domingo, 21 de fevereiro de 2010

Simbolo de Fé

Estes são simbolos da cristandade
A igreja a que o texto se refere é a 1 Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte

Símbolos da Fé

ETERNIDADE

Cremos que Deus existe de eternidade a eternidade, Ele é o único ser auto-existente e nós, suas criaturas, somos seres dependentes dEle.

ONIPRESENÇA

Cremos que Deus está presente em todas as partes, mas há uma distinção clara entre o Criador e toda a coisa criada. Não adoramos a criação, mas adoramos o Criador que sustenta toda a criação com sua presença, existindo, contudo, independente dela. Deus não depende da criação, a criação depende de Deus.

IMORTALIDADE

Cremos que somente Deus possui imortalidade. Ao nosso redor, tudo murcha, tudo seca e, por fim, morre. Tudo passa, até nós passamos. Mas Deus não murcha, não seca, não morre! Deus jamais passará. Cremos também que a todos aqueles que receberam a Cristo, Deus deu-lhes vida imperecível, resgatando-os de seu estado de pecado e morte.

REVELAÇÃO

Cremos que Deus ama dar-Se a conhecer, porque Ele é luz, Ele não vive nas trevas, na sombra, não! O próprio céu manifesta a Deus. "...o firmamento anuncia as obras de suas mãos". Em outras palavras, o Deus vivo e verdadeiro é comunicativo. Ele dá a conhecer os Seus planos e propósitos em Sua Palavra, as Escrituras Sagradas do Antigo e do Novo Testamentos.

TRINDADE

A forma última de existência é uma manifestação final de comunhão de amor. Tal como a Bíblia nos ensina, Deus subsiste em Trindade, numa comunhão de amor perfeito entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

NATIVIDADE

Este amor perfeito Deus foi manifesto aos homens, em carne, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, que nasceu da virgem Maria, concebido de forma sobrenatural pelo Espírito Santo, fazendo-se um de nós para levar sobre Si, na Cruz do Calvário, os nossos pecados, nossa culpa e pagar a nossa dívida diante de Deus o Seu Pai. Porque Deus amou o mundo de tal maneira, Ele deu Seu Filho Unigênito.

ONISCIÊNCIA

Cremos que o Deus que tudo sabe, conhece as nossas dores e misérias, sabe tudo de maneira completa, não como um mero espectador dos acontecimentos. O Deus que tudo vê, em Sua Providência, governa cada molécula e determina que uma pequena folha, ou um fio de cabelo de nossa cabeça, caia ou não. Esta convicção de que Deus tudo sabe é para os incrédulos aterrorizante porque o criminoso não está oculto aos olhos de Deus. Saber isto para o crente em Cristo, no entanto, é preciosamente confortador, porque apesar de Deus conhecer cada um dos nossos passos, saber de todos os nossos pensamentos, Ele, ainda assim, decidiu amar aqueles para quem enviou o Seu Filho para morrer pelos pecados deles.

DEUS TRIÚNO

O Deus único que adoramos não é três deuses. Adoramos a um Deus que é três em pessoa, mas que é uno em essência, um único ser. Este mistério da Triunidade de Deus é algo que escapa à nossa compreensão, contudo não é uma contradição lógica, e nem produto da invencionice humana. É assim que a Bíblia nos ensina.

REDENÇÃO

O Deus vivo e verdadeiro, eterno, imortal e triúno, enviou o Seu Filho Jesus Cristo, para prover grande Redenção, permanecendo justo e justificador. O fato é: como Deus poderia justificar aos injustos, pecadores, aqueles que infringiram a sua justa lei? Se Deus é justo teria Ele que punir os injustos. Se Ele justifica injustos não seria justo. Contudo, na cruz, Deus puniu o pecado reivindicando Sua justiça e ao mesmo justificando o pecador, perdoando sem ser conivente, pois é Jesus Cristo a nossa redenção. nEle está a justiça dos injustos, a tal ponto que aqueles que estão em Cristo são nova criação.

FÉ E ESPERANÇA

Duas das três virtudes capitais cristãs são a fé e a esperança representadas por uma âncora. Os benefícios maravilhosos do sacrifício de Cristo são apropriados pelo crente pela fé, pois as Escrituras nos ensinam que "justificados mediante a fé temos paz com Deus." Todos quantos receberam a Cristo foram feitos Filhos de Deus "a saber aos que crêem no Seu nome". Foram adotados na família de Deus e receberam a certeza da salvação, portanto "não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus". Nossa salvação é garantida pela promessa de Deus que não pode falhar. Fomos salvos na esperança de sermos salvos. Nossa esperança é uma âncora firme que está segura na Rocha dos Séculos, nosso Senhor Jesus Cristo.

QUATRO EVANGELHOS

As verdades que transformaram nosso coração foram a nós ensinadas nas páginas dos Evangelhos. Os quatro Evangelhos, que nos contam as boas novas da salvação em Jesus Cristo, foram escritos para que pudéssemos crer e crendo tivéssemos vida em Seu Nome. No centro das "boas novas" (Evangelhos) está a Cruz e em cada um particularmente. Evangelho sem Cruz é evangelho sem redenção. Mas, ainda que preguemos a Cristo e "este crucificado", sabemos que Ele venceu o Diabo, triunfando sobre ele na cruz e ressuscitando ao terceiro dia. Ele é o primeiro de entre os mortos e nós, por fim, o acompanharemos.

TESTEMUNHO

O testemunho que Cristo nos deixou está registrado em Sua Palavra. Não testemunhamos de nós mesmos mas somos testemunhas de Cristo. Tal como a palavra grega "IKTOS", colocada pelos algozes de Jesus no alto da cruz, são as iniciais da frase "Jesus Cristo Filho de Deus Salvador": formam elas a palavra "peixe", e o peixe tornou-se o símbolo do testemunho cristão. Testemunhamos que só Jesus Cristo é o Filho de Deus e este veio ao mundo para salvar todo aquele que nEle crê. Este é o nosso testemunho. Testemunhamos daquilo que temos ouvido, visto e experimentado do poder de Deus revelado nas Escrituras.

CRISTO ETERNO

O poder de Deus revelado é o Cristo Eterno. O Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Nele todas as promessas de Deus encontram cumprimento, nEle todas as bênçãos de Deus encontram um "Amém"! Ele não é somente o cumprimento do que Deus prometeu, como também a garantia do que Deus ainda está por fazer.

ESPÍRITO SANTO

Estas verdades e promessas foram "seladas" em nosso coração pelo Espírito Santo. Ele é para nós um "penhor", como uma garantia de que todas as promessas de Deus haverão de chegar à plena fruição. Ele é em nós um "batismo", dando-nos a convicção de que estamos nEle e Ele está em nós. Ele é para nós também uma "unção". Assim como Deus determinou que se ungissem os profetas, os sacerdotes e os reis do Antigo Testamento, fomos ungidos para sermos o "sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamarmos as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". Estas quatro bênçãos especiais recebemos no momento que Cristo passa a habitar em nossos corações. O Espírito Santo, representado por uma lâmpada, ilumina e faz brilhar, revelando o Senhor Jesus a nós e em nós. A obra do Espírito Santo, por excelência, é revelar a pessoa de Jesus Cristo. Assim, quem tem a Cristo fulgurando em sua vida, tem a "Luz do Mundo", quem tem a Cristo tem a "Vida", quem tem a Cristo tem o Espírito Santo.

RESSURREIÇÃO

Todo aquele que crê em Cristo, Deus lhe dá o poder de ser feito filho de Deus, contudo, aguardamos a manifestação completa daquilo que já somos e temos em Cristo. Esperamos a manifestação de Jesus Cristo quando Ele vier para nos buscar. Então nosso corpo mortal será revestido de imortalidade, aquilo que é corruptível será revestido de incorruptibilidade. Sabemos, conforme nos prometeu Jesus Cristo em Sua Palavra, que os mortos verão a luz da ressurreição. Os que tiveram a ventura de receber a dádiva do amor de Deus, Jesus Cristo, ouvirão de Sua própria boca: "Vinde, benditos de meu Pai, entrai para o reino que vos está proposto desde a fundação do mundo". Contudo, aqueles que O rejeitaram, que dEle não fizeram caso, ouvirão na ressurreição do último dia: "Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e seus anjos."

