sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A importância de disciplinar os filhos

As conseqüências para os filhos quando os pais são negligentes

Julio Severo
A questão da disciplina dentro da família encontra-se bem tratada na Palavra de Deus. E o Novo Testamento até a utiliza para demonstrar como Deus não age diferente dentro de sua própria família espiritual:
Vocês se esqueceram da palavra de ânimo que ele lhes dirige como a filhos: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho”. Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Ora, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados.(Hebreus 12:5-11 NVI, o destaque é meu.)
Esse simples texto da Bíblia que lida com a questão da repreensão e castigo resume muito bem a essência da disciplina. O texto inteiro foi baseado no seguinte versículo de Provérbios: “Meu filho, não despreze a disciplina do SENHOR nem se magoe com a sua repreensão”. (Provérbios 3:11 NVI) O Novo Testamento fez assim uma referência bem relevante, pois não há livro em toda a Bíblia que contenha mais orientação sobre disciplina de filhos do que Provérbios.

Um pai da Bíblia que corrigia os filhos — só com palavras

Se Provérbios é um livro que explica muito bem o que é a disciplina, então todos os pais mencionados na Palavra de Deus sabiam aplicá-la? Não. Nem todos os pais da Bíblia corrigiam seus filhos. Alguns escolhiam simplesmente a correção verbal, e nada mais. O sacerdote Eli, por exemplo, criou os filhos no sacerdócio e, quando se tornaram homens, eles cometiam freqüentemente pecados contra Deus. Eles estavam até violando os sacrifícios oferecidos a Deus na casa de Deus:
Os filhos do sacerdote Eli não prestavam e não se importavam com Deus, o SENHOR. Eles não obedeciam aos regulamentos a respeito daquilo que os sacerdotes tinham o direito de exigir do povo. Assim os filhos de Eli tratavam com muito desprezo as ofertas trazidas a Deus, o SENHOR. E para o SENHOR o pecado desses moços era muito grave. (1 Samuel 2:12,13a,17 NTLH)
Eli via os pecados de seus filhos e, como todo pai bonzinho, não ficava em silêncio. Ele sempre abria a boca para dar uma bronca neles.
“Eli já estava muito velho. Ele ouvia falar de tudo o que os seus filhos faziam aos israelitas e também que eles estavam tendo relações com as mulheres que trabalhavam na entrada da Tenda Sagrada. Então Eli disse: — Por que é que vocês estão fazendo essas coisas? Todos me falam do mal que vocês estão praticando. Parem com isso, meus filhos! Eu estou ouvindo o povo do SENHOR Deus dizer coisas terríveis a respeito de vocês! Se uma pessoa peca contra outra, o SENHOR pode defendê-la. Mas quem pode defender aquele que peca contra Deus?” (1 Samuel 2:22-24,25a NTLH, o destaque é meu.)
Há pais que se calam diante de pecados horríveis dos próprios filhos, nem ousando mencionar para eles que parem seu comportamento sexual errado, mas essa fraqueza Eli não tinha. Ele apontava os erros no nariz dos filhos. No entanto, a Palavra de Deus revela claramente a reação dos filhos de Eli às repreensões do pai e a reação do Senhor à desobediência e teimosia deles: “Mas eles não ouviram o pai, pois o SENHOR havia resolvido matá-los.” (1 Samuel 2:25b NTLH)

Deus, em seu amor, faz visitações proféticas a Eli

Como sacerdotes do Senhor, tanto Eli quanto seus filhos conheciam muito bem a Palavra de Deus. Mas mesmo assim, os filhos de Eli estavam decididos a desobedecer à Palavra de Deus e ao seu próprio pai, e Eli estava decidido a não disciplinar ninguém — limitando-se no máximo a passar um sermão. Já que todos estavam assim decididos contra as ordens e conselhos da Palavra de Deus, Deus também resolveu decidir: ele decidiu que a solução para os filhos de Eli era a pena de morte.
Apesar de que Eli estava entristecendo muito a Deus pela sua falta de ação, Deus sempre demonstrou misericórdia, na esperança de que Eli pudesse se arrepender e finalmente assumir a postura de um pai que age. Através de mensagens proféticas, Deus deixou bem claro para Eli que ele queria muito mais do que só palavras. Se os filhos teimavam em desobedecer, a obrigação de Eli era, além de repreender, tomar medidas concretas. Foi nesse ponto que Deus mandou um profeta a Eli:
“Então um profeta procurou Eli e lhe deu esta mensagem de Deus, o SENHOR: —Eu me revelei ao seu antepassado Arão quando ele e a sua família eram escravos no Egito. Você sabe que eu os escolhi, entre todas as tribos de Israel, para serem meus sacerdotes, servirem no altar, queimarem incenso e usarem o manto sacerdotal na minha presença. E dei a eles o direito de ficarem com uma parte dos sacrifícios queimados no altar. Por que é que vocês olham com tanta ganância para os sacrifícios e ofertas que eu ordenei que me fossem feitos? Eli, por que você honra os seus filhos mais do que a mim, deixando que eles engordem, comendo a melhor parte de todos os sacrifícios que o meu povo me oferece? Eu, o SENHOR, o Deus de Israel, prometi no passado que a sua família e os seus descendentes me serviriam para sempre como sacerdotes. Mas agora eu digo que isso não vai continuar. Pois respeitarei os que me respeitam, mas desprezarei os que me desprezam. Olhe! Está chegando o tempo em que eu matarei todos os moços da sua família e da família do seu pai para que nenhum homem da sua família chegue a ficar velho. Você passará dificuldades e terá inveja de todas as coisas boas que vou dar ao povo de Israel, mas ninguém da sua família chegará a ficar velho. Deixarei vivo apenas um dos seus descendentes, que será meu sacerdote. Mas ele ficará cego e perderá toda a esperança. E todos os seus outros descendentes morrerão de morte violenta. Hofni e Finéias, os seus dois filhos, morrerão no mesmo dia, e isso será uma prova para você de que o que eu disse é verdade. Escolherei para mim um sacerdote fiel, e ele fará tudo o que eu quero. Darei a ele descendentes que sempre estarão a serviço do rei que eu escolher. E todos os outros descendentes de você que, por acaso, ficarem com vida terão de se curvar diante do rei para pedir dinheiro e comida e implorarão para ajudar os sacerdotes, a fim de terem alguma coisa para comer”. (1 Samuel 2:27-36 NTLH)
Deus já havia decidido que a penalidade para as ofensas que os sacerdotes Hofni e Finéias estavam cometendo era a morte. Mas como Eli não queria cumprir sua responsabilidade como pai e como supremo sacerdote de punir severamente as maldades deles, a maldição e pena de morte que estavam sobre Hofni e Finéias cairiam sobre a família inteira de Eli. Deu até usou o menino Samuel para avisar Eli:
“E o SENHOR disse: — Eu vou fazer com o povo de Israel uma coisa tão terrível, que todos os que ouvirem a respeito disso ficarão apavorados. Naquele dia farei contra Eli tudo o que disse a respeito da família dele, do começo até o fim. Eu lhe disse que ia castigar a sua família para sempre porque os seus filhos disseram coisas más contra mim. Eli sabia que eu ia fazer isso, mas não os fez parar. Por isso, juro à família de Eli que nenhum sacrifício ou oferta poderá apagar o seu terrível pecado.” (1 Samuel 3:11-14 NTLH)
Depois de tal repreensão divina, um homem sábio se prostraria diante de Deus, agradeceria sua visitação sobrenatural, pediria perdão e se comprometeria diante do Senhor a agir de acordo com a Palavra de Deus, castigando quem merecia ser castigado, mesmo que envolvesse um castigo de pena capital. Mas qual foi a reação de Eli quando Samuel lhe entregou o recado profético?
“Então Samuel contou tudo, sem esconder nada. E Eli disse: — Ele é Deus, o SENHOR. Que ele faça tudo o que achar melhor!” (1 Samuel 3:18 NTLH)
Em outras palavras, Eli quis dizer: “Se Deus quiser agir e fazer o que eu mesmo não estou fazendo, ele pode fazer o que ele quiser, mas eu não vou agir. Que Deus aja sozinho”. Como se diz, ele tirou o corpo fora — não aceitando a chance de colaborar com Deus na ordem da família de Deus e na própria família dele! Ele queria simplesmente continuar tratando seus filhos adultos do mesmo jeito que ele vinha tratando-os desde a infância: sem lhes ministrar castigo físico.

