sexta-feira, 24 de julho de 2009


RESENHA

Alderi Souza de Matos
MATTOS, Luiz Roberto França de. Jonathan Edwards e o avivamento
brasileiro. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. 208 p.

Esse valioso livro foi escrito pelo Rev. Dr. Luiz Roberto França de Mattos
(1956-2004), um ex-professor e diretor de Centro Presbiteriano de Pós-Graduação.
Andrew Jumper (CPAJ), falecido recentemente aos 48 anos de idade.
O texto foi originalmente uma dissertação de mestrado escrita em inglês e
defendida pelo autor em 1997 no CPAJ. A proposta do Dr. Luiz Mattos foi
examinar as alegações da ocorrência de um avivamento no meio evangélico
brasileiro na segunda metade do século 20 à luz das reflexões de Jonathan
Edwards (1703-1758). Edwards, um pastor congregacional da Nova Inglaterra
(EUA), possuidor de sólidas convicções calvinistas, foi um dos principais
personagens do Primeiro Grande Despertamento e é atualmente considerado
um dos maiores pensadores religiosos da história dos Estados Unidos. Por ter
vivido durante esse importante avivamento e ter observado, descrito e analisado
criteriosamente os seus fenômenos, à luz das Escrituras e da fé reformada, ele
é considerado uma das autoridades mais abalizadas no estudo da experiência
religiosa de grande intensidade que é característica desses eventos.
No primeiro capítulo, Mattos faz uma abordagem exploratória inicial
do alegado “avivamento brasileiro”, apontando para alguns fatores positivos
e negativos e chegando à constatação de que as evidências são inconclusivas.
Ele então se propõe a estudar o contexto histórico e as percepções teológicas
de Edwards a fim de poder avaliar a autenticidade ou não do fenômeno religioso
brasileiro.
O segundo capítulo apresenta uma análise histórico-teológica dos avivamentos
ocorridos na Nova Inglaterra nas décadas de 1730 e 1740. Inicialmente
é considerado o avivamento de 1735 que se verificou na própria igreja
de Edwards, em Northampton, Massachusetts, e que ele considerou em duas
obras: Uma fiel narrativa da surpreendente obra de Deus (1737) e Marcas
JONATHAN EDWARDS E O AVIVAMENTO BRASILEIRO
distintivas de uma obra do Espírito de Deus (1741). Edwards avaliou esse
movimento inicial de maneira positiva e otimista, apontando para evidências
como as conversões ocorridas e a convicção de pecado, insistindo na necessidade
de frutos externos e demonstrando pouca preocupação com os fenômenos
extraordinários – físicos e mentais – associados ao avivamento.
Quando ocorreu o Grande Despertamento propriamente dito (1740-1743),
abrangendo uma área geográfica mais ampla, Edwards escreveu uma nova
obra para avaliá-lo, Alguns pensamentos sobre o presente reavivamento da
religião na Nova Inglaterra (1742), na qual fez uma análise mais rigorosa e
amadurecida dos acontecimentos. Ele concluiu que, apesar de certos excessos e
distorções, o despertamento foi essencialmente genuíno e benéfico. Quanto aos
fenômenos inusitados, ele os considerou conseqüências naturais da debilidade
humana diante da manifestação do poder de Deus e alertou para os perigos
potenciais. Aquilo que mais o interessou foram os “frutos visíveis”, os efeitos
transformadores do avivamento na vida pessoal e comunitária.
Nos capítulos seguintes (3 a 5), Mattos considera algumas obras posteriores
e mais substanciais de Jonathan Edwards sobre a experiência religiosa,
começando com o seu famoso Tratado sobre as Afeições Religiosas (1746).
Num ambiente de grande polarização acerca do avivamento, em que muitos
ministros o aceitavam entusiasticamente e outros o rejeitavam com veemência,
Edwards estabeleceu como critério para julgar a autenticidade dessa experiência
o que ele denominou “afeições”, ou seja, as inclinações dominantes da alma
ou do coração. Ele entendeu que a verdadeira religião consiste essencialmente
nessas afeições religiosas, das quais a mais elevada é o amor. Todavia, as afeições
podem ser verdadeiras ou falsas e por isso ele apresentou dois conjuntos