CONCLUSÃO

A mensagem dos símbolos apostos na parede frontal do templo de nossa Igreja é uma mensagem do soberano amor de Deus em Cristo o Seu Filho para a nossa salvação, e esta mensagem eterna que nos alcançou no tempo de nossa existência é também uma mensagem solene de advertência que responsabiliza a todos nós, a mim e a você. "Se hoje ouvirdes a sua voz não endureçais os vossos corações."


Anderson Queiroz

Entre Blocos e Retiros: O Papel da Igreja no Carnaval

Uma parábola sobre o papel da igreja durante o Carnaval

Em tempos de Carnaval este texto pode levantar vários debates, não sou completamente a favor, mas acredito que tem muita razão no que diz... enfim, um texto para refletir...

Epêneto era o presbítero responsável pela igreja em Roma, desde que Priscila e Áquila tiveram que deixar a cidade em busca de novos campos missionários. Epêneto foi um dos primeiros a se converterem através do trabalho realizado por Paulo nessa cidade.

Aquela igreja era muito ativa, sempre aberta a acolher as pessoas. Quando havia algum cataclismo, fome ou guerra, os cristãos se mobilizavam para socorrer as vítimas. Por causa de seu envolvimento com a dor humana, ganhou a simpatia de todos, inclusive de funcionários do palácio de César.

Num belo dia,
ouviu-se o clangor do clarim. Todos se reuniram para ouvir o que o mensageiro do império tinha para anunciar. Em duas semanas, o exército romano estaria chegando de uma campanha militar bem-sucedida. O próprio César o receberia com uma Parada Triunfal, que seria seguida de um feriado prolongado dedicado aos deuses Marte e Saturno, também conhecidos como Apolo e Baco, divindades da guerra e do vinho, respectivamente. Seria uma grande festa, regada a bebidas alcoólicas e todo tipo de luxúria. A população sairia às ruas para assistir ao desfile das tropas romanas, dando-lhes boas-vindas, e assistiriam à execução de milhares de prisioneiros. Ninguém trabalharia naqueles dias.

Epêneto ficou preocupado com a notícia. Qual deveria ser o papel da igreja durante essa festa pagã? Ainda inexperiente como líder, reuniu alguns dos mais antigos membros da igreja para discutir o que fazer.

Um deles, chamado Narciso, pediu a palavra e deu sua sugestão:
- Amados no Senhor, por que não aproveitamos o ensejo para promover um desfile paralelo, onde demonstraremos ao mundo a nossa força, revelando a todos nossa lealdade ao Rei dos reis, Jesus Cristo? Podemos até copiar algumas de suas canções, adaptando-as à nossa fé. Em vez de exibirmos prisioneiros, exibiremos testemunhos daqueles que foram salvos. Vamos montar nosso próprio bloco, quer dizer, nossa própria parada triunfal. Pode ser uma grande oportunidade evangelística.

Epêneto, depois de algum tempo pensativo, respondeu: Caro Narciso, a idéia parece muito boa. Porém, quem ouviria nossa voz durante os momentos de folia? Nosso modesto bloco se perderia no meio de toda aquela devassidão. Ademais, a maioria das pessoas estará embriagada, incapaz de entender nossa mensagem. Também não estamos preocupados em dar uma demonstração de força. Jesus disse que nosso papel no mundo seria semelhante à de uma pitada de fermento, que de maneira discreta, sem chamar a atenção para si, vai levedando aos poucos toda a massa. Por isso, acho que sua idéia não é pertinente. Quem sabe em gerações futuras, haja quem a aproveite?

Levantou-se
então Andrônico, que gozava de muito prestígio por ser parente de Paulo, e sugeriu:


- Amados, durante o Desfile Triunfal e as Saturnais, a situação espiritual da cidade ficará insuportável. Divindades pagãs serão invocadas, orgias serão promovidas em lugares públicos à luz do dia. Não convém que estejamos aqui durante essa festa da carne. A melhor coisa a fazer é nos retirarmos, buscarmos um refúgio fora da cidade, e aproveitamos esse tempo para nos congratularmos, sem nos expormos desnecessariamente às tentações da carne.

Todos acenaram com a cabeça, demonstrando terem gostado da idéia. Já que seria mesmo feriado, ninguém precisaria trabalhar. Um retiro parecia a melhor sugestão.

O velho presbítero ficou um tempo em silêncio, meditando. Todos estavam atônitos esperando sua palavra, quando mansamente respondeu:
- Irmãos, não nos esqueçamos de que somos o sal da terra e a luz do mundo. Se no momento de maior trevas nos retirarmos, o que será desta cidade? Por que a entregaríamos ao controle das hostes espirituais das trevas? Definitivamente, nosso lugar é aqui. Não Precisamos deexposição, como sugeriu nosso irmão Narciso, nem de fazer oposição à festa, retirando-nos da cidade, como sugeriu Andrônico. O que precisamos é estar à disposição para acolher aos necessitados, às vítimas da violência, aos desassistidos, aos marginalizados.
A propósito, não temos estado sempre disponíveis para atender as pessoas durante as tragédias que tem abatido o império? E o que seriam tais desfiles, senão tragédias morais e espirituais? Saiamos às ruas, mesmo sem participar da folia, e estendamo-los as mãos, em vez de apontar-lhes o dedo, oferecendo compaixão em vez de acusação, amor em vez de apatia. Que as casas que usamos para nos reunir estejam de portas abertas para receber quem quer que seja, e assim, revelaremos ao mundo Aquele a quem amamos e servimos. Afinal, o reino de Deus se manifesta sem alarde, sem confetes, sem barulho, mas perturbadoramente discreto.


Depois dessas sábias palavras, ninguém mais se atreveu a dar qualquer outra sugestão.

Deus Abencoe a todos!

Será que eles estão certos?

Na noite de sábado de carnaval, estava em minha casa com minha esposa assistindo o jornal, quando passou uma reprise do carnaval do Janeiro, minha esposa fez uma indagação: - Seria correto evangelizar durante o carnaval? Esta pergunta é freqüente nesta época. Há muitos líderes que são a favor desta prática, principalmente de igrejas neo-pentecostais, Outros, porém, se posicionam contra o evangelismo no carnaval. Alegam que ao evangelizar no carnaval irá expor seus membros a perigos diversos, enfraquecimento da fé e etc. como já é uma tradição das igrejas do Brasil, muitas preferem acampar. Qual é a posição da bíblia a respeito deste assunto?
A bíblia não estabelece dias e nem tempos específicos para evangelizar. Não existe um calendário apostólico no qual defina datas que podem ou não evangelizar. A escritura nos dá liberdade para escolhermos o dia, a hora e época para cumprirmos este mandamento.
Paulo foi um grande estrategista e sempre aproveitou as oportunidades que aparecia, durante seu ministério. Paulo se adaptou aos costumes judaicos a fim de ganhar os judeus para cristo. Ele mandou circuncidar Timóteo por causa dos judeus (At 16.3). Ele próprio fez o voto de Nazireu para expressar gratidão a Deus pelos livramentos (At 18.18).
Jesus durante seu ministério terreno também ousou das estratégias para evangelizar, não se limitando aos templos e sinagogas. Falou para multidões em diversos lugares, nos montes (Mt 5.1), dentro de casas de gentios(Mc2.1), em praias(Mc 4.1) e até no cemitério (Jo 11.38).
Jesus pregava para qualquer um que estivesse disposto a ouvir: homens, mulheres, judeus, gentios, ricos e pobres. A todos proclamava as boas novas.
Analisando este exemplo aprendemos que a bíblia nos dá total liberdade para evangelizar em qualquer data do ano, tanto no carnaval, quanto em qualquer outra festa ou manifestação cultural. Aqueles que se opõem contra o evangelizar nestes períodos, encontram-se em grade enrascada. No Brasil há festividades culturais em quase todos os dias do ano. Infelizmente essa oposição é anti-bíblica e preconceituosa. Devemos aprender com Jesus e ser simplesmente com Ele.





