sexta-feira, 31 de julho de 2009

Batismo Infantil


Na história da salvação “heilgeschichte” Deus com o homem estabeleceu alguns pactos ou alianças. Entre eles se encontra o pacto abraamico, que é o pacto de Deus com Abraão. Para entender o batismo é necessário entender este pacto, portanto, vamos dá uma olhada em alguns textos:

Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente. Gn 17:1-2

Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações; E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto; Gn 17:4-5

E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti. E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão e ser-lhes-ei o seu Deus. Gn 17:7-8

Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. Gn 17:10

O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. Gn 17:12-13

Percebe-se sem maiores dificuldades que esta aliança é eterna. Antes de formar maiores conclusões vamos analisar o que esta aliança tem a ver com o cristão propriamente dito:

Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Rm 4:3

Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a incircuncisão? Porque dizemos: A Abraão foi imputada a fé como justiça. Como, pois, lhe foi imputada? Estando na circuncisão, ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas sim na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve quando ainda não era circuncidado, para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles na incircuncisão, a fim de que a justiça lhes seja imputada, bem como fosse pai dos circuncisos, dos que não somente são da circuncisão, mas também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, antes de ser circuncidado. Rm 4:9-12

Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós. (como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, que vivifica os mortos, e chama as coisas que não são, como se já fossem. Rm4:16-17

Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. Gl 3:8

E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa. Gl 3:29

Vemos no livro de Gênesis Deus instituindo uma aliança perpetua com Abraão, ele seria o primeiro de muitos e, através do descendente dele as nações da terra seriam abençoadas o descendente dele é Cristo (Cf. Gl 3:16). Vemos também que a circuncisão foi o meio externo (símbolo) que Deus deu para marcar a sua aliança. Desde então todos aqueles que iriam participar da aliança de Deus seriam circuncidados. Isto incluía inclusive as crianças. Através de Cristo todos os cristãos fazem parte desta aliança de Abraão, ela não poderia ser anulada, pois afinal é perpetua, e através da fé nós nos apossamos das promessas. Isto nos mostra que sempre houve e sempre haverá um único povo de Deus, Israel e a Igreja são a mesma coisa. Mas então por que não é pratica das nossas igrejas a circuncisão, como alguns cristãos primitivos queriam? Afinal também nós deveríamos ser circuncidados para também participar da aliança abraamica. Esta discussão terminou causando uma grande confusão, onde vemos Paulo falar por algumas vezes. Vamos analisar um pouco sobre o que Paulo vai falar sobre a circuncisão nos Gentios:

Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se tornado em incircuncisão. Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão? E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a circuncisão és transgressor da lei. Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. Rm 2:25-29

A circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus. I Co7:19

Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor. Gl 5:6

Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura. Gl 6:15

Nele também vocês foram circuncidado, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar do corpo da carne. [u][i]Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, Cl 2:11-13 (NVI)

A Circuncisão feita na carne de nada valia, a não ser que, o circunciso tivesse fé e obedecesse a lei de Deus. Da mesma forma os incircuncisos devem crer e seguir a lei de Deus. Este era o entendimento do Apostolo Paulo. Mas em Colossenses vemos ele falando sobre a circuncisão que Cristo fez através do batismo, sepultando-nos com ele e ressuscitando-nos com o seu poder. O que percebemos é que o batismo tem o mesmo significado que a circuncisão, ambos são a marca da regeneração e da purificação do crente. Quando falo de batismo refiro-me ao Batismo com Espírito Santo, o Batismo espiritual e não o nas Águas. Mas agora falando deste ultimo percebemos que, assim como a circuncisão da carne (prepúcio) iniciava alguém na comunidade Judaica e simbolizava o que acontece com os regenerados, no sentindo de serem circuncidados no despojo do corpo da carne, o batismo nas águas também simboliza o despojo do corpo da carne. E também simboliza a entrada do crente na comunidade Cristã (Cf. At 2:41). E por conseqüência, assim como as crianças estavam incluídas no pacto da circuncisão, pois estavam entrando na comunidade judaica, hoje também elas são incluídas no pacto de Abraão através do batismo nas águas. Muitos argumentariam que não encontramos relatos de crianças serem batizadas, mas isto é facilmente refutado quando entendemos que por varias vezes são ditas que a família se converteu ou a casa ou algo assim (Cf. At. 16.15; At 16.32,33; 1 Co 1.16), que facilmente poderiam ter crianças em suas casas, além do mais o ônus da prova vai para quem afirma que as crianças não devem ser batizadas, pois assim como no velho testamente era de se esperar que elas fizessem parte da comunidade, se não fazem, então deveria ter alguma palavra a respeito sendo dita no novo testamento, o que certamente não há. Portanto, não se deve negar benção tão grande, de fazer parte da comunidade Cristã, de fazer parte da Igreja visível de Deus, para as Crianças. Falando um pouco mais sobre a questão do batismo em família, podemos observar que para Paulo bastava que se convertesse o patriarca ou a matriarca da casa para que todos fossem batizados, isto porque a compreensão pactual é que a benção que é dada aos pais se estende aos filhos. Isto não quer dizer que os filhos dos crentes serão salvos indubitavelmente, ou que o batismo infantil garante que esta pessoa permanecerá no pacto. Isto não é verdade. Como bem sabemos pelo relato Bíblico todos os que estão com os ungidos de Deus são abençoados, isto fica claro na história de Abraão. Deus abençoa os filhos dos crentes por amor aos seus pais. E é por isto que eles são chamados a serem batizados e participarem do sinal da aliança de Deus para com o seu povo. São chamados a ser povo de Deus, a participarem das bênçãos do pacto. Fazendo parte da igreja visível, a comunidade que se reúne nos domingos para cultuar a Deus. É por isto que o batismo infantil não deve ser negado, pois estaremos negando uma benção de Deus a uma criança, estaremos impedindo ela de participar do sinal da aliança e de poder ser chamada igreja de Cristo.

