quinta-feira, 18 de novembro de 2010
UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA

Uma breve reflexão sobre a perseguição aos evangélicos no Brasil
Em 10 de março de 1557, os protestantes franceses celebraram o primeiro culto evangélico do Brasil e no dia 21 de março celebraram a primeira Santa Ceia. Todavia, pouco tempo depois Villegaignon entrou em conflito com as calvinistas acerca dos sacramentos e os expulsou da pequena ilha em que se encontravam. Alguns meses depois, os colonos reformados embarcaram de volta para a França. Quando o navio ameaçou naufragar por excesso de passageiros e por ter pouca comida, cinco deles resolveram regressar. Esses cinco se sacrificaram em favor dos seus irmãos na fé. Assim que chegaram em terra foram presos: Jean du Bordel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques le Balleur. Pressionados por Villegaignon, foram obrigados a professar por escrito sua fé, no prazo de doze horas, respondendo uma série de perguntas que lhes foram entregues. Eles assim o fizeram, e escreveram a primeira confissão de fé na América, sabendo que com ela estavam assinando a própria sentença de morte. Essa maravilhosa declaração de fé é conhecida como a "Confissão de Fé da Guanabara" (1558). Em seguida, os três primeiros foram mortos e Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada. Os mártires do evangelho foram enforcados e seus corpos atirados de um despenhadeiro. Balleur fugiu para São Vicente, SP, foi preso e levado para Salvador (1559-67), sendo mais tarde enforcado no Rio de Janeiro, quando os últimos franceses foram expulsos.
Quase 100 anos depois, os holandeses criaram a Companhia das Índias Ocidentais com o objetivo de conquistar e colonizar territórios da Espanha nas Américas, especialmente uma rica região açucareira: o nordeste do Brasil. Em 1624, os holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte. Finalmente, em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e depois boa parte do Nordeste. Neste periodo João Maurício de Nassau-Siegen, que governou esta região entre 1637 a 1644, concedeu uma boa medida de liberdade religiosa aos residentes católicos e judeus. Sob os holandeses, a Igreja Reformada era oficial. Foram criadas vinte e duas igrejas locais e congregações, dois presbitérios (Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Mais de cinquenta pastores ou "predicantes" serviram essas comunidades. A Igreja Reformada realizou uma admirável obra missionária junto aos indígenas. Além de pregação, ensino e beneficência, foi preparado um catecismo na língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução da Bíblia e a futura ordenação de pastores indígenas. Em 1654, após quase dez anos de luta, os holandeses foram expulsos, transferindo-se para o Caribe. Os judeus que os acompanhavam foram para Nova Amsterdã, a futura Nova York.
Desde então, não se sabe de relatos de cultos protestantes no Brasil. No entanto, com a chegada da família real a terras tupiniquins e com a abertura dos portos as nações amigas, as confissões protestantes começaram paulatinamente a chegar ao país. Os Anglicanos chegaram em 1811, os luteranos em 1824, os Congregacionais em 1855, os presbiterianos em 1859, e os batistas em 1871. Todavia, em virtude da constituição de 1824 outorgada por D. Pedro I, que afirmava ser o catolicismo romano a religião oficial do Brasil, os protestantes não possuiam direito a cultos públicos em lingua portuguêsa, além é claro de não terem permitidos a construção de templos com aparência religiosa.
Já no governo de Dom Pedro II , (mesmo o imperador possuindo uma grande simpatia pelos protestantes), não era nada fácil afirmar publicamente a fé nos pressupostos cristãos, mesmo porque, a religião oficial do Estado imprimia forte perseguição religiosa aos evangélicos.
Com a Proclamação da República, o Estado Brasileiro deixou oficialmente de ser Católico Romano permitindo assim com que os protestantes tivessem direito a culto. Todavia, como não poderia deixar de ser, a maioria da população ainda desenvolvia um significativo preconceito para com aqueles que se diziam cristãos protestantes. A consequência direta disso foi a aniquilação de inúmeras templos evangélicos, que de forma covarde foram destruidos pelo fogo. Dentre estes, encontra-se a 1ª Igreja Batista de Niterói, que em 14 de abril de 1901, teve seus móveis, púlpito, pertences e diversos utensílios queimados em plena rua, além de sua sede destruída.
Durante a primeira metade do século XX, os crentes em Jesus foram estigmatizados e denominados pelo clero romano como hereges sofrendo por conseguinte ofensas morais, onde atributos pejorativos lhes eram destinados. Junta-se a isso, o fato de que muitos por causa da sua crença sofreram no corpo agressões físicas por não professarem a fé dos sacerdotes romanos. Na segunda metade do século XX a perseguição se deu de forma velada mediante os meios de comunicação que a todo custo vendiam a sociedade brasileira a imagem de uma igreja burra, ignorante e manipuladora da fé alheia.
Caro leitor, a constituição de 1988 nos garante liberdade de fé e religião. O artigo 5º da Carta Magna diz que ´"É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias." Todavia, os cristãos evangélicos correm o risco de sofrerem novas perseguições substanciais em virtude do projeto de lei 122 que tramita na Congresso Nacional que se aprovado irá criminalizar àqueles que manifestam suas opiniões religiosas contrárias ao casamento gay.
Vale a pena ressaltar que a fé protestante não defende a homofobia. Na verdade, nós cristãos-evangélicos somos contrários a todo tipo de violência física condenando veementemente aqueles que atentam contra a vida de quem quer que seja. Todavia, acreditamos também que possuímos o direito irrevogável e constitucional de expor publicamente nossa fé conforme claramente afirma a nossa carta magna.
Isto posto, oro ao Senhor nosso Deus que estenda a mão sobre o Brasil livrando a sociedade brasileira de uma lei que sem sombra de dúvida promoverá mais uma severa perseguição religiosa no Brasil.
Soli Deo Gloria,
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Você tem todo o direito de discordar...

domingo, 14 de novembro de 2010
O que é “Responsabilidade”?

