[PDF] formatado altamente indicado para leitura. Vincent Cheung, COLOSSENSES 1:9-14
Por essa razão, desde o dia em que o ouvimos, não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual. E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus e sendo fortalecidos com todo o poder, de acordo com a força da sua glória, para que tenham toda a perseverança e paciência com alegria, dando graças ao Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados. (Colossenses 1:9-14)
As cartas e orações de Paulo demonstram que sua prioridade é que os cristãos cresçam em conhecimento. Embora leve a outras coisas que ele também valoriza, o conhecimento espiritual – ou teologia, que é apenas um termo formal para a mesma coisa – vem em primeiro lugar para o apóstolo (1:28-29). Aqui ele escreve: “não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual” (1:9). Ou, como ele escreve aos efésios: “Peço que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o glorioso Pai, lhes dê o Espírito de sabedoria e de revelação, no pleno conhecimento dele” (Efésios 1:17). E aos filipenses diz: “Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo” (Filipenses 1:9-10).
Sabedoria, conhecimento, percepção, e coisas semelhantes, são necessárias e fundamentais para o desenvolvimento espiritual. Sem elas, é impossível compreender a “vontade de Deus”, ter o “pleno conhecimento dele”, discernir “o que é melhor”, e sermos “puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo”. Portanto, é auto-contraditório afirmar: “Posso não conhecer muito a Bíblia, mas conheço a Deus”, ou mesmo “posso não saber muito teologia, mas sei muito sobre Deus”.
Essa ênfase bíblica sobre sabedoria e conhecimento não limita o desenvolvimento espiritual a apenas um pequeno número de cristãos. Existem realmente aqueles que praticam uma forma de elitismo – eles considerarão a teologia ou ministério de alguém como ilegítimo porque ele não obteve um diploma de certo seminário, ou porque não escreve para uma audiência erudita. Essas são pessoas que criticariam um livro não porque o mesmo carece de verdade ou zelo, mas porque não cita os acadêmicos importantes em suas notas de rodapé. Em todo o caso, elitistas geralmente não são a elite espiritual de forma alguma, mas são covardes e hipócritas incompetentes. E esse é o porquê eles não criticariam o mesmo ponto em outro escritor, se este for famoso ou idolatrado o suficiente, de forma que o zelo e cinismo deles apenas sairia pela culatra.
Esses elitistas são os descendentes espirituais dos fariseus, e existem por toda a parte. Eles gostam de perguntar: “Com que autoridade estás fazendo estas coisas?” (Mateus 21:23), quando na verdade é a autoridade deles que vem de outro. Como no caso dos fariseus, o apelo deles não é feito a Cristo, mas a ídolos e tradições humanas. Eles condenariam alguém por seguir a prática bíblica de xingamento, mas não hesitariam em praticar a idolatria de citar pessoas famosas como autoridade.[1] A sabedoria deles não é pura e espiritual, mas demoníaca. Por mera influência ao invés de razão, eles tentam intimidar os cristãos à submissão. Eles não devem ser temidos, mas resistidos, zombados e desprezados.
A Escritura não tolera o elitismo. Ela não exclui alguém por causa de padrões mundanos e tradições humanas. A sabedoria espiritual está disponível a todo cristão que pede a Deus por ela. Aqui Paulo ora por todos os crentes em Colosso, para que todos eles recebam “sabedoria e entendimento espiritual”. Tiago escreve: “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhes será concedida” (Tiago 1:5), embora ele diga que isso requer fé e paciência. De qualquer forma, essa sabedoria leva à humildade e boas obras (Tiago 3:13), enquanto a sabedoria demoníaca dos incrédulos e elitistas exibe inveja e ambição egoísta (Tiago 3:14), e freqüentemente uma cobiça por poder, controle e admiração.
As boas novas é que a sabedoria espiritual que é necessária para se desenvolver como um crente, e para crescer em fé, amor e esperança, está disponível a todo cristão através dos meios que Deus providenciou, tais como a oração e o estudo. Mas isso também remove qualquer escusa do crente para ignorância espiritual e teológica. Um falta de educação formal não é escusa, visto que a sabedoria espiritual vem de Deus, e não do homem.
A promessa de Deus na Escritura, de que ele derramará sua sabedoria sobre aqueles que pedem, é mais que suficiente para sobrepujar qualquer obstáculo que pareça estar presente devido à carência de treinamento acadêmico. Negar isso é negar também o poder e a promessa de Deus. Por outro lado, existem aqueles que se orgulham em continuar sem uma educação formal, e ao mesmo tempo não se esforçam para adquirir sabedoria e conhecimento através de oração e estudo. Isso não é espiritualidade, mas delírio auto-justificador. O ponto é, quer alguém tenha recebido ou não uma educação formal ou qualquer treinamento facilitado pelo homem, a verdadeira sabedoria vem de Deus, através dos meios apontados por ele, e isso não leva ao elitismo, mas à humildade e serviço com grande intrepidez.