Ronaldo Vasconcelos
Sola Gratia


Batismo de Crianças: Algumas Considerações
Augustus Nicodemus Lopes
A prática de batizar os filhos dos cristãos vem desde os primórdios do cristianismo. Pais da Igreja, como Irineu (século II), se referem ao batismo infantil. Orígines (século IV) foi batizado quando criança. Hoje, milhares de cristãos evangélicos no mundo continuam a prática, embora alguns pais permitam que seus filhos sejam batizados apenas porque faz parte da tradição religiosa na qual nasceram. Para outros, o batismo é um ato pelo qual consagram seus filhos ao Senhor, com votos solenes de educá-los nos caminhos de Deus até, a idade da razão.
Evidentemente nem todos os evangélicos concordam que o batismo infantil seja a única maneira de se fazer isso. Muitos preferem apresentar seus filhos ao Senhor, sem batizá-los, pois acreditam que o batismo é somente para adultos que crêem. Porém, tanto os que batizam seus filhos, quanto os que os apresentam, têm um desejo só, de vê-los crescer nos caminhos do Evangelho, e, quando chegarem à idade própria, publicamente professar sua fé pessoal em Cristo Jesus.
Alguns me perguntam por que apresentei meus quatro filhos para serem batizados, quando cada um ainda não tinha mais que dois meses. Minha resposta é que acredito estar seguindo a tradição bíblica, que remonta ao tempo do Antigo Testamento, e que não foi abolida no Novo, de incluir os filhos dos fiéis na aliança de Deus com o seu povo. Batizei meus filhos crendo que, através desse rito iniciatório, eles passaram a fazer parte da Igreja visível de Cristo aqui na terra. Minha crença sé baseia no fato de que, quando Deus fez um pacto com Abraão, incluiu seus filhos na aliança, e determinou que fossem todos circuncidados (Gn. 17.1-14). A circuncisão, na verdade, era o selo da fé que Abraão tinha (ver Rm 4-3,11 com Gn 15.6), mas, mesmo assim, Deus determinou-lhe que circuncidasse Ismael e, mais tarde, Isaque, antes de completar duas semanas (Gn. 21.4). Abraão creu e o sinal da sua fé foi aplicado à Isaque, mesmo quando este ainda não podia crer como seu pai. Mais tarde, quando Moisés aspergiu com o sangue da aliança as tábuas da Lei dada por Deus, aspergiu também todo o povo presente no monte Sinai, incluindo obviamente as mães e seus filhos de colo (Hb 9.19-20).
Estou persuadido de que a Igreja cristã é a continuação da Igreja do Antigo Testamento. Símbolos e rituais mudaram, mas é a mesma Igreja, o mesmo povo. O Sábado tomou-se em Domingo, a Páscoa, em Ceia, e a circuncisão, em batismo. Os crentes são chamados de "filhos de Abraão" (Gl 3.7,29) e a Igreja de "o Israel de Deus" (Gl 6.16). Não é de se admirar que Paulo chame o batismo de "a circuncisão de Cristo" (Cl 2.11-11).
Foi uma grande alegria ter meus filhos batizados e vê-los, assim, receber o selo da fé que minha esposa e eu temos no Senhor Jesus. Deus sempre tratou com famílias (Dt 29.9-12), embora nunca em detrimento da responsabilidade individual. Assim, Deus mandou que Noé e sua família entrassem na arca (Gn. 7.1), chamou Abraão e sua família (Gn 12.1-3) e castigou Acã, Coré e suas famílias juntamente. Paulo, ao refletir sobre a história de Israel e ao mencionar a passagem dos israelitas pelo Mar Morto, diz que todo o povo foi batizado com Moisés, na nuvem e no mar inclusive as crianças, é claro, pois havia milhares delas (1 Co 10.1-4). Não é de se admirar, portanto, que Pedro, no dia de Pentecostes, ao chamar os ouvintes ao arrependimento, à fé em Cristo e ao batismo, disse-lhes que a promessa do Espírito Santo era para eles e para seus filhos (At 2.38-39). E não é de admirar que os apóstolos batizavam casas inteiras em suas viagens missionárias: Paulo batizou Lídia e toda sua casa (,At. 16.15), o carcereiro e todos os seus (At 16.3233), a casa de Estéfanas (1 Co 1.16). É verdade que não se mencionam crianças nessas passagens, mas o entendimento mais natural de "casa" e "todos os seus" é que se refira à família do que creu e fica difícil imaginar que, se houvesse crianças, elas teriam sido excluídas. Pois, para Paulo, os filhos dos crentes eram "santos" (1 Co 7.14), ao contrário dos filhos dos incrédulos. Talvez ele estivesse seguindo o que o Senhor Jesus havia dito, que não impedissem as crianças de virem a Ele (Mc 10.13-16).
Compreendo a dificuldade que alguns terão quanto ao batismo infantil, pois não há exemplos claros de crianças sendo batizadas no Novo Testamento. É verdade. Mas é igualmente verdade que não há nenhum exemplo de um filho de crente sendo batizado em idade adulta. Neste caso, talvez seja mais seguro ficar com o ensino do Antigo Testamento., Se os judeus que se converteram a Cristo não podiam batizar seus filhos, era de se esperar que houvesse alguma proibição neste sentido por parte dos apóstolos, já que estavam acostumados a incluir seus filhos em todos os aspectos da religião judaica. Mas não há nenhuma proibição apostólica quanto a isso.
Compreendo também que alguns têm dificuldades com o batismo infantil por causa da prática da Igreja Católica e de algumas denominações evangélicas, que adotam a idéia da regeneração batismal, isto é, que, pelo batismo, a criança tenha seus pecados lavados e seja salva. Pessoalmente não creio que seja este o ensino bíblico. O batismo infantil não salva a criança. Meus filhos terão de exercer fé pessoal em Cristo Jesus. Não serão salvos pela minha fé ou da minha esposa. Eles terão de se converter de seus pecados e crer no Senhor Jesus, para que sejam salvos. O batismo foi apenas o ritual de iniciação pelo qual foram admitidos na comunhão, da Igreja visível. Simboliza a fé dos seus país nas promessas de Deus quanto aos seus filhos (cf. Pv 22.6; At 2.38; At 16.31) e expressa os termos da aliança que nós e nossos filhos temos com o Senhor (Dt ' 6.6,7; Ef 6.4). Se, ao crescer, uma criança que foi batizada resolver desviar-se dos caminhos em que foi criada, é da sua inteira responsabilidade, assim como os que foram batizados em idade adulta, e que se desviam depois.
Certamente que o Novo Testamento fala do batismo como sendo uma expressão de fé e de arrependimento por parte daqueles que se convertem a Cristo - coisas que uma criança em tenra idade não pode fazer. Por outro lado, lembremos que passagens assim não tinham em vista os filhos dos fiéis, mas toda uma primeira geração de adultos que se converteram pela pregação do Evangelho.
Mas, ao fim, tanto os que batizaram seus filhos quanto os que os apresentaram, devem orar com eles e por eles, serem exemplos de vida cristã, levá-los à Igreja, instruí-los nas Escrituras e viver de tal modo que, ao crescer, os filhos desejem servir ao mesmo Deus de seus pais.




