sexta-feira, 31 de julho de 2009

Batismo Infantil


Na história da salvação “heilgeschichte” Deus com o homem estabeleceu alguns pactos ou alianças. Entre eles se encontra o pacto abraamico, que é o pacto de Deus com Abraão. Para entender o batismo é necessário entender este pacto, portanto, vamos dá uma olhada em alguns textos:

Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente. Gn 17:1-2

Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações; E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto; Gn 17:4-5

E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti. E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão e ser-lhes-ei o seu Deus. Gn 17:7-8

Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. Gn 17:10

O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. Gn 17:12-13

Percebe-se sem maiores dificuldades que esta aliança é eterna. Antes de formar maiores conclusões vamos analisar o que esta aliança tem a ver com o cristão propriamente dito:

Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Rm 4:3

Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a incircuncisão? Porque dizemos: A Abraão foi imputada a fé como justiça. Como, pois, lhe foi imputada? Estando na circuncisão, ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas sim na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve quando ainda não era circuncidado, para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles na incircuncisão, a fim de que a justiça lhes seja imputada, bem como fosse pai dos circuncisos, dos que não somente são da circuncisão, mas também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão, antes de ser circuncidado. Rm 4:9-12

Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós. (como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, que vivifica os mortos, e chama as coisas que não são, como se já fossem. Rm4:16-17

Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. Gl 3:8

E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa. Gl 3:29

Vemos no livro de Gênesis Deus instituindo uma aliança perpetua com Abraão, ele seria o primeiro de muitos e, através do descendente dele as nações da terra seriam abençoadas o descendente dele é Cristo (Cf. Gl 3:16). Vemos também que a circuncisão foi o meio externo (símbolo) que Deus deu para marcar a sua aliança. Desde então todos aqueles que iriam participar da aliança de Deus seriam circuncidados. Isto incluía inclusive as crianças. Através de Cristo todos os cristãos fazem parte desta aliança de Abraão, ela não poderia ser anulada, pois afinal é perpetua, e através da fé nós nos apossamos das promessas. Isto nos mostra que sempre houve e sempre haverá um único povo de Deus, Israel e a Igreja são a mesma coisa. Mas então por que não é pratica das nossas igrejas a circuncisão, como alguns cristãos primitivos queriam? Afinal também nós deveríamos ser circuncidados para também participar da aliança abraamica. Esta discussão terminou causando uma grande confusão, onde vemos Paulo falar por algumas vezes. Vamos analisar um pouco sobre o que Paulo vai falar sobre a circuncisão nos Gentios:

Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se tornado em incircuncisão. Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão? E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a circuncisão és transgressor da lei. Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. Rm 2:25-29

A circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus. I Co7:19

Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor. Gl 5:6

Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura. Gl 6:15

Nele também vocês foram circuncidado, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar do corpo da carne. [u][i]Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, Cl 2:11-13 (NVI)

A Circuncisão feita na carne de nada valia, a não ser que, o circunciso tivesse fé e obedecesse a lei de Deus. Da mesma forma os incircuncisos devem crer e seguir a lei de Deus. Este era o entendimento do Apostolo Paulo. Mas em Colossenses vemos ele falando sobre a circuncisão que Cristo fez através do batismo, sepultando-nos com ele e ressuscitando-nos com o seu poder. O que percebemos é que o batismo tem o mesmo significado que a circuncisão, ambos são a marca da regeneração e da purificação do crente. Quando falo de batismo refiro-me ao Batismo com Espírito Santo, o Batismo espiritual e não o nas Águas. Mas agora falando deste ultimo percebemos que, assim como a circuncisão da carne (prepúcio) iniciava alguém na comunidade Judaica e simbolizava o que acontece com os regenerados, no sentindo de serem circuncidados no despojo do corpo da carne, o batismo nas águas também simboliza o despojo do corpo da carne. E também simboliza a entrada do crente na comunidade Cristã (Cf. At 2:41). E por conseqüência, assim como as crianças estavam incluídas no pacto da circuncisão, pois estavam entrando na comunidade judaica, hoje também elas são incluídas no pacto de Abraão através do batismo nas águas. Muitos argumentariam que não encontramos relatos de crianças serem batizadas, mas isto é facilmente refutado quando entendemos que por varias vezes são ditas que a família se converteu ou a casa ou algo assim (Cf. At. 16.15; At 16.32,33; 1 Co 1.16), que facilmente poderiam ter crianças em suas casas, além do mais o ônus da prova vai para quem afirma que as crianças não devem ser batizadas, pois assim como no velho testamente era de se esperar que elas fizessem parte da comunidade, se não fazem, então deveria ter alguma palavra a respeito sendo dita no novo testamento, o que certamente não há. Portanto, não se deve negar benção tão grande, de fazer parte da comunidade Cristã, de fazer parte da Igreja visível de Deus, para as Crianças. Falando um pouco mais sobre a questão do batismo em família, podemos observar que para Paulo bastava que se convertesse o patriarca ou a matriarca da casa para que todos fossem batizados, isto porque a compreensão pactual é que a benção que é dada aos pais se estende aos filhos. Isto não quer dizer que os filhos dos crentes serão salvos indubitavelmente, ou que o batismo infantil garante que esta pessoa permanecerá no pacto. Isto não é verdade. Como bem sabemos pelo relato Bíblico todos os que estão com os ungidos de Deus são abençoados, isto fica claro na história de Abraão. Deus abençoa os filhos dos crentes por amor aos seus pais. E é por isto que eles são chamados a serem batizados e participarem do sinal da aliança de Deus para com o seu povo. São chamados a ser povo de Deus, a participarem das bênçãos do pacto. Fazendo parte da igreja visível, a comunidade que se reúne nos domingos para cultuar a Deus. É por isto que o batismo infantil não deve ser negado, pois estaremos negando uma benção de Deus a uma criança, estaremos impedindo ela de participar do sinal da aliança e de poder ser chamada igreja de Cristo.