Então, Paulo continua: “E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra” (1:10). A Bíblia ensina uma forte conexão entre a verdadeira sabedoria e a conduta santa. Por exemplo, os versículos que citamos da carta de Paulo aos Filipenses diz que devemos abundar “em conhecimento e em toda a percepção”, para que possam ser “puros e irrepreensíveis”. Nossa passagem fala de ser cheio do “pleno conhecimento da vontade de Deus”. A “vontade” de Deus em tal contexto denota seus preceitos, e não seus decretos, isto é, a moralidade que ele definiu, e não a realidade que ele determinou. Um crente forte e que está progredindo, portanto, é alguém que está aprendendo e obedecendo à vontade de Deus, ou aos ensinos e preceitos da Bíblia.
Há três observações que podemos fazer em conexão com isso. As duas primeiras são dois lados da mesma questão, e a terceira nos levará a uma discussão separada.
Primeiro, Paulo ora para que os crentes recebessem sabedoria espiritual com o intuito que essa também produziria boas obras. O fruto natural da sabedoria piedosa é uma vida piedosa, pois essa sabedoria tem dentro dela o conhecimento que define piedade, o entendimento que essa é a maneira como devemos viver, e a percepção em concordar com tudo o que Deus revelou. Assim, a verdadeira sabedoria leva à conduta piedosa, mas o que parece ser uma conduta piedosa é somente tal se for um produto da sabedoria de Deus. Uma conformidade exterior a um preceito de Deus que esteja baseada num motivo mau, ou num falso entendimento, não é piedosa de forma alguma. A conformidade nesse caso é incidental e não intencional. Além do mais, uma vida piedosa não é caracterizada pelo altruísmo somente, mas também por perseverança, paciência, alegria e gratidão.
O primeiro ponto é provavelmente aceitável para a maioria e amplamente enfatizado, mas no segundo ponto devo desafiar um ensino comum. Essa é a idéia que se o conhecimento não levar às boas obras, então o conhecimento é inútil, e se a teologia de alguém não produzir santidade, então a teologia é defeituosa. Juntamente com isso vem a afirmação que o conhecimento está necessariamente amarrado à piedade, e que o único propósito da teologia é produzir uma vida piedosa. (Existem variações desse ensino, mas a idéia básica é a mesma.) Contudo, a Bíblia não ensina isso.
O que acabamos de mencionar é freqüentemente afirmado sobre a base de passagens como Colossenses 1:9-14, na qual Paulo de fato pede sabedoria espiritual para os seus leitores, para que eles “frutifiquem em toda boa obra”. Mas essa é uma inferência falsa e um uso inapropriado da passagem. Contrário ao ensino popular, essa relação não se sustenta da mesma forma quando é revertida – o fato da teologia intentar produzir piedade não torna a teologia inútil quando não existe piedade. Não há necessidade de explicação detalhada. A idéia está simplesmente ausente da passagem.
Nem mesmo 1 Coríntios 13 apóia o ensino. Ali Paulo diz: “Ainda que eu… saiba todos os mistérios e todo o conhecimento… se não tiver amor, nada serei”. Ele não diz que o conhecimento não é nada, ou que a capacidade de saber não é nada, mas que a pessoa que não tem amor não é nada. Teologia é uma revelação da mente de Deus, e como tal possui valor intrínseco, de forma que denegri-la beira a blasfêmia, se já não o for. Quando existe teologia sadia e nenhuma conduta correta, denigramos a pessoa – ela é inútil e desprezível – e não a teologia.
Terceiro, Paulo ora para que os cristãos sejam “cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (ACF). Diferente de muitos crentes, que exibem humildade fingida ou incredulidade genuína, o apóstolo ora para que seus leitores sejam cheios de conhecimento em toda a sabedoria. Ele pede o máximo para eles – a plenitude – em termos da natureza do conhecimento e a capacidade deles conter e compreendê-lo.
Sem dúvida, mesmo o nosso máximo tem um limite (1 Coríntios 13:12), mas o apóstolo coloca esse limite bem adiante, muito além daqueles que exaltam a doutrina da nossa “mente humana finita” acima da generosidade e promessa de Deus (Tiago 1:5), e seu poder na conversão. Essa plenitude de toda a sabedoria é extensa o suficiente que, se obtida, capacita-nos a “em tudo… agradá-lo, frutificando em toda boa obra” (Colossenses 1:9-10), servi-lo com “todo o poder” e “toda a perseverança” (v. 11). A oração de Paulo é por plenitude em conhecimento, santidade e poder. Visto que essa oração foi escrita sob inspiração divina, mesmo se não obtivermos tal plenitude, nunca devemos sugerir que isso seja impossível em princípio.
