sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A justificação nas Cartas de Paulo e na Carta de Tiago



George Knight III

Nas cartas do apóstolo Paulo, a doutrina da justificação é o maravilhoso ensino bíblico de que Deus nos aceita como justos em Cristo e perdoa nossos pecados quando nós o recebemos pela fé somente.

O ensino de Paulo

O apóstolo Paulo refuta aqueles que erroneamente pensam que Deus salva as pessoas levando em consideração as boas coisas que elas mesmas fazem, além de sua fé.
Ela faz isso repetida vezes:

Romanos 3:20-22 --- “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de qual pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todo [e sobre todos] os que crêem”. Paulo diz que a justiça nos vem do próprio Deus, independemente de guardar a lei, e vem somente àqueles que crêem em Jesus Cristo.

Romanos 3:28 --- “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independemente das obras da lei”. O apóstolo reafirma que alguém é justificado independentemente das obras da lei.

Romanos 4: 3-5 --- “pois, diz a Escrituras ? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para a justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim, como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”. O apóstolo afirma que Abraão Creu em Deus, e que Deus creditou isso a ele como justiça. Ele afirma ainda que o que trabalha ganha salário, Mas que Deus declara que um ímpio é justificado porque tal pessoa confiou em Deus.

Romanos 4: 13-14 --- “Não foi por intermédio da lei que Abraão, ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo; e, sim, mediante a justiça pela fé. Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa”. Paulo declara que a promessa da salvação que foi dada por Deus a Abraão não foi recebida por se guardar a lei, mas por exercer a fé.

Gálatas 2:16 --- “O homem não é justificado por obras da lei, e, sim, mediante a fé em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois por obras da lei ninguém seria justificado”. Por três vezes Paulo deixa claro que o meio de ser justificado é por nossa fé que é dada por Jesus Cristo, e não em fazer boas obras.
De fato, “Por obras da lei ninguém será justificado”. Observe que Paulo coloca a fé e observância da Lei em oposição uma à outra como meios de salvação: é uma ou outra, não as duas juntas.

Gálatas 3:11 --- “É evidente que pela Lei ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo vivera pela fé”. Paulo declara seu argumento para a justificação que está fundamentada no velho testamento.

Filipenses 3:9 --- “... e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de Lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé”. Nós precisamos da justiça de Deus – de fato, a justiça de Cristo – e isto nos são dado através da fé em Cristo, que é nossa justiça (1Co 1:30, 1Jo 2:1).

É Claro nesta e em outras passagens que a Lei nos declara pecadores com necessidades da justificação de Deus, e que a fé, e somente a fé, é o instrumento pelo qual Deus traz a morte, ressurreição e justiça de Cristo sobre aqueles que crêem, e dessa forma os declara justos.

A Escritura fala disse ato como sendo imputação da justiça de Cristo aos crentes. Isto é, justiça Dele computada na conta deles, embora eles estejam apenas começando a experimentar a transferência da justiça de Cristo a seu homem espiritual. Embora eles sejam pecadores perdoados (é Deus quem justifica o ímpio Rom 4:5), Deus declara-os justos por causa da justiça de Cristo a eles imputada e recebida pela fé somente.

E o que diz Tiago?


Alguns podem objetar o que nós não estamos levando em conta o ensino de Tiago, que declara que de forma totalmente clara: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente” (Tiago 2:24). Sim, a observação de Tiago é tão verdadeira quanto à de Paulo. Para entendê-las melhor, vamos vê-las no seu contexto todo (Tiago 2: 14-26).

“Meus irmão, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”.

Se um irmão ou uma irmã estiver carecido de roupas, e necessidades de alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhe disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dardes o necessário para o corpo, qual é proveito disso?

Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.

Mas alguém dirá: Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras mostrarei minha fé.

Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem, e tremem.

Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?

Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?

Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.

E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.

Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.

E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?

Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.

Como então podemos ver os ensinos de Paulo e Tiago como um todo consistente? Paulo diz que nós somos “justificados pela fé independente das obras da Lei” (Rom 3:28), mas Tiago diz que “Uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente” (Tiago 2:24). Certamente que em face dessas duas afirmativas há uma contradição aparentemente. Mas, como Paulo e Tiago estão escrevendo sobre inspiração de Deus, eles devem estar escrevendo sobre situações diferentes. Talvez eles estejam usando a palavra justificar e fé de maneiras diferentes. Vamos olhar novamente os dois escritores dessa forma como uma possível solução.

