem curados de suas enfermidades; também os atormentados por espíritos imundos eram curados. E todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e curava todos. Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas.
O homem por ser uma criatura egoísta, sempre buscou diante de vários fatores a sua felicidade. Fazendo uma pequena análise na história encontramos uma busca incansável por prazeres, riquezas, honras, onde o homem procura encontrar a sua felicidade. Desta feita a concepção hedonista, a busca pelo prazer, é que prevalece na reflexão e práxis da humanidade. Aristóteles bem observou isto, e na suaÉtica a Nicómaco faz uma serie de asseverações sobre a busca pela felicidade, em grego Eudaimonía(eujdaimoniva  eu = Bom + daivmwn = Espírito). 
O filósofo entende que os prazeres por serem passageiros, e pelos animais também o buscarem, não conduzem a verdadeira felicidade; as riquezas, que por certo podem dar ao homem muitas alegrias, não podem garantir que seu corpo não padeça, ou que alguém de sua família morra, e assim, não podem trazer a felicidade; as honras fazem homem mais humilde orgulhoso e consciente de suas próprias boas obras, porém, por se tratar de uma resposta a ações de outros homens, não garantem a felicidade e na verdade, não servem também. Aristóteles diz que a verdadeira Eudaimonía se encontra onde os deuses também buscam felicidade, isto é, na contemplação, no contato com o sagrado, numa vida racional e moral. Nos evangelhos (Mateus e Lucas) encontramos o termo makários (maka,rioj) para designar aquele que alcançou o estado de felicidade. Jesus em seu sermão deseja mostrar quem é aquele que alcançou a felicidade, aquele que é bem aventurado.
O evangelho de Lucas foi provavelmente o terceiro dos sinópticos a ser escrito. O autor afirma que se utilizou das melhores fontes disponíveis na época para contar a história daquilo que havia ocorrido entre os discípulos. Primeiramente com a presença do Mestre Jesus, e depois no segundo volume, hoje chamado de Atos dos Apóstolos, os eventos que se seguiram depois da ascensão de Cristo. O evangelho com um vocabulário rico do grego evidenciando o alto padrão culto do autor é também o evangelho mais detalhista principalmente em questões geográficas ou históricas. A autoria lucana foi defendida por grande parte dos pais da igreja, tais como Irineu, Clemente, Tertuliano, Eusébio e Jerônimo. Mas as provas internas já seriam suficientes, onde observamos ser o “médico amado” o autor do evangelho. Escrito por volta de 62 d.C. em Roma, onde na companhia de Paulo pregava o Evangelho de Cristo, tinha por intenção explicar a Teófilo, que pertencia a alta sociedade romana, o que acontecera no início da igreja de Cristo. Apesar de fazer parte do grupo dos sinóptico muitas partes são exclusivas do Evangelho de Lucas, tais como os muitos hinos que preambulam o nascimento de Cristo. É também o único a registrar a infância de Cristo, provando o quão acurado fora a pesquisa que se propôs. Pode assim ser esboçado:
I. Prólogo 1.1-4
II. A narrativa da infância 1.5-2.52
III. Preparação para o ministério público 3.1-4.13
IV. O ministério Galileu 4.14-9.50
V. A narrativa de viagem (no caminho para Jerusalém) 9.51-19.28
VI. O ministério de Jerusalém 19.29-21.38
VII. A paixão e glorificação de Jesus 22.1-24.53