Miguel Silva

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

se essa moda pega ...



Punição por batismo

São Paulo - A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou um pai a pagar indenização por danos morais por ter batizado o filho sem o conhecimento e consentimento da mãe da criança. Por maioria, a Turma entendeu que, ao tirar da mãe o direito de presenciar a celebração de batismo do filho, o pai cometeu ato ilícito e provocou danos morais nos termos do artigo 186 do Código Civil, de 2002.

Separado da mãe da criança, o pai pediu alteração do horário de visita e batizou o filho aos 2 anos. O batismo, católico, foi em 24 de abril de 2004, mas a mãe só tomou conhecimento da cerimônia sete meses depois. O caso foi parar na Justiça e chegou ao STJ por recurso especial. Antes do recurso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro tinha anulado sentença que havia condenado o pai ao pagamento de R$ 3 mil a título de compensação por danos morais. Para o TJ fluminense, não houve dano moral porque o batismo foi feito sob a mesma religião da mãe. Além disso, o TJ considerou que, pela dificuldade de relacionamento entre as partes, o pai teve motivos para ocultar a decisão.
miguel silva

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

1 Pedro 4. 7-11

Exegese do texto de Pedro.

Introdução:

A escravidão na sociedade foi algo aceitável durante muito tempo. Em Roma se um escravo fugisse e sendo encon­trado, provavelmente seria marcado na testa com um “F” (para fugitivus) e se roubasse alguma propriedade de seu senhor, provavelmente seria condenado à morte, de acordo com a lei romana para escravos insubmissos. Os negros trazidos para o Brasil recebiam marcas quando eram comprados por traficantes e recebiam mais marcas quando eram comprados aqui no Brasil. E se fossem vendidos recebiam as marcas do seu novo senhor. Essas marcas eram feitas a ferro quente. Esta era situação de seres humanos que eram escravizados. As Escrituras falam que somos escravos de Deus. Cristo nos resgatou da ira de Deus. Recebemos o Espirito Santo que é o Selo de que pertencemos a Ele. O nosso Dono não nos irá vender. Somos sua propriedade para sempre. Além de sermos suas propriedades, Ele nos elevou a uma condição de dignidade antes nunca vista, somos seus filhos. Como nosso Dono e nosso Pai, Ele exige de nós obediência as suas diretrizes.

Elucidação: Nestes versos Pedro fala que dentro da comunidade cristã o crente deve praticar a disciplina de vida santa, a fim de ter a verdadeira comunhão. No verso 22 do cap. 1 nos é dito que fomos purificados pela obediência à verdade. Nos versos (4. 7-11) a verdade é posta em pratica. Todas as ordens que Pedro dá em termo prático só podem serem obedecidas por quem foi regenerado por esta verdade. Iremos meditar hoje sobre o seguinte tema

Tema: Deveres Cristãos

1 Divisão: O dever da oração (verso 7)

Pedro dá uma ordem especifica aqui que é manifesta em dois versos que ele usou (swfronh,sate) “criterioso” este verbo é um imperativo aoristo ativo. O verbo no original nos passa a idéia de cabeça fria, mente equilibrada que exerce autocontrole ou moderação. O outro verbo é (nh,yate) “sóbrio” este verbo é um imperativo aoristo ativo. A idéia no original é de manter a mente limpa. Qual a razão de sermos criteriosos e sóbrios? R- O fim de todas as coisas está próximo.

Pedro usa aqui o substantivo te,loj “fim”. Qual a idéia de fim que Pedro tem em mente? Que fim de todas as coisas Pedro se refere? A idéia do tempo de Deus está presente aqui. O plano redentor de Deus está estabelecido. Pedro diz que o sangue de Cristo foi manifestado no fim dos tempos por amor de vós 1 Pe. 1.20.

Pedro chama os crentes a atentarem no plano de Deus, Pedro chama os crentes a perceberem o que está acontecendo e terem uma posição definida e não se perturbarem com o que está acontecendo.

Para realçar bem isto, Pedro diz que este fim h;ggiken “se aproximou” este verbo é um indicativo perfeito ativo, ou seja, ele já chegou de forma definitiva e estamos experimentando seus efeitos. As Escrituras nos informam as características dos últimos dias: apostasia e práticas mentirosas. As Escrituras nos ensinam como devemos nos portar neste dias que vivemos:

Hebreus 10:25

Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima

Tiago 5:8-9 8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima. 9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas.

Qual a finalidade de sermos criteriosos e sóbrios? O texto nos informa a razão: Oração

Enquanto o crente espera o desfecho de todas as coisas, a volta de seu Redentor que irá julgar todas as coisas, o cristão precisa ter a cabeça equilibrada e a mente limpa para que possa orar. Pedro usou uma preposição no texto original que mostrar a finalidade de sermos equilibrados.

Por que orar?

A oração mudaria as características dos últimos dias? Mudaria o decreto de Deus? Mudaria o coração de Deus?

Certamente não!

Os objetivos já estão traçados.

Então, por que orar?

A oração é um aspecto importante da vida espiritual do cristão. Através da oração o cristão tem comunhão intima com seu Deus, através da oração o cristão conta suas angustias a Deus, através da oração o cristão agradece o que ele é em Cristo e do terrível juízo que foi liberto. O catecismo de Heidelberg na sua pergunta 117 diz:

Como devemos orar, para que a oração seja agradável a Deus e Ele nos ouça?

R. Primeiro: devemos invocar de todo o coração, o único e verdadeiro Deus, que se revelou a nós em sua palavra, e orar por tudo o que Ele nos ordenou pedir

Segundo: devemos muito bem conhecer nossa necessidade e miséria, a fim de nos humilharmos perante sua majestade. Terceiro: devemos ter a plena certeza de que Deus, apesar de nossa indignidade, quer atender à nossa oração por causa de Cristo, como Ele prometeu em sua Palavra

Kistemaker no seu comentário faz as seguintes colocações

A sobriedade e o domínio próprio são características essenciais para a oração desimpedida. A oração requer esforço, assim, o cristão pode apresentar seus louvores e pedidos com seriedade perante o trono de Deus. As Escrituras ensinam que deixar de orar é pecado (1 Sm 12.23). A oração é um requisito básico para um cristão que deseja ter uma vida agradável a Deus e aos homens. Através da oração, o cristão estabelece uma ligação vertical com Deus, antes de criar uma ligação horizontal com outras pessoas.[1]

2 Divisão: O dever de amar uns aos outros e de servir ao próximo e (verso 8 -10)

Os deveres cristãos não param somente na oração. Pedro dá mais razões para sermos criteriosos e sóbrios, Nestes versos Pedro começa a trabalha aspectos práticos do cristão.

1- Amor

2- Serviço

No verso 8 Pedro diz: Antes de tudo ou acima de tudo, os cristãos devem ter amor Pedro usou um verbo e;contej “tendo” este verbo é um particípio com sentido imperativo presente ativo, a idéia é de um amor sempre presente e ativo de uns para os outros. Pedro qualifica este amor. Ele não deve ser de qualquer forma, não deve ser falso, não deve ser mentiroso, não deve ser interesseiro, ele deve ser “evktenh/’ intenso e ardente. O amor não é uma emoção, mas uma decisão de querer, que leva à ação.

No próprio verso Pedro mostra este amor atuando. O amor não guarda arquivos dos erros cometidos, antes perdoa e esquece. Pedro faz uma citação do Antigo Testamento

Provérbios 10:12 O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões.