Embora muitos calvinistas não usem o termo livre-arbítrio, a crítica abaixo não se aplica somente a Carson, mas também a teólogos igualmente famosos como Joel Beeke, John Piper, James Boice e muitos outros. Eles afirmam, sem base bíblica ou filosófica, que responsabilidade pressupõe liberdade, e que por causa disso existe uma contradição entre a soberania divina e a responsabilidade humana.
Eu devo ter em minha biblioteca uns 50 livros que dizem respeito à suposta relação entre livre-arbítrio e responsabilidade, mas somente um deles faz algum esforço para questionar se há qualquer conexão lógica entre esses dois conceitos. No último capítulo do seu livro Religion, Reason and Revelation, Gordon Clark observa que ninguém jamais demonstrou que o conceito de responsabilidade é, de alguma forma, dependente de um estado anterior do livre-arbítrio. Esses dois termos aparecem frequentemente no mesmo contexto, e é frequentemente afirmado que “se nós não temos o livre-arbítrio, não podemos ser responsáveis por nossas ações”, mas ninguém se importa em provar isso.
Uma típica expressão erudita dessa afirmação é feita por D. A. Carson, em sua tese de doutorado, publicada como Divine Sovereignty and Human Responsibility (1981), um excelente estudo de como a literatura do período helenístico trata o problema. Carson conclui com uma explicação da descrição joanina de ambas, a soberania divina e a responsabilidade humana pelo pecado, observando que nenhuma tentativa é feita por João para produzir qualquer explicação especulativa de como as duas coisas operam juntas, de um modo diferente da literatura helenística na qual este assunto é tratado. Carson fica devidamente impressionado em como esses dois tópicos podem coexistir lado a lado por todo o Evangelho de João sem qualquer reconciliação filosófica. Não passou pela cabeça de Carson, contudo, que o próprio João não tivesse notado nenhuma tensão ou conflito pelo simples fato de não haver nenhum.
Uma chave para o fato de Carson estar sob a impressão de que a soberania de Deus não pode ser reconciliada com a responsabilidade humana pode ser encontrada no capítulo intitulado “Os Limites do Livre-Arbítrio”. Logo no começo, a primeira sentença reza: “Responsabilidade é a certeza ligada ao ‘livre-arbítrio’ de algum modo” (p.206). Mas, a despeito de uma discussão subsequente de vários tipos de calvinismo inconsistente, Carson em algum lugar mostra que sua suposição primeira é correta. Ele simplesmente junta a longa fila de calvinistas inconsistentes que assumem que o livre-arbítrio “em alguma medida” fortalece a realidade da responsabilidade. Mas em qual medida?
eu simplesmente repetirei aqui o desafio que Gordon Clark faz aos arminianos de escreverem uma prova de que a responsabilidade é, de algum modo, dependente ou que pode ser derivada do conceito deles de livre-arbítrio. Naturalmente, eles podem definir o livre-arbítrio de qualquer modo que vá ao encontro da necessidade teológica deles, mas os cristãos deveriam tirar suas premissas da Bíblia. Carson reconhece o livro de Gordon Clark, Biblical Predestination (1969), mas não menciona Religion, Reason and Revelation, onde o assunto de seu próprio capítulo final intitulado “The Formulation of the Tension” é discutido em detalhes. É simplesmente assumido que há uma tensão.Teria sido útil se Carson tivesse explicado por que a literatura helenista é tão corrompida pelas tentativas especulativas de reconciliar o conceito de responsabilidade com a soberania de Deus e, então, teria explorado por que a Bíblia não trata, de forma alguma, as duas coisas como estando em tensão ou conflito. Talvez ele simplesmente tenha decidido não incluir essas questões adicionais no escopo do estudo. (Deveria também ser considerado que eles podem somente parecer estar em conflito porque o pensamento não-cristão impôs pressuposições falsas e contraditórias sobre o tópico como condição para discussão. Isto é, a mente natural pressupõe que a visão cristã é impossível antes que ela comece sua consideração “objetiva” do assunto). Contudo, a tese de Carson não torna disponível ao leitor uma análise excelente de como a literatura (na sua maioria de origem judaica) da era helenística lida com esse dilema importante da incredulidade. Ela deveria ser lida por todo cristão interessado na história do debate sobre o livre-arbítrio.
, permanece o fato de que não somente não há nenhuma conexão demonstrável entre o livre-arbítrio e a responsabilidade, mas também que a ideia arminiana de liberdade da indiferença é totalmente destituída de qualquer senso de responsabilidade. Pode ser difícil para alguns entender a relação entre a responsabilidade humana e a soberania de Deus — eles são perfeitamente honestos em dizer que “não veem como podemos ser considerados responsáveis se não temos o livre-arbítrio”. Mas para o cristão que crê na Bíblia, em nenhum lugar na Bíblia a responsabilidade está vinculada ao livre-arbítrio. Ela nunca usa o livre-arbítrio como uma categoria de explicação, nem uma só vez sequer.
Leia esse texto também e a continuação do texto boa leitura.
Responsabilidade Bíblica Link »
- Por: R. K. McGregor Wright
Fonte: A Soberania Banida, Editora Cultura Cristã, págs. 59-60.
por R. K. McGregor Wright