SOLA FIED

terça-feira, 28 de julho de 2009



Martyn Lloyd-Jones, John Stott, e 1 Co 12.13: O Debate sobre o Batismo com o Espírito Santo
Stott e 1 CoRÍNTIOS 12.13
Passemos agora para a opinião de John Stott. Conhecido pregador e escritor, Stott é ministro da Igreja Anglicana da Inglaterra. Em 1964 ele fez uma série de estudos numa conferência para líderes evangélicos sobre a obra do Espírito Santo, os dons espirituais, e especialmente, sobre o batismo com o Espírito Santo. Estas palestras foram uma reação de Stott ao crescente Pentecostalismo dentro da sua própria paróquia.31 As palestras vieram ao grande público em 1966, num livrete intitulado The Baptism and Fullness of the Holy Spirit, após os sermões de Lloyd-Jones sobre o assunto já terem sido impressos. Dez anos após Stott publicou uma segunda edição, entitulada Baptism & Fullness: The Work of the Holy Spirit Today, onde ampliou algumas partes que precisavam de mais clareza e fundamentação, sem, entretanto, alterar seus pontos de vista. Esta obra foi traduzida e publicada em Português em 1986, como Batismo e Plenitude do Espírito Santo. Nela, Stott trata dos principais aspectos da obra do Espírito relacionados com a polêmica moderna, tais como a promessa do Espírito, o batismo do Espírito, a plenitude, o fruto e os dons do Espírito. Procuraremos nos concentrar na sua interpretação de 1 Co 12.13.
Uma experiência iniciatória
Stott argumenta que a expressão "batismo com o Espírito Santo", que ocorre sete vezes no Novo Testamento, é equivalente à expressão "o dom do Espírito Santo" que ocorre em At 2.38, e refere-se à experiência iniciatória da qual participam todos os que se tornam cristãos. O próprio conceito de "batismo com água" é iniciatório, como sendo o ritual público de introdução na Igreja, e está intimamente associado ao batismo com o Espírito Santo, como sugere At 10.47, 11.16 e 19.2-3.37 Ele argumenta que a linguagem empregada por Paulo para descrever a experiência cristã com o Espírito, como "estar no Espírito", "ter o Espírito", "viver pelo Espírito", e "ser guiado pelo Espírito", é aplicada nas cartas do apóstolo a todos os cristãos, indistintamente, até mesmo para os recém convertidos, a partir do momento em que se tornam cristãos. O Novo Testamento, continua Stott, presume que Deus tem dado o Espírito a todos os cristãos, cf. Rm 8.9; Gl 5.25; Rm 8.14.38
Das sete vezes em que a expressão "ser batizado com o Espírito Santo" ocorre no Novo Testamento, somente uma vez é fora dos Evangelhos e de Atos (ou seja, em 1Co 12.13). Stott lembra que, nos Evangelhos, a expressão aparece quatro vezes nos lábios de João Batista, ao descrever o ministério do Senhor Jesus, "ele vos batizará com o Espírito Santo" (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). Em Atos, uma vez é aplicada pelo Senhor a Pentecostes (At 1.5), e outra é aplicada por Pedro à conversão de Cornélio, citando as palavras do Senhor Jesus (At 11.16).
A sétima vez é em 1 Co 12.13, Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. Stott contesta que, aqui, Paulo esteja se referindo ao Dia de Pentecoste, já que nem ele, nem os coríntios, participaram daquele evento histórico. Paulo está se referindo à participação nas bênçãos que Pentecoste tornou possível aos cristãos. Ele e os coríntios tinham recebido o Espírito Santo; aliás, para usar a terminologia de Paulo, tinham sido "batizados" com o Espírito Santo, e tinham "bebido" deste mesmo Espírito.
Stott aponta para o fato de Paulo estar enfatizando a unidade no Espírito no contexto da passagem, em contraste deliberado à variedade dos dons espirituais, assunto que o apóstolo havia discutido na primeira parte de 1 Co 12. Esse ponto é evidente pela repetição da palavra "todos" (todos...foram batizados, todos...beberam) e da expressão "um só" (um só Espírito... em um só corpo... de um só Espírito). O que Paulo está fazendo aqui, afirma Stott, é sublinhar aquela experiência com o Espírito Santo que todos os cristãos têm em comum. Esta é a diferença entre "o dom do Espírito" (quer dizer, o próprio Espírito Santo), e "os dons do Espírito" (isto é, os dons espirituais que ele distribui). Neste capítulo Paulo emprega várias vezes uma terminologia onde a unidade dos cristãos é destacada, cf. 12.4,8,9,11,13. O clímax é 12.13, onde o apóstolo afirma que em um só Espírito todos nós fomos batizados em um corpo. A expressão de Paulo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres, bem pode ser uma alusão a "toda a carne" mencionada na profecia de Joel. Stott conclui que o batismo com o Espírito Santo não é uma segunda experiência, nem uma experiência subseqüente desfrutada somente por alguns cristãos, mas a experiência inicial desfrutada por todos. Ou seja, o batismo com o Espírito é o mesmo que conversão.
No seu recente comentário em Atos, Stott procura deixar claro que não nega que haja experiências mais profundas e mais ricas após a conversão. Porém, ele rejeita a idéia de que tais coisas possam ser chamadas de "batismo com o Espírito", uma terminologia que ele reserva apenas para a conversão, a obra inicial do Espírito no crente. É importante notar que, para ele, as passagens nos Evangelhos e em Atos devem ser interpretadas à luz da passagem de Corintios, e portanto, devem se referir à conversão, quando o crente recebe tudo o que lhe é dado receber do Espírito. É sintomático que no seu livro Baptism & Fullness não exista nem uma palavra sobre reavivamento espiritual. Stott aparentemente não nega a possibilidade da ocorrência de um reavivamento em nossos dias, mas certamente não é um dos seus proponentes mais entusiastas.
Batismo "pelo", "com", ou "no" Espírito?
Em seguida, Stott passa a responder às objeções que geralmente são levantadas contra sua interpretação de 1 Co 12.13. Inicialmente, ele aborda o argumento de que as outras seis passagens, que se referem ao "batismo com o Espírito Santo", tratam do batismo feito por Jesus em, ou com, o Espírito Santo, enquanto que 1 Co 12.13 trata do batismo realizado pelo Espírito no corpo de Cristo, algo completamente diferente. Os defensores desta posição, esclarece Stott, concordam que o Espírito Santo batizou a todos os crentes no corpo de Cristo, mas isto não prova, para eles, que Cristo batizou a todos com o Espírito Santo. Stott afirma que esse tipo de argumentação é um exemplo de se tentar defender o indefensável, e passa, então, a refutá-la como se segue.
Em todas as sete ocorrências da frase, a idéia de batismo é expressa pelas mesmas palavras gregas bapti/zw, e)n, pneu=ma, e portanto, a priori, deve ser entendida como se referindo à mesma experiência de batismo. Esta é uma regra sadia de interpretação, diz Stott, e cabe aos que pensam o contrário apresentar provas de que ela não se aplica aqui. A interpretação natural é que Paulo estaria em 1 Co 12.13 ecoando as palavras de João Batista, como Jesus e Pedro haviam feito antes dele (At 1.15; 11.16). É estranho tomar Jesus como o batizador nas seis primeiras passagens, e então, na sétima, tomar o Espírito como sendo o batizador, já que as expressões são idênticas. A preposição grega em 12.13 é e)n, como nos demais versículos, onde é traduzida como "com". Por quê, pergunta Stott, deveria ser traduzida diferentemente?
Os quatro elementos de todo batismo
Ele então defende esse ponto com o argumento de que em qualquer tipo de batismo existem quatro partes: (1) o sujeito, que é o batizador, (2) o objeto, que é a pessoa sendo batizada, (3) o elemento em, ou no qual a pessoa é batizada, e (4) o propósito com o qual o batismo é realizado. Como exemplo, ele cita o "batismo" dos israelitas no Mar Vermelho (cf. 1 Co 10.1-2). Deus foi o batizador, os israelitas foram os batizandos, o elemento em que foram batizados foi água, ou vapor que caia das nuvens, e o propósito é indicado pela expressão "batizados em Moisés", isto é, para um relacionamento com Moisés como o líder apontado por Deus. O batismo de João, igualmente, tem quatro partes: João (o sujeito) batizou as multidões que vinham de Jerusalém e regiões circunvizinhas (os batizandos) nas (e)n) águas do Rio Jordão (elemento) para (ei)j) arrependimento e, portanto, remissão de pecados, cf. Mt 3.5,11. O batismo cristão é similar, continua Stott. O pastor (sujeito) batiza o candidato (objeto) na, ou com, água (elemento), e o batismo é ei)j, "para" o nome da Trindade, ou mais especificamente, para o nome de Cristo (Mt 28.19; At 8.16). O batismo do Espírito não é exceção a esta regra, conclui Stott. Se colocarmos as sete referências juntas, verificaremos que Jesus Cristo é o batizador (sujeito), todos os crentes (1 Co 12.13) são os batizandos (objeto), o Espírito Santo é o "elemento" com o qual (e)n ) somos batizados, e o propósito (ei)j) é a incorporação do crente no corpo de Cristo.
Stott reconhece que alguém poderia objetar que estas quatro partes não aparecem claramente em todos as sete passagens mencionadas. Por exemplo, o sujeito (o batizador) não aparece em 1 Co 12.13. Para Stott, isto não é problema: Jesus Cristo é o batizador implícito da passagem, assim como também em At 1.5 e 11.16. Ele não é mencionado porque nestas passagens o verbo "batizar" está na voz passiva, e a ênfase recai sobre as pessoas sendo batizadas, enquanto que o sujeito da ação recua para os bastidores.
Ele ainda argumenta que, se o Espírito é quem batiza em 1 Co 12.13, então, onde está o elemento com o qual ele batiza? Stott considera a falta de resposta a esta pergunta como sendo conclusiva de que sua interpretação é a correta, já que a metáfora do batismo requer um elemento. De outra forma, "batismo não é batismo". Ele conclui que 1 Co 12.13 refere-se a Cristo batizando com o Espírito Santo, e nos fazendo beber do Espírito, e que "todos nós" temos participado desta bênção (cf. Jo 7.37-39). Esta conclusão é reforçada pelo tempo dos dois verbos, "batizar" e "beber", ambos no aoristo, e que se referem, não a Pentecoste, mas à bênção pessoal recebida pelos cristãos em sua conversão.
Uma avaliação crítica
O quadro abaixo poderá nos ajudar a visualizar o pensamento destes dois eminentes servos de Deus sobre 1 Co 12.13.
QUADRO 1
COMPARAÇÃO DAS POSIÇÕES DE STOTT E LLOYD JONES