Conseqüências da negligência de um pai

Eli evitou sua responsabilidade de castigar, e as maldições sobre Hofni e Finéias se cumpriram, atingindo muito mais do que suas próprias vidas — afetando a nação inteira de Israel. Quando Israel enfrentou seus terríveis inimigos filiteus em batalha — sob a liderança “espiritual” de Hofni e Finéias —, houve grande derrota. Os israelitas descobriram, da pior forma, que estavam sem proteção espiritual:
“ — O povo de Israel fugiu dos filisteus! — respondeu o mensageiro. — Foi uma terrível derrota para nós. Além de tudo, os seus filhos Hofni e Finéias foram mortos, e os filisteus tomaram a arca da aliança. Quando ouviu falar na arca, Eli caiu da cadeira para trás, perto do portão da cidade. Ele estava muito velho e gordo. Por isso, quando caiu, quebrou o pescoço e morreu. Eli foi o líder do povo de Israel quarenta anos.” (1 Samuel 4:17-18 NTLH)
Eli não se preocupou muito com a morte dos filhos, pois ele já sabia que não havia outro destino para eles. Ele se preocupou mais com o destino da arca. Contudo, se ele tivesse agido energicamente, sua família não receberia maldição nem a arca seria tomada.
Poucos anos depois, praticamente toda a família sacerdotal de Eli foi brutalmente assassinada pelo rei Saul (cf. 1 Samuel 22), cumprindo-se assim a palavra profética dirigida a Eli: “E todos os seus outros descendentes morrerão de morte violenta”. (1 Samuel 2:33b). A teimosia de um pai em não punir a teimosia e maldade dos próprios filhos removeu a segurança espiritual que poderia proteger os netos, bisnetos e outros familiares de Eli contra a fúria cega e assassina de Saul anos depois.
O profeta Samuel, em sua infância e juventude, viu tudo o que aconteceu com Eli e seus filhos. Ele viveu no ambiente sacerdotal de Eli, mas a diferença é que Samuel não era filho de Eli.
Ana, uma esposa israelita estéril, havia orado muito a Deus pedindo um filho. Deus respondeu dando-lhe a bênção de conceber Samuel em seu ventre. Depois do nascimento de Samuel, Ana o levou à casa de Deus — onde Eli ocupava a função de supremo sacerdote — e o entregou e consagrou ao serviço de Deus, separando-se fisicamente dele. (Veja 1 Samuel 1)
Do ponto de vista humano, o menino Samuel corria o risco de sofrer o mesmo tipo de deficiência educativa que Eli havia dado a seus próprios filhos — pois os filhos de Eli não sabiam o que era castigo físico. Do ponto de vista divino, tudo o que Ana e seu marido não podiam fazer por seu filho Samuel, Deus daria. Aliás, Deus soberanamente preencheu com sua maravilhosa graça toda a deficiência e má influência de Eli na criação e educação de Samuel.

A graça de Deus não é automática

Mesmo sendo criado sem nenhum castigo físico, Samuel milagrosamente não se tornou o tipo de adulto que eram os filhos de Eli. Samuel viu que a graça de Deus que estava sobre ele o tinha livrado de toda contaminação e dano. Daí ele pode ter concluído que é possível educar crianças sem a aplicação da disciplina física. Sem dúvida alguma, a falta de dano foi obra exclusiva da graça de Deus, porém Samuel pode bem ter pensado que ele poderia “sustentar” essa obra em sua família, sem jamais precisar recorrer a uma surra. A Palavra de Deus fala muito sobre Samuel e sua integridade, mas não fala muito sobre seus filhos, e o pouco que fala revela que eles não herdaram a integridade do pai. Tudo o que a Palavra de Deus diz sobre os filhos de Samuel é:
“Quando envelheceu, Samuel nomeou seus filhos como líderes de Israel. Seu filho mais velho chamava-se Joel e o segundo, Abias. Eles eram líderes em Berseba. Mas os filhos dele não andaram em seus caminhos. Eles se tornaram gananciosos, aceitavam suborno e pervertiam a justiça”. (1 Samuel 8:1-3 NVI)
Samuel só tinha dois filhos, e eles eram corruptos — provavelmente porque o pai lhes deu a mesma educação (humanamente deficiente) que recebeu. A graça de Deus que trabalhou na vida de Samuel — sem a necessidade do uso da disciplina física — não trabalhou na vida de seus filhos. A graça de Deus não é uma bênção que nós escolhemos, nem é automática. Deus é que soberanamente escolhe e dá.
Samuel deve ter agido como sua mãe Ana, entregando seus filhos para a graça de Deus, achando que somente isso bastava. O que ele fez não é errado, mas as situações eram distintas. Na criação de Samuel, não havia um pai para discipliná-lo. Na criação dos filhos de Samuel, havia um pai para discipliná-los, porém esse pai tentou um caminho de fé que acabou não funcionando. Seu exemplo serve de lição para nós hoje. Os pais podem e devem entregar seus filhos a Deus e depender da graça de Deus, mas jamais podem deixar de cumprir os mandamentos específicos de Deus sobre educação e correção de filhos. Usar a graça de Deus como desculpa para evitar a responsabilidade da disciplina física é dar um salto no escuro — arriscando mandar os filhos para o mesmo destino e abismo de corrupção dos filhos de Samuel!
O mesmo Deus que em situações especiais concede soberanamente sua graça também orienta o seu povo sobre o método divino de castigo físico para a educação das crianças. A graça de Deus pode agir em situações em que a criança por um motivo ou outro não recebe castigo físico, principalmente na ausência dos pais, mas é arriscado e errado fechar deliberadamente os ouvidos para as orientações de Provérbios e “deixar para a graça de Deus” um trabalho e responsabilidade que Deus deu diretamente aos pais. Deus pode trabalhar quando os pais não estão presentes, exatamente como aconteceu na infância de Samuel, mas quando os pais estão presentes, eles devem agir conforme já está bem claro na Palavra de Deus.
Enquanto formos seres humanos, temos necessidades humanas. Uma dessas necessidades é disciplina, correção e castigo, que fazem parte tanto da família natural quanto da família espiritual. Para ajudar os pais na importante e difícil tarefa da disciplina, Deus nos deixou o Livro de Provérbios, que contém muitas passagens sobre o assunto.

O que a sabedoria de Deus ensinou a Salomão

O Livro de Provérbios na Bíblia foi, em grande parte, escrito por Salomão, filho de Davi. Sendo então o autor principal de Provérbios, como foi então que Salomão conseguiu escrever tanto sobre disciplina física de crianças? Foi por causa do exemplo de seu pai? Foi com o que aprendeu em seu lar na infância?
Salomão não aprendeu princípios de disciplina por experiência própria nem com o que via ao seu redor, pois no próprio lar em que cresceu ele nunca levou uma surra corretiva do pai. Por algum motivo, Davi nunca corrigia a teimosia e desobediência de seus filhos. Ele falhou nessa área. Ele foi um homem justo em muitas áreas, porém a Palavra de Deus mostra seu fracasso no desempenho de seu papel como pai. Quando seu filho Amnom estuprou a própria irmã, a maioria das versões bíblicas se limita a dizer que Davi ficou furioso quando soube da violência sexual, porém a Septuaginta revela muito mais:
“Quando soube disso, o Rei Davi ficou muito irado. Mas Davi não castigou seu filho Amnom. Ele favorecia Amnom porque ele era seu filho mais velho”. (2 Samuel 13:21 GW)
“Quando soube do que havia acontecido com Tamar, Davi ficou muito irado. Mas Amnom era seu filho mais velho e também o seu favorito, e Davi não queria fazer nada que deixasse Amnom infeliz”. (2 Samuel 13:21 CEV)
Outra passagem da Bíblia revela como Davi agia com seu filho Adonias:
Ora, toda a sua vida seu pai nunca havia sido contra ele ou lhe dito, Por que é que você fez isso? (1 Reis 1:6a BBE)
Mas seu pai nunca, nem uma só vez, o repreendeu dizendo: “Por que você agiu desse jeito?” (1 Reis 1:6a HCSB)
Seu pai o estragou na infância, jamais lhe dando, nem uma só vez, uma bronca. (1 Reis 1:6a MSG)
Talvez Davi não tenha sofrido castigos divinos tão fortes quanto os castigos que Eli recebeu porque Davi estava casado com várias mulheres e não tinha, como rei, tempo para administrar sua imensa família. Tal fraqueza pode não lhe ter custado as maldições que Eli colheu, porém não o livrou de problemas sérios com seus filhos. Seu filho Absalão, que nunca apanhou, tomou o seu trono e quase o matou, agindo com extrema violência, estuprando as concubinas do próprio pai! O caso de Absalão mostra o engano dos que acreditam que só as crianças criadas com disciplina se tornam violentas. O oposto foi verdade no caso de Absalão. Seu irmão Amnom, criado sem nunca levar uma surra, cometeu um ato violento, estuprando a própria irmã!
A chave então para não sofrer problemas semelhantes na família não é seguir a moda de hoje de evitar a disciplina física, mas adotar uma postura equilibrada: uma criança criada de modo violento ou sem castigo físico pode acabar cometendo violências, mas uma criança criada com o uso sábio da disciplina física terá muito mais chance de levar uma vida marcada por um comportamento bom e correto.
Passando toda a sua infância no lar de Davi, vendo Amnom, Absalão e Adonias em seus maus comportamentos, Salomão sabia o que era a falta de disciplina por experiência própria. Aliás, ele sofreu na própria pele as conseqüências da falta de disciplina do lar de seu pai, pois seu mimado irmão Adonias tentou tomar o governo das mãos de Salomão, e papai Davi não fez nada. O mimado Adonias estava disposto a matar Salomão para ficar com o trono.
Salomão também conhecia o caso trágico de Eli, através do que seu pai Davi lhe contava. Davi soube dos problemas internos da família de Eli através do próprio profeta Samuel, que era seu amigo. Assim, através de Davi Salomão conhecia até a situação dos filhos de Samuel.
Talvez seu pai Davi não tenha se importado muito com a falta de castigo físico com que Eli, Samuel e ele mesmo criaram seus filhos porque aquelas gerações de modo geral não educavam crianças de outro jeito. Pelo fato de que grandes líderes espirituais daquela época como Eli, Samuel e Davi não viam nada de errado com a falta de disciplina física na educação de filhos, é bem possível que em Israel a educação sem castigo físico fosse bem mais comum do que se poderia imaginar.
Provavelmente, o próprio Salomão nunca colocou em prática os princípios de disciplina de filhos que ele escreveu em Provérbios quando ele ainda era jovem, muito temente a Deus e não tinha esposa e filhos. Provérbios orienta os homens a ter somente uma esposa[1], porém Salomão teve muitas.[2] Ele desobedeceu.[3] Provérbios é o livro da Bíblia que mais ensina sobre disciplina, porém Roboão, filho de Salomão, seguiu a tradição da família de Davi de filhos mimados e maus.
Mas só porque Salomão não conseguiu obedecer significa que todos os homens de Deus também não conseguirão ter somente uma esposa e educar e corrigir os filhos conforme os excelentes princípios de Provérbios?