Paulo escrevendo a grande promessa de Deus contida em Gênesis 15:6 ele diz:
“Pois, que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para a justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim, como divida. Mas ao que trabalha, porem, crê naquele que justifica o ímpio a sua fé lhe é atribuída como justiça (Rm 4:3-5).

Tiago por outro lado, está escrevendo àqueles que proclamam crer, mas não dá nenhuma evidencia de suas vidas terem sido regeneradas e transformadas pela salvação que Deus dá aos crentes. Note como Tiago afirma isso no começo do seu argumento: “Meus irmãos, qual o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras? Pode acaso semelhante fé salvá-lo?” (Tg 2:14). Tiago está procurando mostrar que a fé verdadeira – a fé que Deus imputou a alguém, (Observe como Tiago também cita Gênesis 15:6 em Tiago 2:23) – se manifesta em boas obras. Tiago diz que Abraão verdadeiramente creu, e, por isso, que Deus tinha verdadeiramente contado como justo, porque Abraão demonstrou a realidade de sua fé (e salvação) ao obedecer a Deus (Tg 2:21-24).

Palavras com diferentes significados

Nós podemos ver a diferenca mais claramente se nós reconhecermos os diferentes modos com que Paulo e tiago usam os mesmos termos. Quando Paulo fala que alguém sendo “justificado”, ele tem em vista o pronunciamento de Deus de que um pecador é justo. Mas quando Tiago usa a mesma palavra, ele tem em vista a demonstração do estado previamente justificado de uma pessoa. Isto é, alguém demonstra, através de sua obediência, o que Deus já declarou sobre ele(Tiago 2:23, citando Gênesis 15:6)

Dizendo de outra forma, Tiago está usando a palavra justificar com o significado de “demonstrar ou mostrar que se é justo, ou inocentar a si mesmo”. Este significado para a palavra em grego é também encontrado em Lc 16:15 e 10:28-29, como também Mateus 11:19, Lucas 7:35, e Romanos 3:4. Em Lucas 16:15, Jesus diz aos fariseus “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece vossos corações”.
Similarmente, nós lemos em Lucas 10:29: “Ele, porém, querendo justificar-se...”.

Tiago está dizendo que alguém pode demonstrar diante dos homens (ou pode inocentar ou justificar-se a si mesmo) que ele tem sido declarado justo por Deus. Uma pessoa pode fazer isso fazendo boas obras, exatamente como Abraão fez ao sacrificar seu filho Isaque. Bem depois de Deus tê-lo declarado justo. Tiago diz que esse período posterior demonstrou que a declaração de Deus em Gênesis 15:6 era verdadeira e se cumpriu (Tiago 2:23)

Quando Paulo fala “Fé”, ele quer dizer confiança genuína e real em Deus. Tiago usa a palavra “fé” querendo dizer algo que precisa que se demonstre ser real na vida de alguém. Ele está tratando com aqueles que parecem expressar aceitação do evangelho, mas que de fato não tem fé ou confiança verdadeira. Dessa forma, os demônios, podem dizer que eles crêem, mas a sua chamada de fé, e qualquer outra fé sem obras é morta e inútil (Tiago 2:19-20). Pelo menos duas vezes, nos versos 18 e 26, Tiago pede àqueles que proclamam ter fé a demonstrarem uma fé genuína, e não uma fé morta, fazendo boas obras. Isto é algo com que Paulo certamente concorda(ver 2Cor 13:5; Gl 5:19-24).

As obras manifestam fé verdadeira

Assim sendo, as palavras de Paulo não contradizem as palavras de Tiago. Paulo também argumenta que a fé verdadeira se manifesta na obediência real.
Ele diz em Romanos 6:1-2 “que diremos pois ? permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós que para eles morremos ?

