quarta-feira, 23 de março de 2011

Como podemos saber se uma guerra é justa?


A pouco tempo estive no Congresso Internacional de Religião, Teologia e Igreja, que teve como palestrante o Dr. Wayne Grudem. O tema foi Política e Teologia e os vídeos do congresso já estão disponíveis no link: http://www.mackenzie.br/congresso_religiao2011_videos.html

O Dr. Grudem publicou ano passado um livro sobre Política e a Bíblia e usou o livro nas palestras que proferiu, infelizmente ainda não foi traduzido para o português, mas faço aqui uma simples demonstração de uma parte do livro, espero que apreciem:

[1]É claro que há guerras erradas, tais como as guerras motivadas meramente por conquistas e saques. Como podemos dizer se uma guerra é certa ou errada? Durante séculos de discussão ética relativa às questões de guerra, um ponto de vista comum foi desenvolvido com muita influência dos eruditos cristãos, a tradição da “guerra justa”. Este ponto de vista argumenta que uma guerra é moralmente certa (ou “justa) quando ela atende a certos critérios. Ele também argumenta que há certas restrições morais no modo como a guerra pode ser conduzida.
Parece a mim que esta tradição de “guerra justa”, em geral, é consistente com o ensino bíblico sobre a necessidade das nações se auto-defenderem contra suas inimigas. Aqui está um sumário recente e útil dos critérios para uma guerra justa, junto com referências bíblicas que suportam estes critérios. Eu penso que estes critérios, em geral, são consistentes com estes ensinos bíblicos:

Ao longo do tempo, a guerra justa tem desenvolvido um conjunto comum de critérios que podem ser usados para decidir se ir para guerra em uma específica situação é certo. Isto inclui o seguinte: (1) justas causas (é a razão para ir a guerra causa moralmente certa, tal como a defesa de uma nação? cf. Ap 19.11); (2) autoridade competente (a guerra não foi declarada simplesmente por um renegado grupo dentro de uma nação, mas por um reconhecido, autoridade competente dentro da nação? cf. Rm 13. 1); (3) justiça comparativa (deve estar claro que a ação do inimigo é moralmente errado, e os motivos e ações da nação que está indo para guerra, em comparação, é moralmente certa; cf. Rm 13.3); (4) intenção certa (o propósito de ir a guerra para proteger a justiça e retidão é mais do que simplesmente roubar, saquear e destruir outra nação? cf. Pv 21.2); (5) último recurso (todo os outros meios razoáveis de resolver o conflito foram exauridos? cf. Mt 5.9; Rm 12.8); (6) probabilidade de sucesso (há expectativa razoável para que a guerra possa ser vencida? cf. Lc 14.31); (7) proporcionalidade de resultados projetados (os bons resultados que virão de uma vitória são significantemente maiores do que os danos e perdas que inevitavelmente virão com o prosseguimento da guerra? cf. Rm 12.21 com 13.4); e (8) espírito reto (a guerra foi empreendida com grande relutância e pesar nos danos que virão mais do que simplesmente o “prazer na guerra”, no Sl 68.30?).
Em adição a esses critérios para decisão se uma específica guerra é “justa”, defensores da teoria da guerra justa têm também desenvolvido algumas restrições morais em como uma guerra justa deve ser lutada. Essas incluem o que segue: (1) proporcionalidade no uso da força (não podem ser causadas maiores destruições do que a necessária para vencer a guerra; cf. Dt 20.10-12); (2) discriminação entre combatentes e não combatentes (na medida em que é viável a busca de sucesso de uma guerra, o cuidado adequado está sendo tomado para prevenir danos para os não combatentes? cf. Dt 20.13-14,19-20); (3) suspensão dos meios maus (capturado e derrotado inimigos serão tratados com justiça e compaixão, e os próprios soldados sendo tratados justamente no cativeiro? cf. Sl 34.14); e (4) boa fé (há um genuíno desejo para a restauração da paz e eventualmente vida em harmonia com o ataque da nação? cf. Mt 5.43-44; Rm 12.18)[2]