Ronaldo Vasconcelos
Sola Gratia


Batismo de Crianças: Algumas Considerações
Augustus Nicodemus Lopes
A prática de batizar os filhos dos cristãos vem desde os primórdios do cristianismo. Pais da Igreja, como Irineu (século II), se referem ao batismo infantil. Orígines (século IV) foi batizado quando criança. Hoje, milhares de cristãos evangélicos no mundo continuam a prática, embora alguns pais permitam que seus filhos sejam batizados apenas porque faz parte da tradição religiosa na qual nasceram. Para outros, o batismo é um ato pelo qual consagram seus filhos ao Senhor, com votos solenes de educá-los nos caminhos de Deus até, a idade da razão.
Evidentemente nem todos os evangélicos concordam que o batismo infantil seja a única maneira de se fazer isso. Muitos preferem apresentar seus filhos ao Senhor, sem batizá-los, pois acreditam que o batismo é somente para adultos que crêem. Porém, tanto os que batizam seus filhos, quanto os que os apresentam, têm um desejo só, de vê-los crescer nos caminhos do Evangelho, e, quando chegarem à idade própria, publicamente professar sua fé pessoal em Cristo Jesus.
Alguns me perguntam por que apresentei meus quatro filhos para serem batizados, quando cada um ainda não tinha mais que dois meses. Minha resposta é que acredito estar seguindo a tradição bíblica, que remonta ao tempo do Antigo Testamento, e que não foi abolida no Novo, de incluir os filhos dos fiéis na aliança de Deus com o seu povo. Batizei meus filhos crendo que, através desse rito iniciatório, eles passaram a fazer parte da Igreja visível de Cristo aqui na terra. Minha crença sé baseia no fato de que, quando Deus fez um pacto com Abraão, incluiu seus filhos na aliança, e determinou que fossem todos circuncidados (Gn. 17.1-14). A circuncisão, na verdade, era o selo da fé que Abraão tinha (ver Rm 4-3,11 com Gn 15.6), mas, mesmo assim, Deus determinou-lhe que circuncidasse Ismael e, mais tarde, Isaque, antes de completar duas semanas (Gn. 21.4). Abraão creu e o sinal da sua fé foi aplicado à Isaque, mesmo quando este ainda não podia crer como seu pai. Mais tarde, quando Moisés aspergiu com o sangue da aliança as tábuas da Lei dada por Deus, aspergiu também todo o povo presente no monte Sinai, incluindo obviamente as mães e seus filhos de colo (Hb 9.19-20).
Estou persuadido de que a Igreja cristã é a continuação da Igreja do Antigo Testamento. Símbolos e rituais mudaram, mas é a mesma Igreja, o mesmo povo. O Sábado tomou-se em Domingo, a Páscoa, em Ceia, e a circuncisão, em batismo. Os crentes são chamados de "filhos de Abraão" (Gl 3.7,29) e a Igreja de "o Israel de Deus" (Gl 6.16). Não é de se admirar que Paulo chame o batismo de "a circuncisão de Cristo" (Cl 2.11-11).
Foi uma grande alegria ter meus filhos batizados e vê-los, assim, receber o selo da fé que minha esposa e eu temos no Senhor Jesus. Deus sempre tratou com famílias (Dt 29.9-12), embora nunca em detrimento da responsabilidade individual. Assim, Deus mandou que Noé e sua família entrassem na arca (Gn. 7.1), chamou Abraão e sua família (Gn 12.1-3) e castigou Acã, Coré e suas famílias juntamente. Paulo, ao refletir sobre a história de Israel e ao mencionar a passagem dos israelitas pelo Mar Morto, diz que todo o povo foi batizado com Moisés, na nuvem e no mar inclusive as crianças, é claro, pois havia milhares delas (1 Co 10.1-4). Não é de se admirar, portanto, que Pedro, no dia de Pentecostes, ao chamar os ouvintes ao arrependimento, à fé em Cristo e ao batismo, disse-lhes que a promessa do Espírito Santo era para eles e para seus filhos (At 2.38-39). E não é de admirar que os apóstolos batizavam casas inteiras em suas viagens missionárias: Paulo batizou Lídia e toda sua casa (,At. 16.15), o carcereiro e todos os seus (At 16.3233), a casa de Estéfanas (1 Co 1.16). É verdade que não se mencionam crianças nessas passagens, mas o entendimento mais natural de "casa" e "todos os seus" é que se refira à família do que creu e fica difícil imaginar que, se houvesse crianças, elas teriam sido excluídas. Pois, para Paulo, os filhos dos crentes eram "santos" (1 Co 7.14), ao contrário dos filhos dos incrédulos. Talvez ele estivesse seguindo o que o Senhor Jesus havia dito, que não impedissem as crianças de virem a Ele (Mc 10.13-16).
