domingo, 14 de novembro de 2010

O que é “Responsabilidade”?



Embora muitos calvinistas não usem o termo livre-arbítrio, a crítica abaixo não se aplica somente a Carson, mas também a teólogos igualmente famosos como Joel Beeke, John Piper, James Boice e muitos outros. Eles afirmam, sem base bíblica ou filosófica, que responsabilidade pressupõe liberdade, e que por causa disso existe uma contradição entre a soberania divina e a responsabilidade humana.

Eu devo ter em minha biblioteca uns 50 livros que dizem respeito à suposta relação entre livre-arbítrio e responsabilidade, mas somente um deles faz algum esforço para questionar se há qualquer conexão lógica entre esses dois conceitos. No último capítulo do seu livro Religion, Reason and Revelation, Gordon Clark observa que ninguém jamais demonstrou que o conceito de responsabilidade é, de alguma forma, dependente de um estado anterior do livre-arbítrio. Esses dois termos aparecem frequentemente no mesmo contexto, e é frequentemente afirmado que “se nós não temos o livre-arbítrio, não podemos ser responsáveis por nossas ações”, mas ninguém se importa em provar isso.

Uma típica expressão erudita dessa afirmação é feita por D. A. Carson, em sua tese de doutorado, publicada como Divine Sovereignty and Human Responsibility (1981), um excelente estudo de como a literatura do período helenístico trata o problema. Carson conclui com uma explicação da descrição joanina de ambas, a soberania divina e a responsabilidade humana pelo pecado, observando que nenhuma tentativa é feita por João para produzir qualquer explicação especulativa de como as duas coisas operam juntas, de um modo diferente da literatura helenística na qual este assunto é tratado. Carson fica devidamente impressionado em como esses dois tópicos podem coexistir lado a lado por todo o Evangelho de João sem qualquer reconciliação filosófica. Não passou pela cabeça de Carson, contudo, que o próprio João não tivesse notado nenhuma tensão ou conflito pelo simples fato de não haver nenhum.

Uma chave para o fato de Carson estar sob a impressão de que a soberania de Deus não pode ser reconciliada com a responsabilidade humana pode ser encontrada no capítulo intitulado “Os Limites do Livre-Arbítrio”. Logo no começo, a primeira sentença reza: “Responsabilidade é a certeza ligada ao ‘livre-arbítrio’ de algum modo” (p.206). Mas, a despeito de uma discussão subsequente de vários tipos de calvinismo inconsistente, Carson em algum lugar mostra que sua suposição primeira é correta. Ele simplesmente junta a longa fila de calvinistas inconsistentes que assumem que o livre-arbítrio “em alguma medida” fortalece a realidade da responsabilidade. Mas em qual medida?

eu simplesmente repetirei aqui o desafio que Gordon Clark faz aos arminianos de escreverem uma prova de que a responsabilidade é, de algum modo, dependente ou que pode ser derivada do conceito deles de livre-arbítrio. Naturalmente, eles podem definir o livre-arbítrio de qualquer modo que vá ao encontro da necessidade teológica deles, mas os cristãos deveriam tirar suas premissas da Bíblia. Carson reconhece o livro de Gordon Clark, Biblical Predestination (1969), mas não menciona Religion, Reason and Revelation, onde o assunto de seu próprio capítulo final intitulado “The Formulation of the Tension” é discutido em detalhes. É simplesmente assumido que há uma tensão.Teria sido útil se Carson tivesse explicado por que a literatura helenista é tão corrompida pelas tentativas especulativas de reconciliar o conceito de responsabilidade com a soberania de Deus e, então, teria explorado por que a Bíblia não trata, de forma alguma, as duas coisas como estando em tensão ou conflito. Talvez ele simplesmente tenha decidido não incluir essas questões adicionais no escopo do estudo. (Deveria também ser considerado que eles podem somente parecer estar em conflito porque o pensamento não-cristão impôs pressuposições falsas e contraditórias sobre o tópico como condição para discussão. Isto é, a mente natural pressupõe que a visão cristã é impossível antes que ela comece sua consideração “objetiva” do assunto). Contudo, a tese de Carson não torna disponível ao leitor uma análise excelente de como a literatura (na sua maioria de origem judaica) da era helenística lida com esse dilema importante da incredulidade. Ela deveria ser lida por todo cristão interessado na história do debate sobre o livre-arbítrio.

, permanece o fato de que não somente não há nenhuma conexão demonstrável entre o livre-arbítrio e a responsabilidade, mas também que a ideia arminiana de liberdade da indiferença é totalmente destituída de qualquer senso de responsabilidade. Pode ser difícil para alguns entender a relação entre a responsabilidade humana e a soberania de Deus — eles são perfeitamente honestos em dizer que “não veem como podemos ser considerados responsáveis se não temos o livre-arbítrio”. Mas para o cristão que crê na Bíblia, em nenhum lugar na Bíblia a responsabilidade está vinculada ao livre-arbítrio. Ela nunca usa o livre-arbítrio como uma categoria de explicação, nem uma só vez sequer.

Leia esse texto também e a continuação do texto boa leitura.

Responsabilidade Bíblica Link »

  • Por: R. K. McGregor Wright

Fonte: A Soberania Banida, Editora Cultura Cristã, págs. 59-60.

por R. K. McGregor Wright

Um comentário:

  1. Meu caro,

    Excelente texto. De fato, os arminianos não conseguem alicerçar biblicamente a sua cosmovisão libertária. No entanto, as Escrituras repetem incansavelmente a soberania divina e a responsabilidade humana sem a necessidade de uma autonomia da vontade. Fosse o homem autônomo, Deus não seria Deus e a graça perderia o seu objeto, que é o da "salvação imerecida".

    Convido-o a visitar o meu blog, caso queira.

    Abraços.

    Ricardo.

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