Esse ensino bíblico requer que revisemos algumas das formulações teológicas tradicionais que erroneamente exaltam as doutrinas da finitude e depravação humana acima das doutrinas da revelação e salvação. O motivo de não alcançarmos ou recebermos é um assunto, mas o que há para ser alcançado ou recebido é outro. Não devemos reduzir a graça de Deus e a obra de Cristo ao nível do nosso fracasso e incredulidade. Paulo diz que o dom de Deus é maior que o pecado do homem:
Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos! Não se pode comparar a dádiva de Deus com a conseqüência do pecado de um só homem: por um pecado veio o julgamento que trouxe condenação, mas a dádiva decorreu de muitas transgressões e trouxe justificação. Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça reinarão em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo. (Romanos 5:15-17)
Visto que a presente discussão concerne à plenitude do conhecimento espiritual, é apropriado considerar a doutrina da incompreensibilidade de Deus em relação ao que foi dito acima. Alguns cursos em dogmática começam sua apresentação dos atributos divinos com a incompreensibilidade de Deus, e de uma maneira que estabelece um tom pessimista para o empreendimento teológico inteiro. Isso é contrário ao padrão bíblico.
Considere o exemplo de Romanos 11:33-35, uma passagem freqüentemente citada em relação à incompreensibilidade de Deus: “Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! ‘Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?’ ‘Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense?’.” É abusar da passagem torná-la um ponto de referência absoluto, como se permanecesse sozinha na Escritura, ou fazer dela o ponto de partida da nossa teologia. O motivo é que, quando consideramos a passagem no contexto, observamos que ela aparece na conclusão de uma longa e extensiva seção doutrinária na qual Paulo expõe todo o escopo da teologia cristã, incluindo a criação divina, a depravação humana, o julgamento presente e futuro, a representação federal de Adão no pecado, a expiação vicária de Cristo na redenção, a justificação pela fé (e não pelas obras), a santificação pelo Espírito, a predestinação e muito mais. Por volta de Romanos 11:33, Paulo tinha resolvido toda questão que ele tinha levantado, incluindo aqueles tópicos que muitos teólogos insistem chamar de mistérios e paradoxos, mesmo em desafio contra a Escritura, tais como o propósito e justiça de Deus na eleição (Romanos 9), e seus decretos soberanos (Romanos 10-11).
Charles Hodge pensa que a passagem afirma “o caráter incompreensível e a excelência infinita da natureza e dispensações divinas”, e que “podemos apenas nos maravilhar e adorar. Nunca podemos entender”.[2] Contudo, isso não é de forma alguma o que a passagem sugere. Quer estejamos considerando o contexto imediato de Romanos 11 e Romanos 9-11, ou todo o material anterior de Romanos 1-11, o que exatamente não entendemos? O que Paulo não explicou? Ele abordou e resolveu todas as questões que levantou com pleno conhecimento e confiança.
Se entendemos ou não Paulo é outro assunto – eu disse que podemos, mas agora esse não é o nosso tópico. E se não entendemos Paulo, ainda não podemos atribuir isso à incompreensibilidade de Deus, visto que Paulo não parece ter problema em entender as coisas que escreve, de forma que não é impossível em princípio entender tudo o que ele expõe na carta. Agora, se Hodge quer dizer que Deus não pode ser “plenamente compreendido”,[3] então poderíamos concordar (todavia, com as qualificações que discutiremos mais tarde), mas certamente é errado dizer que “podemos apenas nos maravilhar e adorar. Nunca podemos entender”. Isso não é o que acontece em Romanos. Em Romanos, nos maravilhamos e adoramos porque entendemos Romanos 1 a 11 – tudo ali.
Consideremos Romanos 11:33-35 em seu contexto imediato. Ele escreve no versículo 25: “Porque quero que entendam este mistério” (ESV). Nosso propósito não requer que consideremos o mistério em si, mas somente que Paulo desejava que seus leitores entendessem o que ele chama de mistério. Como nas outras ocasiões em que usou a palavra, mistério não se refere a algo que é intelectualmente inatingível no sentido técnico, da forma como um cálculo poderia ser para uma criança. Antes, mistério é algo que podemos entender, mas, pelo menos por um período de tempo, não nos foi contado ou explicado.
Eu poderia pensar num número entre 1 e 100.000, e enquanto eu recusar revelá-lo, ele permaneceria um “mistério” para você. Mas você não teria dificuldade em entender caso eu lhe dissesse o número. Mistério na Escritura não indica algo que não possamos entender por causa da nossa compreensão limitada, mas a algo que não podemos descobrir, a menos que nos seja transmitido e explicado por revelação. Então, podemos entendê-lo, em muitos casos, sem qualquer dificuldade. Assim, Romanos 11:33-35 poderia estar expressando um senso de apreciação e maravilha pelo que Paulo tinha acabado de explicar e que acabamos de entender (seja em Romanos 11, 9-11, ou tudo de 1-11). Mas ele não deixa nenhuma questão sem resposta para 11:33-35 expressar uma incapacidade de descobrir ou entender algo.