Em que Lloyd-Jones e Stott concordam
Não há diferença entre eles quanto aos batizandos (aqueles sendo batizados) de 1 Co 12.13, e nem de fato deveria haver. Com a expressão todos nós Paulo se refere aos crentes em geral, e não somente a si mesmo e aos coríntios. Paulo está descrevendo na passagem uma experiência que une todos os cristãos, independente de raça, sexo, ou status social, e que isto o apóstolo faz porque seu objetivo, na segunda parte de 1 Co 12, é enfatizar a unidade dos cristãos, em contraste com a diversidade dos seus dons. Colocado dentro desta perspectiva, fica pouca dúvida de que 12.13 esteja se referindo a uma experiência na qual todos os cristãos participam.
Da mesma forma, o propósito deste batismo é claramente indicado pela preposição ei)j. Ou seja, "colocar" o crente no corpo, que é a Igreja. Ambos concordam que esse é o alvo do batismo na passagem, e portanto, também concordam que o batismo mencionado é o mesmo que a conversão.
Em que Lloyd-Jones e Stott diferem
A tradução de e)n
Em primeiro lugar, analisemos a tradução da preposição e)n e a sua relação com o batizador, ou o agente do batismo. Não é fácil decidir sobre quem está certo, se Lloyd-Jones com a tradução "por", ou se Stott, com a tradução "com" ou "em". Todas são gramaticalmente possíveis. A decisão, finalmente, não será uma questão de gramática ou sintaxe, mas de teologia, das pressuposições teológicas que cada exegeta traz consigo ao analisar a passagem.
A favor da tradução "por um só Espírito" (Lloyd-Jones) está o fato de que esta é a tradução adotada pela maioria das traduções nas línguas modernas. Contra, está o fato de que esta tradução faz com que a passagem seja a única no Novo Testamento a fazer do Espírito Santo o agente do batismo, e não o elemento com o qual o crente é batizado. Mas, para Lloyd-Jones, isto não é dificuldade, pois o batismo "pelo" Espírito é de fato distinto do batismo "com" ou "no" Espírito. E esta é a pressuposição com a qual ele se aproxima de 1 Co 12.13, ou seja, que o batismo com o Espírito mencionado nos Evangelhos e no livro de Atos é uma experiência distinta da conversão.
A favor de Stott está o fato de que, nas demais ocorrências da expressão, a preposição pode ser traduzida por "com" ou "no" Espírito. Ao analisar 1 Co 12.13 à luz das seis outras ocorrências da expressão "ser batizado com o Espírito Santo", Stott utiliza-se de um princípio sadio e sólido de exegese bíblica: uma passagem da Escritura deve ser interpretada à luz de outras passagens que tratem do mesmo tema. Contra sua interpretação está o fato de que, em última análise, sua posição exige que a conversão dos apóstolos, dos samaritanos e dos discípulos de João Batista, narradas em Atos, tenha ocorrido na mesma ocasião em que foram batizados com o Espírito. Esta posição é insustentável, do nosso ponto de vista, já que, pelo menos no caso dos apóstolos, é evidente que eles já eram regenerados quando foram batizados com o Espírito Santo. Porém, se considerarmos as experiências de Atos como exceções, o caso muda de figura. É isto que Stott eventualmente faz.
A relação entre 1 Co 12.13 e as experiências no livro de Atos
Em segundo lugar, ambos divergem com respeito à relação entre 1 Co 12.13 e as demais passagens paralelas nos Evangelhos e Atos. Como vimos, Lloyd-Jones sustenta que se tratam de experiências diferentes: em 1 Coríntios "batismo pelo Espírito" se refere à conversão, enquanto que, em Atos, "batismo com o Espírito" se refere a uma experiência de confirmação e autenticação. Por outro lado, Stott afirma que em 1 Coríntios e em Atos, a expressão designa a mesma coisa, ou seja, conversão.
Não podemos entrar de forma profunda aqui neste artigo na questão do batismo com o Espírito Santo nos Evangelhos e no livro de Atos, mas podemos no mínimo afirmar que, em alguns dos casos narrados em Atos, o batismo com o Espírito ocorreu com pessoas que já eram crentes, como os discípulos em Pentecostes (At 2.1-4; cf. Jo 13.10; 15.3; Lc 10.20), e provavelmente os samaritanos (At 8.14-18; cf. 8.12). Somente em uma ocasião o batismo com o Espírito ocorreu claramente ao mesmo tempo que a conversão, que foi durante a pregação de Pedro na casa de Cornélio.
Os estudiosos têm tirado conclusões diferentes destes fatos. Lloyd-Jones, como vimos, conclui que tais fatos estabelecem a norma e a terminologia para todas as épocas da Igreja. Contudo, parece-nos que as experiências narradas em Atos são melhor entendidas à luz do contexto histórico em que ocorreram, à luz daquele período especial de transição, em que o Evangelho estava se universalizando, passando dos judeus para os gentios, um processo onde era necessário que manifestações extraordinárias acompanhassem os diferentes estágios desta transição, como uma forma de autenticação das mesmas. Esta é a convicção de Stott. Entendemos que MacArthur expressa bem esse ponto de vista, ao escrever o seguinte sobre a experiência dos samaritanos:
Aqueles crentes em particular tiveram de esperar pelo Espírito Santo, mas não lhes foi dito que deviam buscá-lo. O propósito daquela exceção era demonstrar aos apóstolos, e fazer ouvir entre os crentes judeus em geral, que o mesmo Espírito que havia batizado e enchido os crentes judeus, agora havia feito o mesmo com os crentes samaritanos, exatamente como, em pouco tempo, Pedro e outros judeus crentes, haveriam de ser enviados como testemunhas à casa de Cornélio, do fato de que "o Espírito havia também sido derramado sobre os gentios" (At 10.44-45).
Não entendemos que as experiências narradas em Atos, onde houve um intervalo entre conversão e batismo com o Espírito, sejam a norma para as demais etapas da Igreja de Cristo, após o período de transição ter-se completado, e nem que a terminologia "batismo com o Espírito" deva ser usada para experiências posteriores à conversão. Se tivéssemos de tomar algum evento como normativo, tomaríamos a experiência dos três mil no dia de Pentecostes, que num mesmo evento se converteram, receberam o Espírito, e foram batizados com aquele mesmo Espírito (cf. At 2.38).
Parece-me, concluindo, que a dificuldade com a posição de Lloyd-Jones é essencialmente uma questão de terminologia. Creio que ele está correto em sua tese fundamental. Ou seja, que a plenitude das bênçãos espirituais que recebemos em nossa conversão não esvaziam, necessariamente, a possibilidade de termos experiências espirituais profundas após a mesma, que envolvam o crente como um todo, que atinjam as suas emoções e transformem a sua vida, que o conduzam a níveis ainda mais elevados de vida cristã. A História Eclesiástica demonstra eloqüentemente a possibilidade destas experiências.
Porém, não estou convencido de que possamos usar a terminologia do "batismo com o Espírito Santo" para designá-las. Esta terminologia, na minha opinião, foi utilizada para expressar no início da Igreja os eventos únicos relacionados com as etapas da universalização do Reino, relatos esses expostos no livro de Atos. À parte do que está narrado no livro de Atos, as Escrituras não aparentam reconhecer qualquer intervalo entre a conversão e o batismo com o Espírito Santo. Assim, a expressão é corretamente empregada hoje para designar a experiência universal de todos os crentes, ao receberem a Cristo pela fé em seus corações. Ao mesmo tempo, é de se lamentar profundamente que, ao reagir contra os abusos e exageros de muitos que professam ter recebido um "batismo com o Espírito", vários estudiosos conservadores tenham adotado uma posição onde há pouco, ou nenhum, lugar para novos derramamentos do Espírito, para
reavivamentos e experiências espirituais profundas e ricas com Deus.
*Esse texto foi retirado da revista Fides Reformata. Indicamos a leitura desta revista para todos os cristãos que apreciam a doutrina reformada. fonte: http://www.fidesreformata.com.br/
Miguel Silva

segunda-feira, 27 de julho de 2009



Martyn Lloyd-Jones, John Stott, e 1 Co 12.13: O Debate sobre o Batismo com o Espírito Santo




1ª Parte




Augustus Nicodemus Lopes*
O debate na Igreja brasileira sobre o batismo com o Espírito Santo tem sido às vezes conduzido em torno das figuras do (já falecido) Dr. Martyn Lloyd-Jones e do Dr. John Stott.1 Mais particularmente, o debate tem girado em torno das suas interpretações da conhecida passagem de Paulo em 1 Coríntios 12.13, Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.2 A passagem é crucial para o debate, já que é a única, fora dos Evangelhos e de Atos, que traz juntas palavras como "todos", "Espírito", "batizar", "corpo", e "beber". Alguns defensores do batismo com o Espírito Santo como uma experiência distinta da conversão, referem-se ao Dr. Lloyd-Jones como exemplo de um teólogo reformado e puritano que defende essa posição. Os do campo contrário, referem-se ao Dr. Stott como um teólogo de renome mundial que sustenta ser o batismo com o Espírito Santo idêntico à conversão.
Duas observações iniciais sobre esta realidade. Primeira, o debate sobre o batismo com o Espírito Santo tem encontrado muito mais participantes ilustres do que apenas Lloyd-Jones e Stott. Existem muitos livros e artigos defendendo uma e outra posição, escritos por teólogos conhecidos e de diferentes persuasões teológicas. O fato de que, no Brasil, esta polêmica desenvolve-se em torno dos nomes de Lloyd-Jones e de Stott deve-se ao simples fato de que ambos tiveram suas obras traduzidas para o português, e outros não. E a segunda observação decorre deste último ponto: a doutrina do batismo com o Espírito Santo não é a principal ênfase dos ministérios de Lloyd-Jones e Stott.3 Ambos falaram e escreveram sobre muitos outros assuntos. Mas o fato é que, no Brasil, por falta de autores nacionais que escrevam claramente sobre o assunto, e que tomem uma posição definida, e também por causa das poucas traduções em português de livros sobre o tema, o debate desenvolveu-se mesmo em torno desses dois nomes.
Também é importante lembrar que esses dois importantes líderes não se envolveram pessoalmente em disputa pública sobre esse ponto específico. São alguns de entre os seus seguidores e admiradores que têm usado seus escritos para debater as diferenças que a discussão moderna sobre o assunto tem levantado. Lloyd-Jones e Stott, na verdade, estiveram envolvidos em outro tipo de polêmica, mais especificamente com relação a eclesiologia, e a unidade dos evangélicos.
Partindo então da inevitável realidade de que teremos de lidar com Lloyd-Jones e Stott ao nos referirmos à questão do batismo com o Espírito Santo em um artigo destinado a pastores e líderes brasileiros, tentaremos aqui dar uma colaboração ao debate através de uma apresentação e análise da posição de ambos, particularmente à luz da maneira como interpretam 1 Co 12.13.


Lloyd-Jones e 1 Co 12.13
Vamos começar com Martyn Lloyd-Jones, por uma questão de cronologia. Sua opinião sobre o batismo com o Espírito Santo, e sua interpretação de 1 Co 12.13, podem ser encontradas em três de suas obras principais. Primeiro, em God’s Ultimate Purpose, o primeiro volume de sua famosa série de sermões na carta aos Efésios, pregados nos anos 1954-1955, durante seu ministério na Capela de Westminster, Londres.5 Ele expõe Efésios 1.13 em seis capítulos, quando então aborda o tema do batismo com o Espírito Santo.6 Segundo, no volume da sua série em Romanos, entitulado The Sons of God, onde ele expõe Romanos 8.5-17.7 Esse volume contém os sermões pregados em Romanos durante os anos 1960-1961, dos quais oito tratam de Rm 8.16, uma passagem que, segundo Lloyd-Jones, refere-se ao batismo com o Espírito Santo.8 Por fim, em seu livro Joy Unspeakable, publicado em 1984, que é a transcrição de vinte e quatro sermões pregados em 1964 na Capela de Westminster, Inglaterra, numa série em João 1.26-33.9 Nesta obra, Lloyd-Jones trata de forma detalhada da sua posição sobre o batismo com o Espírito Santo, e de 1 Co 12.13.10 Procuraremos resumir, partindo destas fontes, a sua interpretação da passagem.11