O que Deus fala aos pais através de Provérbios

Nas muitas orientações que escreveu sobre correção de filhos, Salomão não foi influenciado por costumes de sua família nem pela cultura ao seu redor. Ele estava sem condições de escrever com base na própria experiência, pois ele e seus irmãos não sabiam o que era receber disciplina do pai. Foi a inspiração direta de Deus que o levou a sustentar a posição não de seu pai nem de sua cultura nem de seu próprio coração, mas de Deus na questão da disciplina física. A sabedoria de Deus o capacitou a entender e ver o que mesmo seu pai e Samuel não viam. Deus, através da sabedoria de Salomão em Provérbios, ensina:
“Aquele que poupa a vara odeia seu filho, mas aquele que o ama tem o cuidado de discipliná-lo”. (Provérbios 13:24 NIV)
“Quem se recusa a surrar seu filho o odeia, mas quem ama seu filho o disciplina desde cedo”. (Provérbios 13:24 GW)
“Aquele que poupa sua vara [de disciplina] odeia seu filho, mas aquele que o ama o disciplina com diligência e o castiga desde cedo”. (Provérbios 13:24 Bíblia Ampliada)
“Os açoites que ferem, purificam o mal; E as feridas alcançam o mais íntimo do corpo.” (Provérbios 20:30 TB)
“Os castigos curam a maldade da gente e melhoram o nosso caráter.” (Provérbios 20:30 NTLH)
“Os golpes e os ferimentos eliminam o mal; os açoites limpam as profundezas do ser”. (Provérbios 20:30 NVI)
“É natural que as crianças façam tolices, mas a correção as ensinará a se comportarem.” (Provérbios 22:15 NTLH)
“A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da correção a afugentará dele.” (Provérbios 22:15 RC)
“A insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela”. (Provérbios 22:15 NVI)
“Todas as crianças são sem juízo, mas correção firme as fará mudar”. (Provérbios 22:15 CEV)
“A crianças por natureza fazem coisas tolas e indiscretas, mas uma boa surra as ensinará como se comportar”. (Provérbios 22:15 GNB)
“Não retires a disciplina da criança, porque, fustigando-a com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno.” (Provérbios 23:13-14 RC)
“Não evite disciplinar a criança; se você a bater nela e castigá-la com a vara [fina], ela não morrerá. Você a surrará com a vara e livrará a alma dela do Sheol (Hades, o lugar dos mortos)”. (Provérbios 23:13-14 Bíblia Ampliada)
“Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno”. (Provérbios 23:13-14 RA)
“Não deixe de corrigir a criança. Umas palmadas não a matarão. Para dizer a verdade, poderão até livrá-la da morte”. (Provérbios 23:13-14 NTLH)
“Não evite disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela não morrerá. Castigue-a, você mesmo, com a vara, e assim a livrará da sepultura”. (Provérbios 23:13-14 NVI)
“É bom corrigir e disciplinar a criança. Quando todas as suas vontades são feitas, ela acaba fazendo a sua mãe passar vergonha”. (Provérbios 29:15 NTLH)
“A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe”. (Provérbios 29:15 RA)
“A vara e a repreensão dão sabedoria, mas o rapaz entregue a si mesmo envergonha a sua mãe”. (Provérbios 29:15 RC)
“Uma surra e um aviso produzem sabedoria, mas uma criança sem disciplina envergonha sua mãe”. (Provérbios 29:15 GW)
Contudo, embora favoreça surras com vara, a Palavra de Deus não apóia o excesso e a violência:
“Corrija os seus filhos enquanto eles têm idade para aprender; mas não os mate de pancadas”. (Provérbios 19:18 NTLH)
“Castiga teu filho enquanto há esperança, mas para o matar não alçarás a tua alma”. (Provérbios 19:18 RC)
“Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo”. (Provérbios 19:18 RA)
“Corrija seus filhos antes que seja tarde demais; se você não castigá-los, você os está destruindo”. (Provérbios 19:18 CEV)
“Discipline seus filhos enquanto você ainda tem a chance; ceder aos desejos deles os destrói”. (Provérbios 19:18 MSG)
Portanto, a Palavra de Deus não aceita nenhum tipo de excesso — nem falta de disciplina, nem surras violentas que colocam a vida da criança em risco.
A falta de disciplina pode representar derrota em muitas áreas para pais cristãos negligentes, que abrem a boca para repreender e mais nada. Embora os meios de comunicação freqüente e insistentemente destaquem os abusos de pais que utilizam a violência no lugar da disciplina, não há espaço igual para alertar o público sobre os perigos da falta de disciplina. Aliás, a elite liberal e esquerdista — dona dos meios de comunicação — escolheu o radicalismo no lugar do bom senso, preferindo apoiar esforços para proibir toda forma de castigo físico em crianças, tornando a falta de disciplina a norma em toda a sociedade.
O ponto preocupante é que se a falta de disciplina em lares cristãos fortes pode provocar grandes prejuízos, o que poderia ocorrer então a uma sociedade inteira que se deixou seduzir pela propaganda enganadora de que toda disciplina física equivale à violência? A Palavra de Deus pode não ter sido escrita por especialistas em psicologia, mas uma Mente Sábia está por traz de sua orientações. Trocar essas orientações por conselhos e leis da moda podem trazer alívio e acomodação no presente, mas também o espectro de um futuro incerto e sombrio, pois não há indivíduo ou sociedade que tenha experimentado sucesso rejeitando as orientações da Palavra de Deus.
Certos entendidos da Bíblia gostam de afirmar que algumas passagens da Bíblia não são mais válidas, porque na opinião deles sua aplicação só tem relevância para a cultura e sociedade do passado. Por exemplo, se Eli e Davi utilizassem a vara para disciplinar seus filhos, esses entendidos concluiriam, conforme seus próprios desejos, que o uso da vara como instrumento de correção no lar tinha uma aplicação cultural para aquela época que hoje não mais tem. Mas a realidade é bem outra, de modo que seria muito interessante ver esses estudiosos se contorcendo para interpretar, contra seus próprios gostos, que a falta de disciplina é uma prática cultural do antigo Israel sem valor para os dias de hoje! Mas esses estudiosos não agem assim. Só quando lhes é conveniente é que eles reinterpretam a Bíblia utilizando o argumento cultural.

A disciplina e os castigos fazem parte da família espiritual e humana

Assim como Deus disciplina seus próprios filhos espirituais, ele também quer que os pais aqui na terra disciplinem seus próprios filhos.
Embora as medidas de Deus contra a teimosia, rebelião e desobediência de seu povo sejam extremamente enérgicas e duras, ele limitou as ações enérgicas dos pais à utilização da vara em casos de necessidade.
No Novo Testamento, o Senhor Jesus se utiliza de repreensões e castigos para lidar com a desobediência de algumas igrejas. Uma das igrejas recebeu a seguinte censura do Senhor:
“No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz profetisa. Com os seus ensinos, ela induz os meus servos à imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender. Por isso, vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras que ela pratica. Matarei os filhos dessa mulher. Então, todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e retribuirei a cada um de vocês de acordo com as suas obras”. (Apocalipse 2:20-23 NVI)
Deus cuida de sua família espiritual, educando-a, treinando-a e castigando-a, e ele nos deixou o Livro de Provérbios a fim de que também eduquemos, treinemos e castiguemos nossos filhos. A educação de crianças de Provérbios pode ser resumida num só versículo:
“Eduque a criança no caminho em que deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele”. (Provérbios 22:6 NTLH)
Com os conselhos sábios de Provérbios, os pais podem treinar seus filhos a andar no caminho do comportamento bom e certo, e até o fim da vida eles praticarão o que aprenderam e evitarão os maus comportamentos.
Ninguém é mais sábio do que Deus em matéria de criação de filhos. Nenhum livro da Bíblia fala tanto de sabedoria quanto Provérbios. E ninguém na terra foi mais sábio do que Salomão, pois sua sabedoria vinha de Deus. Assim, a sabedoria de Deus juntamente com a sabedoria de seu servo Salomão produziram os conselhos mais sábios que os pais precisam para desempenhar a responsabilidade de treinar seus filhos no bom caminho.
Os “sábios” deste mundo — que são verdadeiros tolos diante de Deus — só aceitam o que seus amigos “sábios” ensinam. Mas os verdadeiros sábios aceitam o que a Mente mais sábia do universo ensina em Provérbios.
“O tolo pensa que sempre está certo, mas os sábios aceitam conselhos.” (Provérbios 12:15 NTLH)
“Quem anda com os sábios será sábio, mas quem anda com os tolos acabará mal.” (Provérbios 13:20 NTLH)