Em particular, considere 11:34, que procede de Isaías 40:13. Paulo também cita o versículo em 1 Coríntios 2:16. Mas logo após o mesmo, ele adiciona: “Nós, porém, temos a mente de Cristo”. E no versículo 12 escreve: “Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente”. Seu ponto é que não podemos conhecer a Deus e os seus caminho à parte de sua Palavra e Espírito (1:21), mas porque ele nos deu sua Palavra e Espírito, entendemos – muito bem, de fato (2:6-10, 13-16), pois “Deus o revelou a nós por meio do Espírito” (2:10).
É mais que provável que Paulo está fazendo um ponto similar com Isaías 40:13 e Romanos 11, isto é, não dizer que não podemos entender, mas dizer que podemos e entendemos, e ao mesmo tempo expressar maravilha diante do que já entendemos. E como em Coríntios 1-2, seu uso também transmite a suposição que não podemos entender a Deus e os seus caminhos sem ou além do que ele relevou – MAS, ele de fato revelou e explicou para nós tudo o que Paulo escreveu, e isso inclui a maioria, se não todos os tópicos que os teólogos freqüentemente chamam de misterioso, paradoxal e incompreensível. Paulo usa Isaías 40:13 para enfatizar a abundância de informação revelada aos crentes e o potencial deles para entendê-la, toda ela.
Paulo não começa sua carta aos Romanos com a incompreensibilidade de Deus, mas chamando a atenção para o quanto já sabemos agora sobre Deus – mesmo os incrédulos tentam suprimir este conhecimento – ao invés de quão pouco podemos saber sobre ele. Na verdade, para muitas pessoas, sua visão do nosso conhecimento é muito otimista para confrontar. Ele declara que até mesmo os incrédulos não podem fugir do conhecimento sobre este Deus, incluindo seu poder e sabedoria na criação (Romanos 1). Mesmo alguns dos princípios morais são inatos no homem (Romanos 2). Por toda parte vemos os incrédulos serem chamados corretamente de ignorantes sobre Deus, visto que suprimem o que sabem sobre ele, e não o conhecem no sentido de ter um relacionamento positivo com ele. Nesse instante o ponto é que Paulo não começa sua carta – ou, nessa questão, quaisquer de suas apresentações – com a incompreensibilidade de Deus. Mas descobrimos que ele freqüentemente começa com a cognoscibilidade de Deus, especialmente quando diz respeito aos cristãos – eles podem e de fato conhecem a Deus, e podem e possuem conhecimento extensivo e correto sobre ele.
Ele escreve em 1 Coríntios 1:21: “Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação”. Deus não pode ser descoberto ou entendido por meio do esforço humano somente, à parte da revelação. Deus se revela por meio do evangelho, que salva aqueles que crêem. Os incrédulos de fato possuem um conhecimento inato de Deus, um conhecimento que Deus colocou neles. Eles não o obtém por sua sabedoria humana. E eles são na verdade tão estúpidos que muitos deles negam esse conhecimento, mesmo quando as suposições no discurso e conduta deles denunciam o contrário. Esse conhecimento universal é suficiente para condená-los, mas insuficiente para iluminá-los para a verdade e produzir fé para com Cristo.
Nosso foco principal, contudo, é sobre como a incompreensibilidade de Deus se aplica aos cristãos. E descobrimos que mesmo antes de 1:21, no início da carta, Paulo diz: “Pois nele vocês foram enriquecidos em tudo, isto é, em toda palavra e em todo conhecimento, porque o testemunho de Cristo foi confirmado entre vocês” (1 Corinthians 1:5-6). Então, no final do segundo capítulo, após citar Isaías 40:13, um versículo freqüentemente usado para afirmar a incompreensibilidade de Deus, ele adiciona: “Nós, porém, temos a mente de Cristo” (2:16). Tudo isso – que embora os incrédulos saibam sobre ele, negam-no, mas que os crentes o conhecem através de sua auto-revelação – é consistente com o que dissemos sobre Romanos 1-2 e 11.