O contexto do ensino de Lloyd-Jones
Devemos estar conscientes do contexto em que Lloyd-Jones aborda esse assunto. Ele estava reagindo a duas tendências de sua época, as quais considerava perniciosas para a vida da Igreja. Em primeiro lugar, contra o nascente movimento de "línguas", em Londres, cujos proponentes reivindicavam terem sido "batizados com o Espírito", e colocavam a ênfase maior no dom de línguas. Lloyd-Jones freqüentemente adverte contra os perigos do fanatismo, misticismo, e abusos nesta área,12 fato que às vezes tem sido esquecido por alguns que usam seus escritos para promover conceitos e práticas carismáticos.
Lloyd-Jones enfrentava ao mesmo tempo um tipo de ensino aparentemente ortodoxo que ele considerava ainda mais pernicioso à vida da Igreja do que os excessos dos carismáticos. Basta que leiamos os capítulos 21—25 do seu livro God’s Ultimate Purpose para verificarmos que, na maioria das vezes, ele está reagindo, não aos excessos do movimento carismático nascente, mas ao tipo de ensino que dizia que os crentes já tinham recebido tudo por ocasião da sua conversão, e que não mais precisavam buscar a plenitude do Espírito ou um nível maior de vida espiritual.13 Era esse Cristianismo antiemocional e intelectualista que prevalecia nas Igrejas evangélicas da Inglaterra. Para muitos pastores e estudiosos daquela época, todos os crentes já haviam recebido tudo do Espírito na sua conversão, e o que restava era irem se apropriando destes benefícios gradativamente, na vida cristã.14 Para eles, quase todos os aspectos da obra redentora e santificadora do Espírito Santo ocorriam num âmbito não "experienciável",15 e atividades do Espírito como o "selo" (Ef 1.13) e o "testemunho ao nosso espírito" (Rm 8.16) eram encarados como se processando em um nível intelectual, ou acima da nossa capacidade de sentir ou experimentar. Outros ensinavam que todas estas coisas eram para ser tomadas "pela fé", independentemente dos sentimentos ou das emoções.
Para Lloyd-Jones, esse tipo de ensino era responsável em grande parte pelo fato de a maioria dos cristãos na Europa desconhecerem um Cristianismo vigoroso, "experienciável", e de praticarem uma religião fria, sem emoções, e destituída de vigor e vida. Como pastor de formação puritana, Lloyd-Jones reagiu fortemente a esse tipo de ensino que acabava por negar o caráter "experienciável" da fé em Cristo, e o lugar das emoções na experiência cristã. Mas, o seu maior conflito com esses teólogos era que tal ensinamento, na sua opinião, não deixava lugar para reavivamentos espirituais, para novos derramamentos do Espírito sobre a Igreja.
Por esse motivo, ele abordou o assunto do batismo com o Espírito Santo muito mais em reação à frieza espiritual da sua época, do que em reação ao movimento carismático, que estava apenas em seus inícios naqueles dias.


O selo do Espírito e o batismo com o Espírito
Ao expor Ef 1.13, fostes selados com o Santo Espírito da promessa, Lloyd-Jones segue a interpretação de alguns teólogos Puritanos (Thomas Goodwin, John Owen, Charles Simeon, Richard Sibbes), e do famoso Charles Hodge de Princeton, que defendiam que esse "selo" não é a mesma coisa que a conversão, e pode ocorrer depois.16 A principal ênfase de Lloyd-Jones em sua exposição da passagem é que esse "selo" é algo que pode ser experimentado, sentido e identificado pelos crentes, e que não se trata de algo que já ocorreu automaticamente com todos eles na sua conversão. Como demonstração, ele menciona experiências de personagens famosos na História da Igreja, como John Flavel, Jonathan Edwards, D. L. Moody, Christmas Evans, George Whitefield e John Wesley.17
Trata-se de uma experiência, diz Lloyd-Jones, e não de um processo. Assim, é algo que deve ser buscado por cada um.18 Também não devemos confundir o "selo" com a plenitude do Espírito, e nem com a santificação;19 o "selo" também não é algo a ser "apropriado pela fé", como ensinam alguns pregadores e escritores:20 ele funciona como uma autenticação de Deus de que de fato pertencemos a ele, algo semelhante ao ocorrido com o Senhor Jesus quando foi batizado (comparar Jo 1.32-34 com 5.27).21
Lloyd-Jones identifica esse "selar" do Espírito com o "batismo" do Espírito, experimentado pelos apóstolos no dia de Pentecostes, e ainda pelos samaritanos, Cornélio e sua casa, e os discípulos de João Batista em Éfeso.22


O testemunho do Espírito e o batismo com o Espírito
Em sua exposição de Romanos 8.16, Lloyd-Jones afirma que o testemunho do Espírito ao nosso próprio espírito é mais do que o resultado de um processo racional, pelo qual o crente chega à certeza da salvação. Segundo ele, trata-se de uma certeza dada de forma imediata (sem o uso de meios) pelo Espírito, diretamente à nossa consciência. Portanto, é algo da mesma ordem que o "selo" ou batismo com o Espírito.23 É algo distinto da conversão, que ocorre após a mesma, às vezes em um intervalo de tempo extremamente breve.24


1 CoRÍNTIOS 12.13
Lloyd-Jones está consciente de que alguns apelarão para 1 Co 12.13 para contradizer seu ponto de vista. Para ele, a passagem ensina de fato que o Espírito Santo batiza o crente, colocando-o no corpo de Cristo que é a Igreja, e que isto ocorre na conversão, e que, portanto, todos os cristãos já foram objeto desta atividade do Espírito. Porém, ele argumenta, esse "batismo" de 1 Co 12.13 não é o mesmo "batismo" ou "selo" do Espírito mencionado nos Evangelhos e em Atos. O que ocorre é que a palavra "batismo" é empregada no Novo Testamento com vários sentidos diferentes.25 Para ele, o batismo pelo Espírito em 1 Co 12.13 significa o ato pelo qual o Espírito nos incorpora à Igreja, e que portanto é idêntico à conversão, ao passo que, nos Evangelhos, e principalmente em Atos, o batismo com o Espírito refere-se a uma experiência pós-conversão, confirmatória e autenticadora em sua essência.26
Lloyd-Jones argumenta que uma das diferenças decisivas entre 1 Co 12.13 e as passagens em Atos sobre o batismo com o Espírito Santo, é quanto ao agente do batismo, ou seja, a pessoa que batiza. Ele acredita que na expressão e)n e(ni/ pneu/mati h(mei=j pa/ntej ei)j e(\n sw=ma e)bapti/sqhmen a preposição e)n tem força instrumental, e que deve, portanto, ser traduzida "por um só Espírito", e não "em um só Espírito". Ele argumenta que "por" é a tradução da maioria das versões em Inglês, e que a preposição e)n ocorre em várias outras ocasiões no Novo Testamento com a mesma força instrumental (ele cita Mt 7.6; 26.52; Lc 1.51; Rm 5.9). Ele cita ainda várias outras autoridades na área de exegese que mantém esta opinião.27 Ele conclui que, em 1 Co 12.13, é o Espírito quem nos batiza no corpo de Cristo. Nas demais passagens, o agente é o Senhor Jesus, o que é algo muito diferente. A confusão existe pelo fato de que a mesma palavra "batismo" é usada.28 Em 1 Co 12.13 ela se refere à conversão, mas nas demais passagens, a uma experiência posterior à conversão, e portanto, distinta da mesma.


Era Lloyd-Jones um Carismático?
Em resumo, para Lloyd-Jones, o batismo com o Espírito Santo é uma experiência na qual o Espírito concede ao crente plena certeza de fé, e que deve ser identificada com o selo e o testemunho do Espírito mencionados por Paulo. Esta experiência resulta em poder e ousadia, que por sua vez, capacitam o crente a testemunhar eficazmente de Cristo.
É extremamente importante notar que o pensamento de Lloyd-Jones sobre o selo ou batismo do Espírito, é essencialmente diferente da posição pentecostal clássica, e da posição neopentecostal. Lloyd-Jones não vê nenhuma evidência bíblica de que esta experiência deva ser acompanhada pelo falar em línguas e pelo profetizar, ou por qualquer outra manifestação extraordinária. Na verdade, ele chama a atenção para o fato de que muitos dos dons que foram concedidos no início da Igreja Cristã não haviam sido mais concedidos no desenrolar desta mesma história. Ele aponta para o fato de que nenhum dos grandes nomes da História da Igreja, conhecidos como tendo passado por experiências profundas com o Espírito (que ele considera como tendo sido esse "selar" ou "batizar" do Espírito) terem manifestado dons como línguas, profecia, ou milagres. Para Lloyd-Jones, o ponto essencial desta experiência também não é a capacitação de poder, como enfatizado em círculos pentecostais e carismáticos, mas a certeza dada de forma direta, pelo Espírito, de que somos filhos de Deus.29
Como já mecionamos, ao mesmo tempo em que estava reagindo contra o Cristianismo frio e árido de sua época, Lloyd-Jones também estava em combate contra várias ênfases do nascente movimento carismático. Talvez o único ponto em que ele estivesse em acordo com eles é que o "selo" (batismo) do Espírito é algo distinto da conversão, e que ocorre após a mesma.30 As diferenças quanto ao propósito e às evidências deste evento são por demais distintas das
convicções
pentecostais-carismáticas, para que venhamos a classificar Lloyd-Jones como um carismático.
MIGUEL SILVA

