Estaremos iniciando o tema depravação total primeiro ponto calvinista
O Homem Como a Imagem de Deus
Charles H. Spurgeon
"Não é novidade então o que prego ; nenhuma doutrina nova. Gosto de proclamar aquelas doutrinas fortes e antigas que são apelidadas de calvinismo, mas que são segura e certamente a verdade de Deus revelada em Jesus Cristos"
A transição da teologia para a antropologia, isto é, do estudo de Deus para o estudo do homem, é natural. O homem não é somente a coroa da criação, mas também é objeto de um especial cuidado de Deus. E a revelação de Deus na Escritura é uma revelação dada não somente ao homem, mas na qual o homem é de interesse vital. Não é uma revelação de Deus no abstrato, mas uma revelação de Deus em relação às Suas criaturas, e particularmente em relação ao homem. É um registro dos procedimentos de Deus par com a raça humana, e especialmente uma revelação da redenção que Deus preparou para o homem e para a qual Deus procura preparar o homem. Isto explica por que o homem ocupa um lugar de central de importância na escritura, e por que o conhecimento do homem em relação a Deus é essencial para entende-la adequadamente.De acordo com a Escritura, o homem foi criado à imagem de Deus e, portanto, tem relação com Deus. Traços desta verdade acham-se na literatura pagã. Paulo assinalou aos atenienses que alguns dos seus poetas falam do homem como geração de Deus, At 17.28. Os primeiros “pais da igreja” concordavam plenamente que a imagem de Deus, nos homens consistia primordialmente de características racionais e morais do homem, e em sua capacidade para a santidade.Concebia-se que a imagem incluía as faculdades intelectuais da razão e da liberdade, e que a semelhança consistia da justiça original. A isto acrescentou-se outro ponto de distinção, a saber, a distinção entre a imagem de Deus como dom natural ao homem, algo pertencente à própria natureza do homem como tal, e a semelhança de Deus, ou a justiça original como dom sobrenatural, que servia de controle da natureza inferior do homem.
Os reformadores rejeitaram a distinção entre a imagem e a semelhança, e consideravam a justiça original como incluída na imagem de Deus e como pertencem à própria natureza do homem em sua condição originaria. Contudo, havia uma diferença de opinião entre Lutero e Calvino. Aquele não buscava a imagem de Deus em nenhum dos dons naturais do homem, tais como as suas faculdades racionais e morais, mas, sim, exclusivamente na justiça original e, portanto, considerava a imagem como inteiramente perdida devido ao pecado. Calvino, por outro lado, expressa-se como segue, após afirma que a imagem de Deus abrange tudo aquilo em que a natureza do homem sobrepuja a de todas as outras espécies de animais: ‘Por conseguinte, com esta expressão (‘imagem de Deus’) indica-se a integridade de que Adão foi dotado quando o seu intelecto era límpido, as suas emoções estavam subordinadas à razão, todos os seus sentidos eram regulados devidamente, e quando ele verdadeiramente atribuía toda a sua excelência aos admiráveis dons do seu Criador. E conquanto a sede primaria da imagem divina estivesse na mente e no coração, ou na alma e suas faculdades, não havia parte nenhuma, mesmo no corpo, em que não fulgissem alguns raios de glória”.
[1] Ela incluía tanto os dotes naturais como aquelas qualidades espirituais designadas como justiça original, isto é, real conhecimento, justiça e santidade. A imagem foi contaminada pelo pecado, mas somente essas qualidades espirituais foram totalmente perdidas. Os socinianos e alguns dos arminianos mais antigos ensinavam que a imagem de Deus consistia somente do domínio do homem sobre a criação inferior. Schleiermacher rejeitou a idéia de um estado original de integridade e de justiça original como uma doutrina necessária. Desde que, como ele o vê, a perfeição moral ou a justiça e santidade só podem ser resultado de desenvolvimento, considera uma contradição de termos falar do homem como criado num estado de justiça e santidade. Dai, a imagem de Deus no homem só pode ser uma certa receptividade para com o divino, uma capacidade de responder ao ideal divino e de crescer rumo à semelhança de Deus. Teólogos modernos ha que, como Martensen e Kaftan, seguem essa linha de pensamento.