E é no ministério Galileu, que encontramos Jesus operando várias maravilhas, no capítulo seis Lucas destaca algumas delas, como a cura do homem da mão ressequida nos versículos do seis ao onze, como também faz a convocação dos 12 apóstolos, homens que em si nada haviam de especiais, mas que a partir daquele momento tornar-se-iam gigantes no mundo. No versículo dezessete Lucas afirma que Jesus descera do monte ou de alguma parte dele, e numa planura inicia o seu sermão, por outro lado o texto correspondente, em Mateus, afirma que Jesus subira no monte e então começara a falar. Tem se dado algumas soluções para esta aparente contradição. As duas mais famosas são:
a)      A planura era uma parte do monte onde Jesus se encontrava, e ali se deteve. Assim, os dois sermões são os mesmos.
b)      São sermões diferentes, Jesus havia falado a respeito destes temas várias vezes e em lugares diferentes, cada autor escolheu um dos lugares para falar.
A segunda opção parece ser mais viável, pelo fato de haver também discrepâncias no próprio conteúdo dos sermões, pois Mateus coloca vários temas que Lucas não evoca, enquanto que Lucas mesmo falando dos mesmos temas também omite alguns termos usados por Mateus. O que está registrado nos evangelhos não é o sermão em si, mas um sumário daquilo que Jesus abordara, pois não precisamos de muito tempo para ler todas as bem-aventuranças registradas no evangelho, era de se esperar que Jesus explicasse cada ponto. E assim, cada evangelista sumarizou aquilo que o Espírito Santo lhe inspirou a escrever. Estes sermões tão famosos mostram aquilo que Jesus enfatizou no seu ministério e ao contrário do que muitos pensam, a felicidade foi o grande ponto destacado, pois a vida cristã é uma vida feliz.
Gostaria assim, de falar a respeito da “Eudaimonía, a busca por uma felicidade sem Hedonismo”.
 O homem natural por mais próximo que chegue da verdade, não consegue contemplar a revelação se ela não lhe for mostrada. Apesar de Aristóteles ter acertado quando não busca a felicidade em coisas terrenas, mas nas divinas. Ele não sabe em que Deus achar a Felicidade. Paulo enquanto falava no Areópago aos Epicuristas, que eram hedonistas e Estóicos, que defendiam uma busca pela felicidade semelhante a Aristóteles, revela quem é o Deus verdadeiro que criou o kosmos, como gostavam de chamar os Estóicos. E é exatamente a revelação do Deus verdadeiro que diferencia a Eudaimonía cristã de qualquer outra. O termo Escriturístico, Makários, tem significado semelhante ao da Eudaimonía. Porém, como proposto por Cristo, Makários é uma benção, é um dom dado por Deus, e assim, só é possível alcançar o Eudemonismo através da benção de Deus. 
O que fica claro no sumário de Lucas a respeito do sermão de Cristo, é que a felicidade não está numa vida segura e tranquila externamente. A felicidade real está na alma. É a respeito do espírito que Jesus está tratando. E assim, são felizes os pobres, os famintos, os chorosos e os odiados, mas não por conta de si mesmos, porém, porque são convidados a olharem para as promessas de Cristo, a olharem para Deus e a sua Justiça. Diante do fato que o homem vive por volta de 100 anos, a eternidade com Deus é algo extremamente atraente e, portanto, os filhos de Deus são convocados a não olharem para os anos terrenos, mas para a atemporalidade do porvir. E baseado no evangelho de Lucas quatro pontos são sumarizados para a reflexão :
1.      Bem Aventurados os Pobres. O texto correspondente em Mateus nos informa que os pobres aqui citados, são os pobres de espírito, não necessariamente pobres materialmente, pois não precisamos afirmar que a pobreza material é uma benção. Apesar de que, como o evangelho de Lucas nos informa, é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Lc 18:25. Os pobres de espírito são aqueles que pelas situações da vida foram quebrantados e humilhados e reconhecem o seu estado e não tomam pra si glória alguma. Eles foram quebrados de todo o orgulho e soberba. Tomás de Aquino acreditava ser o orgulho o pior e pai de todos os pecados, porque é quando orgulhoso que homem pensa ser auto-suficiente, e assim, acha ser possível viver a parte de Deus, foi este pecado que caíram o diabo e os nossos primeiros pais, Adão e Eva. Mas, os pobres de espírito são aqueles que podem afirmar junto com o salmista: Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu! Sl 40:17. 
   Os felizes são aqueles que negam a si mesmos e tomam a sua cruz, são aqueles que reconhecem em Deus a sua riqueza, pois não tomam pra si nada do que tem, entendem que tudo é dado por Deus e que tudo é da Graça imerecida, fazendo-os assim, pobres de qualquer coisa. A estes está reservado o Reino de Deus. Jesus promete que o Seu Reino é dado àqueles que se humilham e põe sua vida em Deus. O termo Reino de Deus (basileía tou theou/) é um dos temas principais dos evangelhos, em Mateus encontramos o termo Reino dos Céus (basileía ton ouranon) o evangelista publicano provavelmente, como um bom judeu, preferira trocar o termo “Deus” para um outro similar. Mas o que seria então o Reino de Deus? Não há dúvidas de que o Reino é espiritual, pois fala de aspectos internos do homem. Jesus diz em João 3:3: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. O aspecto espiritual da interpretação das parábolas também evidencia isto, inclusive no fato de muitos não entenderem as parábolas de Cristo, já que este era um método de ensino para facilitar a compreensão, assim, havia um elemento distinto nas parábolas de Jesus, que é exatamente o aspecto espiritual. Desta feita o “Reino não é deste mundo”, por isto a felicidade também não o é. Todos aqueles que procuram a felicidade em seus bens ou em si mesmos são orgulhosos e presunçosos, os verdadeiros pobres de espírito buscam em Deus a sua felicidade e por isto encontram o Reino dos Céus e não o reino da terra.