O Conceito Dispensacionalista da Aliança

Segundo Scofield, "uma dispensação é um período de tempo durante o qual o homem é provado quanto à obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus". Dando mais ampla explicação disso, diz ele na página 20 do seu folheto sobre a Correta Divisão da Palavra de Deus (Rightly Dividing the Word of Ttuth) : "Cada dispensação pode ser considerada como uma nova prova do homem natural, e cada uma delas termina em juízo - assinalando o seu fracasso". Toda dispensação tem suas próprias características, e é tão distinta das demais que não pode ser misturada com nenhuma delas. Geralmente se distinguem sete dispensações: as dispensações da inocência, do governo humano, da promessa, da lei, da graça e do reino. Em resposta à questão sobre se Deus é assim tão inconstante que precisou mudar a Sua vontade, a respeito do homem, sete vezes, Frank E. Gaebelein replica: "Não é Deus que vacilou. Embora haja sete dispensações, em princípio são uma só, totalmente baseada na prova única da obediência. E se o homem fosse achado capaz de preencher as condições baixadas pela primeira dispensação, as outras seis seriam desnecessárias. Mas o homem falhou. Contudo, em vez de expulsar a Sua criatura culpada, Deus se compadeceu e o submeteu a nova prova sob novas condições. Assim, cada dispensação termina com o fracasso do homem e, cada dispensação demonstra a misericórdia de Deus".


Há sérias objeções a esse conceito.
(a)
A palavra dispensação (oikonomia), que é um termo bíblico (cf. Lc 16.2-4; 1 Co 9.17; Ef 1.10; 3.2, 9; Cl 1.25; 1 Tm 1.4), aqui é empregada num sentido antibíblico. A referida palavra indica mordomia, uma disposição ou uma administração, mas nunca um período de prova ou de experiência.
(b) É evidente que as distinções são completamente arbitrárias. Já o patenteia o fato de que os próprios dispensacionalistas dizem que elas se sobrepõem umas às outras. A segunda dispensação é chamada dispensação da consciência, mas, segundo Paulo, a consciência continuava sendo o inspetor dos gentios nos seus dias, Rm 2.14,15. A terceira é conhecida como dispensação do governo humano, mas o seu mandamento específico, que foi desobedecido e que, portanto, tornou o homem passível de julgamento, não foi o mandamento para governar o mundo em lugar de Deus - coisa da qual não há vestígio - mas o mandamento para encher a terra. A quarta recebe o designativo de dispensação da promessa e se supõe haver terminado com a dádiva da lei, mas Paulo afirma que a lei não anulou a promessa e que esta continuava vigente nos seus dias, Rm 4.13-17; Gl 3.15-29. A dispensação da lei, assim chamada, está repleta de gloriosas promessas, e a dispensação da graça, assim chamada, não abrogou a lei como regra de vida. A graça só oferece escape da lei como condição de salvação (como ocorre na aliança das obras), da maldição da lei e da lei como poder suplementar.
(c) De acordo com a descrição usual desta teoria, o homem está sempre em prova. Ele falhou na primeira prova e assim perdeu a recompensa da vida eterna, mas Deus se compadeceu dele e, por Sua misericórdia, deu-lhe nova oportunidade de experiência. Repetidos fracassos levaram a repetidas manifestações da misericórdia de Deus com a introdução de novas experiências que, todavia, mantiveram o homem em prova o tempo todo. Isto não é equivalente a dizer que Deus com justiça prende o homem natural à condição da aliança das obras - o que é perfeitamente verdadeiro - mas que Deus, com misericórdia e compaixão e, portanto, aparentemente para salvar o homem, dá-lhe oportunidade após oportunidade de satisfazer as condições sempre variantes e, assim, obter a vida eterna pela prestação de obediência a Deus. Esta representação é contrária à Escritura, que não descreve o homem decaído como ainda em prova, mas como um completo fracasso, totalmente incapaz de prestar obediência a Deus, e absolutamente dependente da graça de Deus para a salvação. Bullinger, ele próprio um dispensacionalista, se bem que de um tipo algo diferente, está certo quando diz: "O homem estava então (na primeira dispensação) no que se chama 'sob prova'. Isso marca aquela administração aguda e absolutamente; pois agora o homem não está sob prova. Supor que está é uma falácia popular que fere a raiz das doutrinas da graça. O homem foi experimentado e provado, e provou que é uma ruína".
(d) Esta teoria é também de tendência divisora, desmembrando o organismo da Escritura com resultados desastrosos. Segundo a teoria em foco, as partes da escritura que pertencem a uma das dispensações são dirigidas ao povo dessa dispensação e a mais ninguém, e só têm significação para esse povo. Significa, nas palavras de Charles C. Cook, "que no velho testamento não há uma única sentença que se aplique ao cristão como regra de fé e prática - nem um só mandamento que o obrigue, como também não há ali uma única promessa dada a ele em primeira mão, exceto aquilo que está incluído na vasta corrente do plano de redenção, ali ensinado por meio de símbolos e profecias". [4] Não significa, diz a teoria em apreço, que não podemos extrair lições do Velho testamento. A Bíblia está dividida em dois livros, o Livro do Reino, que compreende o Velho Testamento; e o Livro da Igreja, que consiste do restante do Novo testamento e é dirigido a nós. Desde que as dispensações não se misturam, segue-se que na dispensação da lei não há nenhuma revelação da graça de Deus, e na dispensação da graça, nenhuma revelação da lei no sentido de obrigar o povo de Deus do tempo do Novo testamento. Se o espaço no-lo permitisse, não nos seria difícil provar que esta posição é inteiramente insustentável.

NOTAS:
[1] - Scofield Bible, p. 5.
[2] - Exploring the Bible, p. 95.
[3] - How to Enjoy the Bible . p. 65.
[4] - God's Book Speaking For Itself, p. 31.

Fonte: BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática . Editora Cultura Cristã.

Sola Gratia

Dez Efeitos de Se Crer nos Cinco Pontos do Calvinismo

Estes dez pontos são meu testemunho pessoal dos efeitos de se crer nos cinco pontos do Calvinismo. Eu tinha acabado de completar o ensino num seminário sobre este assunto, quando fui solicitado pelos membros da classe para que publicasse essas reflexões, de forma que eles pudessem ter acesso a elas. Estou muito feliz de assim o fazer. Apesar do conteúdo dessas reflexões estar disponível numa fita do Desiring God Ministries, eu o coloquei aqui para um aproveitamento mais amplo, na esperança de que elas possam motivar outros a investigar, como os Bereanos, para ver se a Bíblia ensina o que eu chamo de “Calvinismo”.

1. Estas verdades me fazem permanecer no temor de Deus e me guiam à profundidade da adoração centrada em Deus.

Eu me recordo o tempo quando eu primeiramente observei, enquanto ensinava Efésios no Colégio Betel no final da década de 70, a tripla declaração do objetivo de toda obra de Deus, a saber, “para o louvor da glória de Sua graça” (Efésios 1:6,12,14).
Isto me leva a ver que não podemos enriquecer a Deus e que, portanto, Sua glória brilha mais claramente, não quando tentamos satisfazer Suas necessidades, mas quando estamos satisfeitos nEle, como a essência de nossos feitos. “Porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória pois a Ele eternamente” (Romanos 11:36). A adoração se torna um fim em si mesma.
Isto tem me feito sentir quão fracas e inadequadas são minhas afeições, de forma que os Salmos de desejos tornam-se vivos e fazem a adoração intensa.

2. Essas verdades ajudam a me proteger de brincar com as coisas divinas.

Uma das maldições de nossa cultura é a banalidade, atração, inteligência. A televisão é o principal sustentador de nosso vício à superficialidade e trivialidade.
Deus é varrido nisto. Por conseguinte, a brincadeira com as coisas divinas.
Seriedade não é excessiva em nossos dias. Ela pode alguma vez ter sido. E, sim, há desequilíbrios em certas pessoas hoje, que parecem não ser capazes de relaxar e falar sobre o tempo.
Robertson Nicole disse de Spurgeon, “O evangelismo do tipo humorístico [poderíamos dizer crescimento de igreja do tipo marketing] pode atrair multidões, mas ele reduz a alma a cinzas e destrói os genuínos germes da religião. O Sr. Spurgeon é freqüentemente considerado por aqueles que não conhecem seus sermões, como tendo sido um pregador humorista. Para dizer a verdade, não houve nenhum pregador cujo tom fosse mais informalmente sério, reverente e solene” (Citado em Supremacia de Deus na Pregação, p. 57).

