sábado, 12 de setembro de 2009

Calvino 500 Anos - Cantar salmos na Igreja


Quanto a orações públicas, existem dois tipos: a que consiste em palavras apenas; a outra inclui música. E isto não é uma invenção recente. Pois desde o início da Igreja que tem sido desta maneira, como podemos aprender nos livros de história. Nem o próprio São Paulo fala de oração por palavras apenas, mas também de cantá-las. E, na verdade, sabemos por experiência que a música tem um grande poder e força para mover e inflamar os corações dos homens para invocar e louvar a Deus com um coração mais veemente e ardente. Devemos sempre atentar com receio de a canção ser leve e frívola, mas ela deve ter sim peso e majestade, como diz Santo Agostinho.


E assim, há uma grande diferença entre a música que é feita para entreter as pessoas em casa e na mesa, e os Salmos, que são cantados na igreja, na presença de Deus e Seus anjos.
Portanto, se alguém desejar rectamente julgar o tipo de música aqui apresentado, esperamos que ele irá encontrá-la ser santa e pura, vendo que ela é simplesmente feita para a edificação de que temos falado, e para qualquer utilidade mais que se possa colocar. Porque mesmo em nossos lares e fora de portas que seja um incentivo para nós e um meio de louvar a Deus e levantando os nossos corações a Ele, de modo que possamos ser consolados através do meditar sobre Sua virtude, Sua graça, Sua sabedoria, e Sua justiça. Porque isto é mais necessário do que alguém poderá dizer.

Dentre todas as outras coisas que são adequadas para a recriação do homem e para lhe dar prazer, a música, se não a primeira, está entre as mais importantes, e temos de considera-la um dom de Deus feito expressamente para esse efeito. E por esta razão, temos de ter tanto mais cuidado para não abusar dela, por medo de adulterarem ou de contamina-la, convertendo para nossa perdição o que se pretende para o nosso lucro e salvação. Se ainda por esta razão apenas, nós pudéssemos ser justamente movidos a restringir o uso da música, para fazê-la servir somente o que é respeitável e nunca usá-la para desenfreados desvarios ou para nos inundar com incontrolado prazer.


Nem deveria levar-nos à lascívia ou poucas vergonhas.
Mas mais do que isto, não existe quase nada no mundo que tenha maior poder de dobrar a moral dos homens desta forma, ou que, como Platão sabiamente observou. E, de facto, encontramos a partir da experiência que tem um insidioso e quase incrível poder de mover-nos para onde quer.


E por esta razão temos de ser os mais diligentes para controlar a música de tal modo, que irá servir-nos para o bem e de forma alguma nos prejudicar. Esta é a razão pela qual os antigos doutores da igreja se queixavam de que o povo de seu tempo era viciado em músicas ilícitas e desavergonhadas, ao que eles tinham razão para chamar o mortal veneno de Satanás, corruptor do mundo.

Agora, no tocante à música eu reconheço duas partes, a saber, a palavra, que é o assunto e texto, e a canção ou melodia. É verdade, como diz São Paulo, que todas as palavras torpes vão corromper e perverter a boa moral. Mas quando melodia vai com elas, elas irão atravessar o coração muito mais poderosamente e penetrar adentro. Assim como o vinho é afunilado para dentro de um barril, assim é o veneno e a corrupção destilada para a própria profundeza do coração pela melodia.

Então o que deveremos fazer? Deveríamos ter músicas que não são apenas certinhas, mas santas, que irão impulsionar-nos a orar e louvar a Deus, para meditar sobre Suas obras, de modo a amá-lo, a temer a Deus, para honrá-lo, e glorificá-lo. Porque o que Santo Agostinho disse é verdade, que ninguém pode cantar nada digno a Deus excepto o que tem recebido de Deus. Portanto, onde quer que olhemos procurando ao longe e ao largo, não vamos encontrar nenhumas músicas melhores, nem mais adequadas para esse efeito do que os Salmos de David, que o Espírito Santo fez e transmitiu a ele. Assim, cantando-os, poderemos ter a certeza de que nossas palavras vêm de Deus como se Ele viesse a cantar em nós para a Sua própria exaltação. Portanto, Crisóstomo exorta tanto os homens, como as mulheres e crianças para se habituarem a cantá-los, para desta maneira por este acto de meditação nos tornarmos como um com o coro de anjos.