Compreendo a dificuldade que alguns terão quanto ao batismo infantil, pois não há exemplos claros de crianças sendo batizadas no Novo Testamento. É verdade. Mas é igualmente verdade que não há nenhum exemplo de um filho de crente sendo batizado em idade adulta. Neste caso, talvez seja mais seguro ficar com o ensino do Antigo Testamento., Se os judeus que se converteram a Cristo não podiam batizar seus filhos, era de se esperar que houvesse alguma proibição neste sentido por parte dos apóstolos, já que estavam acostumados a incluir seus filhos em todos os aspectos da religião judaica. Mas não há nenhuma proibição apostólica quanto a isso.
Compreendo também que alguns têm dificuldades com o batismo infantil por causa da prática da Igreja Católica e de algumas denominações evangélicas, que adotam a idéia da regeneração batismal, isto é, que, pelo batismo, a criança tenha seus pecados lavados e seja salva. Pessoalmente não creio que seja este o ensino bíblico. O batismo infantil não salva a criança. Meus filhos terão de exercer fé pessoal em Cristo Jesus. Não serão salvos pela minha fé ou da minha esposa. Eles terão de se converter de seus pecados e crer no Senhor Jesus, para que sejam salvos. O batismo foi apenas o ritual de iniciação pelo qual foram admitidos na comunhão, da Igreja visível. Simboliza a fé dos seus país nas promessas de Deus quanto aos seus filhos (cf. Pv 22.6; At 2.38; At 16.31) e expressa os termos da aliança que nós e nossos filhos temos com o Senhor (Dt ' 6.6,7; Ef 6.4). Se, ao crescer, uma criança que foi batizada resolver desviar-se dos caminhos em que foi criada, é da sua inteira responsabilidade, assim como os que foram batizados em idade adulta, e que se desviam depois.
Certamente que o Novo Testamento fala do batismo como sendo uma expressão de fé e de arrependimento por parte daqueles que se convertem a Cristo - coisas que uma criança em tenra idade não pode fazer. Por outro lado, lembremos que passagens assim não tinham em vista os filhos dos fiéis, mas toda uma primeira geração de adultos que se converteram pela pregação do Evangelho.
Mas, ao fim, tanto os que batizaram seus filhos quanto os que os apresentaram, devem orar com eles e por eles, serem exemplos de vida cristã, levá-los à Igreja, instruí-los nas Escrituras e viver de tal modo que, ao crescer, os filhos desejem servir ao mesmo Deus de seus pais.




SOLA FIED

Um comentário:

  1. Excelente texto, não tem muita coisa na net sobre isso, que seja de boa qualidade!
    Depois que conheci a reforma, Calvino e descobri que congreguei em igrejas armenianas a vida toda tem sido, uma empreitada pra mim e uma desconstrução, quase que total de tudo que aprendi.
    Comecei a frequentar uma igreja presbiteriana quando me deparei com questão do batismo infantil e fiquei "bege", não sabia o que pensar, más não queria chamar a atenção do pastor, pois ainda estou conhecendo, o que fazer?
    Recorri ao blogs mas o seu post foi o melhor. Entendi tudo, más ainda é difícil, é mesmo uma renovação na mente.De tudo que tenho visto e aprendido nesta nova congregação, só isso foi mais confrontador pois antes já tinha me familiarizado com a doutrina calvinista e acreditei muito, a ponto de mudar de congregação diante a total impossibilidade da doutrina armeniana, voltar a ser verdade pra mim.
    Um abraço
    Dani Lima

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