E Paulo também fala de obras do mesmo de Tiago quando diz em Efesios 2:10 “pois somos feituras dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Mas ele afirma esta grande verdade, de acordo com Tiago, após ter negado que as obras tenham qualquer parte em nossa salvação: “Porque pela graça sois salvo, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não nas obras, para que ninguém se glorie”.
Dessa forma, Paulo e Tiago de modo algum se contradizem, pois eles estão usando palavras com diferentes significados e estão apontando diferentes questões. Nós podemos afirmar com confiança que as palavras de Tiago não contradizem os ensinos claros de Paulo de que nós somos salvos e justificados pela fé, independente das obras da lei. De fato, o próprio Tiago diz que Deus já havia imputado sua própria justiça a Abraão porque Abraão havia crido nele (Tiago 2:23).

O foco de Tiago é que as boas obras de Abraão, feitas como um homen já salvo, e não para obter salvação em Deus, demonstraram ou mostraram que sua justificação era verdadeira e real.

Justiça Divina

É apenas em Cristo que Deus manifesta sua justiça, sendo Ele justo e habilitado para justificar a nós pecadores. Nós lemos desta grande verdade em Romanos 3:21-26.

Mas agora uma justiça de Deus, à parte da lei, foi feita conhecida, à qual a Lei e os profetas testificam. Essa justiça de Deus vem através da fé em Jesus Cristo a todo aquele que crê. Não há nenhuma diferença, para todos que pecaram e se afastaram da glória de Deus, e são justificados gratuitamente por sua graça através da redenção que veio por Cristo Jesus. Deus o ofereceu como um sacrifício de expiação [Uma propiciação], através da fé em seu sangue. Ele fez isso para demonstrar sua justiça, porque havia se contido e deixado os pecados cometidos anteriormente impunes – Ele fez isso para demonstrar sua justiça no tempo presente, assim como para ser justo e Aquele que justifica aqueles que tem fé em Jesus.

Paulo pergunta como Deus pode ter perdoados no passado e não ter punido as pessoas por eles.

A resposta para tais pecados e para os nossos pecados é que Deus os puniu em Jesus Cristo. Desse modo, Deus não esta retirando a afirmativa de que a alma que pecar deve morrer. Antes, Ele teve seu filho morto por essa alma e assim cumpriu as exigências da Lei.

Nós vemos essa verdade também em Romanos 4:25, onde Paulo diz que Cristo “foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação”. O que nós precisávamos fazer para cumprir a Lei de Deus, Deus por nós em seu Filho, punindo nossos pecados em sua morte e provendo nossa justiça em sua vida obediente e ressurreição. Dessa forma nós lemos novamente em 2Cor 5:21 que Deus “Àquele (Jesus Cristo) que não tinha pecado, o fez pecado por nós, para que Nele fossemos feitos justiça de Deus”.

A justificação pode ser recebida apenas através da fé que por sua vez é dada e não adquirida, pois só o Espírito Santo é capaz de produzir tal fé no coração depravado do homem natural, visto que somente pela fé que nós recebemos a justiça de Cristo, como Paulo diz em Filipenses 3:9 “e achado Nele, não tendo justiça própria, que procede da Lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé”.

Sumário

Vamos resumir. Nós somos salvos e justificados – isto é, todos os nossos pecados são perdoados e somos declarados justos por Deus – Quando nós confiamos em Jesus Cristo e temos sua justiça imputada em nossa conta. Nós depositamos nossos pecados em Cristo, e Ele nos concede, e nos imputa, sua obediência justa, e nós somos considerados como vestido em sua justiça e imediatamente declarados por Deus como justificados. E isso tudo acontece a parte de qualquer boa obra que nós possamos ter feito: Deus, “não por obras de justiças praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou” (Tito 3:5). E nós recebemos tudo isso pela fé, quando Deus nos dá um novo coração e uma fé para confiarmos Nele.

Quando exercemos a fé salvífica, Deus nos transforma total e interiormente, pela justiça de Cristo, transmitida a nós para nos fazer santos. Isso é chamado de santificação. Ela começa com a justiça de Cristo sendo colocada em nós, e aumenta conforme vivemos nessa justiça confiando e obedecendo a Deus. Deus justifica o ímpio e o perverso, e os torna santos conforme os santifica.

Apenas desta forma Deus salva a você e a mim !

Sola Gratia!

Fonte: Revista Os puritanos.

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