sábado, 8 de agosto de 2009

Charles Finney e o praguimatismo evangélico norte americano



Charles Finney nasceu em 1792, em connecticut , mas viveu a maior parte da sua infância no condado de Oneida, no estado de Nova Iorque. Seus pais não eram cristãos, e Finney cresceu sem qualquer conhecimento da doutrina cristã. Ele não se recordava de qualquer pregação ou testemunho do evangelho naquela parte do Estado (que ele chamou de “um deserto”) – embora os anais históricos relatem que havia pelo menos uma igreja fortemente evangélica naquela comunidade.
A religião da qual Finney tinha lembrança, conforme ele reconheceu mais tarde, era “de um tipo que não se destinava a captar minha atenção”. Finney descreveu assim o único pregador de quem se lembrava em sua juventude.
"Assentei-me na galeria e observei que ele colocou as anotações no meio de sua Bíblia e inseriu os dedos nos lugares onde se encontravam os textos bíblicos que citara na leitura do sermão. Isto fez com que ele tivesse de segurar sua Bíblia com as duas mãos, tornando impossível qualquer espécie de gesticulação. Enquanto prosseguia, o pastor lia as passagens das Escrituras indicadas por seus dedos e, desta forma, liberava-os um após outro, até que as duas mãos estivessem completamente desimpedidas. Quando todos os dedos ficavam livres, ele já estava próximo do final do sermão. Toda leitura era desapaixonada e monótona; e ainda que as pessoas prestassem bastante atenção e fossem reverentes à leitura, para mim, aquilo não parecia muito com pregação".
Finney caracterizou a mensagem daquele pastor como sendo “Um insípido discurso de doutrina”, acrescentando: “ E esta era a melhor pregação que eu já houvira em qualquer lugar. Mas qualquer um pode julgar se tal pregação fora planejada a fim de produzir interesse em um jovem como eu, que não conhecia, nem se importava com religião”.

A Dramática conversão de Finney

De fato, enquanto estava em Adams, Finney converteu-se de forma espetacular. Ironicamente, embora a sua conversão tenha sido dramática, irresistível e revolucionária, Finney jamais veio a compreender que a conversão é uma obra totalmente de Deus. Em seu próprio relato torna-se evidente ter ele acreditado que sua própria vontade foi o fator determinante que lhe causou a salvação. “ Em um domingo à noite, no outono de 1821, decide, que, de uma vez por todas , resolveria a questão de salvação de minha alma e que, se possível, eu faria as pazes com Deus”. Sob intensa convicção, dirigiu-se à floresta, onde fez a seguinte promessa: “Entregarei meu coração a Deus ou morrerei na tentativa”.
Assim ele foi convertido na floresta. À primeira vista pareceu uma conversão normal. O próprio Finney estava inseguro sobre o que havia ocorrido, exceto que se entregara ao Senhor. Sua mente estava “maravilhosamente tranqüila e cheia de paz”. A esmagadora convicção de pecado que ele sentira agora havia desaparecido. Finney chegou a perguntar a si mesmo se, de alguma forma “havia entristecido o Espírito Santo, a ponto de ter Ele ido embora”. Mas, no escritório de advocacia, à noite do mesmo dia, Finney teve uma experiência que descreveu como “UM PODEROSO BATISMO COM ESPIRITO SANTO...” O Espírito Santo desceu sobre mim, meu corpo e minha alma ficaram diferentes, pude sentir como se fosse uma descarga de eletricidade passando sobre o meu corpo todo mas apesar do Batismo fui dormir com uma sensação estranha achando que “NÃO FIZ AS PAZES COM DEUS”.
Não suas dúvidas apagaram-se súbita e misticamente na manhã seguinte. Entretanto, mais tarde, no mesmo dia, Finney decidiu que Deus desejava que ele pregasse e que isto deveria começar imediatamente. “Após receber estes batismos do Espírito Santo, eu estava disposto a pregar o evangelho. Eu não estava disposto a fazer qualquer outra coisa. Não desejei mais lidar com a advocacia... Toda a minha mente estava tomada por Jesus e por sua salvação; e mundo tinha pouca importância para mim”.

Chamado Para Pregar?

Foi uma decisão extremamente infeliz, creio eu, ter Finney decidido seguir o ministério de pregação logo após sua conversão. Sem qualquer influência cristã em sua vida anterior, ele era quase totalmente ignorante a respeito das Escrituras e da Teologia. Finney, entretanto, tinha uma mente brilhante e sempre fora capaz de se dar bem em um debate teológico – até mesmo com um homem experiente como Gale. Seus estudos de direito haviam-no condicionado a pensar de forma lógica, mas também o haviam sobrecarregado com uma porção de suposições errôneas. As suas noções de justiça, culpa, transgressão, perdão, responsabilidade, soberania e uma serie de outros termos teológicos foram extraídos de seus estudos em advocacia, e não nas Escrituras Sagradas.
Sempre que Finney pregava, as pessoas reagiam com entusiasmo. Evidências imediatas de avivamento pareciam acompanhar o rastro de Finney. A sua influência aumentava, à medida que sua reputação se espalhava. Finney desafiava com ousadia a doutrina convencional e, de forma persuasiva, defendia seu recente conjunto de doutrinas. Começou a pregar em qualquer lugar que conseguisse um público e, em pouco tempo, começou a impactar as igrejas existentes. “Ali estava um jovem, com apenas dois anos de ministério e quatro de conversão, sem qualquer tradição a apoiá-lo e nenhuma experiência de pregação, exceto como missionário do interior tomando, de repente, as igrejas de assalto. Ele era naturalmente extravagante em suas afirmações, arrogante e ríspido em suas colocações, dependendo mais do atormentar os sentimentos das pessoas do que comovê-los com um terno apelo”.


