Sermão: Eudaimonía, a busca por uma felicidade sem Hedonismo
Lucas 6:17-23 E, descendo com eles, parou numa planura onde se encontravam muitos discípulos seus e grande multidão do povo, de toda a Judéia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sidom, que vieram para o ouvirem e serem curados de suas enfermidades; também os atormentados por espíritos imundos eram curados. E todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e curava todos. Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas.



I. Prólogo 1.1-4
II. A narrativa da infância 1.5-2.52
III. Preparação para o ministério público 3.1-4.13
IV. O ministério Galileu 4.14-9.50
V. A narrativa de viagem (no caminho para Jerusalém) 9.51-19.28
VI. O ministério de Jerusalém 19.29-21.38
VII. A paixão e glorificação de Jesus 22.1-24.53
E é no ministério Galileu, que encontramos Jesus operando várias maravilhas, no capítulo seis Lucas destaca algumas delas, como a cura do homem da mão ressequida nos versículos do seis ao onze, como também faz a convocação dos 12 apóstolos, homens que em si nada haviam de especiais, mas que a partir daquele momento tornar-se-iam gigantes no mundo. No versículo dezessete Lucas afirma que Jesus descera do monte ou de alguma parte dele, e numa planura inicia o seu sermão, por outro lado o texto correspondente, em Mateus, afirma que Jesus subira no monte e então começara a falar. Tem se dado algumas soluções para esta aparente contradição. As duas mais famosas são:
a) A planura era uma parte do monte onde Jesus se encontrava, e ali se deteve. Assim, os dois sermões são os mesmos.
b) São sermões diferentes, Jesus havia falado a respeito destes temas várias vezes e em lugares diferentes, cada autor escolheu um dos lugares para falar.
A segunda opção parece ser mais viável, pelo fato de haver também discrepâncias no próprio conteúdo dos sermões, pois Mateus coloca vários temas que Lucas não evoca, enquanto que Lucas mesmo falando dos mesmos temas também omite alguns termos usados por Mateus. O que está registrado nos evangelhos não é o sermão em si, mas um sumário daquilo que Jesus abordara, pois não precisamos de muito tempo para ler todas as bem-aventuranças registradas no evangelho, era de se esperar que Jesus explicasse cada ponto. E assim, cada evangelista sumarizou aquilo que o Espírito Santo lhe inspirou a escrever. Estes sermões tão famosos mostram aquilo que Jesus enfatizou no seu ministério e ao contrário do que muitos pensam, a felicidade foi o grande ponto destacado, pois a vida cristã é uma vida feliz.
O homem natural por mais próximo que chegue da verdade, não consegue contemplar a revelação se ela não lhe for mostrada. Apesar de Aristóteles ter acertado quando não busca a felicidade em coisas terrenas, mas nas divinas. Ele não sabe em que Deus achar a Felicidade. Paulo enquanto falava no Areópago aos Epicuristas, que eram hedonistas e Estóicos, que defendiam uma busca pela felicidade semelhante a Aristóteles, revela quem é o Deus verdadeiro que criou o kosmos, como gostavam de chamar os Estóicos. E é exatamente a revelação do Deus verdadeiro que diferencia a Eudaimonía cristã de qualquer outra. O termo Escriturístico, Makários, tem significado semelhante ao da Eudaimonía. Porém, como proposto por Cristo, Makários é uma benção, é um dom dado por Deus, e assim, só é possível alcançar o Eudemonismo através da benção de Deus.
O que fica claro no sumário de Lucas a respeito do sermão de Cristo, é que a felicidade não está numa vida segura e tranquila externamente. A felicidade real está na alma. É a respeito do espírito que Jesus está tratando. E assim, são felizes os pobres, os famintos, os chorosos e os odiados, mas não por conta de si mesmos, porém, porque são convidados a olharem para as promessas de Cristo, a olharem para Deus e a sua Justiça. Diante do fato que o homem vive por volta de 100 anos, a eternidade com Deus é algo extremamente atraente e, portanto, os filhos de Deus são convocados a não olharem para os anos terrenos, mas para a atemporalidade do porvir. E baseado no evangelho de Lucas quatro pontos são sumarizados para a reflexão :