de sinais não-confiáveis e confiáveis de uma verdadeira espiritualidade. Na
primeira categoria ele colocou as manifestações exteriores e na segunda os
elementos que evidenciam uma profunda transformação espiritual e ética na
vida dos indivíduos, resultando em um novo comportamento pessoal.
A próxima obra de Edwards a ser analisada é Uma história da obra da
redenção, que consistiu numa série de mensagens pregadas em 1739. Mattos
argumenta que essa obra representa uma evolução no pensamento de Edwards
porque aqui a ênfase não é individual, mas coletiva. Um avivamento genuíno
irá produzir uma transformação gradual de toda a sociedade, levando à progressiva
manifestação do reino de Deus sobre a terra. Esse entendimento tem
a ver com o conhecido otimismo pós-milenista de Edwards. Ele considerava
os avivamentos ao longo da história como meios pelos quais Deus promove
a obra de redenção com vistas ao estabelecimento final do seu reino. Isso
implica na ocorrência de transformações positivas na sociedade, em todos os
seus aspectos, a começar dos relacionamentos interpessoais.
Por último, Mattos analisa três obras adicionais de Edwards, as quais, no
seu entender, fornecerão princípios definitivos para se avaliar o “avivamento
brasileiro”. Duas delas estão estreitamente ligadas entre si e foram escritas na
fase final da vida de Edwards, depois de 1750 – O fim para o qual Deus criou
o mundo e A natureza da verdadeira virtude, nas quais ele faz uma abordagem
filosófica e ética da vida espiritual. A última obra analisada é A caridade e
suas virtudes, uma coletânea de 15 sermões pregados em 1738, com base em 1
Coríntios 13.1-10. Nessas obras, Edwards coloca como alvo supremo da vida
humana a glória de Deus, preocupação essa que deve ser expressa através de
um profundo amor por ele e pelas suas criaturas. Mattos conclui que as obras
teológicas e filosóficas de Jonathan Edwards mostram um aprofundamento
crescente no seu entendimento da experiência religiosa, partindo da transformação
individual para chegar à transformação social, tendo como âmago uma
consideração suprema para com o próprio Deus.
No último capítulo, Mattos volta a considerar o “avivamento brasileiro”
à luz desses critérios, chegando à conclusão de que estão ausentes do mesmo
algumas características fundamentais: profunda convicção de pecado, anseio
especial pela Palavra de Deus, mudança de natureza em vez de manifestações
externas, transformação social e a glória de Deus como o fim principal do cristão
e da igreja. Com freqüência o que se vê são manifestações marcadas pelo
emocionalismo, superficialidade e imaturidade, em que o centro das atenções
é o próprio ser humano, com os seus desejos e ambições, e não a glória de
Deus e o bem-comum. Embora o avivamento brasileiro careça desses sinais
mais profundos de autenticidade, o autor entende que as igrejas podem estar
experimentando uma situação de pré-avivamento, evidenciada pela difusão
de um espírito de oração, pela renovação do culto público e por “um interesse
crescente pela transformação social da injusta sociedade brasileira”.
O Dr. Luiz Mattos certamente foi muito bem-sucedido em sua proposta,
apresentando um estudo relevante e necessário, marcado por uma argumentação
lúcida, profundamente bíblica e teologicamente consistente. Só temos a
lamentar que a sua morte prematura o tenha impedido de escrever outras obras
valiosas como essa, que certamente beneficiariam a muitos. Sendo esse um
dos livros mais úteis para as igrejas evangélicas do Brasil que foram publicados
nos últimos anos, esperamos que ele seja objeto da atenção cuidadosa
dos membros das nossas igrejas e em especial dos seus líderes, no sentido de
buscarem os caminhos mais saudáveis, íntegros e corretos no desempenho do
seu ministério.

* Gostaria de indicar além desse livro de Jonathan Edwards, o livro do Dr. Martyn Lloyd-Jones, "Avivamento". Esse texto foi retirado da revista Fides Reformata.

Miguel Silva

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