2.      Bem Aventurados os que têm fome agora. Semelhantemente aos pobres de espírito precisamos consultar o relato correspondente em Mateus para entender a que fome Jesus está tratando. Em Mateus 5:6 está escrito: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Surge-nos, então, uma outra dúvida: a que justiça se refere Cristo? Alguns vão tentar argumentar que Jesus está tratando da “justiça social” e assim, prometendo um mundo mais justo para estes famintos. Alguns problemas são evocados com esta interpretação:
a)      Ela retira todo o aspecto espiritual do sermão, defendendo assim um mero aspecto material. E isto parece se opor exatamente com o tema principal do sermão, que é a felicidade acima das coisas materiais.
b)      Esta promessa não se cumpriu com os apóstolos, pois os mesmos viveram numa vida das maiores injustiças sociais, onde várias vezes foram acusados injustamente.
c)      Se todos os que têm fome e sede de justiça social serão fartos, qual a necessidade de olhar para Cristo no meio das aflições? E seriam os pobres uma classe especial que será salva por sua pobreza?
A Justiça comentada por Jesus é tão espiritual quanto a pobreza do versículo anterior. Aqueles que tendo negado o seu “eu” e se humilharam perante o Senhor, clamam por Sua Justiça, por saberem que o Justo Juiz é quem os fará saciar-se. Clamam por misericórdia divina porque entendem que o seu destino é a morte eterna, porque compreendem que a sua alma só será saciada ao beber da água para a vida eterna. Interessante notar o uso do advérbio de tempo nun que significa agora, só encontrado neste versículo e no próximo a respeito dos chorosos, também não está no sermão de Mateus. Mostra-nos a preocupação emergencial do sermão de Jesus, ele está preocupado com o agora, com aqueles que se humilharam agora, pois sua felicidade só é completa no saciar-se em Deus, no estar completo em Deus, pois sabem, como disse Santo Agostinho: “Tu nos fizeste para Ti mesmo, ó Senhor, e o nosso coração é inquieto até que encontre em Ti o repouso”. E assim precisam do encontro com Deus para descanso e felicidade de sua alma.
3.      Bem Aventurados os que choram agora. Esta bem-aventurança para a mente natural será um contra-senso. Como conceber que são “felizes os que agora choram”? Novamente encontramos o advérbio temporal nun, eles não ficarão felizes amanhã ou depois, eles estão felizes agora enquanto choram. Enquanto suas lágrimas são derramas aos pés de Cristo. O termo klaío significa um sentimento profundo de tristeza e choro, em Mateus o termo é mais enfático, pois o primeiro evangelista usa o termo pentheôque é um lamento profundo, semelhante a tristeza da perda de um ente querido. Como o verbo se encontra no particípio presente poderíamos melhor traduzir o verbo no gerúndio do português e assim teríamos: “Felizes são os que estão chorando agora”. Jesus se refere àqueles que sofriam naquele instante, enquanto o ouviam, suas almas gritavam de tristeza. Mas não é qualquer tristeza, os bem-aventurados são os que estão chorando agora por reconhecerem sua situação e seu destino final. São aqueles que estão descontentes com o pecado, e não só o seu pecado, mas sofrem com o pecado e sujeira de todo o mundo. Quando olham ao seu redor lembram o profeta que disse: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos! Is 6:5. Quando penso em choro, lembro da minha avó, pois quando criança, ela por várias vezes cantava músicas pra eu dormir, normalmente, por ser assembleiana, músicas da Harpa Cristã. E sempre começava a chorar, eu prontamente tomava a minha fralda e enxugava os seus olhos, não conseguia, mesmo que sem entender, vê-la chorar. Jesus ao ver seus filhos chorarem toma o seu “manto tinto de sangue” e responde com uma doce palavra de consolo, pois Ele diz “aqueles que estão gritando de tristeza agora, gritarão de alegria.” Ele nos convida a olhar pra cruz, é por isto que os bem-aventurados choram aos pés do mestre, pois é dEle que vem o consolo, é dEle que vem a palavra: Está consumado. É Ele quem purifica e perdoa, e assim, os que clamam por perdão serão perdoados, serão consolados.
4.      Bem Aventurados os odiados. O apostolo Paulo consolando o pastor Timóteo diz: Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. 2 Tm 3:12. Este consolo é verdade em todos os tempos, Jesus nos informa que são felizes e devem regozijar-se aqueles que são perseguidos. Aqueles que pela loucura da pregação do Evangelho são zombados, odiados, rejeitados e injuriados, a estes está reservada a alegria inefável do Espírito Santo. Mesmo em meio a tormenta, a tortura de todas as formas, eles são felizes. Novamente olham para a cruz e é nela que encontram forças e consolo. Algumas coisas precisam ser esclarecidas sobre este tipo de perseguição, ou melhor, sobre o motivo dela. Foi postado a pouco tempo no Blog “o tempora o mores” um texto que comenta a respeito de toda a loucura que se tem feito “em nome do Evangelho”. Jesus deixa claro que os bem-aventurados são os que são perseguidos por causa dEle, por causa da pregação do Evangelho e não por alguma demonstração quase artística feita por certos grupos ditos evangélicos. A pregação é loucura para o mundo, mas não por causa da forma como ela é pregada, mas pelo seu conteúdo intrínseco. Pelo valor das suas proposições, ela exige uma mudança radical de mente e de comportamento, da qual o homem natural não está disposto, por isto zomba e persegue aqueles que em Cristo fazem isto.
Para conclusão gostaria de enfatizar alguns pontos para aplicação de tudo que foi falado aqui. A felicidade não é uma obra humana, é um dom de Deus. Todas as alegrias momentâneas da vida, e suas tristezas, nada tem a ver com a verdadeira Eudamonía. Jesus nos convida a sermos “eudemoniados” nEle, e somente nEle. Os felizes são os que se humilharam e reconheceram que nada são perante o mestre, são os que têm em sua alma a fome pela justiça de Deus, onde suas almas incansáveis clamam por salvação, e por isto choram, a consciência de pecado lhes é tão forte que quase não podem suportar a dor, e como se não bastasse a dor na alma, a dor física também lhes é imposta, pois sofrendo perseguição, zombaria, rejeição, regozijam-se em Cristo. São constantemente felizes, o Evangelho é um convite a felicidade. Você quer ser feliz?

