sábado, 5 de dezembro de 2009

5. Soli Deo Gloria - "A Deus somente, a glória", ou a exclusividade do serviço e da adoração a Deus.

Coroando estes temas que a Reforma nos legou está o da "glória somente a Deus". Dar glória somente a Deus significa que ninguém, nem homens nem anjos, deve ocupar o lugar que pertence a Ele, no mundo e em nossa vida, porque somente Ele é o Senhor. É o que exige o 1º mandamento: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim" (Ex 20:1-2). A história do homem é uma história de quebra desse mandamento. Depois do pecado, o homem tem constituído deuses para si em lugar do Deus verdadeiro.

Geralmente, esse deus é ele próprio. Quando decide o que deve ou não crer, o que pode ou não ser verdadeiro, está dizendo que ele é o seu próprio deus. Sua razão (distorcida pelo pecado) é o seu critério de verdade. Quando a Igreja se coloca na posição de julgar o que deve ou não aceitar da Bíblia, e se arvora em sua intérprete infalível, está assumindo para si o lugar de Deus. Quando ela prega a devoção a Maria e aos santos (ainda que diga que venera mas não adora), está usurpando a Deus da prerrogativa de sua glória exclusiva ("Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura"; Isa 42:8). A doutrina católica, com sua ênfase nos méritos e obras humanos, rouba a Deus de sua glória exclusiva.

A glória de Deus é o fim para o qual Ele criou todas as coisas. Não é só o fim principal do homem (conforme o nosso Breve Catecismo), mas o fim de todas as coisas. É o fim do próprio Deus, como crê John Piper, porque Ele é o bem supremo (cf. Desiring God, Leicester: Inter-varsity Press, 1990, p. 13). Todas as coisas, e isso inclui a salvação, visam a glória de Deus, não o bem estar dos homens (Ef 1:6,12,14). Por isso Deus é glorificado também nos que se perdem. É o que chamamos de "teocentrismo".


Michael Horton afirma que Lutero lutou para distinguir sua obra de 'reformas' anteriores. Semelhantes a muitos dos movimentos frenéticos de reforma, renovação e avivamento dos nossos dias, as outras reformas se preocupavam com moralidade, vida da igreja e mudanças estruturais, mas Lutero disse: 'Nós visamos a doutrina'. Não que fossem sem importância essas outras áreas, mas seriam secundárias. Contudo, com sua 'Revolução Copernicana', nasceu um movimento teocêntrico que teve enormes efeitos sobre a cultura mais ampla. A orientação da vida e do pensamento centrados em Deus começou no culto, em que o enfoque era na ação de Deus em sua Palavra e sacramento, em vez de estar em deslumbrar e entreter as pessoas com pompa e aparato.


Quando os crentes estavam centrados em volta de Deus e sua obra salvífica em Cristo, seus cultos ajustavam sua visão a outro grau: deixavam de servir como pessoas mundanas para verem-se como pecadores redimidos, cuja vida só poderia ter um propósito: glorificar a Deus e gozá-lo para sempre" (Reforma Hoje, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p.124).

E foi devido a esse conceito de que vivemos para Deus e de que para ele devemos fazer o melhor que a Reforma contribuiu para uma grande revolução não só no campo religioso, mas no mundo das artes, da ciência e da cultura em geral. Soli Deo Gloria passou a ser o lema não só de reformadores, mas de músicos (como Bach), pintores (como Rembrandt) e escritores (como Milton), que apunham às suas obras esta expressiva dedicatória ( Ibidem)

Esta visão teocêntrica a Reforma encontrou na Bíblia. Depois de tratar das doutrinas da salvação, Paulo declara: "Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!" (Rm 11:36) e, ao concluir sua epístola aos Romanos, louva ao Senhor com estas palavras: "ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém! (16:27). A glória de Deus também foi o tema do cântico dos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, e de todas as criaturas que João ouviu em suas visões, os quais diziam: "Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor" (Ap 5:12) e '"Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos" (Ap 5:13) e ainda "Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação...O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!" Ap 7:10-12.

Quero concluir citando a esse respeito as palavras de James M. Boice, ex-pastor da 10ª Igreja Presbiteriana da Filadélfia, recentemente falecido. Ele diz: Meu argumento é que o motivo pelo qual a igreja evangélica atual está tão fraca e o porquê de não experimentarmos renovação, embora falemos sobre nossa necessidade de renovação, é que a glória de Deus foi, em grande, parte esquecida pela igreja. Não é muito provável vermos avivamento de novo enquanto não recuperarmos as verdades que exaltam e glorificam a Deus na salvação. Como podemos esperar que Deus se mova entre nós, enquanto não pudermos dizer de novo, com verdade: "Só a Deus seja a glória"? O mundo não pode dizer isso. Ao contrário, está preocupado com sua própria glória. Como Nabucodonozor, ele diz: Veja essa grande Babilônia que construí pelo meu poder e para minha glória" . Os arminianos não podem dizê-lo. Podem dizer "a Deus seja a glória", mas não podem dizer "só a Deus seja a glória", porque a teologia arminiana tira um pouco da glória de Deus na salvação e a dá para o indivíduo, que tem a palavra final em dizer se vai ou não ser salvo.


Mesmo aquelas pessoas do campo reformado não podem dizê-lo, se o principal que estão tentando fazer nos seus ministérios é edificar seus próprios reinos e tornar-se importantes no cenário religioso. Nunca vamos experimentar a renovação na doutrina, no culto e na vida enquanto não pudermos dizer honestamente: "só a Deus seja a glória" (Reforma Hoje, pp. 192-193).

A Reforma nos legou esses grandes temas, que são doutrinas preciosas da Bíblia. Cabe a nós hoje, seus legatários, dizer se somos ou não dignos herdeiros dessa herança e continuadores dessa obra. O que cremos e o que pregamos representa nossa resposta. [6]

Nota:

[1] http://www.geocities.com/Augusta/3540/doutrina.htm

[2] http://www.geocities.com/Athens/Delphi/3665/milesp2.html

[3] http://www.geocities.com/Augusta/3540/doutrina.htm

[4] http://www.msantunes.com.br/juizo/odesvirt.htm.

[5] http://www.infohouse.com.br/usuarios/zhilton/Luteranismo.html

[6]'é Reformada - Biblioteca Reformada http://www.geocities.com/arpav/biblioteca/

Autor: Rev.João Alves dos Santos

Fonte: http://www.scribd.com/doc/44466/As-Doutrinas-da-Reforma

Rev.João Alves dos Santos É Professor Assistente de Teologia Exegética (NT) do CPAJ.

É graduado em teologia pelo Seminário Presbiteriano Conservador (B.Th., 1963); mestre em Divindade e em Teologia do AT pelo Faith Theological Seminary (M.Div., 1973, e Th.M., 1974) e mestre em Teologia do NT pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (Th.M., 1985). É também graduado em Direito pela Faculdade de Direito de Bauru, SP (1969) e em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Prof. José A. Vieira, em Machado, MG (1981). Foi professor de Grego e Exegese do NT no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (1980-2004) e professor de Teologia Sistemática no Seminário Presbiteriano Conservador (1974 -2004). Foi também professor de Grego e Exegese do NT no Seminário Presbiteriano do Sul (1980 a 1986) e o primeiro coordenador do CPAJ (1991). É ministro da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil e membro do corpo editorial da revista Fides Reformata.


Soli Deo Gloria !

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça comentários produtivos no amor de Cristo com a finalidade de trazer o debate para achar a verdade. Evite palavras de baixo calão, fora do assunto ou meras propagandas de outros blogs ou sites.