[1] Inst. I, 15.3.
A Condição Original do Homem como a Imagem de Deus.
O homem foi criado num estado de relativa perfeição, um estado de justiça e santidade. Não significa que ele já tinha alcançado o mais elevado estado de excelência de que era suscetível. Geralmente se admite que ele estava destinado a alcançar um grau mais elevado de perfeição pela obediência. Um tanto semelhante a uma criança, era perfeito em suas partes, não porém em grau. Sua condição era preliminar e temporária, podendo levar a maior perfeição e glória ou acabar numa queda. Foi por natureza dotado daquela justiça original que é a glória máxima da imagem de Deus e, conseqüentemente, vivia num estado de santidade positiva. A perda daquela justiça significaria a perda de uma coisa que pertencia à própria natureza do homem em seu estado ideal. O homem podia perdê-la e ainda continuar sendo homem, mas podia não perdê-la e continuar sendo o homem no sentido ideal da palavra. Noutras palavras, sua perda significaria realmente uma deterioração e um enfraquecimento da natureza humana. Além disso, o homem foi criado imortal. Isto se aplica não à alma somente, mas a toda a pessoa do homem; e, portanto, não significa apenas que a alma estava destinada a ter existência permanente. Tampouco significa que o homem foi elevado acima da possibilidade de ser presa de morte; isto só se pode afirmar sobre os anjos e os santos que estão no céu. Significa, porém, que o homem, como criado por Deus, não levava dentro de si as sementes da morte e não teria morrido necessariamente em virtude da constituição original da sua natureza. Embora não estivesse excluída a possibilidade de vir a ser vítima da morte, não estava sujeito à morte, enquanto não pecasse. Deve-se ter em mente que a imortalidade original do homem não era uma coisa puramente negativa e física, mas era também uma coisa positiva e espiritual. Significava vida em comunhão com Deus e o gozo do favor do Altíssimo. Esta é a concepção fundamental da vida, segundo a Escritura, assim como a morte é primariamente a separação de Deus e a sujeição à Sua ira. A perda dessa vida espiritual daria lugar à morte, e redundaria também na morte física.
A formação dos pontos Calvinistas.
Prescisamos começar pela Holanda, no ano de 1610. Jacobus Arminio, quando acabara de morrer, seus ensinamentos foram formulados em cinco pontos principais da doutrina por seus seguidores.
Os cinco pontos Arminianos são:
1) Livre-arbítrio (regido por leis próprias)
Ensinavam aqui que o homem, embora debilitado pela Queda, não era totalmente incapaz de escolhero o bem espiritual, e podia exercer a fé em Deus de forma a receber o evangelho e assim tomar posse da salvação para si mesmo.
2) Eleição condicional
Ensinavam que Deus impunha Suas mãos sobre aqueles indivíduos que sabia - ou antevia - responderiam ao evangelho. Deus elegeu aqueles que previa quererem ser salvos por seu próprio arbítrio e em seu estado natural caído - que, de acordo com o primeiro ponto do arminianismo, já não era completamente caído.
3)Redenção Universal ou Expiação ilimitada
Ensinavam aqui que Cristo morreu para salvar a todos os homens; mas só potencialmente. A morte de Cristo permitiu a Deus perdoar os pecadores, mas sobe condição que cressem.4) A obra do Espirito Santo limitada pela vontade humana
Ensinavam que quando o Espirito Santo iniciava a obra de trazer uma pessoa a Cristo, ela podia resisti-lO eficazmente e frustá-lO em seus propósitos. Não poderia dar a vida se o pecador não estivesse disposto a receber essa vida.4) A obra do Espirito Santo limitada pela vontade humana
Ensinavam que quando o Espirito Santo iniciava a obra de trazer uma pessoa a Cristo, ela podia resisti-lO eficazmente e frustá-lO em seus propósitos. Não poderia dar a vida se o pecador não estivesse disposto a receber essa vida.5) Cair da Graça
Ensinavam que o homem salvo poderia perder a salvação. Este é sem dúvida, o resultado lógico e natural do sistema. Se o homem que tem que tomar a iniciativa em sua salvação, então tem que assumir a responsabilidade do resultado final.Em resposta aos cinco pontos arminianos lançados pelos seguidores de Arminio, o Sínodo de Dort lançou os cinco ponto Calvinista, para fazer frente ao sistema arminiano. As vezes esses pontos são colocados em forma de um acróstico baseado na palvra T.U.L.I.P
T. (Total depravação)
L. (Limitada Expiação)
I. (Irresistível Graça)
P. (Perserverança dos Santos)
Como pode ser observado, estes são completamente inverso ao arminianismo.