Tomamos outro exemplo do discurso de Paulo aos gregos na Colina de Marte, como registrado em Atos 17. Ali ele começa com uma afirmação confiante de seu próprio conhecimento sobre Deus em contraste com a ignorância dos não-cristãos (v. 23). O restante do seu discurso traz uma semelhança notável com muitas das nossas dogmáticas em esboço e conteúdo.[4] Podemos multiplicar os exemplos. A carta aos Hebreus começa chamando atenção para a revelação verbal de Deus entregue através dos profetas, e agora por meio do Filho (Hebreus 1:1-2). Assim, ela começa com a nossa extensa e crescentemente clara base de dados de conhecimento espiritual, não com ignorância ou incompreensibilidade divina. E João começa sua primeira carta afirmando contato físico com Cristo, a quem, à parte de sensação (Mateus 16:17; João 6:45; 1 Coríntios 2:9-10), ele reconheceu como a Palavra da Vida (1 João 1:1-3). Assim, ele começa com uma afirmação de conhecimento e entendimento direto, não com a ocultação ou incompreensibilidade de Deus.
Em sua Teologia Sistemática, Louis Berkhof precede sua discussão dos atributos de Deus com um capítulo sobre a “Cognoscibilidade de Deus”. Mas ele começa esse capítulo da seguinte forma: “A igreja cristã confessa, por um lado, que Deus é o Incompreensível, mas também, por outro lado, que ele pode ser conhecido e que conhecê-lo é um requisito absoluto para a salvação”.[5] A declaração é aceitável até onde ela vai, embora a ênfase aqui reverta o padrão que a Escritura exibe quando se dirige aos crentes, que constituem a audiência primária de Berkhof.
Ele continua: “Ela reconhece a força da questão levantada por Zofar: ‘Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso?’ (Jó 11.7).” Mas isso é um uso incorreto do versículo. Quem disse que estamos tentando conhecer a Deus “desvendando”? Já conhecemos 1 Coríntios 1:21: “Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação”. Ficamos desesperados ao tentar conhecer a verdade espiritual através dos nossos esforços pecaminosos, mas “Deus o revelou a nós por meio do Espírito” (2:10), tornando Jó 11:7 praticamente irrelevante nesse contexto. Nem mesmo tentamos fazer o que o versículo nos diz que não podemos fazer.
Então, em sua Reformed Dogmatics (Dogmática Reformada), Herman Bavinck começa sua apresentação da teologia propriamente dita como segue:
Mistério é a força vital da dogmática. Sem dúvida, o termo “mistério”na Escritura não significa uma verdade abstrata sobrenatural no sentido católico romano. Todavia, a Escritura está igualmente longe da idéia que os crentes podem compreender os mistérios revelados num sentido científico. Na verdade, o conhecimento que Deus revelou de si mesmo na natureza e na Escritura está muito além da imaginação e entendimento humano. Nesse sentido, é com todo o mistério que a ciência da dogmática se preocupa, pois ela não lida com criaturas finitas, mas do princípio ao fim deixa todas as criaturas para trás e se foca no Eterno e Infinito. Desde o começo dos seus labores, ela encara o Incompreensível.[6]
Isso provavelmente soa como sóbrio e piedoso para muitas pessoas, mas afirma o oposto do padrão e ênfase bíblica. Pelo menos ele levanta o ponto relevante do entendimento da revelação pelos crentes, e não tenta conhecer a Deus por seu próprio esforço. Mas para o nosso desapontamento, ele diz que o cristão mal pode entender o que está revelado. Pelo contrário, Jesus diz, “eu… lhes falarei abertamente a respeito do meu Pai” (João 16:25) e Paulo diz, “nós… temos a mente de Cristo” (1 Coríntios 2:16). Há suporte zero na Escritura para a idéia que não podemos, mesmo em princípio, entender algo que Deus nos revelou.
De fato, refrasear o parágrafo de Bavinck na direção oposta apresenta um sumário acurado da visão bíblica:
Entendimento é a força vital da dogmática. A Escritura está longe da idéia que os crentes não podem compreender a plenitude da revelação. Na verdade, o conhecimento que Deus revelou de si mesmo na Escritura é apropriado para o intelecto redimido. Nesse sentido, é com todo o entendimento que a ciência da dogmática se preocupa, pois ela não lida com a investigação de criaturas finitas e pecaminosas, mas do princípio ao fim deixa todas as criaturas para trás e se foca no Eterno e Infinito, que revelou a si mesmo. Desde o começo dos seus labores, ela encara Aquele que conhece a mente humana, e que iluminou os que crêem, e que se revelou claramente a eles numa forma que podem entender.
Começar o empreendimento teológico com ignorância e pessimismo, ao invés de afirmação confiante do conhecimento, embora já tenhamos recebido a Palavra e o Espírito de Deus, é colocara nós mesmos na posição de não-cristãos. Isso não é humildade, mas uma negação arrogante e rebelde da graça de Deus e a obra que ele tem realizado em nós.