Ronaldo Barboza de Vasconcelos


[1] GRUDEM, Wayne. Politics-According to the Bible: a comprehensive resource for understanding modern political issues in light of scripture. Grand Rapids: Zondervan, 2010, p. 389-390.
[2] “War”, in ESV Study Bible, p. 2555.

terça-feira, 22 de março de 2011

Livros Não Mudam Pessoas

John Piper

Livros não mudam pessoas; parágrafos, sim. Às vezes, até sentenças. Ainda recordo uma tarde, no outono de 1968, quando estive em uma livraria na Avenida Colorado, em Pasadena, e li a primeira página de The Weight of Glory (O Peso de Glória), escrito por C. S.Lewis. Ainda que eu não tivesse lido outra página, minha vida teria sido mudada para

sempre. Talvez possa resumir o que li em duas sentenças: “Somos criaturas indiferentes,que brincam com bebidas, sexo e ambição, enquanto o gozo infinito é-nos oferecido; como,uma criança ignorante que deseja continuar brincando na lama em uma favela, porque não,imagina o que significa o oferecimento de um feriado na praia. Satisfazemo-nos com coisas

pequenas demais”.1 Quase trinta anos depois,2 ainda sinto o arrepio daquela descoberta e o,ímpeto de luz que me atingiu. Nada mais seria o mesmo. Apenas um parágrafo, e a obramdecisiva foi realizada.

Isso não é algo novo. Dezesseis séculos atrás, em agosto de 386, Agostinho estava em aflição espiritual. Em um jardim de Milão (Itália), ele se lançou ao chão, debaixo de uma figueira, e deu lugar às lágrimas, que jorravam de seus olhos: “Arranquei cabelos e bati na

cabeça com os punhos. Fechei os dedos e abracei os joelhos”. Em seguida, ele ouviu “a voz,melódica de um menino ou menina, não tenho certeza, que repetia em refrão: ‘Pega-o e lê;,pega-o e lê’”. Agostinho aceitou isso como “uma ordem divina para abrir meu livro das

Escrituras e ler a primeira passagem em que caísse o meu olhar”. Ele abriu e leu: “Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgia e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus e

nada disponhas para a carne no tocante às suas concupiscências”. Com duas sentenças, toda a aflição foi desfeita. “Não tive qualquer desejo de ler mais, nem precisava fazê-lo. Pois, em um instante, quando cheguei ao final da sentença, aconteceu como se a luz da confiança inundasse meu coração, e todas as trevas de dúvidas foram removidas”.3

Quanto a Lutero, sua vida foi tocada por intermédio de outra das grandes sentenças do apóstolo Paulo – Romanos 1:16-17. Na vida de Jonathan Edwards, foi 1 Timóteo 1:17.

Para John Wesley foi o prefácio do comentário livro A Epístola aos Romanos, escrito por Lutero. E poderíamos acrescentar outros nomes à lista. A verdade é que a leitura de muitos livros pode ser semelhante a ajuntar pedaços de madeira, mas as chamas brilham de uma única sentença. A marca é deixada na mente não pela queima de muitas páginas, e sim pelo calor de uma sentença aquecida por Deus.

Minha oração é que Deus se agrade em tornar as breves leituras deste livro e queimar uma sentença ou um parágrafo em sua mente. As meditações têm apenas duas ou três páginas de extensão. Não estão arranjadas em ordem de assuntos. O que as mantém

unidas é uma busca por experimentarmos a supremacia de Deus em toda a vida. O meu alvo é despertar e nutrir essa fome.

Fonte: Prefácio do excelente livro Uma Vida Voltada para Deus, John Piper, Editora Fiel, pg. 11-2. 1 Lewis, C. S. The Weight of Glory. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., p. 1-2. 2 Piper está escrevendo isso em 1997. (Nota do Monergismo) 3 Augustine’s Confessions, Book VIII. In: Brown, Peter. Augustine of Hippo: a biography. Berkeley,

Calif.: University of California Press, 1967. p. 108-1098.