A Aversão de Finney à Ortodoxia

Finney não estabeleceu qualquer distinção entre ortodoxia calvinista e hipercalvinismo. A conseqüência disso é que ele desconfiou da doutrina ortodoxa e rejeitou completamente o calvinismo. Estudou doutrina apenas de modo superficial e inventou um sistema teológico que satisfez seu próprio senso de lógica. Aplicou parâmetros legais norte-americanos do séc XIX a todas as doutrinas bíblicas. “Eu não havia lido nada sobre o assunto da expiação, exceto minha própria Bíblia”, ele escreveu: “ E o que eu encontrei sobre o assunto, interpretei como teria com passagens semelhantes ou iguais em um livro a respeito de leis”. Finney concluiu que a justiça de Deus exigia que Ele entendesse sua graça igualmente a todos. Raciocinou que Deus não poderia, de forma justa, ter a humanidade como culpada pela desobediência de Adão. Em sua opinião, um Deus justo jamais condenaria as pessoas por serem pecadores por natureza: “A bíblia define o pecado como sendo a transgressão da lei. Que lei violamos ao herdarmos esta natureza {Pecaminosa}? Que lei exige que tenhamos uma natureza diferente da que possuímos ? A razão confirma o fato de que somos merecedores de ira e da maldição de Deus para sempre, por termos herdados de Adão uma natureza pecaminosa? Assim Finney descartou o ensino das Escrituras (Rm 5 16-19), em favor da razão humana.
Pior ainda, Finney negou que um Deus Santo imputaria os pecados das pessoas a Cristo ou a justiça de Cristo aos que Crêem. Concluiu que essas doutrinas, claramente ensinadas em Romanos 3, 4, 5, eram ‘Ficção teológica”.
Em essência, ele rejeitou o cerne da teologia evangélica.
Infelizmente, o sucesso inicial de Finney na pregação obscureceu as imperfeições de sua teologia. O próprio Finney admitiu que, ao ser examinado por sua igreja, a fim de receber licença para pregar, o presbitério “evitou fazer perguntas que fariam meus pontos de vista colidirem com os deles”. Estavam aparentemente intimidados pela crescente popularidade de Finney como avivalista. Porém, um dos examinadores perguntou-lhe se aceitava a confissão de Fé de Westimister. Mais tarde Finney admitiu que jamais lera a confissão. Contudo, respondeu ao presbitério de uma maneira que lhes indicou anuência com seus padrões doutrinários. “Respondi que a havia recebido como essência de doutrina, até onde podia compreendê-las”. Algum tempo depois, Finney leu a confissão e ficou chocado ao descobrir que esta contradizia muitas de suas crenças. Ele escreveu: “Tão logo que descobrir quais eram os inequívocos ensinamentos da confissão de Fé.. não hesitei, em todas as ocasiões apropriadas, em declarar que discordava deles”.
Ao rejeitar as tendências hipercalvinista, Finney pendeu desenfreadamente ao outro extremo. “Não há nada na religião além das capacidades naturais”, escreveu ele. “Um avivamento não é um milagre nem depende, em qualquer aspecto, de um milagre. É um resultado puramente filosófico do uso adequado de meios constituídos, assim como qualquer outro efeito é produzido pela utilização de meios... Um avivamento é um resultado tão natural do uso de meios quanto, uma colheita resulta da aplicação dos meios apropriados”.

O Fim Justifica os Meios?

