domingo, 29 de setembro de 2013

Leitura no céu?

Que vontade louca de ler todos
os livros que estão na minha fila de espera! E comprar dezenas de outros, e devorá-los continuamente. Aqui estou, na página da Livraria Saraiva, com 23 livros no carrinho. Vou cancelar a compra! Mas não pela falta de tempo. Isso não é uma boa justificativa para não comprar livros. É que estou, digamos, “indisposto” a gastar R$ 914,70 com livros.
Ao pensar sobre a escassez de dinheiro, quer dizer, tempo, perguntei-me: leremos no céu? É claro que a bem-aventurança suprema e maior do céu será a comunhão perfeita e eterna com Deus. É por isso que chamamos a morada eterna dos salvos de céu. Mas isso não quer dizer que Deus não nos concederá outros prazeres, finitos, inferiores, mas ainda sim prazerosos. Não era assim no paraíso, antes da Queda? As frutas que Deus havia criado não eram desprovidas de gosto; a vegetação e tudo ao derredor tinha cheiro e beleza estética. E, além de tudo isso, Adão e Eva desfrutaram do prazer do casamento, algo desejado, planejado e criado pelo próprio Deus. A criação é um testemunho vívido de que Deus tem prazer em conceder prazeres às suas criaturas.
Se antes da Queda havia esses prazeres secundários, não há nenhuma razão bíblica ou lógica para a ausência deles no futuro. Pelo contrário, há motivos sobejos para que os tenhamos naquele que será um estado eterno de bem-aventurança, sem possibilidade alguma de uma nova queda.
Pensando nisso, a leitura parece ser um prazer “especial”. Deus claramente gosta de “leitura”. Ele é um Deus que se comunica. A nossa linguagem e a comunicação que se dá por meio dela é reflexo da linguagem e comunicação que sempre existiu dentro da Trindade ontológica. Deus, o único ser que nunca veio à existência, é um Deus que se comunica. Logo, há um diálogo trinitário eterno e perfeito. E ele se revelou ao homem por meio de uma literatura, o único livro perfeito em toda a história da humanidade. A Bíblia Sagrada!
Além do mais, pensando no controle exaustivo de Deus sobre todas as coisas, incluindo os pensamentos dos homens, podemos ir mais além. Ora, aqueles que creem no testemunho da Escritura, testemunho que apresenta Deus como aquele que não somente decretou nos mínimos detalhes toda a história da humanidade, mas que também executa esse plano sem ser frustrado em nada, haverão de concordar comigo. Os pensamentos que surgem na minha mente são resultado do decreto de Deus: tantos os pensamentos que o exaltam, como os que são rebeldes contra ele. É ele quem inclina o coração do rei “a todo o seu querer” (Pv 21.1). Sendo assim, obras primas como “O Senhor dos Anéis” são produto da mente de Deus em primeiro lugar, e não da mente do grande Tolkien. Foi Deus quem escreveu essa trilogia fantástica antes da fundação do mundo. O autor final de A Cidade de Deus foi Agostinho, mas o grande autor por detrás dessa filosofia da história espetacular é o Deus Triúno. A Instituição da Religião Cristã, de Calvino? Obra de Deus! Orgulho e Preconceito? Estava na mente de Deus muito, muito antes de o mundo saber quem é Jane Austen. Os Miseráveis igualmente. É por isso que, quando leio Crime e Castigo, primeiro penso na sabedoria e criatividade de Deus, antes de me admirar diante do talento de Dostoiévski.
Talvez isso levante uma objeção. E quanto aos livros de péssima qualidade, para não dizer os obscenos e até mesmo blasfemos? Creio que o Apóstolo Paulo, que escreveu algo que estava na mente de Deus muito antes, pode nos ajudar com a seguinte pergunta retórica: Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? (Rm 9.21). Sim, a Bíblia diz que as coisas ruins que acontecem nesse mundo também foram planejadas e decretadas por Deus. Sim, os homens são responsáveis pelos seus atos, e ninguém pode se queixar dessa decisão de Deus. Por quê? Por que ele é Deus! Em termos bem simples, esse é o argumento de Paulo em todo o capítulo de Romanos 9.
Portanto, os livros ruins são, sim, fruto da mente de Deus. Na literatura humana, Deus também escolheu alguns vasos de desonra. E Paulo Coelho não é o único! As boas novas é que ninguém será condenado ao inferno por ser um péssimo escritor. Aqueles que reconhecem os seus pecados, e correm em direção a Cristo em fé e arrependimento, com certeza serão aceitos, sejam quais forem os seus dotes literários. Talvez a conversão envolverá a vergonha e o repúdio de bobagens que se tenha escrito nos dias de ignorância. Mas há lugar! Há lugar para os péssimos escritores! Quanto àqueles que desprezam a Cristo e ao seu Evangelho (a maior obra literária de toda a história do mundo), eles não somente serão privados de ler bons livros por toda a eternidade, mas sofrerão eternamente no fogo do inferno.
Sim, você descobriu. Eu respondi SIM!


Felipe Sabino
O autor é Bacharel em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Mato Grosso (2001). Além de cursar o Master of Arts (Religion) no Reformed Theological Seminary (Charlotte, EUA), é Bacharelando em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina, Mestrando em Teologia Filosófica pelo Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper (Instituto Presbiteriano Mackenzie) e Mestrando em Filosofia (Conceito CAPES 3) pela Universidade de Brasília (UnB). Presbiteriano por convicção, é membro da IPB desde 2002. É atualmente Presbítero da Igreja Presbiteriana Semear (Brasília-DF).