Educação sem castigo físico: na moda desde os tempos de Eli

A propaganda da moda, que segue o método de Eli de conversar e repreender sem usar uma vara, prega que a disciplina física leva a violência aos lares e à vida dos filhos. Hofni, Finéias, Amnom, Absalão e Adonias — onde quer que eles estejam hoje — jamais concordariam com esse tipo de opinião! Eles se tornaram maus e violentos e agora estão pagando um elevado preço, sofrendo castigo eterno. Quem acha que o método de criação e educação de filhos sem castigo físico é invenção moderna superando práticas passadas, não conhece a vida de Eli e Davi. Esse método não foi inventado pelos especialistas de psicologia de hoje. Foi inspirado no coração humano e está em vigor há milhares de anos.
Assim como no caso de Salomão, que não escreveu sobre disciplina baseado nas experiências de infância que teve na casa de seu pai, o autor deste artigo e sua esposa vêm de lares onde os pais não acreditavam na eficácia dos castigos físicos. Acreditavam apenas no método de Eli, jamais tolerando que uma criança levasse uma palmadinha para corrigir atos de teimosia e rebelião. Aliás, num de nossos lares, além de abundantes revistas “especializadas” em criação de filhos com abundantes conselhos psicológicos à la Eli, havia também um manual do Dr. Benjamin Spock, responsável pela moderna rejeição em massa ao uso da disciplina física. Os livros do Dr. Spock são vendidos há mais de meio século — criando pelo menos três gerações inteiras de pais que amam e seguem suas teorias como se fossem tão ou mais sagradas do que todas as orientações do Livro de Provérbios.
Hoje, apesar de toda essa tradição em nossas famílias, acreditamos na Palavra de Deus, que está acima das experiências, tradições, modismos e opiniões humanas — até mesmo de cristãos bem intencionados que são uma bênção em muitas áreas, mas seguem os passos de Davi e Eli quando falam e ensinam sobre criação de filhos. O melhor manual de criação de filhos sempre foi e sempre será a Bíblia, e o maior mestre não é o Dr. Benjamin Spock. É o Autor da Bíblia.
É claro que Deus não aceita abusos de autoridade, porém não é certo utilizar os casos de violência e excessos para anular as orientações do Livro de Provérbios para os pais, pois a Palavra de Deus é clara que é justamente a falta da aplicação de castigos físicos que pode levar as famílias e seus filhos a destinos trágicos. Essas tragédias poderão ter um grande aumento em toda a sociedade, pois a meta do governo é proibir os pais de disciplinar os filhos. Essa proibição inevitavelmente tornará ilegal e crime obedecer às orientações de Deus em Provérbios.
Eli morreu há mais de três mil anos, mas seus seguidores hoje são muitos, principalmente entre educadores, psicólogos e defensores dos “direitos” das crianças. Se estivesse vivo, ele exigiria sua marca registrada do método que muitos psicólogos hoje arrogantemente atribuem a seus próprios conceitos. Ele diria o que é muito comum em nossos dias: “Quero meus direitos! Eu sou o pai desse método! Essa invenção pertence a mim!” Ele poderia até processar os psicólogos por lhe terem roubado a invenção da “disciplina sem castigo físico”. Bom então para os psicólogos que Eli não esteja vivo!
Brincadeiras de lado, Eli e seus filhos podem estar sofrendo castigo eterno por não reconhecerem o valor do castigo físico aqui na terra. Pai e filhos podem estar pagando o mesmo preço, por causa de seus pecados. Bem que a Palavra de Deus avisa:
“Não fique com medo de corrigir seus filhos; uma surra não os matará. Uma boa surra, aliás, pode salvá-los de algo pior do que a morte.” (Provérbios 23:13-14 MSG)
Fonte: www.juliosevero.com

domingo, 27 de novembro de 2011

TRECHO DO PREFÁCIO DO LIVRO

TRECHO DO PREFÁCIO DO LIVRO

Quanto mais envelheço, mais me convenço de que a verdadeira prática da santidade não recebe a atenção que merece e que, lamentavelmente, existe um padrão de vida cristã muito baixo entre muitos mestres ilustres da religião em nosso país. Ao mesmo tempo, estou cada vez mais convencido de que o esforço zeloso de algumas pessoas bem-intencionadas em promover padrões mais elevados de vida espiritual não é feito “com entendimento” e provavelmente causa mais dano do que benefício. Deixe-me explicar o que quero dizer.

É fácil reunir multidões para os chamados encontros de “vida elevada” ou “consagração”. Qualquer um que tenha observado a natureza humana, tenha lido as descrições dos acampamentos americanos e estudado o curioso fenômeno das “afeições religiosas” sabe disso. Discursos sensacionais e empolgantes de pregadores estranhos ou de mulheres, música alta, salões quentes, barracas lotadas, rostos com a expressão de fortes sentimentos semi-religiosos durante vários dias, dormir tarde da noite, reuniões demoradas, confissão pública de experiências — todas essas coisas juntas são bem interessantes e parecem benéficas. Mas será que esse benefício é real, tem raízes profundas, é sólido e duradouro? Essa é a questão, e gostaria de fazer algumas perguntas em relação a isso.

Aqueles que freqüentam esses encontros transformam-se em pessoas mais santas, mais humildes, mais altruístas, mais bondosas, mais calmas, mais abnegadas e mais semelhantes a Cristo em seus lares? Tornam-se mais contentes com a sua própria posição econômica e ficam mais livres dos desejos impacientes de obter coisas diferentes daquelas que Deus lhes tem dado? Seus pais, mães, maridos, parentes e amigos percebem que eles estão se tornando mais agradáveis e mais fáceis de lidar? Essas pessoas conseguem desfrutar de um domingo tranqüilo e dos meios tranqüilos da graça, sem barulho, emoções intensas ou agitação? E, acima de tudo, estão crescendo no amor, especialmente no amor para com aqueles que não concordam com eles em cada pormenor de sua religião?

Estas são perguntas sérias e perscrutadoras e merecem ser consideradas com seriedade. Espero estar tão ansioso para promover a santidade prática quanto qualquer outro neste país. Admiro e reconheço, de boa vontade, o zelo e a seriedade de muitos, com os quais não posso cooperar, que estão tentando promover a santidade. Mas não posso negar minha crescente suspeita de que esses grandes “movimentos de massa” do momento, apesar do objetivo aparente de promover a vida espiritual, não tendem a promover a religião em casa, a leitura pessoal da Bíblia, a oração pessoal, a aplicação particular da Bíblia e um caminhar pessoal e diário com Deus. Se eles possuem algum valor real, deveriam levar as pessoas a serem melhores maridos e esposas, melhores pais e mães, melhores filhos e filhas, melhores irmãos e irmãs, melhores patrões e patroas e melhores empregados. Entretanto, gostaria de provas evidentes de que eles têm feito isso. Só sei que é bem mais fácil ser cristão em um recinto bíblico em meio às canções, às orações e a outros cristãos simpáticos, do que ser um cristão consistente em um lar sem harmonia, sem diálogo, afastado da cidade e longe de recursos. No primeiro caso, temos as disposições naturais a nosso favor, no segundo, não podemos ser crentes comprometidos sem a graça de Deus. Infelizmente, muitos dos que hoje em dia falam sobre “consagração” parecem ignorar os princípios elementares dos oráculos de Deus sobre a “conversão”.

Encerro este prefácio com o triste sentimento de que muitos daqueles que o lerem, provavelmente, não concordarão comigo. Compreendo que os grandes ajuntamentos do chamado movimento de “vida espiritual” são muito atraentes, especialmente para os jovens. Estes, naturalmente gostam de fervor, agitação e entusiasmo; eles perguntam: “Que mal há nisso?” É preciso aceitar que existem opiniões diferentes. Quando eu era jovem como eles, talvez pensasse da mesma maneira. Quando eles forem velhos como eu, é provável que concordem comigo. Concluo dizendo a cada um de meus leitores: exercitemos o amor ao julgarmos uns aos outros. Em relação àqueles que pensam que a santidade deve ser promovida a partir do chamado movimento “de vida espiritual” moderno, não tenho outro sentimento, senão amor. Se eles trouxerem algum benefício ficarei grato. Em relação a mim mesmo e àqueles que concordam comigo, peço-lhes que retribuam os opositores com amor. O último dia nos dirá quem está certo e quem está errado. Por enquanto, estou bem certo de que demonstrar amargura e frieza em relação àqueles que, por motivo de consciência, recusam-se a trabalhar conosco é provar que somos ignorantes na questão da santidade verdadeira.

J. C. Ryle
STRADBROKE
Outubro de 1879

Por J.C. Ryle (1816 – 1900) – primeiro Bispo de Liverpool da Igreja da Inglaterra.

Excerto do excelente livro: Santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor

Disponibilizado pela Editora Fiel


Fonte:voltemosaoevangelho.com

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Significado de "Fim da Lei" em Romanos 10.4


Paulo Sérgio Gomes

O grande volume de literatura produzida nos últimos anos enfocando o tema da lei em Paulo demonstra o caráter polêmico do assunto.1 Os principais textos "legais" do apóstolo têm sido cuidadosamente investigados,2 interpretações tradicionais são postas em cheque, surgem novas questões e perspectivas,3 conseqüentemente soluções inusitadas e desafiadoras são apresentadas.4 A interpretação de Romanos 10.4, já bem conhecida como um "campo de batalha", tornou-se ainda mais debatida com o surgimento da chamada "nova perspectiva" sobre Paulo e a lei.

Esta "nova perspectiva" sobre Paulo e a lei de Moisés vem se desenvolvendo a partir de obras de Krister Stendahl (1963) e principalmente E. P. Sanders (1977). Nessas obras é descartada a interpretação tradicional que entende que Paulo e o Novo Testamento nos apresentam o judaísmo daquele período como uma religião legalista. Conseqüentemente, surgiram várias novas interpretações para explicar a polêmica de Paulo contra a lei. A abordagem sociológica de J. D. G. Dunn é a que tem sido mais aceita: Paulo combate as obras da lei não porque expressam legalismo, mas porque "obras da lei" para Paulo se referem aos emblemas característicos do judaísmo (leis dietárias, sábado, e circuncisão), os quais enfatizam a separação entre judeus e gentios que Cristo aboliu.

É neste contexto que a interpretação de Romanos 10.4 ganha relevância extraordinária. O desafio exegético não é somente determinar se te/loj ("fim") deve ser entendido por "fim/terminação" ou "alvo/cumprimento" e em que sentido, mas agora é preciso tratar também da natureza da antítese presente no contexto em face dos novos questionamentos apresentados pela "nova perspectiva". Em outras palavras, é preciso determinar se Paulo está combatendo ou não o legalismo judaico como tradicionalmente se tem interpretado.