A idéia de Provérbios 10.12 é a seguinte: O ódio sugere a rejeição da boa ordem, dissolução dos relacionamentos humanos, fragmentação de qualquer tipo de sociedade. O amor é a busca do melhor para o outro. O amor é a melhor expressão dos relacionamentos ordeiros. Visando esta harmonia o amor encobre as questões que promovem contendas.

O verbo que Pedro usou para “cobrir” kalu,ptei é um indicativo presente ativo. A idéia é de algo constante, aqui reside um principio que é útil pra muita gente. A disposição de querer que as coisas e projetos dêem errado. Quantas e quantas pessoas nas igrejas além de não fazerem nada ficam torcendo para que as coisas fracassem e saiam erradas. Só pra ter o gosto de dizerem: Não falei!

Estas pessoas estão pecando.

Outra coisa também é o ressentimento a ressurreição de pecados cometidos e nunca perdoados.

As Escrituras mostram que o cristão deve agir de forma correta. O principio do amor é o que está estabelecido na Oração do Pai Nosso: perdoa as nossas dividas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Deus me ama por isso me perdoa. Tem prazer em ter comunhão com seus santos. O que se espera de um crente? Se não a mesma coisa. Se você meu irmão não está agindo assim, você está pecando. Está sendo passivo da disciplina de Deus.

Outro aspecto prático que Pedro trabalha é a questão do serviço

No verso 9 Pedro fala sobre a hospedagem. É necessário fazermos algumas considerações históricas: A falta de uma rede de hotéis decentes para as pessoas comuns resultava em que as pessoas estivessem prontas para hospedar seus amigos e outros viajantes adequadamente indicados. A hospitalidade era, então, muito mais estimada do que hoje em dia.

Hermann comentando sobre a hospitalidade, na vida dos primeiros cristãos diz o seguinte

O elogio da hospitalidade está no Evangelho; os outros escritos do Novo Testamento insistem no dever da acolhida e explicam sua motivação espiritual. Quem recebe o estrangeiro recebe o próprio Cristo. Esse é um dos critérios para ser acolhido na casa de Deus[2]

Esta hospedagem devia ser feita de forma grosseira e com mau gosto? De forma nenhuma. Pedro diz: sem murmuração. A ênfase da instrução de Pedro está na qualidade da hospedagem.

No verso 10 Pedro estabelece o principio do serviço que cada cristão deve fazer

1- Pedro diz que devemos servir uns aos outros com o dom que Deus nos deu

2- Pois somos os mordomos da multiforme graça de Deus

Pedro quando fala que o cristão recebeu dons para o serviço, usar o verbo e;laben “recebeu” este verbo é um indicativo aoristo ativo, a déia é de algo definitivo. Deus deu dons para que seus santos servissem uns aos outros

Pedro também diz a razão de termos recebidos dons, somos “oivkono,moi” a palavra traz a idéia do escravo responsável pela administração da propriedade ou lar de uma pessoa e pela distribuição de salários, alimentos para seus membros.

Irmão, você e eu somos escravos do Senhor. Sendo assim, cada um deve tratar de servir bem ao seu irmão. Pois o Senhor derramou a sua graça de forma variada visando à edificação de cada santo.

3 Divisão: O dever de ter discernimento de que tudo é para a glória de Deus (verso 11)

A diferença do Senhor e do escravo é uma só: a condição de cada um. O escravo serve ao Senhor.

Somos escravos de Deus, nossa função é o serviço, nosso trabalho deve ter como alvo sua glória e não a nossa.

É sobre isto que Pedro vai tratar no verso 11

Pedro vai esmiuçar a forma correta de utilizar os dons que Deus deu

Os que falam, falem como oráculo de Deus: Nesta primeira orientação Pedro começa com àqueles que foram chamados para anunciar a Palavra de Deus. Qual deve ser a conduta de alguém que anuncie a Palavra de Deus? Irreverente? Como esta pessoa deve se comportar em relação ao resultado da pregação? Pragmático? Qual a atitude que os homens chamados por Deus para anunciar sua Palavra devem ter com a mesma? Indiferença? Será que uma atitude irreverente seria conveniente? Será que piadas na hora da entrega da Palavra de Deus são necessárias para que o ouvinte fique descontraído? Será que o ouvinte deve sentir descontraído quando escuta a Palavra de Deus? A resposta para todas estas indagações é um sonoro: Não!

Aqueles que Deus chamou têm que ter consciência que estão anunciando os oráculos de Deus. E a eficácia do anuncio não reside na sua oratória ou retórica, mas na aplicação feita pelo Espírito Santo que aplica quando quer e onde quer.

Os que servem, devem servir em cima da provisão do Senhor. O verso emprega um verbo no original corhgei/ “conduz um coral” A idéia deste verbo originalmente era “estar no conjunto coral”. Depois veio a significar “suprir um coral” e, assim, produzir uma peça ás suas próprias custas e risco. Finalmente, veio a significar simplesmente fornecer ou suprir com alguma coisa. A idéia é de que quem serve não deve servir baseado na sua própria força e sim na de Deus. A provisão de Deus é abundante.

A nossa confissão no cap. XVI sessão III falando a respeito desta força que e concedida pelo Senhor diz:

O poder de fazer boas obras não é de modo algum dos próprios fiéis, mas provém inteiramente do Espírito de Cristo. A fim de que sejam para isso habilitados, é necessário, além da graça que já receberam, uma influência positiva do mesmo Espírito Santo para obrar neles o querer e o perfazer segundo o seu beneplácito; contudo, não devem por isso tornar-se negligentes, como se não fossem obrigados a cumprir qualquer dever senão quando movidos especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por estimular a graça de Deus que há neles.

Qual a razão de Pedro dá estas instruções para quem prega e quem serve?

A razão é que em todas as coisas quem deve ser glorificado é Deus

Não temos glória nenhuma. Toda glória é do Senhor.

Interessante o modo do verbo que Pedro usou no original para glorificar “ doxa,zhtai” subjuntivo presente passivo. O subjuntivo é o modo de probabilidade. Creio que Pedro dá uma advertência aqui. Quando o cristão não segue as instruções de Pedro ele acaba não dando a gloria a Deus. Mas quando o cristão obedece às instruções ele glorifica a Deus através de Jesus Cristo.

O Senhor Deus só aceita as nossas obras por causa de Jesus Cristo.

A Nossa confissão de Fé no cap. XVI sessão II diz:

Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira; por elas os crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança, edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho, tapam a boca aos adversários e glorificam a Deus, cuja feitura são, criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em santificação, tenham no fim a vida eterna.

Pedro termina o verso com uma doxologia, ou seja, um louvor final.

Deus é glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem pertence à glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém

Aplicação:

1- Não podemos viver no mundo sem o necessário discernimento da época em que vivemos. Deus ordena que sejamos criteriosos e sóbrios para termos discernimento das coisas. O crente precisa fazer a leitura do seu tempo e perceber o agir de Deus

2- Este discernimento deve levar o crente à oração

3- As Escrituras ordenam como devo me relacionar com meu irmão: devo amá-lo intensamente. Amar é respeitar, corrigir, ser transparente, não criar confusão, entender que temos o mesmo propósito, manter a paz entre os santos de Deus. Quem não procede assim, peca.

4- Devemos ser prontos para ajudar

5- Devemos ter discernimento que somos escravos e administramos bens do Nosso Senhor. Que recebemos dons e devemos utilizá-los de forma que todos os santos de Deus sejam servidos. A finalidade de tu teres dons e posses é ser útil ao teu irmão. Se você ainda não entendeu isto, você está pecando.

6- Cada um precisa usar o talento que Deus lhe deu e entender que a força para usar este talento não provém de nós mesmo.

7- Toda a glória é de Deus. Então não se engane, não somos nada, não temos nada, tudo o que somos e o que temos foi dado por Deus. Sendo assim, a maior estupidez que um santo de Deus possa ter é o orgulho e a soberba.