O homem é totalmente incapaz de salvar-se, então Deus tem que salvá-lo.
Se Deus quem salva o Homem, logo Ele escolhe quem salva.
Então foi por esses que Cristo morreu e fez a expiação na cruz.
Se Cristo morreu por eles, o Espírito Santo efetivamente chama-lo-á para aquela salvação.
Se a salvação é de Deus desde do início logo, Ele cuidará de cada eleito para que perservere até o fim em júbilo eterno.
A Transmissão do Pecado
1. ANTES DA REFORMA. Os escritos dos apologetas nada contêm de definido a respeito do pecado original, ao passo que os de Irineu e Tertuliano ensinam claramente que a nossa condição pecaminosa é resultado da queda de Adão. Mas a doutrina da direta imputação do pecado de Adão aos seus descendentes, até a eles é estranha. Tertuliano tinha uma concepção realista da humanidade. Segundo ele, toda a raça humana estava potencial e numericamente em Adão e, portanto, pecou quando ele pecou, e se tornou corrupta quando ele se tornou corrupto. A natureza humana completa pecou em Adão e, daí, toda individualização dessa natureza também é pecaminosa. Orígenes, que foi profundamente influenciado pela filosofia grega, tinha um conceito diferente sobre o assunto, e praticamente não reconhecia ligação alguma entre o pecado de Adão e o dos seus descendentes. Ele via e explicação da pecaminosidade da raça humana primariamente no pecado pessoal de cada alma num estado pré-temporal, embora mencione também certo mistério de geração. Agostinho partilhava a concepção realista de Tertuliano. Apesar de falar de “imputação”, ainda não tinha em mente a imputação direta ou imediata da culpa de Adão à sua posteridade. Sua doutrina do pecado original não é inteiramente clara. Talvez isto se deva ao fato de que ele hesitava na escolha entre o traducionismo e o criacionismo. Embora acentuasse o fato de que todos os homens estavam seminalmente presentes em Adão e pecaram de fato nele, também se aproximava muito da idéia de que eles pecaram em Adão como seu representante. Contudo, sua ênfase principal recaía na transmissão da corrupção do pecado. O pecado é transmitido por propagação, e esta propagação do pecado de Adão é, ao mesmo tempo, um castigo por seu pecado. Wiggers expõe resumidamente a idéia com estas palavras: “A corrupção da natureza humana, na raça toda, foi o justo castigo da transgressão do primeiro homem, em quem todos os homens já existiam”.
[1] O grande oponente de Agostinho, Pelágio, negava essa conexão entre o pecado de Adão e o da sua posteridade. Como ele a via, a propagação do pecado pela geração natural envolvia a teoria traducionista sobre a origem da alma que ele considerava um erro herético; e a imputação do pecado de Adão a quem quer que fosse, a não ser a ele próprio, estaria em conflito com a retidão divina.
[1] Augustinism and Pelagianism, p. 88.