3. Estas verdades fazem com que me maravilhe com minha própria salvação.

Após expor a grande obra de salvação de Deus em Efésios 1, Paulo ora, na última parte deste capítulo, para que o efeito desta teologia seja a iluminação de nossos corações, para que nos maravilhemos na nossa esperança, e nas riquezas da glória de nossa herança, e no poder de Deus que opera em nós - isto é, o poder para ressuscitar os mortos.
Todo motivo de vanglória é removido. Alegria e gratidão de um coração quebrantado abundam.
A piedade de Jonathan Edwards começa a crescer. Deus nos dá uma prova de Sua própria majestade e nossa própria perversidade e então, a vida Cristã se torna uma coisa muito diferente da piedade convencional. Edwards a descreve belamente quando ele diz,
“Os desejos dos santos, embora sérios, são desejos humildes: sua esperança é uma esperança humilde, e sua alegria, mesmo quando ela é indizível, e cheia de glória, é humilde, uma alegria de um coração quebrantado, e deixa o Cristão mais pobre em espírito, e mais semelhante a uma pequena criança, e mais disposto a uma submissão universal de comportamento (Religious Affections, New Haven: Yale University Press, 1959, pp. 339s).

4. Estas verdades me fazem alerta para os substitutos antropocêntricos que se apresentam como boas novas.

Em meu livro, Os Prazeres de Deus (2000), págs. 144-145, eu mostro que no século XVIII, na Nova Inglaterra, o declínio da crença na soberania de Deus levou ao Arminianismo, e então ao universalismo, e então ao Unitarismo. A mesma coisa aconteceu na Inglaterra no século XIX, após Spurgeon.
O livro de Iain Murray, Jonathan Edwards: Uma Nova Biografia (Edinburgh: Banner of Truth, 1987), p. 454, documenta a mesma coisa: “As convicções calvinistas diminuíram na América do Norte. No progresso do declínio que Edwards tinha com razão alertado de antemão, aquelas igrejas Congregacionais da Nova Inglaterra que tinham abraçado o Arminianismo após o Grande Despertamento, gradualmente se moveram para o Unitarismo e universalismo, guiados por Charles Chauncy”.
Você pode ler também no livro de J.I. Packer, Quest for Godliness [1] (Wheaton, IL: Crossway Books, 1990), p. 160, como Richard Baxter abandonou estes ensinamentos e como as gerações seguintes colheram uma colheita amarga na igreja de Baxter, em Kidderminster.
Estas doutrinas são um baluarte contra os ensinamentos antropocêntricos em muitas formas, que gradualmente corrompem a igreja e a fazem fraca internamente, enquanto tudo parece forte ou popular.
1 Timóteo 3:15, “A igreja do Deus vivo [é] o pilar e o baluarte da verdade”.

5. Estas verdades me fazem gemer diante da indescritível doença de nosso século: uma cultura que faz pouco caso de Deus.

Eu dificilmente posso ler o jornal ou ver um anúncio na TV ou na billboard [2] sem sentir o peso de que Deus está ausente.
Quando Deus é a principal realidade no universo e é tratado como uma não-realidade, eu tremo diante da ira que está sendo entesourada. Eu sou capaz de ficar chocado. Muitos cristãos estão sedados com a mesma droga que o mundo está. Mas estes ensinos são um grande antídoto.
E eu oro por despertamento e avivamento.
E tento pregar para criar um povo que são tão saturados de Deus, que eles mostrarão e falaram sobre Deus em tudo lugar, e em todo tempo.
Nós existimos para reafirmar a realidade de Deus e a supremacia de Deus em tudo da vida.

6. Estas verdades me fazem confiar que a obra que Deus planejou e começou, Ele terminará - tanto globalmente como pessoalmente.

Este é o ponto de Romanos 8:28-39.
E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica; Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós; quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.

7. Estas verdades me fazem ver tudo à luz dos propósitos soberanos de Deus

Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente.
Tudo da vida se relaciona com Deus. Não há compartimento onde Ele não seja todo-importante e Aquele que dá significado à todas as coisas. 1 Coríntios 10:31.
Vendo o soberano propósito de Deus se desenvolvendo na Escritura, e ouvindo Paulo dizer que “Ele faz todas as coisas segundo o conselho de Sua vontade” (Efésios 1:11) me faz ver o mundo desta maneira.

8. Estas verdades me fazem esperançoso de que Deus tem a vontade, o direito e o poder de responder orações para que as pessoas sejam transformadas.

A garantia de oração é que Deus pode interromper e mudar as coisas - incluindo o coração humano. Ele pode mudar a vontade ao redor. “Santificado seja Teu nome” significa: faça com que as pessoas santifiquem Seu nome. “Possa Sua palavra correr e ser glorificada” significa: faça com que os corações sejam abertos para o evangelho.
Devemos tomar as promessas do Novo Concerto e implorar a Deus para que as cumpra em nossas crianças e em nossos vizinhos, e entre todas os campos missionários do mundo.
“Deus, tire o coração de pedra deles e lhes dê um coração de carne” (Ezequiel 11:19).
“Senhor, circuncide os seus corações, para que eles Te amem” (Deuteronômio 30:6).
“Pai, coloque Teu Espírito dentro deles e faça com que eles andem em Teus estatutos” (Ezequiel 36:27).
“Senhor, conceda-lhes arrependimento e o conhecimento da verdade, para que eles possam espaçar das ciladas do diabo” (2 Timóteo 2:25-26).
“Pai, abras os seus corações, para que eles creiam no evangelho” (Atos 16:14).

9. Estas verdades me fazem lembrar que o evangelismo é absolutamente essencial para que as pessoas venham a Cristo e sejam salvas, e que há grande esperança para o sucesso no conduzir as pessoas à fé, mas que a conversão não é, no final das contas, dependente de mim ou limitada pela dureza do incrédulo.

Assim, isto dá esperança ao evangelismo, especialmente nos lugares difíceis e entre povos duros.
João 10:16, ” Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz”.
Isto é obra de Deus. Se arremesse nela com abnegação.

10. Estas verdades me asseguram de que Deus triunfará no fim.

Isaías 46:9-10: “Eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antigüidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade.
Resumindo todos estes pontos: Deus recebe a glória e nós a alegria.

John Piper
Soli Deo Gloria

domingo, 26 de julho de 2009


Prefeitura entrega nova Praça João Calvino e Espaço Guigna
Em cerimônia realizada no início da noite desta sexta-feira, dia 10, a Prefeitura do Rio entregou à população um novo espaço de lazer e cultura no Centro, num local antes degradado: a Praça João Calvino, localizada na Rua Gustavo de Lacerda, em frente à Catedral Presbiteriana do Rio. A reforma da praça também recuperou totalmente o Espaço Guignard que, com novas instalações para eventos culturais de pequeno e médio porte, vai incrementar ainda mais o processo de revitalização do Centro histórico do Rio.
Links Patrocinados
O novo nome do local é uma homenagem aos 500 anos de nascimento do fundador da Igreja Presbiteriana, o pregador suíço João Calvino, completados exatamente nesta sexta-feira. Em honra a Calvino, considerado um dos mais brilhantes estudiosos da Bíblia de todos os tempos, o espaço ganhou uma estátua interativa do líder religioso, que inclui um púlpito com sonorização especial, para reproduzir músicas religiosas e sermões em eventos especiais.
A estátua também está localizada estrategicamente, de modo que fiéis e turistas possam posar para fotos junto a ela com a catedral ao fundo. Toda a a praça foi adotada pela própria Catedral Presbiteriana, que passa a ser responsável pela manutenção dos canteiros e áreas de circulação, e também por fechar seus portões à noite, para evitar a ação de vândalos e a presença de pessoas em situação de rua.
A solenidade de inauguração da praça e do novo monumento da cidade teve a presença do secretário municipal de Obras, Luís Antônio Guaraná, representando o prefeito Eduardo Paes, e foi prestigiada por representantes da Igreja Presbiteriana de todo o estado do Rio, bem como de outros estados brasileiros. Num breve discurso, Guaraná lembrou que o Centro do Rio passou, nos últimos anos, por um duro processo de degradação, mas que ações da Prefeitura como a realizada naquele ponto do Centro, próximo à Praça Tiradentes e à Lapa, em apenas seis meses de governo trouxeram de volta aos cidadãos espaços renovados, que ampliam a revitalização dessa região.
A reforma de toda a área foi executada por três órgãos da Secretaria Municipal de Obras: a RioUrbe, que fiscalizou e supervisionou os trabalhos; a Rioluz, que refez toda a iluminação do local, em especial a iluminação monumental; e a CGC, que recuperou o calçamento de pedras portuguesas brancas e vermelhas e o piso da rua de serviço no entorno. As equipes da SMO também construíram rampas de acesso, conjugadas com moderadores de velocidade na pista, para garantir a segurança de pessoas idosas ou com deficiência que queiram desfrutar da nova área verde.
Já o gradil original que cerca o Espaço Guignard e a praça, construído pelo escultor Franz Weissmann, amigo do pintor modernista, foi totalmente restaurado pela Fundação Parques e Jardins (FPJ), órgão da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Um dos dois portões que ficam nas pontas da Rua Gustavo de Lacerda foi recuperado e o outro, reconstruído.
O toque final no Espaço Guignard foi a inclusão de um pequeno palco ao ar livre, construído em madeira e concreto, com bancos corridos. Nele, o Centro de Artes Maria Tereza Vieira, vizinho à nova praça, pretende promover atividades sociais, pequenos shows e aulas de arte a céu aberto.
Texto: Karine Fonte
miguel silva
Fotos