Conclusão:

Como escravos de Deus temos o sinal de sua propriedade: O Espírito Santo. Deus é o nosso Dono definitivo.

Deus nos elevou a um estado de dignidade.

Ele nos trata como filhos, pois de fato somos seus filhos, por causa de Cristo.

Deus requer de nós obediência e quando não obedecemos, Ele nos castiga como filhos

Deus nos delegou deveres que devem ser obedecidos

Que o Senhor nos ajude a obedecer-LO

Que nossas atitudes visem acima de tudo exaltá-Lo sempre e sempre

A Ele toda glória!

Amém.


[1] KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento Epistolas de Pedro e Judas. São Paulo-SP: Cultura Cristã, 2006. p. 227
[2] HAMMAN, A.-G. A Vida Cotidiana dos Primeiros Cristãos (95-197). São Paulo-SP: PAULUS, 1997. p. 34


Soli deo Gloria!!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Tesouro de Davi Charles H. Spurgeon,



Este trabalho foi publicado pela primeira vez em parcelas semanais ao longo de vinte anos de duração na London Metropolitan Tabernáculo periódico, A Espada e a Espátula Terminado. a seções foram liberados volume por volume, até que o sétimo e último volume foi lançado em 1885. Dentro de uma década mais de 120.000 livros tinham sido vendidos. O Tesouro de Davi é uma UMA REALIZAÇÃO soberba Literária . Eric Hayden, pastor do Tabernáculo Metropolitano um século depois do ministério de
Spurgeon começou , chama isso de "trabalho de magnum opus Spurgeon . A mulher de Spurgeon
disse que, se nunca tivesse escrito qualquer outro trabalho, este teria sido um memorial permanente literário. a muitos comentário do proprio Spurgeon em cada verso dos Salmos e citações de centenas de comentadores - contemporâneos de Spurgeon, assim como os expositores dos grandes puritanos dos séculos XVII e XVIII.
pregadores e os professores Irão apreciar as sugestões homileticas em quase todos os versos, concisa sermão esboços,e sementes de pensamentos Provocantes, Bibliografias úteis, e um índice de autores Oferecem uma ajuda mais prática Se você está ensinando sobre os Salmos, estudá-los para uma Devoção, ou simplesmente intrigado com os escritos perspicaz, e por si só, teria Sido rico o suficiente para uma posteridade. Mas há muito mais em O Tesouro de Davi. Você vai encontrar uma grande variedade de extratos iluminante escritos de Spurgeon, você vai apreciar este clássico .O trabalho continua nos dias de hoje em várias edições. Um conjunto completo de ,o tesouro de Davi em forma de livro está disponível a partir Pilgrim Publications, PO Box 66, em Pasadena, TX 77501
The Spurgeon Archive
texto traduzido do ingles por : miguel silva

domingo, 24 de janeiro de 2010

Comentário de Filemon de calvino


Filemon

Comentário de João Calvino a Filemom

IVv. 1-7}

Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e Timóteo, nosso irmão a Filemom, nosso amado e cooperador; e à nossa irmã Afia, e a Arquipo, nosso companheiro de luta, e à igreja que está em tua casa: graça a vós e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Dou sempre graças ao meu Deus fazendo menção de ti em minhas orações ouvindo de teu amor e da fé que tens para com o Senhor Jesus e para com todos os santos; para que a comunhão de tua fé venha a ser eficaz no conhecimento de todo o bem que há em vós para com Cristo. Tive muita alegria e conforto em teu amor, visto que através de ti; ó irmão, os corações dos santos tem sido refrigerados.


O caráter sublime do espírito de Paulo, ainda que melhor percebido em seus escritos mais importantes, desponta também nesta epístola,.na qual, enquanto se ocupa de um assunto por natureza humilde e sem importância, se volve para Deus em seu modo costumeiro. Ele toma um escravo e ladrão fugitivo e o envia de volta ao seu senhor, com a solicitação que o mesmo fosse perdoado.


Ao advogar sua causa, o apóstolo discute a tolerância cristã com uma habilidade tal que parece estar pensando no interesse de toda a Igreja, e não apenas nos assuntos de um indivíduo. Em favor de um homem da mais baixa condição, ele se condescende com uma modéstia e humildade tais, que em nenhuma outra parte se descreve em cores tão vivas a docilidade de seu caráter.


1. Prisioneiro de Cristo Jesus. No mesmo sentido em que em outro lugar se qualifica de apóstolo ou ministro de Cristo, ele agora se qualifica de seu prisioneiro, visto que as cadeias com que se encontrava acorrentado por causa do evangelho eram os ornamentos ou emblemas da comissão que desempenhava par amor a Cristo. Ele as menciona aqui, não porque sua autoridade necessitasse de corroboração, ou porque temesse ser desprezado - porquanto Filemom indubitavelmente sentia grande estima e reverencia para com ele, e portanto não precisava valer-se de nenhum titulo -, mas porque precisava advogar a causa de um escravo fugitivo, e a parte primordial dela era a suplica por perdão.


A Filemom. E provável que esse Filemom pertencesse a ordem dos pastores, pois Paulo o qualifica de cooperador, e esse não é um titulo que geralmente ele costumava aplicar a um indivíduo em particular.


2. E Arquipo, nosso companheiro de luta. Também se dirige a Arquipo, que provavelmente era também ministro da Igreja; pelo menos pode ser a mesma pessoa mencionada no final da epístola aos Colossenses [4.17], o que não e de todo improvável, pois o apóstolo se dirige a ele como um companheiro de luta, designação esta que se aplica particularmente aos ministros. Pois embora todos os cristãos sejam partícipes nesta guerra, os mestres são, por assim dizer, os porta-estandartes, e como tais devem estar mais dispostos a lutar do que os demais; e Satanás geralmente lhes oprime com mais violência. É provável que Arquipo fosse colega de Paulo e participasse com ele de algumas lutas nas quais estava envolvido, pois essa é 3 palavra que Paulo usa sempre que faz menção de perseguições.


Ele confere o mais elevado enaltecimento a família de Filemom ao dizer, a igreja que está em tua casa, e com certeza não é um enaltecimento de pouca importância o fato de que o cabeça de uma casa que tenha sua família tão bem ordenada, seja a mesma vista como uma igreja, e quando ele desempenha seu ofício de pastor em sua própria casa. E não devemos jamais esquecer que esse homem tinha uma esposa que se assemelhava a ele, porque Paulo teve boas razões para apresentá-la no mesmo tom.


4. Dou sempre graças ao meu Deus. Deve-se notar que ele ora pelas mesmas pessoas por quem rende graças. Mesmo o mais perfeito dos homens, que mereça o mais extremado enaltecimento, necessita de intercessão em seu favor, enquanto viver neste mundo, a fim de que Deus lhe conceda não só a perseverança final, mas também o progresso diário.


5. Ouvindo do teu amor e da fé que tens. O enaltecimento que ele tributa a Filemom inclui resumidamente toda a perfeição de um homem cristão. Ele consiste de duas partes: fé para com Cristo e amor para com o próximo; pois todos os deveres de nossa vida se relacionam com esses dois elementos. Diz-se que a fé e para com Cristo, visto que e a ele que ela especialmente contempla. É através dele só que Deus o Pai pode ser conhecido, e somente nele podem ser encontradas todas as bênçãos que a fé busca.


E para com todos os santos. O apóstolo, porém, não limita o amor aos santos, como se negasse que ele deva ser também demonstrado a outros. O ensino do amor consiste em que não devemos desprezar nossa própria carne, senão que devemos tratar com honra a imagem divina gravada em nossa natureza humana, e assim o amor tem de incluir toda a raça humana. Visto, porém, que aqueles que fazem parte da família da fé estão necessariamente ligados a nos por um laço muito mais estreito, e visto que Deus os recomenda especialmente a nós, é justo que ocupem o primeiro lugar em nosso coração.