2. APÓS A REFORMA. Embora os reformadores não concordassem com os escolásticos quanto à natureza do pecado original, a opinião que tinham da sua transmissão não continha quaisquer elementos novos. As idéias de Adão como representante da raça humana, e da imputação “imediata” da sua culpa aos seus descendentes, não foram expressas com clareza em suas obras. De acordo com Lutero, somos tidos como culpados por Deus por Deus por causa do pecado herdado de Adão e que reside em nós. Calvino fala num tom um tanto semelhante. Ele sustenta que, desde que Adão foi, não somente o progenitor da raça humana, mas também a sua raiz, todos os seus descendentes nascem com natureza corrupta; e que tanto a culpa do pecado de Adão como a própria corrupção inata são-lhes imputadas como pecado. O desenvolvimento da teologia federal trouxe à primeira plana a idéia de Adão como o representante da raça humana, e possibilitou uma distinção mais clara entre a transmissão da culpa e a da corrupção nata constitui também culpa aos olhos de Deus, a teologia federal deu ênfase ao fato de que há uma imputação “imediata”da culpa de Adão aos que ele representou como o chefe da aliança.
A BÍBLIA O ENSINA CLARAMENTE
Há inequívocas declarações a Escritura que indicam a pecaminosidade universal do homem, como nas seguintes passagens: 1 Rs 8.46; Sl 143.2; Pv 20.9; Ec 7.20; Rm 3.1-12, 19, 20, 23; Gl 3.22; Tg 3.2; 1 Jo 1.8, 10. Várias passagens da Escritura ensinam que o pecado é herança do homem desde a hora do seu nascimento e, portanto, está presente na natureza humana tão cedo que não há possibilidade de ser considerado como resultado de imitação, Sl 51.5; Jó 14.4; Jo 3.6. Em Ef 2.3 diz o apóstolo Paulo que os efésios eram “por natureza” filhos da ira, como também os demais”. Nesta passagem a expressão “por natureza”indica uma coisa inata e original, em distinção daquilo que é adquirido. Então, o pecado é uma coisa original, da qual participam todos os homens e que os faz culpados diante de Deus. Além disso, de acordo com a Escritura, a morte sobrevém mesmo aos que nunca exerceram uma escolha pessoal e consciente, Rm 5.12-14. esta passagem implica que o pecado existe no caso de crianças, antes de possuírem discernimento moral. Desde que sucede que as crianças morrem e, portanto, o efeito do pecado está presente na situação delas, é simplesmente natural supor que a causa também está presente. Finalmente, a Escritura ensina também que todos os homens se acham sob condenação e, portanto, necessitam da redenção que há em Cristo Jesus. Nunca se declara que as crianças constituem exceção a essa regra; Cf. As passagens recém-citadas e também Jo 3.3, 5; 1 Jo 5. 12. Não contradizem isto as passagens que atribuem certa justiça ao homem, como Mt 9.12, 13; At 10.35; Rm 2.14; Fp 3.6; 1 Co 1.30, pois esta pode ser a justiça civil, cerimonial ou pactual, a justiça da lei ou a justiça que há em Cristo Jesus.
O Pecado na Vida da Raça Humana
1) Corrupção original. A corrupção original inclui duas coisas, a saber, a ausência da justiça original e a presença do mal positivo. Deve-se notar: (1) Que a corrupção original não é apenas uma moléstia, como a descrevem alguns dos “pais” gregos e os arminianos, mas, sim, pecado, no sentido real da palavra. A culpa está ligada ao pecado; quem nega isto não tem uma concepção bíblica da corrupção original. (2) Que não se deve considerar essa corrupção como uma substancia infundida na alma humana, nem como uma mudança da substancia no sentido metafísico da palavra. Este foi o erro dos maniqueus, e de Flacius Illyricus nos dias da Reforma. Se a substancia da alma fosse pecaminosa, seria substituída por uma nova substancia na regeneração; mas não é o que acontece. (3) Que não é mera privação. Em sua polemica com os maniqueus, Agostinho não somente negava que o pecado era uma substancia, mas também afirmava que era apenas uma privação. Chamava-lhe privatio boni (privação do bem). Mas o pecado original não é somente negativo; é também uma disposição positiva para o pecado. A corrupção original pode ser examinada em mais de uma perspectiva, a saber, como depravação total e como incapacidade total.