A Controvérsia de Agostinho e Pelágio



por Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki

Aurélio Agostinho (354-430 d.C.), embora tenha nascido num lar cristão, viveu uma vida dissoluta antes da sua conversão. Durante nove anos foi maniqueísta, vindo a se converter à fé cristã em 386 d.C., sendo batizado em 387 d.C. por Ambrósio, em Milão. Em 391 d.C. foi ordenado ao sacerdócio, sendo quatro anos mais tarde consagrado bispo coadjutor de Hipona. Porém, em pouco tempo morreria o bispo Valério, e Agostinho assumiria o seu lugar, como bispo de Hipona. Mas somente em 412 d.C., é que começa a controvérsia que dividiu definitivamente as opiniões dentro da Igreja.
Ele é conhecido como um dos primeiros defensores das doutrinas da graça no período da patrística. A discussão sobre o livre arbítrio e predestinação já se estendia antes de Agostinho, eram assuntos conflitantes no seio da Igreja. Contudo, para o nosso objetivo sem mais delongas, basta dizer que em Agostinho o assunto foi definido quando ele sumarizou e sistematizou as opiniões já existentes, levando a Igreja a tomar uma posição oficial, ainda que temporariamente.

[1] Quando Pelágio se fez notar dentro da Igreja Cristã, Agostinho já era uma figura influente. Pelágio era um monge britânico que apareceu em Roma, por volta do ano 400 d.C., para refutar as doutrinas de Agostinho. Pelágio escreveu um comentário sobre as epístolas paulinas em 409 d.C.. A sua posição teológica pode ser denominada de “monergismo humano”, e esta foi expressa de forma mais desenvolvida pelo seu principal discípulo Celestius. Esse “monergismo humano” de Pelágio é assim chamado porque para ele o poder da vontade humana é decisivo e suficiente na experiência da salvação. Sua célebre frase expressa claramente essa mentalidade, quando ele afirma “se eu devo, eu posso”.
[2] A controvérsia entre Agostinho e Pelágio, se resumia em dois pontos teológicos: a liberdade [capacidade] da vontade humana (livre arbítrio), e na maneira como Deus opera sua graça. Quanto ao livre arbítrio, a discussão era se o ser humano é absolutamente capaz de exercer a sua liberdade, ou não. Agostinho ensinava e defendia a doutrina “do pecado original”, e os seus inevitáveis efeitos mortais sobre a vida de todos os descendentes de Adão. Pelágio, contudo negava tal contaminação, e afirmava a inocência da alma, como também a absoluta capacidade de escolha tanto moral, quanto espiritual.

Parte da discussão teológica envolvia o modo como Deus opera a sua graça. Agostinho, coerentemente com sua primeira afirmação, ou seja, de que todo ser humano é escravo do seu pecado e que o seu livre arbítrio possui uma fonte pecaminosa, morta espiritualmente, afirmava que o homem carece absolutamente da ação graciosa de Deus em todos os seus aspectos para ser salvo, sendo exposta essa posição na doutrina da predestinação. Pelágio, refutando Agostinho, afirmava que o homem possuí tanto o poder volitivo para escolher ser salvo, como para desistir desta salvação. Defendia que o ser humano possui uma capacidade de decidir o seu futuro independente da graça de Deus.
Agostinho falando explicitamente sobre a perseverança em sua obra De Corruptione et Gratia (427) declarou que
no caso dos santos predestinados ao Reino de Deus pela graça divina, a ajuda concedida para que perseverassem não foi aquela dada a Adão, mas uma ajuda especial comportando forçosamente a perseverança de fato, (...) sendo de tal maneira forte e eficaz que os santos não podiam fazer outra coisa senão perseverar de fato.
[3] Paulino, diácono de Milão, acusou Celestius, principal discípulo de Pelágio, de seis erros doutrinários. Esta acusação recebeu a sua forma escrita numa carta contendo as seguintes afirmações
(1) Adão foi criado mortal e teria morrido, quer tivesse pecado, quer não;
(2) o pecado de Adão contaminou só a ele e não a raça humana;
(3) as crianças recém-nascidas estão naquele estado em que estava Adão antes da queda;
(4) a raça humana inteira nem morre por causa da morte de Adão, nem ressuscita pela ressurreição de Cristo;
(5) a lei, tanto quanto o Evangelho, conduz ao reino dos céus;
(6) mesmo antes da vinda do Senhor houvera homens sem pecado.

[4] O próprio Agostinho percebeu incoerências em seu sistema doutrinário registrado em sua obra Livre Arbítrio
[5]. Decidiu escrever um outro livro que expressasse suas idéias de modo mais consistentes e amadurecidas, que ele intitulou Graça e Livre Arbítrio
[6]. Mesmo após essa revisão em sua teologia Agostinho continuou contendo algumas inconsistências em seu próprio sistema. Embora sustentasse a predestinação, em alguns de seus escritos ele não a expressava com coerência, pois esta doutrina estava comprometida com erros doutrinários acerca de seu tendencioso sacramentalismo.
[7] O sacramentalismo afetava radicalmente a doutrina da salvação de Agostinho. Wright concluí que “esse sacramentalismo tornou a salvação dependente, na prática, da boa vontade e da capacidade do indivíduo de obedecer à igreja. Assim, na prática, a igreja e não as Escrituras tornou-se o locus final da autoridade.”
[8] Agostinho chegava a dizer que “as igrejas de Cristo afirmam o princípio implícito de que, sem o batismo e a participação na mesa do Senhor, homem algum pode chegar ao reino de Deus, e à salvação, e à vida eterna.”
[9] A maneira como Agostinho tentou resolver esta incoerência foi afirmando que a prova da eleição baseia-se não somente na regeneração, mas também na perseverança, segundo ele “todo o que é batizado é regenerado, mas é verdadeiramente eleito o que possui a graça da perseverança.”
[10] Mas isso não anulou a sua inconsistência teológica, pois a sua afirmação continuou sendo dúbia. Embora defendesse a predestinação, ele se tornava incoerente fazendo a perseverança depender de sua doutrina sacramentalista.
As idéias de Pelágio foram fortemente refutadas por Agostinho numa série de tratados que se tornaram conhecidos como escritos antipelagianos. O Pelagianismo foi condenado oficialmente pela Igreja antiga nos concílios de Cartago (418 d.C.), de Éfeso (431 d.C.) e finalmente no Concílio de Orange II (529 d.C.). A partir de então a Igreja Ocidental tornou-se oficialmente agostiniana em seu entendimento da doutrina da graça, todavia, essa oficialidade estava um tanto que longe da realidade dos clérigos e igrejas locais.

As decisões dos concílios não puseram fim na controvérsia. O Pelagianismo conseguiu sobreviver mesmo após a sua condenação oficial. Alguns dos discípulos de Agostinho não eram totalmente coerentes ou concordantes com Agostinho. Sendo que o próprio Agostinho possuía incoerências em sua doutrina, surgiu outro sistema doutrinário conhecido como Semipelagianismo que procurava estabelecer um sincretismo entre as doutrinas de Agostinho e Pelágio. O objetivo era de acalmar os ânimos desta controvérsia, e resolver alguns aspectos teológicos acerca da liberdade e responsabilidade humana, que o sistema agostiniano não havia resolvido. O Semipelagianismo tem sido a doutrina oficial da Igreja Católica Romana. Foi este sistema teológico que os Reformadores enfrentaram. E deste sistema Jacobus Arminius derivou a sua teologia que ficou conhecida como Arminianismo.


NOTAS:
[1] - R.K. McGregor Wright, A Soberania Banida, (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 1998) pp. 21-22.
[2] - Williston Walker, História da Igreja Cristã (Rio de Janeiro e São Paulo, JUERP/ASTE, 2 a ed., 1980) vol. 1, p. 240.
[3] - Santo Agostinho, De Corruptione et Gratia citado por Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã (São Paulo, ASTE, 2001), p. 107.
[4] - Citado por Williston Walker, História da Igreja Cristã, p. 241.
[5] - Santo Agostinho, O Livre Arbítrio in: Patrística (São Paulo, Ed. Paulus, 1995).
[6] - Santo Agostinho, A Graça in: Patrística (São Paulo, Ed. Paulus, 1998).
[7] - William Cunningham, Historical Theological (London, The Banner of Truth Trust, 1969) vol I, p. 356-358.
[8] - R.K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida , p. 24.
[9] - Williston Walker, História da Igreja Cristã, p. 238. [10] - James Orr, El Progresso del Dogma (Terrassa, Ed. CLIE, 1988) p. 127.
SOLI DEO GLORIA!!!