A redação desta passagem é um tanto confusa, porem não falta clareza em seu significado, salvo par conta de algumas dúvidas, como, por exemplo, se a advérbio, sempre [v. 4], pertence à primeira ou à segunda cláusula. O significado pode ser indicado da seguinte maneira: sempre que o apóstolo orava par Filemom, ele incluía ações de graças por ele na oração, visto que sua piedade era motivo de tal regozijo, pois as vezes oramos por alguém que outra coisa não nos causa senão tristeza e lágrimas. Não obstante, geralmente se considera preferível tomar 'sempre' como correspondente a segunda cláusula - que Paulo rende graças por Filemom e sempre a menciona em suas orações.


No restante do versículo há uma inversão da ordem natural; porque, depois de falar de amor e fé, ele adiciona: para com Cristo e para com os santos, enquanto que o significado deve, ao contrário, requerer que Cristo seja mencionado imediatamente depois de fé, vista que e para ele que nossa fé olha.


6. Para que a comunhão de tua fé venha a ser eficaz. Esta cláusula é um tanto obscura, contudo tentarei elucidá-la de uma maneira tal que meus leitores venham a apreender a intenção de Paulo. Primeiramente devemos descobrir que o apóstolo não está dando prosseguimento ao seu enaltecimento a pessoa de Filemom, mas esta explicando o que pedira para ele, ao fazer menção dele em suas orações [v. 4]. Então, o que ele pediu? Que sua fé, convertendo-se em boas obras, por si só provasse ser genuína e frutífera. Ele a qualifica: "a comunhão de tua fé', vista que a fé não permanece inativa e escondida, mas se manifesta aos homens através de seus frutos. Pois ainda que a fé tenha sua residência secreta nos recessos do coração, ela se comunica com as homens através das boas obras. É como se ele quisesse dizer: "Tua fé, ao comunicar-se, pode comprovar sua eficácia em todas as coisas saudáveis."

No conhecimento de todo a bem significa experiência. Ele deseja que a fé de Filemom se comprovasse eficaz par seus efeitos, e isso sucede quando as pessoas entre as quais vivemos conhecem nossa vida piedosa e santa. Daí ele falar de todo o bem que há em vós, porque tudo o que existe de bom em nós revela nossa fé.


A frase, ei\j Xristón [Eis Xriston]' pode ser traduzida: por Cristo, mas, se eu pudesse, preferiria traduzi-la no sentido de e\n Xrit%= [en Xristo]' em Cristo. Pois os dons de Deus nos são ministrados só quanto somos membros de Cristo; visto, porém, que em vós vem imediatamente a seguir, receio que a forma abrupta da expressão venha a ser inaceitável. Por isso não me aventurei a fazer qualquer mudança nas palavras, mas quis fazer tal menção aos meus leitores, para que possam ponderar bem e então decidir sua própria preferência.


7. Tive muita alegria e conforto. Ainda que os gregos prefiram a tradução, 'graça', entendo que faríamos melhor traduzindo-a por alegria. Pois há pouca diferença entre Xa\rin [xarin] e xa¢ran [xaran], e seria muito fácil mudar uma só letra equivocadamente. Além disso, esta não é a única passagem nos escritos de Paulo em que xa/rin [xarin] significa alegria, pelo menos se seguirmos Crisóstomo nesta matéria. Que conexão há entre graça e conforto? Seja como for, é bastante claro o que Paulo quer dizer, ou seja: que ele encontra grande alegria e conforto no fato de que Filemom tenha providenciado alívio para as necessidades dos santos. É um amor acima do comum aquele que leva alguém a encontrar alegria no bem praticado em favor de outrem. Alem disso, o apóstolo não está expressando apenas sua alegria pessoal, mas diz que muitos se tem regozijado diante da bondade e benevolência de Filemom, provendo socorro para os santos.


Visto que através de ti os corações dos santos tem se refrigerado. Refrigerar o coração é uma expressão usada por Paulo no sentido de prover alivio nas aflições ou socorrer aquele que jaz em miséria, de forma que, tendo as mentes apaziguadas e livres de toda e qualquer ansiedade e tristeza, possam encontrar repouso. Porque, pelo termo coração, o apóstolo quer dizer os sentimentos; e com anapusij; [anapausis], ele quer dizer tranqüilidade. Daí estarem equivocados os que fazem esta passagem referir-se ao estômago e sua nutrição, com base no fato de que a palavra grega significa, literalmente, entranhas.

(vv. 8-14)


Por isso, ainda que eu tenha toda a ousadia em Cristo para ordenar-te o que te convém, não obstante peço-te antes em nome do amor, sendo eu tal como sou, Paulo, o velho, e agora também prisioneiro de Cristo Jesus. Rogo-te por meu filho, Onésimo, a quem gerei em minhas cadeias; o qual noutro tempo te foi inútil, mas agora é útil a mim e a ti; a quem envio de volta a ti, pessoalmente, ou seja meu próprio coração; A quem eu bem quisera conservar comigo, para que em teu interesse ele pudesse me servir nas cadeias do evangelho; sem o teu consentimento, porém, nada faria; para que a tua bondade não fosse como por necessidade, e, sim, de boa vontade.


8. Ainda que eu tenha toda a ousadia em Cristo, ou seja, ainda que eu tenha a autoridade de ordenar-te, em lugar disso o teu amor me leva a pedir-te. Ele reivindica o direito de ordenar sobre duas bases, a saber: primeiro, porque ele é um ancião ['O velho']; segundo, porque ele é um prisioneiro de Cristo. Ele declara que, por causa do amor de Filemom, prefere expressar na forma de solicitação, porque exercemos autoridade e emitimos ordens quando queremos extorquir das pessoas as coisas que não nos querem dar voluntariamente. Mas já que aqueles que se prontificam, e tem boa vontade em cumprir seu dever, ouvem com calma a explicação do que é exigido, mais voluntariamente do que quando se usa autoridade, Paulo tem boas razões em solicitar quando esta tratando com alguém obediente. Através de seu exemplo ele ensina aos pastores a tentarem orientar suas ovelhas mansamente, em vez de usar a força, pois quando condescende em solicitar e em ignorar seu direito de ordenar, ele tem maior força em obter o que deseja. Além do mais, ele nada reivindica para si senão somente em Cristo, ou seja, por conta do ofício que Cristo lhe conferiu; pois de forma alguma pressupõe com isso que falte autoridade aqueles a quem Cristo constituiu apóstolos.


Ao acrescentar, tò a¢nh¤kon [to anekon], o que convém, sua intenção é que os mestres não tem poder de ordenar o que bem desejam; sua autoridade está confinada dentro dos limites da conveniência, e, em outros aspectos, que seja também consistente com o dever de cada pessoa. E assim, como disse antes, os pastores São lembrados de que, sempre que este método é eficiente para produzir efeito positivo, o coração de seu povo deve ser conquistado com amabilidade, mas de tal maneira que as que são guiados em mansidão saibam que lhes esta sendo exigido menos do que realmente devem.


A palavra ancião, aqui, não se refere a idade, e, sim, ao ofício. Aqui ele não se denomina ele apóstolo, porque esta tratando com um colega no ministério da Palavra, e por isso se lhe dirige de maneira familiar.


10. Rogo-te por meu filho. Já que, geralmente, se dá menos importância as solicitações que não contam com a apoio de explicações persuasivas, Paulo, ao interceder por Onésimo, mostra que esta cumprindo um dever compulsório. Por conseguinte, é de muita importância observar os passos de sua condescendência, ao denominar alguém que e escravo, fugitivo e ladrão como sendo seu próprio filho.