RAZÕES PARA EVITAR O ENTRETENIMENTO NAS REUNIÕES CÚLTICAS



Há muitas coisas que tem prejudicado a igreja. Esta semana ouvi de um aluno que algumas igrejas (talvez a dele, mas ficou acanhado em falar), usam cenas de vídeos e depois "pregam" sobre aquele vídeo. Nem chegam a abrir mais a Bíblia. E quando o fazem, é a título de pretexto. Outros contam ilustrações sem fim. Fazem o mesmo. Outros fazem humor no púlpito. Os "cultos" são cheios de atrações - corais, cantores, solistas, grupos musicais, coreografias, declamadores etc - que a pregação já a muito tempo não mais existe. Andando por aí, encontrei, no Genizah Virtual, as razões abaixo para se evitar o entretenimento, a diversão ou, como dizem os seminaristas, "encheção de linguiça", por ocasião do ajuntamento. Pois bem, leiam e comentem.
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AS 12 RAZÕES PARA ELIMINAR O ENTRETENIMENTO EM SUA IGREJA

Por Alan Capriles
Sei que o entretenimento está tão enraizado na cultura evangélica, que parecerá um absurdo a tese que defendo. Mas, além de não estar sozinho na luta contra o "culto show", estou ainda muito bem acompanhado, por pastores renomados, como Charles Haddon Spurgeon, que no século XIX já havia escrito sobre este perigo, alertando que o fermento diabólico do entretenimento acabaria levedando toda a massa em curto espaço de tempo. E é neste estado de lastimável fermentação que se encontra a massa evangélica atual.

Hoje em dia é quase impossível que uma igreja não tenha conjuntos musicais, ou corais, ou grupos de coreografia, ou cantores para se apresentar durante o culto e nos eventos por ela realizados. Na maioria das igrejas o período de culto é tomado deste tipo de apresentações, com a desculpa de que "é pra Jesus". Mas, quando analisamos racionalmente, e a luz das Escrituras, a verdade é que tais apresentações não passam de entretenimento, com verniz de santidade e capa de religiosidade.