O padrão bíblico é começar pela cognoscibilidade de Deus – não somente que ele é cognoscível, mas que como cristãos o conhecemos – e se deve ser mencionada de alguma forma, concluir com a incompreensibilidade de Deus após todas as questões terem sido respondidas e resolvidas. A única razão aceitável para introduzir essa doutrina no princípio é incluir o tópico sob a cognoscibilidade de Deus, e então usar a doutrina para enfatizar o fato que Deus se fez cognoscível e conhecido, especialmente àqueles que crêem (1 Coríntios 1-2).[7]
A doutrina bíblica é que não podemos conhecer a Deus por nossos esforços e métodos, mas conhecemos somente o que ele nos revela – isto é, o que ele nos diz. Não podemos conhecer e não deveríamos especular além do que ele revelou. Deus revelou uma abundância de informação para nós, muito mais do que muitos teólogos estão dispostos a reconhecer. Essa quantidade de informação é suficiente para constituir uma cosmovisão completa que responda todas as questões necessárias, e de uma forma que seja explícita e consistente, sem contradições aparentes ou reais.
Os teólogos freqüentemente apresentam uma visão diferente concernente à extensão real dessa revelação e a natureza do nosso entendimento dela. Meu julgamento é que as propostas comuns são falsas, e geralmente blasfemas, pelo menos por implicação.
Primeiro, há a afirmação prematura, veementemente defendida, que Deus não revelou nada além do que temos entendido. Assim, algumas questões são ditas estarem além da revelação que temos, quando a verdade é que as questões estão além do nosso entendimento ou as respostas estão além da nossa disposição em aceitar. Toda essa conversa sobre “mente humana finita” equivale a mensurar a revelação divina por nossa finitude humana. É o próprio oposto da humildade.
Segundo, há a insistência violenta que a revelação como a temos contém inúmeros paradoxos e contradições, e que somente revelação adicional, que não receberemos nessa vida presente, fornecerá material necessário para o entendimento e reconciliação. Essa negação da clareza da revelação e o efeito da redenção é tão essencial para o pensamento teológico e a postura eclesiástica de alguns teólogos, que eles até mesmo tentam remover ministros que insistem que a revelação de Deus é inteligível e auto-consistente.
J. H. Thornwell conclui sua palestra sobre “"The Nature and Limits of Our Knowledge of God” (A Natureza e Limites do Nosso Conhecimento de Deus) da seguinte forma:
Nossa ignorância do Infinito é a verdadeira solução dos problemas mais perplexantes que encontramos a cada passo no estudo da verdade divina. Temos ganhado um grande ponto quando descobrimos que eles são realmente insolúveis – que contém um elemento que não podemos entender, e sem o qual o todo deve permanecer um mistério inexplicável. As doutrinas da Trindade, da encarnação, da presciência de Deus e da liberdade do homem, a permissão da queda, a propagação do pecado original, as operações da graça eficaz, todos esses são fatos claramente ensinados; como fatos podem ser prontamente aceitos, mas desafiam todos os esforços de reduzi-los à ciência.[8]
Ele parece dizer que se não podemos “reduzi-los à ciência”, então eles são “inexplicáveis”. Ele está realmente afirmando essa relação? Algo é “ciência” ou então é inexplicável? Por que? E o que ele quer dizer por “ciência”? Por que deveríamos reduzir algo à “ciência”? Não gastaremos tempo com essas perguntas. Nesse ponto, precisamos observar apenas que ele chama aquelas doutrinas mencionadas de “inexplicáveis”, e que carregam problemas que são “insolúveis”.
Primeiro, os “problemas” com todas essas doutrinas têm sido conclusivamente resolvidos, freqüentemente apenas apontando que não existem problemas em primeiro lugar – eles foram inventados pela tradição e filosofia humana.[9] Se Thornwell não conhece ou recusa aceitar essas soluções, isso é falha dele. Mas quando ele propõe que a “ignorância” é a “solução” para todos esses problemas, então devemos protestar que tudo da Escritura é contra ele, tanto em seu padrão como conteúdo. A Escritura não usa a ignorância como uma escusa para os crentes ou como uma defesa contra os incrédulos. Ela não admite nenhuma incoerência interna, e não apela à infinitude de Deus ou à finitude do homem para “resolver” o problema. Quando seguimos Thornwell, que representa apenas um dos muitos como ele, introduzimos confusão e falsa humildade nos cristãos, e ao invés de exaltar a verdade do evangelho diante dos incrédulos, confirmamos eles em sua descrença e irreverência.
De fato, começar nossa consideração da doutrina de Deus com sua incompreensibilidade, e introduzir pessimismo para os crentes, é modelar a disposição pagã de suprimir o conhecimento de Deus, talvez a partir de um motivo similar, isto é, abrir lugar para a incredulidade, discórdia e desobediência contra ele. A diferença é o ponto de partida para a negação – os incrédulos negam a Deus num ponto anterior – mas o princípio é idêntico. E de fato descobrimos que a incompreensibilidade de Deus é freqüentemente usada como uma escusa para rejeitar as respostas de Deus a inúmeras questões doutrinárias.