Portanto, nosso intuito neste trabalho é determinar o significado de Romanos 10.4 em seu contexto, procurando interagir com as principais questões e opiniões contemporâneas.

I. Análise Contextual

Nos capítulos 9 a 11 de Romanos Paulo retoma o tema já tratado de maneira provisional em 3.1-8, qual seja, a vindicação dos propósitos e do caráter de Deus em face à incredulidade dos judeus. S. K. Williams caracteriza o objetivo de Paulo em Romanos como a demonstração de que o seu evangelho está em perfeita concordância não somente com o plano de Deus mas também com quem Deus é: Senhor de todos os povos e para sempre fiel à sua própria natureza e propósito.5 Observamos também que já em 1.16 Paulo delineia a prioridade dos judeus na história da salvação a despeito de sua incredulidade (cp. 2.9-10; 3.1-2). Como ressaltou J. C. Beker: "Paulo demonstra como ele integra a universalidade do evangelho e a particularidade de Israel."6

Paulo introduz esta seção da carta (caps. 9-11) falando da tristeza do seu coração pela incredulidade dos seus compatriotas judeus (9.1-3) e menciona os privilégios concedidos por Deus a eles (9.4-5). Contudo a palavra de Deus não falhou7 , pois somente são verdadeiros israelitas os filhos da promessa, os quais são objeto do decreto soberano da eleição de Deus (9.6-13). Esta eleição não depende das obras praticadas pelas pessoas, quer sejam obras boas ou más, mas da vontade do que chama.8 Não há injustiça em Deus porque esta é uma questão de misericórdia (9.14-18); assim Deus manifesta tanto a sua ira e poder em vasos de ira, preparados para a destruição, como a riqueza da sua glória em vasos de misericórdia, preparados de antemão para a glória (9.19-23). A estes (que somos nós os crentes) Deus chamou não só dentre os judeus mas também dentre os gentios segundo seu propósito manifestado anteriormente pelos profetas (9.25-29). Nas passagens de Oséias (Os 2.25 e 2.1) citadas em 9.25-26 Paulo faz referência à salvação concedida aos dentre os gentios, e nas de Isaías (Is 10.22; 28.22; 1.9), citadas em 9.27-28, ele faz referência à salvação somente do remanescente dos filhos de Israel, que são os seus verdadeiros descendentes.9

Se até aqui Paulo focalizou o seu tema da perspectiva dos propósitos soberanos e do caráter justo de Deus, agora, de 9.30-10.21, ele o focaliza da perspectiva da atitude de Israel. No capítulo 11 ele abordará a questão a partir de uma perspectiva harmonizada na qual a soberania divina e a responsabilidade humana são enfatizadas.

Em contraste com os salvos dentre os gentios, os quais alcançaram a justiça que decorre da fé, embora não a buscassem,10 os não-salvos dentre Israel, apesar de buscarem lei de justiça, não atingiram essa lei, pois sua busca não decorreu da fé e sim como que das obras, e assim vieram a tropeçar na pedra de tropeço porque nela não creram (9.30-33).11 Paulo ora pela salvação deles dizendo que são zelosos por Deus, porém sem entendimento (10.1-2).O problema deles é desconsiderar ( a)gnoou=ntej, "desconhecendo")12 a justiça providenciada por Deus e tentar estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitando assim à justiça que vem de Deus,13 pois Cristo, para todo o que crê (judeu ou gentio), é o fim de se usar a lei para tentar estabelecer a justiça própria14 (10.3-4). A lei traz a exigência da prática;15 resta, portanto, ao transgressor da lei16 (quer judeu ou gentio) o caminho da justiça que é pela fé em Cristo — "todo aquele (judeu ou gentio) que invocar o nome do Senhor, será salvo" (10.5-13). A fé vem pela pregação da palavra de Cristo; contudo, a incredulidade dos judeus cumpre os propósitos de Deus que incluem também revelar-se aos gentios (10.14-21).

Deus se mantém fiel para com o seu povo ("a quem de antemão conheceu") salvando-lhe no presente o remanescente segundo a eleição da graça, do qual Paulo faz parte (11.1-5). Sendo pela graça, fica excluído o caminho das obras; a justiça17 que Israel continua buscando (e)pizhtei=, "busca"), somente a eleição (ou seja, os eleitos) obteve ( e)pe/tuxen, "alcançou"), os demais foram endurecidos como profetizado no passado (11.6-10). A incredulidade dos judeus serve ao propósito divino de trazer a salvação aos gentios; contudo, essa queda é reversível, pois, mediante o ciúme, a "plenitude" de Israel (o número total dos eleitos) haverá de ser salva, abandonando a incredulidade, sendo reenxertada na sua própria raiz (11.11-24). Somente uma parte de Israel é endurecida e isso durará enquanto a plenitude dos gentios está também sendo salva. É desta maneira (ou(/twj, "assim") que todo o Israel18 será salvo, como prometido nas Escrituras (11.25-27). Por causa da irrevocabilidade dos dons e da vocação de Deus, Israel, apesar de estar em posição de inimizade, também participa (desta maneira)19 da sua misericórdia concedida a todos (judeus e gentios), pois todos estão igualmente encerrados na desobediência (11.28-32). Paulo termina exaltando a Deus por sua sabedoria e conhecimento manifestados em seus juízos e caminhos soberanos (11.33-36).

II. A Antítese entre Legalismo e Fé e a Nova Perspectiva

Para os eruditos da "nova perspectiva", esta passagem não apresenta qualquer indício de que Paulo esteja combatendo o legalismo judaico. E. P. Sanders, por exemplo, argumenta que em 10.3 o contraste é entre a justiça que está disponível somente ao povo do pacto, o qual é observante da Torá, e uma justiça disponível pela fé a todos:

Sua própria justiça, em outras palavras, significa aquela justiça que somente os judeus têm o privilégio de possuir, antes que justiça própria que consiste em os indivíduos apresentarem seus méritos como uma reivindicação diante de Deus.20

J. D. G. Dunn entende que i)di/an, "própria," refere-se não ao status justo que cada israelita buscava alcançar, mas à "justiça que é peculiar ao povo do pacto, a justiça que era possessão somente deles e não dos gentios."21 S. R. Bechtler conclui:

O problema descrito em 10.3, portanto, não é que Israel, pelos seus esforços meritórios, esteja procurando criar a sua própria justiça, mas que o seu zeloso apego à sua visão exclusivista do pacto impede a possibilidade da oferta da salvação aos gentios fora do pacto.22

Todavia, toda esta seção (capítulos 9-11), bem como toda a carta, mostra que a justiça própria que os judeus procuram estabelecer encontra-se em oposição à justiça de Deus, ficando assim do lado oposto no paralelismo antitético que permeia toda a carta: por um lado a miséria e as realizações humanas e por outro a ação redentora divina em Cristo através da justiça e)k pi/stewj, "pela fé". Não há como negar o fato de que Paulo estabelece fortemente uma antítese ao legalismo judaico; é o que comprovaremos abaixo.

A. Antítese no contexto próximo

1. Romanos 9.1-29 - Somente os filhos da promessa são considerados filhos de Deus e não todos os descendentes naturais de Abraão (9.6-8). Em 9.9, a promessa de um filho para Sara contrasta com a providência de Abraão (não mencionada no texto) de obter filho da escrava. No caso dos filhos de Rebeca, Paulo enfatiza que a eleição23 de Deus independe das obras praticadas, sejam boas ou más, quer pelo que é aceito ou pelo que é rejeitado (9.10-13). Ao enfatizar que a salvação é concedida somente aos que são contemplados pela misericórdia de Deus, Paulo mostra que a vontade e o esforço humanos nada podem reivindicar de Deus (9.14-18). O homem não se encontra numa posição na qual possa reclamar das escolhas de Deus (9.19-20). Tanto os "vasos de ira" como os "vasos de misericórdia" indicam a situação de miséria do homem (9.21-23). Os verbos e particípio e)ka/lesen, "chamou", kale/sw, "chamarei" , h)gaphme/nwn, "amada" , klhqh/sontai, "serão chamados", swqh/setai, "será salvo", poih/sai, "cumprirá" e e)gkate/lipen , "deixado," mostram que somente a ação de Deus pode reverter a miséria do homem (judeu ou gentio) (9.24-29).

2. Romanos 9.30-10.21 - Não foi o esforço humano (mh\ diw/konta, "que não buscavam") que levou os gentios a alcançarem a justiça e)k pi/stewj, "que decorre da fé". Por outro lado, Paulo mostra que Israel fracassou em sua busca da no/mon dikaiosu/nhj, "lei de justiça", porque o fez ouk ) e)k pi/stewj a)ll )w(j e)c e)/rgwn, "porque não decorreu da fé, e, sim, como que das obras"24 (9.30-32). O caminho das obras (em contraste com o caminho da fé) implica num tropeço na pedra que Deus colocou justamente para que o homem, nela crendo, não ficasse mais nessa miserável posição de humilhação (ou) kataisxunqh/setai, "não será confundido") (9.32-33). Paulo deixa claro que apesar do zelo que demonstram por Deus, os judeus não possuem a salvação (10.1-2). Esta salvação de Deus é recebida quando o homem cessa de usar a lei (te/loj no/mou, "fim da lei") para estabelecer a justiça própria e, deixando de ignorar o caminho de justiça que Deus providenciou, ele se sujeita a esta justiça, crendo que em Cristo ele é salvo independentemente de qualquer justiça própria (10.3-4). Paulo estabelece um contraste (de, "mas" em 10.6) entre a justiça e)k [tou=,] no/mou, "decorrente da lei," e a justiça e)k pi/stewj, "decorrente da fé": pela primeira o homem só obtém vida mediante a prática da lei, o que lhe é impossível;25 pela segunda o homem é salvo apenas crendo e confessando que em Cristo Deus é quem agiu para nos libertar de nossa miséria. Pela invocação do nome do Senhor o homem reconhece tanto o seu fracasso em atender às demandas da lei, como também a suficiência do poder de Deus para nos salvar (10.5-15). Tanto a incredulidade e a rebeldia de Israel, como a insensatez e a indiferença dos gentios, mostram a miséria humana e contrastam com a bondade de Deus em chamar a todos para receberem o seu favor (quer enviando pregadores do evangelho, ou provocando ciúmes e ira, quer revelando-se ou estendendo a mão, 10.16-21).