2) Depravação total. Em vista do seu caráter impregnante,a corrupção herdada toma o nome de depravação total. Muitas vezes esta frase é mal compreendida, e, portanto, requer cuidadosa discriminação. Negativamente,não implica: (1) que todo homem é tão completamente depravado como poderia chegar a ser; (2) que o pecado não tem nenhum conhecimento inato de Deus, nem tampouco tem uma consciência que discerne entre o bem e o mal; (3) que o homem pecador raramente admira o caráter e os atos virtuosos dos outros, ou que é incapaz de afetos e atos desinteressados em suas relações com os seus semelhantes; nem (4) que todos os homens não regenerados, em virtude da sua pecaminosidade inerente, se entregarão a todas as formas de pecado: muitas vezes acontece que uma forma de pecado exclui outra. Positivamente, a expressão “depravação total” indica: (1) que a corrupção inerente abrange todas as partes da natureza do homem, todas as faculdades e poderes da alma e do corpo; e (2) que absolutamente não há no pecador bem espiritual algum, isto é, bem com relação a Deus, mas somente perversão. Esta depravação total é negada pelos pelagianos, pelo socinianos e pelos arminianos do século dezessete, mas é ensinada claramente na Escritura, Jô 5.42; Rm 7.18, 23; 8.7; Ef 4.18; 2 Tm 3.2-4; Tg 1.15; Hb 3.12.
3) Incapacidade total. Com respeito ao seu efeito sobre os pecadores espirituais do homem, a corrupção original herdada toma o nome de incapacidade total. Aqui, de novo, é necessário fazer adequada distinção. Na atribuição de incapacidade total à natureza do homem, não queremos dizer que lhe é impossível fazer o bem em todo e qualquer sentido da palavra. Os teólogos reformados (calvinistas) geralmente dizem que ele ainda é capaz de realizar: (1) o bem natural; (2) o bem civil ou a justiça civil; e (3) exatamente, o bem religioso. Admite-se que o mesmo o não regenerado possui alguma virtude, a qual se revela nas relações da vida social, em muitos atos e sentimentos que merecem a sincera aprovação e gratidão dos seus semelhantes, e que ate encontram a aprovação de Deus, até certo ponto. Ao mesmo tempo, afirma-se que esses mesmo atos e sentimentos, quando considerados em relação a Deus, são radicalmente defeituosos. Seu defeito fatal é que não são motivados pelo amor a Deus, nem pela consideração de que a vontade de Deus os exige. Quando falamos da corrupção do homem em termos de incapacidade total, queremos dizer duas coisas: (1) que o pecador não regenerado não pode praticar nenhum ato, por insignificante que seja, que fundamentalmente obtenha a aprovação de Deus e corresponda às exigências da santa lei de Deus; e (2) que ele não pode mudar a sua preferência fundamental pelo pecado e por isso mesmo, trocando-a pelo amor a Deus; não pode sequer fazer algo que se aproxime de tal mudança. Numa palavra, ele é incapaz de fazer qualquer bem espiritual. Há abundante suporte bíblico para esta doutrina: Jô 1.13; 3.5; 6.44; 8.34; 15.4, 5; Rm 7.18, 24; 8.7, 8; 1 Co 2.14; 2 Co 3.5; Ef 2.1, 8-10; Hb 11.6.O PECADO ORIGINAL E A LIBERDADE HUMANA.