Insistir que não podemos entender algo quando Deus repetidamente a explica e responde todas as questões sobre ela – por exemplo, quando diz respeito ao “problema” do mal – é apenas uma forma polida de dizer que rejeitamos a revelação de Deus sobre o assunto. É uma tentativa de pensar como o diabo, mas falar como um santo. E é dessa forma que ensinos sobre a incompreensibilidade de Deus e a finitude da mente humana são, na maioria dos casos, usados para demonstrar falsa humildade e disfarçar rebelião grosseira contra a revelação explícita e completa de Deus.
Suponha que exista uma criança cujos pais entendam como ela processa a informação e forneçam a ela explicações e instruções detalhadas, mas ela tapa seus ouvidos e grita: “Não! Não! Não! Eu não entendo! Vocês são por demais sábios e maduros, muito além de mim, mas eu sou apenas uma criança. Não posso entender o que vocês estão dizendo”. Não há humildade aqui; antes, ela zomba de seus pais e despreza a autoridade deles. El é uma criança irritante e desobediente que precisa de correção e disciplina.
Agora, é Deus infinitamente maior que os pais humanos, de forma que ele está de fato muito além do nosso entendimento? Sim, mas ele é também infinitamente mais versado sobre a mente humana, infinitamente mais capaz de explicar a si mesmo, com um acesso infinitamente maior às nossas almas pelo seu Espírito. Se falamos com fé e honestidade, teremos que dizer que podemos conhecer a Deus e sua vontade muito mais do que podemos conhecer nossos pais humanos. Isso pode não ser muito ainda, comparado a tudo o que existe para ser conhecido sobre um ser infinito. Nunca poderemos saber tudo sobre ele, mas conhecemos nossos pais bem menos.
Paulo escreve: “Pois, quem conhece os pensamentos do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente” (1 Coríntios 2:11-12). Em nós mesmos, não temos acesso à mente do homem nem à mente de Deus, mas Deus nos revelou a sua mente (não a mente de outros homens) pelo seu Espírito. A Escritura é consistentemente otimista sobre a capacidade dos cristãos conhecer a Deus. A doutrina tradicional da incompreensibilidade de Deus que ensina o posto é absolutamente condenável.
Os críticos podem dizer agora: “Ah, agora ele alega ter todas as respostas”. Baseado no padrão das objeções anteriores, deveríamos antecipar isso como uma possível reação. Mas essa resposta mostra uma vez mais quão obcecados eles estão com personalidade e consigo mesmo. Quanto um cristão em particular sabe é irrelevante para uma formulação apropriada da doutrina. Nossa preocupação principal tem sido a posição bíblica, ou o princípio do assunto. Também, durante toda a nossa discussão deixamos claro que esse otimismo bíblico é aplicado a todos os cristãos, embora seja retido daqueles que permanecem em incredulidade. Por outro lado, os nossos críticos e os teólogos que eles seguem desejam impor suas próprias limitações sobre todos os crentes, e mesmo sobre o conteúdo da Palavra de Deus e o poder do Espírito de Deus.
Ao revisar a doutrina tradicional da incompreensibilidade de Deus, devemos reconsiderar também a terminologia que é usada e a cetegoria que é assumida. Concorda-se que Deus é infinito e, portanto, há quantidade infinita de informação que poderia ser conhecida sobre ele. E visto que somos finitos, isso significa que nunca podemos saber tudo sobre Deus. Nesse sentido, Deus é incompreensível. Não é que não possamos entender algo sobre ele de forma alguma, mas que ele pode ser conhecido somente até o ponto que revelou a si mesmo.
Os teólogos caem em erro, e eu diria heresia e blasfêmia, quando dizem que não podemos conhecer nem mesmo a revelação escrita de Deus. Mas eles são freqüentemente ambíguos e inconsistentes nesse ponto. Em todo o caso, a questão importante agora é observar que “incompreensível” freqüentemente significa que não podemos entender nada sobre Deus, e não apenas algo sobre Deus. E a dourtina é geralmente introduzida como uma característica intrínseca da natureza de Deus, ou um atributo de Deus.
