quarta-feira, 15 de julho de 2009

A relevância dos Símbolos de Fé para o presbiteriano

Os Credos, Confissões e Catecismos têm sido meios de unificação da fé desde os primórdios do cristianismo. Muitas pessoas negam a necessidade de uma confessionalidade advogando uma defesa da Bíblia como única regra infalível de fé e prática. Tais pessoas não percebem que ao afirmarem isto estão confessando fé. O que se percebe então é que os mesmos que negam a necessidade de uma confissão de fé advogam uma confissão de fé, são assim contraditórios. As igrejas reformadas entendem a necessidade de ser confessional pelo mesmo motivo que Paulo nos chama a ter uma única fé, a saber, a unidade da igreja. Esta preocupação esteve patente sempre na Igreja, podemos perceber isto, por exemplo, na controvérsia com os judaizantes, que queriam obrigar aos gentios a cumprirem as Leis das cerimônias judaicas que já haviam se tornado obsoletas na morte de Cristo, a decisão conciliar sobre este problema é expressa através de confissão assim:
Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde. At 15:28-29
Esta confissão foi entregue a Paulo e Barnabé que ficaram incumbidos de dar a notícia aos crentes de Antioquia. É importante notar a humildade e submissão dos crentes que participaram deste concílio sobre a decisão tomada. Pode parecer lendo apenas os versículos 28 e 29 que havia sido uma reunião amistosa e cordial, o que na realidade, se lermos alguns versículos anteriores, veremos ser falso. No entanto, mesmo com toda a discórdia e confusão provocada por esta discussão, no momento em que foi decidido o que haveria de ser requerido dos gentios, os contrários se submeteram a decisão. Aponto da confissão ter sido introduzida por Lucas como uma decisão da Igreja e do próprio Espírito Santo. Longe de querermos igualar uma decisão apostólica com uma decisão feita por pastores, devemos notar ao menos que não é novidade alguma a igreja ser regrada através de confissões. No entanto, esta prática não cessou ai, antes quando olhamos para a história da Igreja observamos vários credos e confissões. O motivo é que em vários períodos da Igreja foram necessários posicionamentos explícitos sobre determinados assuntos e isto explicitava quem era unido à igreja de quem não era. Um exemplo clássico foi a necessidade da Igreja apresentar aquilo que cria logo nos primeiros séculos, e isto resultou naquilo que hoje chamamos de Credo Apostólico. Nunca foi advogado pela igreja uma substituição ou até mesmo uma nivelação entre a Escritura e estas confissões. Os símbolos de fé são importantes não pelo seu valor próprio, mas pelo valor que apontam que a Escritura tem. A Igreja Presbiteriana do Brasil entende que a Confissão de fé de Westminster e os seus Catecismos são uma exposição fiel da Escritura. Isto está explicito quando vemos a ordenação dos Pastores e Presbíteros, que devem responder “sim” a pergunta: “Recebeis e adotais sinceramente a Confissão de Fé e os Catecismos desta Igreja, como fiel exposição do sistema de doutrina ensinado nas Santas Escrituras?” Isto está também explícito na disciplina da igreja, pois afirma a nossa constituição: Nenhum tribunal eclesiástico poderá considerar como falta, ou admitir como matéria de acusação aquilo que não possa ser provado como tal pela Escritura, segundo a interpretação dos Símbolos da Igreja. A despeito de tudo isto vivemos em tempos que os membros das igrejas têm negado a leitura, o estudo e aceitação dos nossos símbolos de fé, obviamente isto nada mais é conseqüência de algo anterior, a negação da leitura, estudo e aceitação da própria Escritura. É observável que os membros não sabem mais aquilo que crêem, e por isto muitas vezes caem em erros grotescos sobre pontos básicos de fé cristã. Não é difícil observamos divisões ou discussões a respeito de assuntos que facilmente seriam solucionados com um estudo aprofundado da Escritura e também afirmado nos Símbolos de fé. A Escritura é básica e naturalmente a única regra infalível de fé e prática, no entanto, hoje temos uma verdadeira salada de doutrinas e de interpretações a respeito da Escritura, e não são poucas as vezes em que vemos defesas de doutrinas que destoam com tudo que já foi crido pela Igreja de Cristo. Daí a importância e relevância de uma Confissão de fé para podermos lembrar daquilo que nossos líderes crêem e para que possamos nos submeter a sua autoridade, e mais, para que não andemos em ventos de doutrina andando de um lado para o outro. A relevância dos Símbolos de fé pode ser bem resumida com aquilo que disse o Dr. A. A. Hodge: Todos os que estudam a Bíblia fazem isso necessariamente no próprio processo de compreender e coordenar seu ensino; e pela linguagem de que os sérios estudantes da Bíblia se servem em suas orações e outros atos de culto, e na sua ordinária conversação religiosa, todos tornam manifesto que, de um ou outro modo, acharam nas Escrituras um sistema de fé tão completo como no caso de cada um deles lhe foi possível. Se os homens recusarem o auxílio oferecido pelas exposições de doutrinas elaboradas e definidas vagarosamente pela Igreja, cada um terá de elaborar o próprio credo, sem auxílio e confiando apenas na sua sabedoria. A questão real entre a Igreja e os impugnadores de credos humanos não é, como eles muitas vezes dizem, uma questão entre a Palavra de Deus e os credos dos homens, mas é questão entre a fé provada do corpo coletivo do povo de Deus e o juízo privado e a sabedoria não auxiliada do objetor individual.
E as intermináveis dúvidas doutrinárias, como saná-las? Podemos achar respostas nos nossos Catecismos, tão esquecidos hoje nos discipulados, mas que ajudaram a muitos neófitos no passado. Pode ser que o método de perguntas e repostas não seja mais uma boa forma de ensinar diante da moderna pedagogia, mas as respostas ali encontradas podem trazer luz a muitos questionamentos que fazemos diariamente. O chamado para ler, estudar e adotar os símbolos de fé da nossa igreja não é uma tentativa de excluir as nossas Bíblias das nossas devocionais, mas adicionar esta grande ferramenta de ajuda, que ajudou a tantos crentes desde 1649 quando foram terminadas. O presbiteriano precisa não só ser presbiteriano de nome, mas de mente. Precisamos crer e aceitar aquilo que “pareceu bem ao Espírito e a nós” através da providência de Deus em manter a sua igreja pura com o uso dos Símbolos de fé. Caso contrário, não poderemos nunca aceitar as palavras de Paulo a Igreja em Éfeso quando nos fala de uma única fé. A palavra pístis no contexto deve ser entendida como sistema de doutrina ou aquilo que a igreja crê. Por isto Paulo lembra que só há uma fé, só há uma doutrina, e portanto, nos chama a sermos confessionais. Deus nos deu lideranças e são eles que nos ensinam e exortam e, assim, nos mostram o que devemos crer, os símbolos de fé são cridos por nossa Igreja e, por isto são nossos Símbolos de fé, e portanto, todos os presbiterianos são conclamados a dizer “sim”, junto com sua liderança à pergunta: “Recebeis e adotais sinceramente a Confissão de Fé e os Catecismos desta Igreja, como fiel exposição do sistema de doutrina ensinado nas Santas Escrituras?”
Em Cristo, Aquele em quem depositamos nossa fé, e somos chamados a unidade.

Ronaldo Barboza de Vasconcelos

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