Que ninguém fique ofendido. Eu mesmo gostaria que alguém houvesse me alertado disso na época em que eu, cegamente, gastava horas com ensaios de conjuntos e de peças teatrais. E eu me convencia de que isto era a obra de Deus.

Mas, no fundo de meu coração, eu sabia que havia algo de errado, que não era nisto que Jesus esperava que seus discípulos se focassem, ou se esforçassem. Como ninguém me despertou, busquei a Deus em oração e o próprio Espírito Santo, por meio das Escrituras, convenceu-me do meu erro.

Desde então, tenho meditado tão seriamente a respeito disto, que encontrei mais de dez razões para eliminar por completo o entretenimento dos cultos na igreja que pastoreio. E já o fizemos! Substituimos o tempo que antes gastávamos com ensaios entre quatro paredes, pelo evangelismo bíblico na comunidade e pela oração nos lares. E, quanto às apresentações nos cultos... sinceramente, não estão fazendo a menor falta.

Mas, vejamos porque o entretenimento deve ser eliminado dos cultos que realizamos ao Senhor:

1 - O Senhor nunca ordenou entreter as pessoas
Esta já seria uma razão suficiente, que dispensaria os demais argumentos. O problema é que raramente se encontra hoje uma igreja que queira ser bíblica, composta por membros que só desejem cumprir a vontade de Deus, expressa em sua Palavra. Assim sendo, talvez seja necessário ainda os argumentos a seguir.


2 - Entretenimento não atrai ovelhas
Chamemos de ovelhas aqueles que realmente amam a Jesus, que reconhecem a voz do Senhor e o seguem (Jo 10:27). No entanto, a divulgação de apresentações na igreja dificilmente atrairá pessoas interessadas em Deus. Certamente será um atrativo para as que gostam de uma distração gratuita. Mas, podemos chamar a estas pessoas de ovelhas, ou não há uma grande chance de serem bodes? (Mt 25:32-33)

3 - Entretenimento afasta as ovelhas
As verdadeiras ovelhas não se satisfazem com apresentações durante o culto. Elas querem oração e palavra, edificação e unção. Uma ovelha de Cristo não procura emoções, mas a Verdade, para que se mantenha firme no caminho da vida eterna (Jo 6:67). Quanto mais o pastor encher o culto com apresentações, mais rápido as ovelhas sairão em busca de uma verdadeira igreja, que priorize a oração e a palavra de Deus. Aos poucos, a "igreja-teatro" deixará de ter ovelhas para estar ainda mais cheia, porém de bodes, que gostam de uma boa distração. E, infelizmente, o que muitos pastores buscam hoje é quantidade, o crescimento a qualquer custo. E, com este fermento, a massa realmente cresce...

4 - Entretenimento reduz o tempo de oração e palavra
O tempo de culto já é muito limitado, chegando a no máximo duas horas. Quando se dá oportunidade para apresentações, o tempo que deveria ser usado para se fazer orações e se pregar a palavra de Deus torna-se curtíssimo. Em algumas igrejas não chega nem a trinta minutos! Como desenvover uma mensagem expositiva em tão curto espaço de tempo?

5 - Entretenimento confunde os visitantes
Os visitantes concluem que a igreja existe em função disto: conjuntos, corais, coreografias, peças teatrais, ou qualquer outro tipo de apresentação que torne o culto um show. E eles passam a frequentar os cultos com esta expectativa, esperando pelo próximo espetáculo.

6 - Entretenimento ilude os membros
O membro pensam que está servindo a Deus com suas apresentações. Desta forma, sua consciência fica cauterizada para atender aos chamados para a escola bíblica, para o evangelismo e para socorrer os carentes. Afinal de contas, ele pensa que seu chamado é para as artes, e não para serviços que não lhe colocam debaixo dos holofotes (que, aliás, são muito comuns nas igrejas hoje em dia).

7 - Entretenimento é um desgaste desnecessário
Quanto esforço é despendido para que tudo saia perfeito! Uma energia que é gasta naquilo que o Senhor nunca mandou fazer! Será que ainda sobram forças para se fazer o que realmente o Senhor manda? (Lc 6:46)

8 - Entretenimento coloca os carnais em destaque
Pessoas que raramente aparecem nos cultos de oração e estudo bíblico, e que nunca comparecem ao evangelismo, geralmente são as mesmas que gostam de aparecer cantando, dançando ou representando nos cultos mais cheios. A questão é: Por que dar destaque justamente para estes membros carnais?