Com respeito à terminologia, a palavra “incompreensível” poderia ser enganosa, visto que pode, e geralmente é usada em dois sentidos diferentes. A primeira definição no Merriam-Webster's Dictionary, designada como arcaica, é “não ter ou não estar sujeito a limites”. Essa definição é apropriada para a doutrina, visto que de fato admitimos que não podemos conhecer a totalidade de Deus, pois ele é infinito. Contudo, a segunda definição, não arcaica, é “impossível de se compreender: ininteligível”. Essa não é a idéia que desejamos transmitir pela doutrina. Sem dúvida existem teólogos que algumas vezes afirmam que Deus é incompreensível nesse sentido, mas já dissemos o suficiente sobre eles até aqui – a Escritura expõe a falsa humildade deles. Deus e sua revelação não são ininteligíveis. Visto que a primeira definição é arcaica, talvez o Webster's New World Dictionary esteja correto em reverter a ordem, de forma que sua primeira definição da palavra é “não compreensível; que não pode ser entendido; obscuro ou ininteligível”. Novamente, não devemos dizer que Deus e sua revelação são incompreensíveis nesse sentido.
O ponto é que o significado primário para “incompreensível” é agora “ininteligível”. E esse é o primeiro significado que vem à mente quando muitos crentes e incrédulos tomam conhecimento da doutrina. Se isso é o que queremos dizer, então estamos errados. Mas se não é isso, então estamos enganando nossa audiência e comprometendo a fé. Os crentes que lutam contra os assultos de fora, bem como suas próprias dúvidas, pensarão que não temos respostas para eles. E os incrédulos que já pensam que o Cristianismo é irracional e que os cristãos são tolos receberão confirmação de sua suspeita – seus próprios teólogos chamam Deus e sua revelação de “ininteligível”, que não está muito longe de dizer “completo absurdo”.
Nossa única opção é repudiar os teólogos e crentes que falam dessa forma (eles não representam a fé cristã), e declarar novamente a nossa doutrina de acordo com a Escritura – que Deus revelou a si mesmo de uma maneira clara e coerente, e de uma forma apropriada para o intelecto humano, que entendemos muito sobre Deus e sua revelação, e que somos capazes de responder todas as questões e desafios contra a fé, e que enquanto os não-cristãos permanecem em cegueira e ignorância, nós lhes proclamamos a plenitude da vontade de Deus a partir de uma posição de conhecimento e autoridade (Atos 17:23).
Para corrigir esse problema de termilogia enganosa, podemos incluir essa doutrina sob o tópico “cognoscibilidade” de Deus (e enquanto estivermos no assunto, talvez “compreensibilidade” seja uma palavra melhor), ou inclui-la sob o tópico “infinidade” de Deus. Ele é infinito, mas inteligível e compreensível. Ele tem falado abundante e claramente à humanidade. E é a partir desse fundamento de revelação, conhecimento e entendimento que proclamamos: “Agora [Deus] ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (Atos 17:30).
Com respeito à categoria, deveríamos observar que a incompreensibilidade de Deus é de fato um atributo do homem. Se um gato não pode me entender completamente, isso não significa que a incompreensiblidade seja inerente em mim, ou que seja um dos meus atributos. Se eu pudesse ser plenamente entendido, mesmo que apenas em princípio ou somente por Deus, então a incompreensibilidade não seria um dos meus atributos.
Deus é incompreensível às suas criaturas, mas visto que ele é onisciente, ele não é incompreensível para si mesmo. Visto que ele entende plenamente a si mesmo, a incompreensibilidade não pode ser uma das suas qualidades intrínsecas. Ele não é incompreensível; nós o achamos incompreensível. E o atributo divino que o torna incompreensível a nós é a sua infinidade, não um atributo intrínseco de incompreensibilidade.
Se nao houvessem criaturas, Deus ainda seria triúno, espiritual, eterno, auto-existente, imutável, onipotente, onisciente, onipresente, e assim por diante. Mas não haveria ninguém para achá-lo incompreensível. Ele ainda seria infinito, e o seu entendimento infinito compreenderia completamente o seu proprio ser infinito.
[1] Nota do tradutor: O autor usa o termo “name-dropping”, que é a prática de freqüentemente mencionar nomes de pessoas famosas ou intelectuais como se essas lhes fossem íntimas, para impressionar os outros.
[2] Charles Hodge, A Commentary on Romans (The Banner of Truth Trust, 1997), p. 378.
[3] Ibid.
[4] Veja Vincent Cheung, Confrontações Pressuposicionalistas.
[5] Louis Berkhof, Systematic Theology (The Banner of Truth Trust, 2003), p. 29.
[6] Herman Bavinck, Reformed Dogmatics, Volume Two: God and Creation (Baker Academic, 2004), p. 29.
[7] Isso é o que eu fiz em minha Teologia Sistemática.
[8] James Henley Thornwell, The Collected Writings of James Henley Thornwell (Solid Ground Christian
Books, 2004), p. 141-142.
[9] Veja Vincent Cheung, Teologia Sistemática, Questões Últimas, Confrontações Pressuposicionalistas, Apologética na Conversação, Commentary on Ephesians, O Autor do Pecado e Cativo à Razão.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto. |
sábado, 26 de maio de 2012
A Incompreensibilidade de Deus
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