Então, também temos de ter em mente o que diz São Paulo, que as canções devocionais só podem ser cantadas bem apenas pelo coração. Agora o coração implica inteligência, que, diz Santo Agostinho, que é a diferença entre o canto dos homens e das aves. Porque apesar de um pintarroxo, um rouxinol, ou um papagaio cantarem tão bem, será sem entendimento. Agora é dom do homem de ser capaz de cantar e de saber o que é que está cantando. Depois da inteligência, o coração e as emoções devem seguir-lhe, e isso só pode acontecer se nós tivermos o hino gravado na nossa memória para que ele nunca cesse.

E, por conseguinte, o presente livro não precisa de muita recomendação de mim, vendo que em si possui o seu próprio valor e canta seu próprio elogio ou louvor. Apenas deixe o mundo ter o bom senso de deixar de cantar aquelas músicas, em parte, vãs e fúteis, em parte, estúpidas e aborrecidas, em parte sujas e vis e em consequência más e destrutivas - e que exerceu o seu direito até agora, e usar estes divinos e celestiais Cânticos com bom rei David. Quanto à melodia, parecia melhor moderá-la da maneira que temos feito, de modo a dar-lhe a gravidade e a majestade que convém ao seu tema, e que pode mesmo ser adequado para cantar na igreja, de acordo com aquilo que foi dito.
(Do Prefácio de Calvino no Saltério de Genebra de 1543)

João Calvino comentando I Coríntios 14:15:

“Quando ele diz, cantarei salmos, ou, cantarei, ele faz uso de uma instância específica, ao invés de uma declaração geral. Pois, como os louvores de Deus eram o assunto dos Salmos, ele quer dizer pelo canto dos Salmos - bendizer a Deus, ou render graças a Ele, porque em nossas súplicas, ou pedimos uma coisa a Deus, ou reconhecemos algumas bênçãos atribuídas a nós.


A partir desta passagem, ao mesmo tempo deduzimos, que o costume de cantar já estava nessa altura em uso entre os crentes, como parece também por Plínio, que escrevendo cerca de quarenta anos depois da morte de Paulo, menciona que os cristãos estavam habituados a cantar Salmos a Cristo antes do amanhecer. E eu de facto também não tenho quaisquer dúvidas que desde o início eles adoptaram o costume da Igreja Judaica de cantar Salmos.”

Pregação Expositiva ou Profanação Maldita

Muito se fala ultimamente de pregação expositiva como uma alternativa e um modelo sugerido pela Escritura Sagrada, ao invés de, a única forma prescrita pelas Sagradas Letras para a pregação bíblica nos cultos reservados a Deus. Gosto muito de ser edificado por livros que instruem nas verdades de Deus, porém, ao mesmo tempo a tristeza atinge-me poderosamente pela falta de verticalidade, coragem, ousadia, compromisso e fidelidade que neste tempo presente evidenciam os que têm a responsabilidade da guarida do rebanho do Senhor.
Nunca deve ter havido um tempo com tão poucos pregadores em comparação com os muitos religiosos palradores que contaminam os seus ouvintes com fétidos discursos idólatras. Muitos são jovens apóstatas e heréges num tempo em que ninguém é chamado apóstata e herége mais...

O que é idolatria? Num sentido mais amplo podemos dizer que é tudo aquilo que é feito para agradar a Deus à sua própria maneira e não levando em consideração o que o próprio Deus tem a dizer sobre tal matéria.
Deus nos livre desta geração perversa que multiplica a nulidade da sua imaginação por um expoente igual ao número de pensamentos por segundo de cada uma dessas cabeças enfermas, e divide pela inexistente responsabilidade para com Deus e para com os homens, e em especial para com a igreja.