9 - Entretenimento promove disputas
Disputas entre membros, entre conjuntos e até entre igrejas. Quem canta melhor? Quem dança melhor? Que conjunto tem o uniforme mais bonito? Quem recebeu mais oportunidade? Quanta medíocre carnalidade... (1 Co 3:3; Tg 4:1)

10 - Entretenimento alimenta o ego
O entretenimento não gera fé, mas fortalece o ego dos que amam os aplausos e elogios. Apesar de sua roupagem "gospel", o fermento dos fariseus continua tão venenoso quanto nos dias de Jesus (Mt 23:5-6; Lc 12:1)

11 - Entretenimento é um desperdício de tempo
Se o mesmo tempo que as igrejas gastam com ensaios e apresentações fosse utilizado com oração e evangelismo, este mundo já teria sido alcançado para o Senhor! (Ef 5:15-17)

12 - Entretenimento não é fazer a obra de Deus
A desculpa para o entretenimento é que este seria uma forma de atrair as pessoas. Mas a questão novamente é: que tipo de pessoas? Se entretenimento fosse uma boa alternativa, não teria a igreja apostólica usado de entretenimento para atrair as multidões? No entanto, ela simplesmente pregava o evangelho, porque sabia que nele há poder. O evangelho "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16). Mas o entretenimento... O entretenimento é a artimanha do homem para a perdição de todo aquele que duvida.

Quero concluir com uma palavra aos pastores. De pastor, para pastor. Amado colega de ministério, não duvide do poder do evangelho para atrair e converter as pessoas. Não queira encher sua igreja com atividades vazias e atraentes ao mundo, mas que não tem o poder do Espírito Santo para converter vidas. Tenha coragem e limpe sua congregação desta imundície egocêntrica. Talvez com isto você perderá alguns membros, mas não perderá ovelhas, somente bodes. Tenha fé em Deus e confie no modelo bíblico para encher a igreja, que é a oração, o bom testemunho e a pregação ousada do genuíno evangelho de Cristo. Lembre-se que "enquanto os homens procuram melhores métodos, Deus procura melhores homens."

NATURALISMO: UMA COSMOVISÃO


Queridos leitores(e leitoras, claro!), após uma semana envolvido com um módulo do Mestrado - que ocorreu no Seminário Presbiteriano do Norte em parceria com o Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ), Mackenzie - estamos de volta aos trabalhos. Não houve descanso. O Prof. Fabiano Oliveira (Prof. do CPAJ) é exigente e altamente competente na exposição e transmissão da disciplina Cosmovisão Reformada, especialmente na exposição da Filosofia Reformada (Dooyeweerd, Bavinck, Kuyper, Vollenhoven etc). Não se podia perder nenhuma de sua explicações. O módulo foi muito puxado: de 8h às 17h, com uma pausa para o almoço. Se nós, alunos, ficamos cansados, o que dirá do professor que ministrou o curso. Agora é fazer as tarefas e leituras; muitas, por sinal. Porém, desde a recepção pelo SPN, até pela formação de novas amizades, o cansaço pode ser visto como uma luta que valeu a pena. O Rev. José Roberto, coordenador da pós-graduação no SPN, o Diretor Rev. Marcos André e o Capelão Rev. Stéfano Alves, deram os devidos atendimentos ao Professor Fabiano e aos Alunos, principalmente na provisão dos livros necessários e primários para o Módulo. Agredecemos, também, à Livraria Luz e Vida por providencia rapidamente a literatura precisa.
Ao Prof. Fabiano Oliveira nossos agradecimentos pelo esmero e dedicação. Deus continue a abençoá-lo.

Como estamos de volta, iniciarei com uma tradução sobre o tema do título da postagem. Será o Naturalismo uma visão coerente consigo? Será que suas bases são sustentáveis? Se aplicássemos ao Naturalismo seus pressupostos, poderia ele permanecer? O artigo mostrará que o Naturalismo é auto-contraditório. Não deixem de ler e postar seus comentários. Sejam bem-vindo de volta.
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por L. Russ Bush III (Filósofo da Religião, Apologista, Escritor, Professor e Pastor) - Southeastern Baptist Theological Seminary in Wake Forest, N.C.