No contexto da doutrina da incapacidade total do homem, naturalmente surge a questão se, então, o pecado também envolve a perda da liberdade, ou daquilo a que geralmente chama liberum arbitrium – livre arbítrio, vontade livre. Esta questão deve ser respondida com discriminação pois, colocada desta maneira geral, pode ser respondida negativa e positivamente. Em certo sentido, o homem perdeu a sua liberdade; noutro sentido, n!ao a perdeu. Há uma certa liberdade que é possessão inalienável de um agente livre, a saber, a liberdade de escolher o que lhe agrada, em pleno acordo com as disposições e tendências predominantes da sua alma. O homem não perdeu nenhum das faculdades constitucionais necessárias para constituí-lo um agente moral responsável. Ele ainda possui razão, consciência e a liberdade de escolha. Ele tem capacidade para adquirir conhecimento e para sentir e reconhecer distinções e obrigações morais; e os seus afetos, tendências e ações são espontâneos, de sorte que ele escolhe e recusa conforme ache que o objeto de exame lhe sirva ou não. Além disso, ele tem a capacidade de apreciar e de fazer muitas coisas que são boas e amáveis, benévolas e justas, nas relações que ele mantém com os seus semelhantes. Mas o homem perdeu a sua liberdade material, isto é, o poder racional de determinar o procedimento, rumo ao bem supremo, que esteja em harmonia com a constituição moral original da sua natureza. O homem tem, por sua natureza, uma irresistível inclinação para o mal. Ele não é capaz de compreender e de amar a excelência espiritual, de procurar e realizar coisas espirituais, as coisas de Deus, que pertencem à salvação.Esta posição, que é agostiniana e calvinista, é peremptoriamente contraditada pelo pelagianismo e pelo socianismo e, em parte, também pelo semipelagianismo e pelo arminianismo. O liberalismo modernista, que é essencialmente pelagiano, julga a doutrina de que o homem perdeu a capacidade de determinar sua vida em direção à real justiça e santidade, altamente ofensiva, e se vangloria da capacidade do homem, de escolher e fazer o que é reto e bom. Por outro lado, a teologia dialética (o bartianismo) reafirma vigorosamente a completa incapacidade do homem, de fazer sequer o mais leve movimento em direção a Deus. O pecador é escravo do pecado e não tem a menor possibilidade de tomar a direção oposta.
Depravação Total
A medida que consideramos o primeiro dos cinco pontos calvinista, certamente o que deve nos impressionar é o fato deste sistema começar por algo fundamental à questão da salvação, a saber, uma avaliação correta da condição daquele que deverá ser salvo. Se tivermos uma perspectiva deficiente e amena sobre o pecado, então, estamos sujeitos a ter um perspectiva deficiente quanto aos meios necessários para a salvação do pecador. Se acreditarmos que a queda do homem no jardim do Édem foi apenas parcia, então é provável que fiquemos satisfeito com uma salvação que seja atribuível parcialmente ao homem e parcialmente a Deus.
Como as palavras de J.C. Ryle sobre o assunto são cheias de bom senso! "Existem muito poucos erros e doutrinas falsas", diz ele, "Cuja origens não possam ser vinculadas a ponto de vista incorreto sobre a corrupção da natureza humana. Perspectivas erradas sobre uma doença sempre trarão consigo perspectivas erradas sobre uma cura. Perspectivas erradas sobre a corrupção da natureza humana sempre trãrao consigo erradas perspectivas sobre o grande antídoto e cura daquela corrupção.
Com plena consciência de que ester era o caso, os teólogos da reforma e aqueles que reduziram os ensinamentos reformados a esses cinco pontos no sínodo de Dort, baseando seus jugamentos firmimente nas escrituras, afirmaram que o estado natural do homem era de total depravação,e portanto havia total incapacidade do homem para obter ou contribuir a favor de sua própria salvação.
A personalidade do homem foi afetada como um todo pela "Queda", e o pecado atinge a todas as faculdades - vontade, o entendimento, as afeições, etc. Acreditamos que isso é irrefutavelmente ensinado na palvra de Deus, à qual passamos a nos referir. O que segue é somente uma seleção das Escrituras que confirmam os ensinamentos calvinista sobre a depravação total. A Bíblia ensina com clareza absoluta que o homem, por natureza, está MORTO:"Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram"(Rm 5:12). Ela nos diz que os homens estão AGRILHOADOS. " Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhe dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade deles estão presos"(2tm 2:25-26). Mostrando que o homem é CEGO e SURDO. "...Mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas. Para que, vendo, vejam, e não percebam; ouvindo, ouçam, e não entendam"(Mc 4:11-12). Mostra-nos, também, que somos IGNORANTES. "Ora o homem natural não compreendem as coisas do Espirito de Deus, porque lhe parecem locura; e não pode entendê-las, porque se discernem espiritualmente..."(Icor 2:14).