3. Romanos 11.1-36 - É a graça de Deus (xa/riti, "pela graça") e não as obras dos homens (ou)ke/ti e)c e)/rgwn , "já não é pelas obras") que determina a eleição divina do remanescente de Israel, eleição essa que traz salvação a esse remanescente (ontem e hoje), em contraste com o fracasso da atual busca de Israel que só traz mais endurecimento, cegueira e miséria (11.1-10). Somente Deus pode reverter a miséria humana: primeiro, Deus usa o tropeço de Israel para trazer a salvação, riqueza e reconciliação aos gentios; segundo, Deus usa o ciúme de Israel para salvar e restabelecer à vida os que fazem parte daplh/rwma a)utw=n, "sua plenitude"; só Deus, em sua bondade, é poderoso para enxertar (pela fé) os gentios na oliveira boa, e nela reenxertar (afastando a incredulidade)26 os ramos naturais cortados (judeus incrédulos) (11.11-24). Enquanto as palavras "impiedades", "pecados", "inimigos" descrevem a miséria judaica, por outro lado, Deus, em sua fidelidade e amor, é aquele que liberta completamente o seu povo (11.25-29). Tanto gentios como judeus estão aprisionados na desobediência; somente pela misericórdia de Deus podem ser libertados (11.30-32). Só Deus merece o louvor das suas criaturas, pois ninguém primeiro deu a ele para que Deus lhe ficasse devendo uma retribuição, pelo contrário, "dele e por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém."(11.33-36).

Em resumo: O contexto descreve os judeus incrédulos como estando cortados da raiz santa, aprisionados na desobediência, vivendo em impiedade e pecados como inimigos, estando endurecidos, cegados, num estado de miséria, tendo tropeçado, procurando, todavia, ser zelosos por Deus, porém sem entendimento, tentando estabelecer sua justiça própria, justiça que julgam provir da lei, como que pelas obras, ignorando a justiça de Deus em Cristo, não se sujeitando a ela, tendo fracassado completamente em seus esforços. Estão mortos (11.15)!27 Schreiner, tendo em mente as idéias de J. D. G. Dunn, observa corretamente: "Práticas que separavam os judeus dos gentios, tais como circuncisão, sábado e leis alimentares, não são sequer mencionadas nesta seção da carta." E conclui:

Parece que a maneira mais natural de se ler Romanos 9.32 e 10.3 é ver que os judeus fracassaram ao tentarem ser justos com base em suas obras, e estas obras não podem ser limitadas a parte da lei. Assim, está evidente no texto uma crítica à justiça-de-obras num sentido amplo. Embora Paulo proclame a inclusão dos gentios em Romanos 9-11, os judeus não são especificamente reprovados por serem tão exclusivos em Romanos 9.30-10.8. Pelo contrário, eles são censurados por fracassarem na obediência à lei e por legalismo.28

B. Antítese na carta

1. Romanos 3.19-20 - Nesta passagem Paulo está resumindo o seu argumento anterior (Rm 1.18-3.18). O significado de "obras da lei" em 3.20 não pode ser separado do que Paulo diz a respeito da lei em Romanos 2. Nesse capítulo, Paulo claramente está procurando convencer os judeus do fracasso de sua tentativa de guardar a lei. Paulo não os critica por observarem a circuncisão, mas por não obedecerem às normas morais da lei (2.21-22) enquanto pensam que a circuncisão poderia protegê-los do julgamento de Deus. Conclui-se que "obras da lei" em 3.20 designa de maneira ampla os atos exigidos pela lei, e a razão para a condenação é o fracasso em se guardar a lei. Romanos 3.20 fala da incapacidade humana para obedecer a lei. O problema não é uma atitude errada ou um espírito exclusivista, mas sim a desobediência. Paulo afirma que ninguém será justificado por fazer o que a lei requer, pois ninguém obedece toda a lei.

2. Romanos 3.27-4.529 - Apesar da nova exegese deste texto apresentada pelos representantes da nova perspectiva,30 a maneira mais natural de se ler esta passagem é ver aqui uma polêmica contra a tentativa de se obter salvação pela prática de boas obras. Paulo afirma que a jactância foi excluída não pela "lei das obras" mas pela "lei da fé". O verso 28 provê a base (ga/r, "pois") para a exclusão dessa jactância. A jactância é excluída porque "o homem é justificado pela fé independentemente das obras da lei." Como "obras da lei" refere-se à lei como um todo, pode-se concluir que Paulo está falando contra aqueles que chegam a se orgulhar por tentarem obter a salvação por sua prática das obras prescritas na lei de Moisés. Paulo continua tratando do mesmo assunto usando o caso de Abraão em 4.1-5. A prática de determinadas obras constitui a base para a jactância (4.2). Se Abraão tivesse sido justificado desta maneira, Deus lhe seria obrigado a pagar o salário por ter realizado essa obra requerida (4.4). Mas não foi assim que Abraão foi justificado; foi a sua fé em Deus que lhe foi imputada/reconhecida para justiça (4.3), e assim, como ímpio que era, ele recebeu a dom divino da justiça salvadora (4.5).31

3. Romanos 4.6-8 - Davi fala de uma "justiça à parte das obras" como sendo a bênção do perdão das iniqüidades e pecados. Para Davi, "iniqüidades" e "pecados" (verso 7) são uma outra maneira de descrever as obras que se diz estarem faltando (xwri\j e)/rgwn, "independentemente de obras") no verso 6. Não se pode inferir das palavras de Paulo que os "pecados de Davi" consistiam numa ênfase na circuncisão ou em outros "emblemas separadores" que causavam a exclusão dos gentios do povo de Deus (a circuncisão, as leis dietárias, e o calendário religioso judaico). As suas "impiedades" e "pecados" descritos aqui são termos gerais para aquele que peca por desobedecer a lei. Schreiner conclui:

A conexão entre o fracasso (sic) de Davi em realizar as "obras" necessárias em 4.6 e a reivindicação de Paulo de que a justiça é "à parte das obras da lei" (3.28) sugere que a razão pela qual as "obras da lei" não justificam é o fracasso em se obedecer toda a lei.32

Na conclusão de sua pesquisa na carta aos Gálatas, Augustus N. Lopes afirma:

...o ataque de Paulo às "obras da lei" em Gálatas faz parte da sua polêmica mais geral contra o sistema legalista e inadequado do judaísmo palestino, como uma religião de méritos e em direta oposição ao evangelho da graça revelado em Cristo, conforme tradicionalmente se vem afirmando. Embora a ênfase de Dunn na função sociológica da lei nos desafie a ampliar nossa interpretação e incluir também este aspecto na polêmica de Paulo contra as "obras da lei" em Gálatas, sua tese fundamental, bem como muitas teses da "nova perspectiva" sobre o judaísmo e Paulo, não pode ser aceita senão debaixo de severas restrições e qualificações. Portanto, desde que não conseguimos ser convencidos por elas, resta-nos permanecer com a interpretação tradicional, que, mesmo parecendo antiquada e indefensável para muitos, continua refletindo mais exatamente a intenção de Paulo ao afirmar que a salvação é pela fé, sem as "obras da lei".33

III. Fim ou Alvo da Lei ?

Já vimos que o contexto mostra (1) que Paulo está combatendo o legalismo judaico, (2) que os judeus deveriam ter cessado de usar a lei para tentar estabelecer a justiça própria, (3) que a salvação oferecida na pregação da fé implica numa sujeição à justiça de Deus, ou seja, em cessar de confiar nos supostos méritos próprios (provindos da prática das obras da lei) para confiar somente em Cristo, o Redentor, (4) que Cristo é um salvador tão suficiente que para o homem receber essa salvação ele deve cessar de inquirir sobre o que precisa praticar para ser salvo, pois basta invocar o nome do Senhor, crendo e confessando a Jesus como Senhor. Diante disso, vemos que Paulo está tratando da questão da experiência pessoal da salvação, da apropriação da justiça de Deus em Cristo. É nesse contexto que ele afirma que Cristo é fim da lei (te/loj no/mou) para justiça a/para/de todo o que crê, e a maneira mais natural de entender esta expressão, de acordo com o contexto é: "Cristo é a cessação da lei com vistas à justiça, isto para todo o que crê."