A palavra “natureza” geralmente se refere ao mundo físico em sua condição normal. Se algo é “natural”, isto significa que não foi modificado pela ação humana (inteligência). Muitos de nós amamos a “natureza”, o ar puro, o mundo das florestas e rios e montanhas e prados.

No entanto, ao acrescentar o sufixo “ismo” temos um significado diferente relacionado. “Naturalismo” é a crença de que, em última análise, a natureza é tudo que existe, e que a “natureza” é essencialmente inalterada por qualquer outra coisa a não ser ela própria. Em outras palavras, a própria natureza é considerada a realidade última.

A natureza é dinâmica e ativa, mas de acordo com a cosmovisão conhecida como “naturalismo”, nada existe além da natureza que tenha influência causal ou aja sobre a natureza. Se existe ou não Deus, ele não tem influência ou ação sobre a natureza. Alguém pode sugerir ou pensar que a natureza por si mesma possa ser um ser criativo. O Naturalismo afirma que a vida na terra surgiu de substâncias naturais por seleção natural para fins naturais. Não existe realidade que possa ser adequadamente chamada de sobrenatural. Realidades espirituais, de acordo com o naturalismo, são ilusões ou, senão, são simplesmente complexos ou realidades naturais incomuns.

Desde o século dezoito, uma filosofia materialista vem ganhando influência no mundo ocidental. Anteriormente, a maioria das pessoas no Ocidente acreditava que o mundo era uma criação divina; mas o pensamento naturalista gradualmente desafiou esta visão e procurou substituí-la, primeiro com métodos naturalistas e, em seguida, com uma filosofia naturalista mais abrangente.

Antes do surgimento do naturalismo como uma cosmovisão proeminente (ou tendência abrangente), a maioria dos ocidentais cria que Deus havia criado o mundo e era responsável por sua forma e por sua existência. Entendia-se que Deus estava sustentando todas as coisas pela palavra de seu poder, pois no princípio Deus tinha criado todas as coisas. Uma vez que Deus era um ser vivo (N.T – auto-existente), era lógico esperar a vida no mundo, porque a vida vem da vida. O naturalismo do século vinte construiu-se sobre a idéia de que o universo (e todas as coisas nele, incluindo a vida em si) veio a ser o que é por causa de uma flutuação quântica natural (ou por outros meios estritamente naturais) e desenvolveu-se por processo natural desde seu estado original natural até o estado atual natural. A vida surgiu da não-vida.

O naturalismo não afirma nenhum Deus, exceto o deus do impessoal, não-vivo, não-planejado químico-fisico. Um processo natural de mudança é essencialmente aleatório e/ou não direcionado, mas os processos naturais realmente parecem “selecionar” alguns processos e atividades na direção de o “melhor” ou mais forte sobrevivam, enquanto os outros pereçam. Naturalistas crêem que este processo de “seleção” inconsciente, não-dirigida juntamente com as flutuações genéticas aleatórias (i.e, mutações) são as chaves que explicam a origem mundo dos seres vivos como nós os conhecemos hoje.

Assim, a “cosmovisão” naturalística é a crença geral de que a natureza é tudo que existe. Deus não a projetou. Inteligência foi resultado, não a causa do desenvolvimento do mundo. A natureza formou a si mesma por processos estritamente naturais. Esta afirmação tem várias implicações.

Na terra parece existir uma série de diferente personalidades conscientes. O naturalismo, por definição, diz que a personalidade surgiu (evoluiu) do não-pessoal, de que era apenas matéria e energia. Não existe nada no universo naturalístico que seja essencialmente pessoal.

Não só a personalidade tem surgido do não-pessoal, como também, supostamente, surgiu espontaneamente, sem direção ou orientação de qualquer fonte pessoal. Isto parece violar a lei natural da causa e efeito. Energia se dissipa. Complexidades mudam por simplificação. Nenhum sistema torna-se espontaneamente mais complexo, a menos que energia e ordem adicionais venham de fora do sistema. Uma “causa’"deve, ou conter o “efeito” ou, ao menos, ser suficientemente complexa para ser capaz de produzir o “efeito” menos complexo. No entanto, personalidade é muito mais complexo que a ordem físico-química naturais de coisas observadas na natureza. Como isto pode ser? O naturalista geralmente varre tais questões intelectuais para a lata de lixo. Seres pessoais estão aqui (eles, você e eu existimos), e mesmo assim, os naturalistas aceitam o fato independente da improbabilidade significante de alta complexidade e inteligência e autoconhecimento da personalidade naturalmente decorrente da realidade não-pessoal da matéria não-inteligente e não-consciente.