PECAMINOSOS POR NATUREZA1) Por nascimento: "Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe" (Sal 51:5)
2) Por prática: " E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente"(Gen 6:5). Esse então é o estado natural do homem. Portanto, devemos perguntar:
-> Podem os MORTOS se levantar ? -> Podem CEGOS dar-se a visão ? -> Podem SURDOS dar-se audição ? -> Podem ESCRAVOS remir-se? -> Podem os PECADORES POR NATUREZA mudar a si mesmo?certamente que não observe o texto Jó 14;4 "Quem do imundo tirará o puro ?"
Poderia a palvra de Deus mostrar mais claramente do que faz, que a depravação é "Total".
(Ef 2:1) Vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados"
OBJEÇÕES À DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL E DA INCAPACIDADE TOTAL.Poderia a palvra de Deus mostrar mais claramente do que faz, que a depravação é "Total".
(Ef 2:1) Vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados"
a. É incoerente com a obrigação moral. A mais óbvia e a mais plausível objeção à doutrina da depravação total e da incapacidade total é a de que ela é incoerente com a obrigação moral. Diz-se que não se pode responsabilizar com justiça o homem por uma coisa para a qual ele não tem a capacidade requerida. Mas a implicação geral este princípio é uma falácia. Ele pode ser mantido nos caos de incapacidade resultante de uma limitação imposta por Deus à natureza do homem; mas certamente não se aplica na esfera da moralidade e da religião, como já foi exposto no item anterior. Não devemos esquecer-nos de que a incapacidade que aqui está sendo examinada é auto-imposta, tem origem moral e não se deve a nenhuma limitação que Deus tenha imposto ao homem. O homem é incapaz como resultado da escolha pervertida que fez em Adão.
b. Ela retira todos os motivos para o esforço. Uma segunda objeção alega que esta doutrina elimina todos os motivos para o esforço humano e destrói todas as bases racionais para a utilização dos meios de graça. Se sabemos que não conseguiremos levar a efeito um determinado fim, por que havemos de utilizar os meios recomendados para a sua realização? Pois bem, é perfeitamente certo que o pecador iluminado pelo Espírito Santo e verdadeiramente cônscio da sua incapacidade natural, renuncia à justiça das obras. E é Isso exatamente o necessário. Mas isso não vale para o homem natural, pis ele é totalmente dominado pela justiça própria. Além disso, não é verdade que a doutrina da incapacidade tende naturalmente a fomentar a negligência no uso dos meios de graça ordenados por Deus. Com base neste princípio, o agricultor também poderia dizer: não posso produzir uma colheita; por que devo cultivar as minhas terras? Mas isto seria loucura total. Em todos os departamentos da atividade humana, o resultado depende da cooperação de causas sobre as quais o homem não tem domínio. As bases escriturísticas para o emprego dos meios permanece: Deus manda empregar meios; os meios ordenados por Deus são adaptados ao fim colimado; ordinariamente o fim não é atingido, exceto pelo uso dos meios designados; e Deus prometeu a utilização desses meios.
c. Favorece o atraso da conversão. Afirma-se também que esta doutrina favorece o atraso da conversão. Se o homem crer que não poderá mudar o seu coração, que não poderá arrepender-se e crer no Evangelho, achará que pode aguardar passivamente a ocasião em que Deus agrade mudar a direção da sua vida. Ora, pode haver, e a experiência ensina que há, alguns que de fato adotam essa atitude; mas em regra o efeito da doutrina em foco é completamente diferente. Se os pecadores, para os quais o pecado veio a ser muito querido, estivessem cônscios do seu poder de mudar as suas vidas quando quisessem, seriam tentados a deixar essa mudança para o último momento. Mas, se a pessoa estiver cônscia do fato de que essa realização tão desejável está fora dos limites das suas forças, instintivamente procurará auxílio de fora. O pecador que pensa deste modo, quanto à sua salvação, procurará a ajuda do grande Médico da alma, reconhecendo assim a sua própria incapacidade." A voz de Deus Ressoa pelo mundo inteiro, atingindo o coração dos Santos, pelo qual a salvação esta ordenada". João Calvino.
Deus nos chama a compreender as Escrituras por totalidade pois "tem cuidado de Ti e da Tua Doutrina"
Deus nos chama a viver o Cristianismo dos Antigos.
O próximo ponto a ser abordado será "Eleição Condicional"
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