Notamos que Paulo não está fazendo uma declaração abrangente sobre o relacionamento entre o Velho Testamento e o Novo Testamento, ou afirmando que no Novo Testamento a lei tem um papel predominantemente negativo. Parece ser esse o receio dos que, apesar de aceitarem que no contexto Paulo trata do legalismo judaico, ainda preferem traduzir te/loj por "alvo". É o caso de C. E. B. Cranfield:

Aqueles que pensam que a atitude de Paulo para com a lei era predominantemente negativa são naturalmente inclinados a escolher o sentido, "terminação"...Esta interpretação possui muitos adeptos; mas, à vista de passagens tais como Romanos 7.12, 14a, 8.4, 13.8-10 e da declaração categórica em Romanos 3.31, e também do fato de que Paulo repetidamente apela para o Pentateuco para apoiar os seus argumentos (talvez especialmente sugestivo seja o fato que ele faz assim em Romanos 10.6-10), parece extremamente provável que ela deva ser rejeitada, e a tradução "alvo" preferida.34

Vê-se que este receio de Cranfield o impediu até de considerar a interpretação que defendemos, a qual não implica numa abrogação da lei no Novo Testamento. Entende-se a posição de Cranfield como uma reação contra os que afirmam que em Romanos 10.4 Paulo ensina que Cristo aboliu a lei. Não é este o nosso caso. Concordo inteiramente com a advertência e conclusão de Schreiner:

...o principal problema com muitas interpretações de Romanos 10.4 é que os eruditos estão tentando apoiar seu entendimento global do relacionamento entre a lei e o evangelho com base neste texto. Conseqüentemente, grandes batalhas são travadas sobre se Cristo é o alvo ou o fim da lei. Os assuntos nesta disputa teológica são inteiramente cruciais, e carecem de novas discussões. Mas a minha tese neste artigo é que Paulo em Romanos 10.4 tem em vista algo mais modesto. O problema específico que ele combate é a tendência humana de fazer mal uso da lei para estabelecer a justiça própria. O propósito do texto não é prover uma declaração programática sobre o relacionamento entre o evangelho e a lei. Paulo está respondendo a um problema específico: o uso da lei para se estabelecer a justiça própria. Não é para se surpreender, então, que Romanos 10.4 viesse a conter um declaração experimental, pois Paulo está reagindo a um problema experimental. Tal tentativa de se estabelecer a justiça própria tem grandes conseqüências para Paulo, visto que os que assim fazem fracassaram em se submeter à justiça salvadora de Deus. Eles deveriam ter se submetido à justiça de Deus, visto que crer em Cristo é o fim de se usar a lei para estabelecer a justiça própria para todos os que crêem.35

A. A Palavra "te/loj"

Alguns afirmam que te/loj em Paulo geralmente significa "alvo". Todavia, essa teoria não pode ser sustentada pela evidência. A única passagem Paulina em que te/loj pode significar "alvo" é 1 Timóteo 1.5. Os dois usos de te/loj em Romanos 6.21-22 devem ser traduzidos por "resultado" e não por "alvo". Em 2 Coríntios 3.13 te/loj deve ser traduzido por "fim"; dificilmente poderia significar "alvo". O sentido temporal de te/loj pode ser constatado como predominante no Novo Testamento, tanto em construções preposicionais (certamente em Mt 10.22; 24.13; Mc 13.13; 1 Co 1.8; Hb 3.14; 6.11; Ap 2.26; provavelmente em Lc 18.5; Jo 13.1; 2 Co 1.13; 1 Ts 2.16), como em construções sem preposição (certamente em Mt 24.6, 14; Mc 3.26; 13.7; Lc 1.33; 21.9; 1 Co 15.24; Hb 7.3; 1 Pe 4.7; Ap 21.6; 22.13; provavelmente em Mt 26.58). As únicas passagens em que te/loj poderia significar "alvo", em nosso entender, além de 1 Timóteo 1.5, são 1 Pedro 1.9 e Lucas 22.37.

Em Romanos 10.4 ambas as interpretações são possíveis, dado o uso da palavra; todavia, a maneira mais comum em que Paulo usa esse termo nos leva a esperar o sentido "fim". Não há, como vimos na análise anterior, argumentos contextuais para preferirmos "alvo"; portanto, linguisticamente é preferível traduzir te/loj por "fim". Käsemann afirma ser ridículo enfatizar a conexão lógica com a metáfora de corrida em 9.31s e, em assim fazendo, esquecer de 9.32s.36

B. Argumentos Finais na Interpretação de Romanos 10.4

A relação lógica entre os versos 3 e 4 apoia a nossa interpretação. A conjunção ga/r, "porque," no início de 10.4, mostra que este verso está intimamente ligado ao verso anterior. A principal proposição do verso 3 é que os judeus não se submeteram à justiça de Deus. Vimos que a melhor maneira de entendermos isso é que os judeus não se submeteram à ação de Deus pela qual ele declara justos os que nele confiam. Os dois particípios (a)gnoou=ntej, "desconhecendo," e zhtou=ntej, "procurando") no verso 3 explicam a razão pela qual os judeus não se submeteram à justiça salvadora de Deus: porque eles ignoraram a justiça de Deus e porque eles tentaram estabelecer a sua própria justiça. Vimos pela ligação com o contexto (em especial 9.30-33) e com toda a polêmica contra o legalismo judaico nesta carta, que Paulo está afirmando que alguns judeus pensavam que poderiam obter justiça pela prática daquilo que a lei determina. Está claro que Paulo entende que eles estavam errados em não se sujeitar à justiça de Deus e que esta sujeição deveria se expressar através da fé em Cristo. O verso 4, então, provê a razão pela qual os judeus deveriam ter se submetido à justiça de Deus: Cristo põe um fim à tentativa de se estabelecer a justiça própria. Leon Morris registra a expressão de Victor P. Furnish: Cristo "escreve finis’ ao triste espetáculo da vã tentativa humana de alcançar a vida através das obras da lei."37 Schreiner acertadamente observa:

A íntima conexão entre os versos 3-4 demonstra que Paulo não está fazendo uma declaração teológica global entre a lei e o evangelho no verso 4. Ele está respondendo ao problema específico levantado no verso 3 de pessoas erroneamente usando a lei para estabelecer sua própria justiça. No verso 4 Paulo afirma que aqueles que crêem em Cristo cessam de usar a lei como um meio para se estabelecer a justiça própria.38

Há pessoas que desaprovam esta exegese afirmando que ei)j dikaiosu/nhn, "para justiça," está mais próximo de Xristo/j, "Cristo", do que de te/loj ga/r no/mou, "porque o fim da lei". Devemos notar, entretanto, que esta última frase é movida para o início da oração para dar ênfase ao fato de que Cristo põe um fim nessa atitude errada para com a lei. "Seifrid corretamente argumenta que ei)j dikaiosu/nhn, "para justiça," não está relacionado a tudo quanto precede mas somente ao nominativo predicativo te/loj no/mou, "fim da lei"."39

A expressão panti\ t%= pisteu/onti, "a/para/de todo o que crê," dá suporte à idéia de que Paulo não está fazendo uma declaração global sobre a relação entre o evangelho e a lei. Cristo não é o fim de se usar a lei para justiça no caso dos judeus do verso 3. O verso 4 é uma declaração acerca da experiência dos crentes em Cristo, qual seja: todos os que confiam em Cristo para serem justificados cessam de usar a lei para estabelecer a sua própria justiça.

A partícula ga/r, "pois, ora," no verso 5 indica que os versos 5-8 provêem uma base para o verso 4: o verso 5 afirma que aquele que busca a justiça da lei viverá somente se praticar a lei . Por causa da exigência da prática da lei pelo homem40 nesse verso 5 e o contraste das obras com a fé em todo o contexto, como temos mostrado, deve-se concluir que há uma idéia implícita neste verso, qual seja: ninguém pode cumprir a lei e, assim, a justiça não pode ser alcançada através da tentativa de se guardar a lei. Os versos 6-8 ensinam que Cristo já realizou tudo o que nos era impossível de cumprir. A justiça não vem pela prática da lei, pois ninguém pode cumpri-la perfeitamente; a justiça é oferecida mediante a fé em Cristo. Desta maneira, os versos 5-8 fundamentam o verso 4 ao confirmarem que o crer em Cristo põe um fim em toda a tentativa de se obter justiça através da lei.

É importante observar que Paulo não está sugerindo aqui que antes da vinda de Cristo todos os judeus usavam a lei para estabelecer a justiça própria. Paulo ensina que Abraão (Rm 4.1-5; Gl 3.6-9) e Davi (Rm 4.6-8) foram salvos pela fé e não pelas obras. É justo entender que Paulo está mencionando Cristo no verso 4 porque agora, com a chegada de Cristo na plenitude dos tempos41 (Gl 4.4), o modo específico de se manifestar confiança em Deus e em suas promessas é depositar a confiança em Deus que enviou seu Filho para fazer propiciação pelos nossos pecados (Rm 3.21-26).

IV. Conclusão

Romanos 10.4 deve ser entendido a partir da perspectiva da polêmica de Paulo contra o legalismo judaico. Os judeus deveriam ter deixado de procurar estabelecer a sua própria justiça pela prática da lei porque pela prática da lei ninguém será justificado, visto que todos, judeus e gentios, estão debaixo do pecado. Antes, eles deveriam ter se submetido à justiça de Deus crendo em Cristo. Cristo, sim, realizou aquilo que é impossível aos homens, para obter-lhes a justiça, a qual ele lhes oferece gratuitamente pela fé, à parte das obras da lei. Os judeus deveriam, portanto, ter compreendido que Cristo, para aquele que crê, põe um fim a esta maneira errônea de buscar a justiça pelas obras da lei.

Paulo não está fazendo uma declaração teológica global acerca do relacionamento entre a lei e o evangelho. Ele não está afirmando que a lei foi abolida, nem que Cristo é o alvo da lei, nem que a exclusividade da lei foi posta de lado, etc. Ele está tratando, a partir da perspectiva da experiência dos crentes, do problema do legalismo dos judeus: Cristo, para o crente, é o fim do legalismo. Usando a frase de Furnish: Cristo "escreve finis’ ao triste espetáculo da tentativa humana de obter vida através das obras da lei."