O mesmo acontece com a vida! Os naturalistas admitem que existe vida (geralmente eles estão vivos). Mas para manter seu naturalismo, eles argumentam que a natureza espontaneamente e sem sentido ou causa externa produziu vida a partir da não-vida. A falta de prova e a alta improbabilidade deste tipo de evento não dissuadem estes pensadores, porque (eles dizem) isto aconteceu apenas uma vez. Na verdade, a semelhança genética de todas as formas de vida conduz o naturalista a presumir que toda vida deve ter vindo de uma simples célula ou conjunto de processos químicos que se aproximassem um trabalho de uma célula. Esta simples célula deve ter, aleatoriamente (e sem orientação e programação) iniciado o uso de energia ordenada e um processo de replicação ao longo dos anos. A atividade de alterações química e física, supostamente levou a um arranjo mais complexo que, em seguida, transformou e começou a usar energia e replicar-se em novas formas. Com o tempo, todas as coisas vivas supostamente surgiram daquele simples e aleatório conjunto de substâncias químicas, com cada vez mais decorrentes de processos complexos e aleatório e sem um planejamento inteligente.

Isto também significa que em algum estágio de desenvolvimento, os estados mentais surgiram a partir de precursores absolutamente não-racionais. O pensamento racional foi e é, para o naturalista, simplesmente um complexo de interações químicas naturais. A razão nunca foi planejada por um processo natural e não-inteligente, pois intencionalidade é uma característica racional. Assim, intenção ou propósito não poderia existir até que a razão passasse a existir, mas o naturalismo nega que a razão existiu no começo. A razão evolui apenas no final do processo. Antes do aparecimento da razão, aquilo só poderia ser caracterizado por não-razão.

Isto nos leva, finalmente, a uma compreensão importante. A própria razão, na cosmovisão naturalista, não é nada mais do que resultado natural e aleatório de uma mudança aleatoriamente particular pouco original da matéria. A razão não é realmente um processo avaliativo independente que possa criticar a si mesma. A razão é apenas o que a química permite através da auto-configuração e auto-organização, e a formação da lógica, racionalidade e linguagem gramatical é simplesmente uma mudança resultado de um processo não-planejado que não tem relação necessária com a verdade ou o significado. Toda verdade seria meramente uma qualificação pragmática de um conjunto de ideias. Nenhuam verdade intrínseca existe, e, ainda assim, o naturalista afirma que o próprio naturalismo é verdadeiro. Mas como poderia escapar da afirmação de que a conclusão é inevitavelmente cética? Nada pode ser conhecido pela certeza de ser objetivamente verdadeira, pois não existe nenhuma norma a não ser o padrão químico que esteja ocorrendo em alguém naquele momento. Por que a razão seria confiável? Como o naturalista poderia conhecer a verdade? A resposta é: ele não pode.

Assim, o naturalismo falha por não ser capaz de sustentar sua pretensão de verdade. Na verdade, todo conhecimento torna-se temporariamente simples comportamento químico no cérebro, que é um produto de processos químico sem significado e aleatório. Você e eu não somos nada mais do que dois conjuntos de processos temporariamente químicos na atual configuração. Nada pode ser verdade, no sentido tradicional, pois não existe padrão objetivo. A mente humana é apenas um efeito temporário de um conjunto de processos químicos e, portanto, não é uma verdadeira observadora da realidade de fato.

O naturalismo afirma ser a melhor e mais científica maneira de encontrar a verdade, mas é um caso extremo de raciocínio circular que esqueceu suas raízes objetivas no conhecimento do mundo que está na revelação divina (“No Princípio Deus criou os céus e a terra”). Apenas no Teísmo temos uma causa pessoal, viva e inteligente. Apenas o Teísmo tem uma explicação suficiente da vida no mundo. Deus é um Ser Necessário, mas é exatamente isto que o naturalismo nega. Portanto, [no naturalismo], a razão está perdida; a verdade está perdida; o conhecimento está perdido; o significado está perdido.

O naturalismo nega seu próprio sucesso.

Leitura Recomendada
L. Russ Bush, The Advancement: Keeping the Faith in an Evolutionary Age. Nashville: Broadman & Holman, 2003.