domingo, 26 de junho de 2011

Os evangélicos e a ditadura




O artigo Os Evangélicos e a Ditadura Militar na revista IstoÉ Independente desta semana é muito elucidativo sobre a postura da igreja evangélica brasileira naquele momento sombrio da história de nosso país. O texto pode ser visto como mais um ponto de apoio para aqueles que adoram criticar os evangélicos. Para isto, no entanto, será necessário ignorar que o mesmo não fala apenas do silêncio, apoio e, em alguns casos, cooperação com o governo militar por parte de evangélicos, mas também da resistência, prisão e tortura sofrida por evangélicos que não concordaram com a ditadura. Ou seja, antes de utilizar este texto para selar sua crítica mordaz contra a Igreja Evangélica, lembre-se de que foi desta mesma Igreja que surgiram as histórias de resistência narradas no texto. Como eu disse, o artigo da IstoÉ é muito elucidativo. Mas temo que muitos não perceberão isso e o lerão sob as lentes de sua ideologia apenas como mais um sinal para jogar pedras na Igreja Evangélica Brasileira.
Diferente do artigo da IstoÉ, muitas das ingênuas acusações que ouço sobre o apoio dos evangélicos à ditadura militar, dão-me a impressão que, não fosse o apoio destes, a ditadura não teria sido instaurada no Brasil. Mas fazer tal insinuação é ser ignorante do fato que os evangélicos representavam apenas pouco mais de 4% da população brasileira em 1964. Com certeza a ditadura não se instaurou por causa do apoio (ou do silêncio) desta minoria.
Se iremos praticar a mensagem que pregamos com tanto ardor no mundo pós-moderno e usar de um pouco de graça para com aqueles evangélicos que apoiaram a ditadura militar, é imperativo também que entendamos o ponto de vista deles . Para eles, a ditadura, embora indesejada, parecia melhor do que a ameaça do Comunismo (e a matéria da IstoÉ deixa isto bem claro na citação de Enéas Tognini). E o tipo de Comunismo que estes crentes temiam era um sistema de governo ateu e totalitário que sabe-se perseguiu, torturou e matou muito mais pessoas nos países onde assumiu o controle do que todas as vítimas da ditadura militar brasileira. Tal temor não justifica a cooperação com o governo militar e a denúncia que levou muitos de seus irmãos de fé para a prisão, tortura e morte. Mas, sem esta perspectiva, é impossível entender tais ações e fica muito fácil simplesmente atirar pedras.
Observando algumas reações ao artigo da IstoÉ, considero no mínimo irônico que muitos críticos dos evangélicos que apoiaram a ditadura militar sejam simpatizantes de Che, Fidel, Mao, Kadafi, Chávez, dentre outros “líderes revolucionários” (na verdade, ditadores). O que me faz pensar que não é a ditadura que eles realmente são contra, mas é contra a ditadura da direita (se for de esquerda, está valendo?). É por isto que acredito que precisamos tomar muito cuidado para não misturar o Evangelho com ideologia política, pois é desta mistura que têm sido projetadas as piores manifestações de Cristianismo na história.
Finalmente, quero deixar bem claro que sou contra a ditadura, de qualquer forma, sob qualquer circunstância. Sou contra governos totalitários sejam de direita, de esquerda ou de centro. Sou contra o uso da tortura, qualquer que seja a justificativa apresentada para o mesmo. Sou contra perseguir, aprisionar, matar pessoas por razões ideológicas, religiosas ou quaisquer que sejam.
Que possamos aprender com os erros do passado, para não repeti-los amanhã.