V. Implicações Práticas de"Alvo" ou "Fim"

O problema do legalismo não foi só do judeu no passado, mas está sempre presente como uma tentação para os cristãos de todos os tempos. É comum hoje encontrar crentes legalistas que não se dão conta da incoerência de suas posições: confiam em Cristo como Salvador, mas sentem que precisam fazer algo para merecer a sua salvação. Pastores se debatem contra o legalismo evangélico de suas ovelhas; parece que a soteriologia legalista do romanismo, espiritismo, etc., ainda influencia a vida de fé dos convertidos. Problemas de depressão espiritual têm, por vezes, como raiz, uma apreensão defeituosa e distorcida da justificação pela fé. Ademais, na evangelização do povo brasileiro é imprescindível focalizar que Cristo põe fim à tendência humana de pensar que se pode "comprar" com obras a eterna salvação.

Vê-se que este texto de Paulo é tremendamente prático, e aplica-se a todos os casos acima mencionados, ajudando para que hoje as pessoas tenham uma verdadeira experiência da salvação, uma fé verdadeira. Esta nossa interpretação entende que Paulo está tratando da experiência das pessoas de seu tempo, de seus patrícios que erraram nessa área, bem como de crentes que descobriram em Cristo a libertação do legalismo. A interpretação que traduz te/loj por "alvo" não realça tanto este aspecto experimental presente tanto no texto como em seu contexto, pelo contrário, introduz uma discussão teológica sobre o relacionamento entre os testamentos que chega a obscurecer o contraste (em 10.5-15) entre o caminho inviável das obras e o caminho da graça mediante a fé em Cristo.

English Abstract

The "new perspective on Paul" has challenged traditional interpretation of Pauline passages related to the apostle’s understanding of the Law. Romans 10.4 is in the center of the debate. In this article, Gomes attempts to answer two questions related to the interpretation of this passage, in the light of the claims of the "new perspective": 1) What is the meaning of "telos" (end) in the passage, and 2) Is Paul really attacking Jewish legalism in the passage (and in its context). Interacting especially with the work of J. D. G. Dunn, Gomes shows that the answer to the last question is still "yes", and defends also that "telos" means "end" (not "goal"). The passage, according to Gomes, means that "Christ, for the one who believes, puts an end to one’s effort to achieve righteousness by his own works".

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Notas

1 Ver, por exemplo, o artigo de Douglas J. Moo, "Paul and the Law in the Last Ten Years," em Scottish Journal of Theology 40 (1987) 287-306.

2 Conferir o esforço para categorizar os usos paulinos de no/moj, "lei," por exemplo, em Douglas J. Moo, "‘Law’, ‘Works of the Law,’ and Legalism in Paul," em Westminster Theological Journal 45 (1983) 73-100.

3 John M. G. Barclay, em seu artigo "Paul and the Law: Observations on Some Recent Debates," em Themelios 12 (September 1986) 5-15, oferece um excelente resumo dos principais pontos em debate.

4 Thomas R. Schreiner, em seu artigo "‘Works of the Law’ in Paul," em Novum Testamentum 33 (1991) 217-244, apresenta e combate as novas soluções; James D. G. Dunn, em "The New Perspective on Paul," em Bulletin of the John Rylands Lybrary 65 (1983) 95-122, descreve o novo panorama nos estudos paulinos e defende a sua teoria.

5 S. K. Williams, "The ‘Righteousness of God’ in Romans," em Journal of Biblical Literature 99 (1980) 254.

6 J. C. Beker, Paul the Apostle (Philadelphia: Fortress, 1980) 89.

7 "E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado" (9.6) é confirmado adiante em 9.28: "porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabalmente e em breve". Toda a seção é recheada de citações do Velho Testamento para comprovar o cumprimento da palavra de Deus.

8 Paulo neste ponto menciona a antítese sustentada em toda a carta: a salvação de Deus não é procedente de obras humanas. Ver 9.32 e 11.6.

9 Esta mesma distinção interna dentro da descendência "segundo a carne" de Abraão também é feita em 9.6 ("Israel"), 9.7 ("seus filhos", "tua descendência"), 9.8 ("filhos de Deus", "devem ser considerados como filhos da promessa"), 11.5 ("remanescente segundo a eleição da graça"), 11.7 ("a eleição"), 11.12: ("a sua plenitude"), e 11.28 ("amados por causa dos patriarcas"). Ver também Romanos 2.28-29 ("judeu é aquele que o é interiormente").

10 Romanos 10.19-20 revela que esta conquista dos gentios é fruto da iniciativa de Deus.

11 A antítese agora é entre "das obras" e "da fé" sendo que em 9.11 (no grego, v.12) é entre "por obras" e "por aquele que chama", isto por causa da perspectiva usada em cada seção. Em 11.6 é entre "pelas obras" e "pela graça".

12 Comparar o sentido do verbo em 1 Coríntios 14.38 e Romanos 2.4.

13 Paulo já havia tratado desta justiça de Deus em Cristo "no tempo presente" em 3.21-26.

14 Esta é a interpretação que defenderei adiante.

15 Comparar com 2.13 ("Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados") e 2.25 ("Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei").

16 Paulo já tinha mostrado que o judeu é transgressor da lei em 2.17-27. Também em 3.9-19, 23.

17 Não há como negar o paralelo com 9.30-32 (diw/kwn no/mon dikaiosu/nhj, "que buscava lei de justiça") e 10.1-5.(th\n i)di/an [dikaiosu/nhn] zhtou=ntej sth=sai, "procurando estabelecer a sua própria (justiça)".

18 "Todo o Israel" (11.26) que será salvo é distinto da nação de Israel como um todo (11.25), tal como em 9.6: "nem todos os de Israel são de fato israelitas". Ver também 2.28, 29; 4.12; 9.7-8.

19 Acima descrita: possuindo um remanescente eleito pela graça de Deus (9.6-8, 23, 27-29, 11.5-7, 12, 26), o qual está sendo e será salvo (9.24, 27; 11.1-5, 14, 15, 25-27, 31-32) pela fé em Jesus (10.9-13; 11.20 com 11.23), mesmo que seja mediante a incitação à emulação (10.19; 11.11-14, 23-24, 28, 30-32).

20 E. P. Sanders, Paul, the Law, and the Jewish People (Philadelphia: Fortress, 1983) 38. Tradução minha, itálicos dele.

21 J. D. G. Dunn, Romans, WBC (Dallas: Word, 1988) 2:587, tradução minha.

22 S. R. Bechtler, "Christ, the te/loj of the Law: The Goal of Romans 10:4," em Catholic Biblical Quarterly, 56 (1994) 298, tradução minha.

23 A palavra e)klogh/, "eleição" (9.11), é a mesma usada para a eleição da graça para a salvação em 11.5-7, onde também há um contraste com e)c e)/rgwn, "pelas obras".

24 Esta expressão no presente contexto indica a realização humana tentando alcançar justiça. Moo observa que neste contexto (9.11-12) "obras" deve incluir qualquer coisa que os homens façam, "quer boa ou má", e afirma: "‘Obras’ são consideradas como sendo boas ações que poderiam ser concebidas como meritórias " ( "‘Law’, ‘Works of the Law,’" 95-96, tradução minha, itálicos dele).

25 Paulo já havia mostrado em 3.20 que este caminho é impossível ao pecador: "visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado," e já havia dado a razão em 3.9: "pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado".

26 Comparar com 11.26: "apartará de Jacó as impiedades".

27 É surpreendente como esta descrição se encaixa com o "eu" de Romanos 7.9-25: "...e eu morri. E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte. Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento me enganou e me matou" (7.9b-11).

28 Thomas R. Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10.4-5," em Westminster Theological Journal 55 (1993) 116-117, tradução minha.

29 Ver a defesa de Schreiner de que 3.27-28 trata do mesmo assunto que 4.1-5, em "‘Works of the Law’ in Paul," 232.

30 Ver exposição e avaliação por Schreiner, "‘Works of Law’ in Paul," 233-238.

31 Para uma defesa convincente a partir deste e de outros textos paulinos de que Paulo combatia o legalismo, veja R. H. Gundry, "Grace, Works, and Staying Saved in Paul," em Biblica 66 (1985) 1-38. Também B. L. Martin, Christ and the Law in Paul, SuppNovT 62 (Leiden: Brill, 1989) 93-96.

32 Schreiner, "‘Works of the Law’ in Paul," 229, tradução minha.

33 Augustus N. G. Lopes, "Paulo e a Lei de Moisés: Um Estudo sobre as ‘Obras da Lei’ em Gálatas" em Chamado para Servir: Ensaios em Homenagem a Russell P. Shedd, ed. Alan B. Pieratt (São Paulo: Vida Nova, 1994) 71.

34 C. E. B. Cranfield, "St. Paul and the Law," em Scottish Journal of Theology (1964) 49, tradução minha.

35 Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10:4-5," 124, tradução minha.

36 E. Käsemann, Commentary on Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1980) 283.

37 L. Morris, The Epistle to the Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1988) 381, tradução minha.

38 Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10:4," 122, tradução minha.

39 Ibid., 123, referindo-se a M. A. Seifrid, "Paul’s Approach to the Old Testament in Romans 10:6-8," em Trinity Journal 6 (1985) 9, nota 29, tradução minha.

40 Cranfield entende que se trata do homem Jesus Cristo e que o de\, "mas," no verso 6 indica o contraste entre o justo estado que Cristo obteve por sua obediência, por suas obras, e o justo estado que os homens recebem pela fé nele (Romans, 2:521-22). Ao fazer isso Cranfield se vê obrigado a afirmar que a citação desse mesmo verso de Levítico 18.5 em Gl 3.12 também refere-se à obediência de Cristo (Romans, 2:522 n. 2), o que é totalmente improvável. Contra Cranfield veja a argumentação de F. F. Bruce, Commentary on Galatians, NIGNTC (Grand Rapids: Eerdmans, 1982) 163; e também Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10:4," 126.

41 Käsemann corretamente chama atenção para o "argumento profundamente apocalíptico" do texto, mas erroneamente o liga a uma descontinuidade e contradição entre a lei e Cristo (Romans, 282).