a) Ela retira todo o aspecto espiritual do sermão, defendendo assim um mero aspecto material. E isto parece se opor exatamente com o tema principal do sermão, que é a felicidade acima das coisas materiais.
b) Esta promessa não se cumpriu com os apóstolos, pois os mesmos viveram numa vida das maiores injustiças sociais, onde várias vezes foram acusados injustamente.
c) Se todos os que têm fome e sede de justiça social serão fartos, qual a necessidade de olhar para Cristo no meio das aflições? E seriam os pobres uma classe especial que será salva por sua pobreza?
A Justiça comentada por Jesus é tão espiritual quanto a pobreza do versículo anterior. Aqueles que tendo negado o seu “eu” e se humilharam perante o Senhor, clamam por Sua Justiça, por saberem que o Justo Juiz é quem os fará saciar-se. Clamam por misericórdia divina porque entendem que o seu destino é a morte eterna, porque compreendem que a sua alma só será saciada ao beber da água para a vida eterna. Interessante notar o uso do advérbio de tempo nun que significa agora, só encontrado neste versículo e no próximo a respeito dos chorosos, também não está no sermão de Mateus. Mostra-nos a preocupação emergencial do sermão de Jesus, ele está preocupado com o agora, com aqueles que se humilharam agora, pois sua felicidade só é completa no saciar-se em Deus, no estar completo em Deus, pois sabem, como disse Santo Agostinho: “Tu nos fizeste para Ti mesmo, ó Senhor, e o nosso coração é inquieto até que encontre em Ti o repouso”. E assim precisam do encontro com Deus para descanso e felicidade de sua alma.

4. Bem Aventurados os odiados. O apostolo Paulo consolando o pastor Timóteo diz: Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. 2 Tm 3:12. Este consolo é verdade em todos os tempos, Jesus nos informa que são felizes e devem regozijar-se aqueles que são perseguidos. Aqueles que pela loucura da pregação do Evangelho são zombados, odiados, rejeitados e injuriados, a estes está reservada a alegria inefável do Espírito Santo. Mesmo em meio a tormenta, a tortura de todas as formas, eles são felizes. Novamente olham para a cruz e é nela que encontram forças e consolo. Algumas coisas precisam ser esclarecidas sobre este tipo de perseguição, ou melhor, sobre o motivo dela. Foi postado a pouco tempo no Blog “o tempora o mores” um texto que comenta a respeito de toda a loucura que se tem feito “em nome do Evangelho”. Jesus deixa claro que os bem-aventurados são os que são perseguidos por causa dEle, por causa da pregação do Evangelho e não por alguma demonstração quase artística feita por certos grupos ditos evangélicos. A pregação é loucura para o mundo, mas não por causa da forma como ela é pregada, mas pelo seu conteúdo intrínseco. Pelo valor das suas proposições, ela exige uma mudança radical de mente e de comportamento, da qual o homem natural não está disposto, por isto zomba e persegue aqueles que em Cristo fazem isto.
Para conclusão gostaria de enfatizar alguns pontos para aplicação de tudo que foi falado aqui. A felicidade não é uma obra humana, é um dom de Deus. Todas as alegrias momentâneas da vida, e suas tristezas, nada tem a ver com a verdadeira Eudamonía. Jesus nos convida a sermos “eudemoniados” nEle, e somente nEle. Os felizes são os que se humilharam e reconheceram que nada são perante o mestre, são os que têm em sua alma a fome pela justiça de Deus, onde suas almas incansáveis clamam por salvação, e por isto choram, a consciência de pecado lhes é tão forte que quase não podem suportar a dor, e como se não bastasse a dor na alma, a dor física também lhes é imposta, pois sofrendo perseguição, zombaria, rejeição, regozijam-se em Cristo. São constantemente felizes, o Evangelho é um convite a felicidade. Você quer ser feliz?