Finney revelou-se como o primeiro pregador em falar que os Fins Justifica os meios.
“O sucesso de qualquer medida destinada a promover um avivamento da religião demonstra a sabedoria... Quando a bênção acompanha a introdução de certa medida, é irrefutável a prova de que certa medida é sabia. É profano afirmar que esta medida causará mais prejuízos do que bem. Deus sabe disso. O seu objetivo é fazer a maior quantidade possível de bem”.
A influência de Finney no movimento evangélico norte – americano foi profunda. ELE FOI O PRIMEIRO A SOLICITAR QUE OS CONVERTIDOS VIESSEM A FRENTE, em reuniões evangelisticas, como indicativo de sua aceitação de Cristo. Foi o primeiro a aplicar o termo “avivamento” a campanhas evangelisticas, Finney popularizou a reunião, após a pregação, para pessoas que estavam buscando a salvação. Também deixou sua marca no estilo norte – americano de pregar, encorajando os jovens pregadores a serem improvisadores, anedóticos, mais conversacionais e menos doutrinários do que tradicionalmente os outros pregadores haviam sido. Todos esses conceitos, bastante comuns no evangelicalismo de hoje fizeram parte das “novas medidas” que finney introduziu.
Introduziu o convite para os pecadores ao arrependimento e a fé e a não continuarem passivos esperando que Deus convertesse.
O ministério de Finney concentrou-se no estado de Nova Iorque. Ainda enquanto Finney era vivo, aquela região se tornou conhecida como “o distrito queimado”, por causa das repetidas ondas de fervor religioso que parecia haver apagado qualquer interesse pelo evangelho. Mas, nos dias de sua juventude, Finney sempre pareceu ser capaz de atiçar as chamas pelo menos mais uma vez.
Entretanto, em pouco tempo depois, o entusiasmo e o fervor do suposto “avivamento” cederam lugar à incredulidade e ao agnosticismo generalizado. O “distrito queimado” foi chamuscado outra vez e se tornou mais empedernido do que antes. Aliás, desde a época de Finney, aquela região do país jamais experimentou outro “avivamento”.
Em 1834, um dos obreiros que trabalhou ao lado de Finney nos avivamentos escreveu-lhe:

Passemos nossos olhos pelos campos onde você, outros irmãos e eu labutamos como ministros de avivamento e perguntemos qual é o estado moral desses locais hoje? Qual era a situação dessas regiões três meses após sairmos dali? Visitei vários desses campos e voltei gemendo em meu espírito, ao contemplar os estados tristes, frígidos, carnais e contenciosos em que as igrejas caíram e mergulharam logo após nossa primeira saída do meio deles.

B.B Warfield comentou:


Não há testemunho mais contundente... Do que o de Asa Mahan (por muitos anos, amigo de Finney e colaborador de ministério), o qual nos conta, de modo sucinto, que todos os interessados nesses supostos avivamentos sofreram de um triste e subseqüente lapso: as pessoas foram deixadas como carvão morto, que não pode ser reacendido; os pastores perderam todos os seus poder espiritual; e os evangelistas – “entre todos”, diz ele, “e eu conhecia quase todos – não consigo recordar ninguém, exceto o irmão Finney e o pai Nash, que não tenha perdido sua unção após alguns anos, tornando-se desqualificado tanto para o ofício de evangelistas como o de pastor”
Assim, os grandes “avivamentos do oeste” acabaram em desastre... Diversas vezes, quando Finney se propunha a revisitar as igrejas, delegações eram enviadas a seu encontro, ou quaisquer meios eram utilizados, afim de evitarem o que era considerado aflição.

Um Fim Decepcionante

Ao Fracassarem os seus métodos, Finney ficou desanimado. Aceitou o pastorado da Broadway Tarbernacle Congregational Church, na cidade de Nova Iorque, e posteriormente a presidência do Oberlin College, em Ohio. Então, dirigiu os seus esforços no desenvolvimento de suas doutrinas perfecionista e na obra do colégio.
Ao avaliar sua carreira como evangelistas, anos mais tarde, Finney relatou: “com freqüência, fui instrumento para trazer os cristãos a uma profunda convicção e a um estado temporário de arrependimento e fé... [Mas] deixei instar-lhes a se tornarem tão familiarizados com Cristo, que permaneciam nEle; por isso, logo recaíam ao seu estado anterior”. Reconhecendo que sua metodologia evangelistica havia fracassado, Finney, o eterno praguimatico, concluiu que seus ensinos perfecionista era a verdadeira, chave para um ministério eficiente. Em retrospectiva, ele percebeu que teria sido bem-sucedido se houvesse pregado uma forte mensagem perfecionista, baseada no medo. Porém, se tivesse vivido mais tempo, descobriria que o perfeccionismo plantou as sementes de um desastre espiritual pior do que o evangelismo superficial.
Um contemporâneo de Finney declarou:

Durante dez anos, centenas ou, talvez, milhares de pessoas, a cada ano, eram consideradas como convertidas, em todos os lugares, porém, admite-se que os verdadeiros convertidos [de Finney] foram relativamente poucos. Foi dito, por ele mesmo, que “um grande contingente deles é uma desgraça para a religião”; como resultado destas deserções, terríveis, inumeráveis e grandes males práticos estão invadindo a igreja, em todos os lugares.

Portanto, as influências mais duradouras e extensivas de Finney, infelizmente, não se avalia pelas multidões de almas salvas ou de pecadores alcançados como o evangelho. Esses resultados, ao que parece, eram na maior partes superficiais e com freqüência desapareciam logo que Finney deixava a cidade. O verdadeiro legado de Finney é o impacto desastroso que ele teve sobre a teologia evangélica e sua metodologia evangelistica contemporânea. A igreja de nossa geração ainda esta fervilhando com o fermento colocado de forma errada por Finney; e o praguimatismo moderno é uma constatação disso.

Com Vergonha do Evangelho
(John F. Macarthur Jr.)
Sola Gratia!

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