Introdução

A objeção a crença em Deus parte da exigência que o teísta deva dar provas suficientes para a sua crença, e caso não consiga, deve ser considerada tal crença como irracional. Neste caminho andou Bertrand Russell, que afirmou não haver evidencias suficientes para crença em Deus[1], e mais recentemente Antony Flew[2], com a defesa da presunção do ateísmo, que além de argumentar não haver provas suficientes para crença em Deus, devemos permanecer ateus até que seja dada boa argumentação a favor da crença em Deus, portanto, o ônus da prova é sempre do teísta.
Plantinga resume a objeção à crença em Deus em duas premissas:
(1) Não é racional nem razoável aceitar a crença teísta na ausência de provas suficientes ou razões.
(2) Não temos qualquer prova ou, de qualquer modo, nenhuma prova suficiente em relação à premissa de que Deus existe.[3]
Portanto, não havendo provas suficientes da crença em Deus, não devemos colocar em suspenso, a atitude correta é a descrença. Por conseguinte, mediante as duas possibilidades:
(3) Deus existe
(4) Deus não existe

Com respeito a determinados tipos de proposições talvez eu tenha o dever de não acreditar nelas a não ser que tenha uma prova. Talvez eu tenha um dever de não aceitar a negação de uma proposição aparentemente evidente por si só a não ser que veja que ela está em conflito com outras proposições que também parecem evidentes. Talvez eu tenha o dever de aceitar uma proposição tal como vejo uma árvore, em determinadas condições que são difíceis de explicar em pormenor mas que, pelo menos, incluem a minha ponderação visual juntamente com o fato de eu ter um determinado tipo característico de experiência visual juntamente com o fato de não ter qualquer razão para pensar que o meu aparelho de percepção não está a funcionar bem.

Colapso do Fundacionalismo Clássico
A resposta do fundacionalista a estas perguntas é que para uma crença ser racional ela precisa ou ser básica ou estar fundamentada numa cadeia de proposições que alcancem uma crença básica. E afirmam que (5) uma proposição p é básica para pessoa S se e somente se, p for auto-evidente para S, ou incorrigível para S, ou evidente para os sentidos de S. Portanto, a crença em Deus é irracional, pois nem é básica e nem é derivada de uma cadeia de proposições que alcancem uma crença básica. Para Plantinga esta crença (5) não está fundamentada em nenhuma cadeia de crenças que chegue a uma crença básica, e nem, no entanto, preenchem as diretrizes para ser uma crença básica, assim, a resposta fundacionalista é contraditória, e não resolve o problema.
A Objeção Reformada à Teologia Natural

Que existe na mente humana, e na verdade por disposição natural, certo senso da divindade, consideramos como além de qualquer dúvida. Ora, para que ninguém se refugiasse no pretexto de ignorância, Deus mesmo infundiu em todos certa noção de sua divina realidade, da qual, renovando constantemente a lembrança, de quando em quando instila novas gotas, de sorte que, como todos à uma reconhecem que Deus existe e é seu Criador, são por seu próprio testemunho condenados, já que não só não lhe rendem o culto devido, mas ainda não consagram a vida a sua vontade.[4]
Calvino acredita que a crença em Deus é algo universal, todos indistintamente têm o sensus divinitatis, que é suprimido pelo pecado e faz a mente distorcer esta crença, levando a descrença. Portanto, para Calvino a crença em Deus não precisa de provas, ela é propriamente básica, rejeita assim, a teologia natural, pois, para a tradição reformada a crença em Deus não depende do sucesso de alguma argumentação probabilística, ou nas incertezas e correções das provas clássicas. A epistemologia reformada afirma que o teísta está completamente em seu direito epistêmico de acreditar em Deus, mesmo que não tenha um bom argumento teísta (dedutivo ou indutivo). Rejeitam também o fundacionalismo clássico, pois, apesar de acreditarem haver crenças básicas, e estas não dependentes de outras crenças, não acreditam que uma crença seja básica apenas se for auto-evidente, incorrigível e evidente para os sentidos, pois, estão convencidos que a crença em Deus também é básica.
A Crença em Deus é realmente Básica?

(6) Vejo uma árvore
(7) Tomei o café da manhã esta manhã
(8) Aquela pessoa sofre

(9) Deus está falando comigo,
(10) Deus criou tudo isto,
(11) Deus não aprova aquilo que fiz,
(12) Deus perdoa-me,
(13) Temos de agradecer e louvar a Deus.
São proposições básicas nas circunstâncias certas. Portanto, não é exato dizer que a proposição existe uma pessoa que é Deus seja apropriadamente básica. De maneira exata, básico são as proposições de (9) a (13). Isto também acontece com as crenças em objetos perceptíveis, de outras mentes e do passado:
(14) Existem árvores,
(15) Existem outras mentes,
E
(16) O mundo existe há mais de cinco minutos
Não são, de fato, apropriadamente básicos; são realmente básicas proposições como:
(17) Vejo uma árvore
(18) Aquela pessoa está contente
(19) Tomei o café da manhã há mais de uma hora.
Conclusão
Concluímos afirmando que é perfeitamente racional acreditar em Deus, e esta crença não carece de prova evidencial, pois é uma crença apropriadamente básica. O teísta tem o direito epistêmico de acreditar em Deus sem que lhe seja exigido nenhuma prova. Por fim, lembramos que o defensor da presunção ateísta, Antony Flew, em 2004 anunciou que deixava de ser ateu para acreditar em Deus, este filósofo morreu em Abril deste ano.
[1] Sua argumentação contra a crença em Deus pode ser encontrada principalmente em RUSSELL, Bertrand. Por que não sou cristão. Porto Alegre: L&PM, 2008.
[3] PLANTINGA, Alvin. A Crença Religiosa como “Realmente Básica”. In: TALIAFERRO, Charles; GRIFFITHS, Paul. Filosofia das Religiões: Uma Antologia. Lisboa: Instituto Piaget, 2003. PP 279.
[4] CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã. Vol I Cap III. Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, pp 53
[5] PLANTINGA, Alvin. A Crença Religiosa como “Realmente Básica”. In: TALIAFERRO, Charles; GRIFFITHS, Paul. Filosofia das Religiões: Uma Antologia. Lisboa: Instituto Piaget, 2003. PP 309-10.