Ao afirmar que Onésimo fora gerado por ele, a intenção do apóstolo não era afirmar que tal coisa era produto de seu próprio poder, senão que fora a instrumento [divino]; pais não e através de alguma obra do homem que a alma humana é reformada e renovada na imagem de Deus, e é com esse ato de regeneração espiritual que o apóstolo ora esta tratando. Vista, porém, que a regeneração de uma alma se dá pela fé, e visto que a fé vem pelo ouvir [Rm 10.17], aquele que ministra a doutrina desempenha o papel de pai. Além do mais, visto que a Palavra de Deus proclamada pela instrumentalidade do homem é a semente de vida eterna, não é de estranhar que aquele de cujos lábios recebemos essa bendita semente seja chamado nosso pai Ao mesmo tempo, e bom não esquecermos que, ainda que o ministério de um homem seja eficaz na regeneração de uma alma, estritamente falando é Deus quem a regenera pelo poder de seu Espírito. Essa forma de se expressar de maneira alguma implica alguma oposição entre Deus e o homem, senão que apenas mostra como Deus age através dos homens. Sua declaração, dizendo que gerou Onésimo em suas cadeias, adiciona peso a sua recomendação.


12. Ou seja, meu próprio coração. Ele não poderia ter dito algo mais eficaz para abrandar a indignação de Filemom. Porque, se ele porventura recusasse a perdoar Onésimo, estaria tratando o próprio coração de Paulo com crueldade. A benevolência de Paulo é grandiosa, não hesitando entregar seu coração para acolher um escravo comum que, além de tudo, era também um ladrão e fugitivo, a fim de protegê-lo da ira de seu senhor. Ora, se a conversão de um homem a Deus foi considerada de forma tão séria, nós, também, devemos da mesma forma acolher aqueles que demonstram estar sincera e genuinamente arrependido.


13. A quem eu bem quisera conservar comigo. Eis outra forma de abrandar Filemom, ou seja, que Paulo estaria enviando-lhe de volta o escravo de cujos serviços ele mesmo tinha a mais premente necessidade. Pois teria sido uma dolorosa descortesia [da parte de Filemom] rejeitar uma atenção [studium] tão especial da parte de Paulo. O apóstolo insinua que ser Onésimo enviado de volta a Filemom deveria resultar como uma dádiva bem-vinda, em lugar de ser ele maltratado em casa.


Para que em teu interesse ele pudesse me servir nas cadeias do evangelho. A seguir, o apóstolo adiciona mais considerações, ou seja: primeiramente, que Onésimo ocupasse o lugar de seu senhor em prestar esse serviço [ao apóstolo]; em segundo lugar, que, movido de humildade, ele não quis privar Filemom de seus direitos; e, em terceiro lugar, que Filemom mereceria maior encômio se, depois de ter recebido de volta o seu escravo, voluntariamente e de bom grado o enviasse de volta [a Paulo]. Deste último ponto devemos inferir que, quando os mártires de Cristo estão em campo pelo testemunho do evangelho, devemos ajudá-los de todas as formas que pudermos.


Pois se cremos no que Paulo diz aqui, ou seja, que o exílio, o encarceramento, os açoites, os insultos e a violenta confiscação de propriedade pertencente ao evangelho, e quem quer que se recuse a participar dessas coisas degreda-se de Cristo. E indubitável que a defesa do evangelho e uma responsabilidade comum a todos nos. Portanto, aquele que sofre perseguição por causa do evangelho não deve ser considerado como um indivíduo isolado, mas como alguém que publicamente representa toda a Igreja. Cuidar do evangelho é um dever comum a todos os crentes, de modo que eles não devem, como freqüentemente é o caso, deixar tal responsabilidade sobre apenas uma pessoa.


14. Para que a tua bondade não fosse como por necessidade. Aqui temos o exemplo da regra geral de que os únicos sacrifícios que agradam a Deus são aqueles oferecidos espontaneamente. Paulo diz a mesma coisa em 2 Coríntios 9.7, sobre as ofertas. To\ a)gaqo\n [to agathon] significa um ato de bondade, e a coação uma ação voluntária, pois sob o constrangimento não há oportunidade de se mostrar a vontade generosa de se fazer o que se requer, e o fato de que um dever voluntariamente desempenhado é o único título do genuíno louvor. É digno de nota que, ainda que Paulo reconhecesse a culpa anterior de Onésimo, ele declara que este está agora transformado; e no caso de Filemom alimentar alguma dúvida sobre se seu escravo voltaria para ele com uma nova disposição e conduta diferente, o apóstolo diz que comprovou pessoalmente que Onésimo realmente estava arrependido.

[vv. 15-19]

Porque, bem pode ser que ele se tenha apartado de ti por algum tempo, para que o recobrasses para sempre; não mais como um servo, e, sim, muito mais que um servo, um irmão amado, especialmente para mim, e quanto mais para ti tanto na carne como no Senhor. Se, pois, me consideras um companheiro; recebe-o como a mim mesmo. Mas se ele te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, lança-o na minha conta; eu, Paulo, de meu próprio punho o escrevo, o pagarei para não te dizer que me deves até mesmo a ti próprio.


15. Porque, bem pode ser que ele se tenha apartado de ti por algum tempo. Caso nos iremos ante as ofensas praticadas pelos homens, nossa ira deve amenizar-se ao vermos que as coisas feitas maliciosamente foram praticadas para servir a diferentes fins segundo os desígnios divinos. Um ditoso resultado pode ser considerado como a cura para muitos males, a qual a mão divina nos oferece com o fim de dissipar as ofensas. Assim foi com José (Gn 45.5], ao considerar como a portentosa providencia divina realizou quando, apesar de ser vendido como escravo, não obstante foi elevado a uma posição tal que daí pôde sustentar a seu pai e a seus irmãos, e. ainda pôde esquecer a traição e crueldade de seus irmãos, dizendo-lhes que fora enviado para ali por causa deles.


Semelhantemente, Paulo lembra a Filemom que não se sentisse por demais ofendido pela fuga de seu escravo, porque ela produziu algo positivo, sobre o quê não deve lastimar. Ppis sendo Onésimo essencialmente um trânsfuga, mesmo que Filemom o retivesse em casa, na realidade não haveria desfrutado de sua propriedade. Sendo ele perverso e desleal, não era de nenhuma valia ao seu senhor. O apostolo diz que Onésimo fora vagabundo por algum tempo, para que, mudando de lugar, fosse ele mesmo mudado, convertendo-se em novo homem. o apóstolo sabiamente ameniza toda a situa<;ao, denominando a fuga de Onésimo, uma partida, e acrescentando que ela fora apenas temporária, e finalmente ele contrasta a durabilidade da utilidade com a breve duração da perda.


16. Muito mais que um servo, um irmão amado. Ele prosseguiu, fazendo menção de outro resultado positivo da fuga de Onésimo - ele não só foi corrigido por ela, de modo a transformar-se num escravo útil, mas ainda se converteu em irmão de seu senhor.

Especialmente para mim. Mas no caso de Filemom ainda sentir-se abalado com uma ofensa ainda tão recente e sentir-se indeciso se aceitaria ou não a Onésimo como seu irmão o apóstolo de antemão o reconhece como seu próprio irmão. Desse fato ele infere que Filemom esta em relação muito mais estreita com ele; porque, embora Onésimo tivesse, no Senhor, segundo o Espírito, a mesma importância para ambos - Paulo e Filemom -'. não obstante,. segundo a carne, ele pertencia a família de Filemom. Aqui, uma vez mais, percebemos a inusitada humildade.de Paulo ao honrar a um escravo indigno com o título: irmão, ainda mais, chamando-o: meu mui querido irmão. Na verdade seria uma demonstração de gritante soberba, caso ele se envergonhasse em ter na conta de seus irmãos aqueles a quem Deus inclui no número de seus filhos.


Ao dizer, e quanto mais para ti, o apóstolo não esta insinuando que Filemom tivesse uma posição mais elevada segundo o Espírito; ao contrário, sua intenção é esta: "Visto que ele é um irmão especialmente para mim, então deve ser irmão muito mais para ti, porque tu e ele estais vinculados um ao outro por uma dupla relação."