É verdade que a pregação da Palavra de Deus é um meio da graça entre outros, mas é um mais elevado e central de todos. Esta pregação só pode ser expositiva, para ser submissa à Escritura Sagrada e ser sujeita ao julgamento dos que a ouvem. De outro modo como poderíamos julgar a pregação? Como poderíamos imitar os berianos? Como poderíamos expor os falsos ministros? Como a igreja poderia condenar a heresia proferida por alguém, defender a igreja do mau testemunho de tantos e proteger os fieis daqueles que falam a imaginação do seu coração e não a Lei, nem o Testemunho ou a Palavra dos lábios de Deus?
Profanar o Templo é o que fazem todos os que sobem aos púlpitos e abrem os seus lábios em mentira diante do Deus Vivo, anunciando um Deus imaginário, indicando um caminho outro além de Cristo (pensem no caminho da prosperidade, dos dons e poder, das conquistas terrenas, do controlo do seu próprio destino, etc.).

É certo que dá incomparavelmente mais trabalho e canseira o pregar a Cristo! É claro que dá menos palmas e mais perseguição. É lógico que a oposição se manifesta contra o ungido do Senhor e ao seu povo... Mas não há alternativa! Pregar a Cristo é vida para os mortos, é luz para os cegos, é ouro para os pobres, é água para os sedentos, é pão para os famintos, e é GLÓRIA PARA DEUS.


Para pregar a Bíblia Sagrada é preciso estar e ser instruído nas Sagradas Letras, pois a boca fala do que o coração está cheio.
Enche-nos ó Pai do teu celeste ensino, enche a nossa boca dos tesouros da tua Palavra. Tem misericórdia do teu povo e livra-os dos lobos difamadores que ameaçam o teu rebanho.


Nuno Pinheiro !
Sola Scripturas!


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Igreja Reformadas são uma Nova Seita?

Rev. Kenneth Wieske

Talvez você tenha ouvido falar de uma igreja reformada. Esta igreja tem um ensino, um padrão de culto, governo, e um estilo de vida bem diferente de muitas igrejas que se chamam evangélicas.

Talvez alguém já tenha lhe falado: “Cuidado! É uma seita, uma seita nova”.

Se você não tiver medo da verdade, convido-o a ler um pouco sobre o que são verdadeiramente as Igrejas Reformadas. Depois de tomar melhor conhecimento dos fatos, você pode tomar uma decisão sobre a pergunta que é tema desta postagem.

A Grande Reforma Protestante (1517)


Nos quase 1500 anos entre a Igreja Primitiva e a reforma Protestante, a Igreja estava se desviando mais e mais da Pureza da doutrina e da adoração que a Bíblia ensina. A Igreja através dos séculos estava afundando mais e mais na superstição da igreja Romana. Mas Deus sempre manteve um remanescente fiel que conhecia o verdadeiro evangelho: Que Deus salva pecadores por pura graça, não por obras.

Na grande Reforma protestante, Deus usou homens como Martinho Lutero e João Calvino para reformar a Igreja. O intuito dos reformadores em especial João Calvino e seus sucessores, nunca foi estabelecer uma nova Igreja. Eles entenderam que estavam reformando a única Igreja de Cristo e trazendo-a de volta à doutrina e práticas das Escrituras.

As Igrejas Reformadas do Brasil são ligadas pela historia e pela confissão de fé apostólica com todas as igrejas Fiéis que voltaram à pura doutrina e à verdadeira adoração bíblica na Grande Reforma. A Grande Reforma redescobriu a ligação Bíblica com a igreja primitiva apostólica, e assim as Igrejas Reformadas têm uma linhagem que vai até os tempos apostólicos.

As Igrejas Reformadas no Brasil: Primeira Igreja evangélica no País (1555-1558)

Em 1555, iniciou-se a colônia Francesa na Baía de Guanabara, onde hoje se encontra a cidade do Rio de Janeiro. Em 1557, chegou um grupo de Cristão reformado, junto com vários pastores mandados pelo reformador João Calvino. Assim os primeiros cultos evangélicos no país foram celebrados no Rio de Janeiro, por uma Igreja Reformada francesa.

A Igreja Reformada da Baía de Guanabara: primeiros mártires brasileiros (1558).

Infelizmente os reformadores foram traídos e perseguidos pelos romanistas franceses, assim a Igreja Reformada foi dizimada. Os primeiros mártires brasileiros pelo evangelho do Senhor Jesus Cristo forma membros da Igreja Reformada. Antes de morrerem, eles escreveram a confissão de Guanabara – A primeira confissão de fé do novo mundo.