Devemos assumir como um fato indiscutível que Paulo não recomenda precipitada e futilmente, como tantos o fazem, a alguém para ele insuficientemente conhecido, nem enaltece sua fé antes mesmo de fazer um teste completo ou uma avaliação racional dela. Temos, portanto, em Onésimo um notável exemplo de arrependimento. E bastante notório o mal caráter que tinham os escravos, de modo que raramente um em cem tinha algum valor real. Podemos conjecturar, a luz de sua fuga, que Onésimo se tornara por demais empedernido na iniqüidade ao longo de uma lenta e constante formação de costumes e hábitos. É, portanto, uma rara e maravilhosa excelência que tenha ele abandonado os vícios com os quais tanto corrompera sua natureza, a tal ponto que Paulo viesse a declarar com todas as veras de sua alma que agora ele é um outro homem. A luz desse caso podemos também deduzir a proveitosa doutrina de que os eleitos de Deus São as vezes conduzidos a salvação de formas incríveis, contra todas as expectativas gerais, por inúmeros meios e através de infindáveis labirintos. Onésimo vivia no seio de uma família piedosa e santa, e todavia, banido dela em virtude de suas próprias más ações, deliberadamente se afastara ainda mais de Deus e da vida eterna. Deus, porém, mediante sua secreta providencia, prodigiosamente dirigiu sua desastrosa fuga, pondo-o em contato com Paulo.


17. Se, pois, me consideras um companheiro. Aqui ele se humilha ainda mais, transferindo seus próprios direitos e dignidade para um trânsfuga, colocando-o em seu próprio lugar, justamente como logo depois se oferecer como seu fiador. Era da maior importância que o senhor de Onésimo se portasse bondosa e amavelmente para com ele, para que uma imoderada severidade [por parte de Filemom] não o levasse imediatamente ao desespero. Esse é o objetivo que laboriosamente Paulo tenta alcançar. Diante de seu exemplo somos lembrados com que afeição devemos estender a mão a um pecador que procura provar que realmente está arrependido. Pois se é nosso dever interceder juntamente com outros pelo perdão do penitente, quanto mais devemos nós tratá-lo com benevolência e simpatia.


18. Mas se ele te fez algum dano. A luz desta clausula podemos inferir que Onésimo havia furtado algo de seu senhor, segundo o hábito dos escravos fugitivos; O apóstolo, porém, ameniza a gravidade do ato, acrescentando: ou te deve alguma coisa. Não só havia uma obrigação entre ambos reconhecida pela lei civil, mas o escravo se fizera devedor de seu senhor pelo mal que lhe causara. Tão grande era, pois, a benevolência de Paulo, que estava até mesmo disposto a dar uma satisfação por esse crime.


19. Para não te dizer que me deves ate mesmo a ti próprio. Ao dizer isso, sua intenção era deixar em evidência quão seguro estava de que sua solicitação seria atendida; era como se dissesse: "Tu não poderias negar-me nada, mesmo que eu pedisse tua própria vida." o restante da matéria, acerca da hospitalidade, etc., tem o mesmo propósito, como veremos logo a seguir.

Paira uma pergunta: como é possível que Paulo prometa pagar em dinheiro, quando, afora o auxílio que as igrejas lhe davam, ele não tinha recursos nem mesmo para viver de forma parca e frugal? Diante das circunstâncias de necessidade e pobreza, sua promessa realmente parece ridícula; no entanto, não é difícil de perceber que, ao expressar-se dessa forma, Paulo está solicitando que Filemom não exigisse de seu escravo nenhum reembolso. Pois ainda que não haja qualquer laivo de ironia em suas palavras, mesmo assim, mediante uma expressão indireta, ele solicita a Filemom que apague e cancele essa conta. Eis sua intenção: "Não quero que suscites esse problema contra teu escravo, a menos que queiras considerar-me o devedor no lugar de Onésimo." Porque imediatamente acrescenta que Filemom lhe pertence inteiramente, e aquele que alegue ser uma pessoa, em sua totalidade, sua propriedade, não precisa ficar preocupado em ressarcir em moeda corrente.

[vv. 20-25]

Sim, irmão, eu me regozijo em ti no Senhor,' refrigera meu coração em Cristo. Escrevo-te confiado em tua obediência, sabendo que farás ainda mais do que te peço. E, ao mesmo tempo, prepara-me também pousada,' pois espero que, em resposta as vossas orações, vos hei de ser concedido. Epafras, meu companheiro de prisão em Cristo Jesus, te saúda; bem como Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com 0 vosso espírito. Amém.


20. Sim, irmão. Ele se expressa dessa forma para fazer seu apelo ainda mais convincente, como se dissesse: "Ficara claramente provado que entre ti e mim não há divergência alguma; ao contrário, tu estás sinceramente ligado a mim, e tudo quanto possuis esta à minha disposição, caso tu perdoes as ofensas passadas e recebas em teu favor aquele que esta tão intimamente ligado a mim."


Uma .vez mais, o apóstolo reitera a expressão que usara antes - refrigera meu coração. A luz desse fato inferimos que a fé evangélica não subverte a ordem civil nem cancela os direitos dos senhores sobre seus escravos, pois ainda que Filemom não fosse um dentre o povo comum, mas um colaborador do apóstolo no atendimento a vinha de Cristo, no entanto seu direito como senhor de escravos, o qual a lei lhe concedera, não podia ser-lhe usurpado. O que o apóstolo faz é apenas solicitar que o receba bondosamente, concedendo-lhe seu perdão; na verdade Paulo humildemente roga que Filemom restaurasse Onésimo a sua posição de origem.


Além do mais, a humilde solicitação de Paulo nos lembra quão longe do genuíno arrependimento estão aqueles que obstinadamente justificam seus vícios e confessam que não sentem por eles vergonha alguma, e nem dão sinal do menor resquício de humildade, de modo que deixam a entender que jamais pecaram real e irremediavelmente. Sem a menor sombra de dúvida, quando Onésimo viu esse extraordinário apóstolo de Cristo advogando sua causa de maneira tão exaustiva, com toda certeza deve ter-se humilhado ainda mais, procurando induzir seu senhor a estender-lhe sua clemência. Paulo, pela mesma razão, se justifica por haver escrito com tanta ousadia, visto que tinha certeza de que Filemom iria fazer mais do que ele pedia.


22. Prepara-me também pousada. Essa demonstração de confiança provavelmente injetou em Filemom um vigoroso estímulo; e manifesta ainda a esperança de deleitá-lo com sua chegada. Embora não saibamos se Paulo foi ou não libertado da prisão, esta declaração não contém nenhum absurdo, mesmo que sua esperança na benevolência temporária de Deus não se tenha cumprido. Sua confiança em seu livramento só tinha por base a condição: se era a vontade de Deus; pois ele estava sempre em prontidão, até que a vontade de Deus Fosse revelada mediante seu resultado.


Pois espero que, em resposta as vossas orações, vos serei concedido. É digno de nota o fato de ele dizer que tudo quanto os crentes pedem em suas orações lhes é 'concedido'. A luz desse fato inferimos que sempre que nossas orações obtém êxito, elas não prevalecem por serem meritórias, porquanto o que nos é concedido, mediante nossas orações, provem da graça soberana [de Deus]


24. Demas. Esta é a mesma pessoa que mais tarde abandonou o apóstolo, como ele mesmo diz com tristeza em II Timóteo 4.10. E se um dos assistentes do apostolo se cansou e perdeu o entusiasmo, e mais tarde foi arrebatado pelas vaidade do mundo, que nenhum de nós, pois, ponha em si demasiada confiança por haver sido fiel durante um ano; senão que recordando a extensão da jornada que ainda lhe resta a percorrer supliquemos a Deus que lhe conceda aquela firmeza de que carece.


Autor: João Calvino

Fonte: As Pastorais, pg. 365-379, editora Parakletos.

Estudo digitado pelo caríssimo irmão e colaborado do site Teologia Calvinista: Davi Barrozo de Carvalho