As Igrejas Reformadas do Nordeste: Primeira Igreja missionária do Pais (1630-1654).

Muitos conhecem o nome Mauricio de Nassau, que governou o Brasil holandês com uma tolerância e sabedoria muito adiantada para sua época. Poucos sabem que o Conde Nassau fazia parte da família real da Holanda. A família Nassau estava sob juramento de defender a fé

reformada e promover a tolerância religiosa e liberdade de consciência.
Durante anos que Pernambuco e uma grande parte do Nordeste ficaram debaixo do governo holandês, as Igrejas Reformadas embarcaram num projeto missionário impressionante. Dezenas de pastores e missionários pregaram a fé reformada em vários idiomas: inglês, francês, espanhol, holandês, português, e até em Tupi (Língua Indígenas).

O catecismo de Heidelberg, que ensina o caminho da salvação, foi traduzido em tupi. Muitas aldeias conheceram a graça de Deus em Jesus Cristo, e muitos indígenas se converteram ao Senhor. Você já ouviu falar do famoso índio Poty? Ele foi membro da Igreja Reformada.

As Igrejas Reformadas e a Tradução da Bíblia em português (Séc XVII e XVIII).

Convido a você a abrir sua bíblia nas primeiras páginas. A grande maioria das Bíblias usadas no Brasil faz uso da tradução de um tal de “João Ferreira de Almeida”. Quem foi este homem? Ele foi um dos primeiros portugueses a abraçar publicamente a fé reformada, em 1642. Mais tarde ele se tornou um pastor das Igrejas Reformadas numa região da Ásia onde se fala português, e iniciou o trabalho de traduzir a Bíblia para a língua portuguesa. A obra que se iniciou foi completada por outros pastores reformados no séc XVIII.

As Igrejas reformadas e a segunda Vinda da Igreja Evangélica para o Brasil (séc XIX).

No séc XIX, depois de muitos séculos, a igreja voltou para o Brasil. Foram os Presbiterianos e Congregacionais que trouxeram a Pregação reformada ao Brasil: Deus salva pecadores por pura graça não por obras. É importante observar que as igrejas Presbiterianas e Congregacionais originalmente foram herdeiras da Grande Reforma Protestante por meio de Genebra, que é o berço das Igrejas Reformadas.
As igrejas da reforma no continente da Europa costumam chamar-se “Igrejas Reformadas”, enquanto as igrejas da Grã Bretanha e nos Estados Unidos costumavam chamar-se de “Presbiteriana” ou “Congregacionais”.
As Igrejas Reformadas no Brasil (séc XX e XXI).

No decorrer do séc XX, várias Igrejas reformadas foram estabelecidas no Brasil por imigrantes vindo da Holanda. No ano de 1970 as Igrejas Reformadas do Canadá iniciaram trabalhos missionários em pequenas aldeias de pescadores entre Recife e Maceió, na mesma época, as Igrejas Reformadas holandesas iniciaram uma obra missionária no estado do Paraná. Hoje existem Igrejas Reformadas oriundas da Reforma Protestante continental em muitos estados e cidades do Brasil.

Qual sua Conclusão?

As Igrejas Reformadas vêm da Grande Reforma Protestante do séc XVI, e através desta reforma tem um ligação com a igreja primitiva apostólica. O primeiro culto evangélico no Brasil foi feito pela Igreja Reformada, já no séc XVI. Os primeiros mártires brasileiros forma membros da Igreja Reformada. A primeira confissão do novo mundo foram escritas, e desenvolvidas por membros da Igreja Reformada. A tradução da Bíblia em Português foi por um pastor reformado.

À luz deste fatos, o que você vai responder quando alguém, que faz parte de uma igreja que apareceu apenas a 100 anos atrás, lhe disser que as Igreja Reformadas são uma nova seita?


Rev. Kenneth Wieske
Ministro da Palavra de Deus e dos Sacramentos
da Canadian Reformed Church em Surrey na
Colúmbia Britânica, Canadá. Atualmente,
Desempenha o trabalho missionário junto com a
Igreja Reformada do grande Recife faz parte do
Clire (Centro de Literatura Reformada)