quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A PORNO-CORINTO

Situada no istmo de mesmo nome, no sul da Grécia, Corinto era, no início do primeiro século, a cidade mais antiga, mais importante, mais rica, mais comercialmente próspera, mais populosa (250 mil habitantes) e mais obcecada por sexo da Europa Oriental. Ali se realizavam os Jogos Ístmicos, quase tão importantes quanto os Jogos Olímpicos, que eram mais antigos e surgiram em Olímpia, mais a oeste. Por ser uma cidade portuária (um porto no mar Egeu e outro no mar Mediterrâneo) e o elo entre Roma e o Oriente, Corinto abrigava uma grande mistura de raças, línguas e culturas (gregos, latinos, sírios, asiáticos, egípcios e judeus), de classes sociais (escravos e libertos, burgueses e pobres) e de profissões (investidores, mercadores, ambulantes, marinheiros, filósofos, ex-soldados, atletas e “promotores de todas as formas de vícios”).
Considerada a capital da licenciosidade, Corinto era notável por sua independência moral. À semelhança dos hebreus na época dos juízes, cada um fazia o que bem desejava (Jz 21.25). Não havia a quem prestar contas nem leis para obedecer, senão a lei dos desejos. Os impulsos sexuais eram um fenômeno biológico como a fome e, portanto, deveriam ser satisfeitos.
Em Corinto havia muitos templos. No templo dedicado a Afrodite, a deusa do amor (a mesma Vênus dos romanos), havia mil prostitutos e prostitutas, que ofereciam seus serviços ao pôr-do-sol. No templo dedicado a Apolo, o deus que representava o ideal de beleza masculina, havia “estátuas de Apolo nu, em diversas posturas, que exibiam sua virilidade, inflamavam seus adoradores masculinos a prestarem devoção por meio de demonstrações físicas com os belos rapazes a serviço da divindade” (David Prior, “A Mensagem de 1 Coríntios”). O problema das tais “imoralidades sexuais” (1Co 7.2) entre os coríntios era tal que um dos verbos gregos que significava “fornicar” era “corintizar”, ou seja, viver uma vida coríntia.
Esse descaso com a moral sexual vinha de longe. Demóstenes, o famoso orador grego (384-322 a.C.), escreveu: “Temos amantes para nos regozijarmos com elas, depois escravas compradas para cuidar de nossos corpos e, finalmente, esposas, que devem conceder-nos filhos legítimos e estão encarregadas de supervisionar todos os nossos misteres domiciliares”. Trezentos anos antes, na mesma época dos profetas Daniel e Habacuque (600 a.C.), Safo, a não menos famosa poetisa grega, teria levado várias jovens sob sua influência à prática do lesbianismo. Por essa razão, e por viver em Metilene, capital da ilha grega de Lesbos, próxima ao litoral da Turquia, chama-se lésbica (lésbia ou lesbiana) a mulher homossexual. “Tanto no mundo grego como no mundo romano, a parceria homossexual entre um homem mais velho e um jovem era considerada parte da educação do rapaz”, lembra Amy Orr-Ewing no livro Por Que Confiar na Bíblia?.
Foi em sua segunda grande viagem missionária que Paulo começou a evangelizar a cidade de Corinto (51 d.C.). Muitos convertidos renunciaram sua vida pregressa e tornaram-se novas criaturas em Cristo (2Co 5.17). Entre eles havia imorais, adúlteros e homossexuais passivos e ativos, como vemos na Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios (6.9-11), escrita no ano 55. Para se referir aos homossexuais ativos, o apóstolo usa a palavra grega “arsenokoitai”, aquele que toma a iniciativa, traduzida também por sodomita (por causa do que aconteceu em Sodoma, Gn 19). Para se referir aos homossexuais passivos, usa a palavra grega “malakoi”, aquele que se permite usar, traduzida também por efeminado. Para Calvino (1509-1564), os “malakoi” são “aqueles que, enquanto não podem tornar-se prostitutos publicamente, revelam quão impudicos são no emprego da linguagem ignóbil, no maneirismo e vestuário femininos, bem como em outros meios de atrair a atenção”.
Esse trecho da Carta de Paulo aos Coríntios é a melhor passagem das Escrituras para mostrar a possibilidade de mudança de comportamento mediante uma experiência autêntica de conversão, não importando o estilo de vida anterior.
Corinto foi três vezes destruída: em 146 antes de Cristo pelos exércitos romanos, em 501 por um terremoto, e em 1858 por outro terremoto, bem mais devastador que o primeiro. Hoje, Corinto não passa de uma aldeia.

Nota
Artigo publicado na revista Ultimato 325 (julho-agosto/2010)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

C. H. Spurgeon Plantador de Igrejas










Muitas pessoas não estão cientes da paixão extraordinária de C. H. Spurgeon por plantação de igrejas. Neste breve artigo, Peter Morden lança luz sobre como esse ministério impactou Londres.


O cenário Batista em Londres seria muito diferente hoje não fosse o ministério de plantação de igrejas de Charles Haddon Spurgeon. Algumas estatísticas nos ajudam a começar a compreender a extensão de sua influência. De forma impressionante, 53 das 62 novas igrejas Batistas de Londres fundadas entre 1865 e 1876 foram criadas graças ao seu trabalho; e no tempo da sua morte, em 1892, ele estava envolvido na plantação de quase 100 igrejas na cidade e nas áreas circunzinhas. A maioria dessas igrejas permanecem até hoje, muitos delas fortes e vigorosas, incluindo aquelas em Balham, Enfield, Greenwich, Norwood (Chatsworth), Teddington e Wimbledon (Estrada da Rainha).


Como Spurgeon conseguiu esse feito extraordinário? Seus métodos eram flexíveis e variavam dependendo do contexto, mas muitas vezes ele trabalhava da seguinte maneira. Para começar, Spurgeon identificaria uma área que parecia ser uma oportunidade missionária promissora. Então ele enviaria um ou dois alunos do Colégio de Pastores para realizar cultos de pregação ao ar livre, muitas vezes com o apoio de outras pessoas da sua igreja. Se esses trabalhos “ao ar livre” fossem bem sucedidos, ele alugaria algumas salas para que novas reuniões pudessem ser realizadas. Se o trabalho continuasse a florescer (como normalmente aconteceu), terrenos adequados seriam comprados e instalações construídas. Spurgeon tinha o seu próprio advogado para ajudar as novas igrejas na elaboração das escrituras e com quaisquer outras questões jurídicas que surgissem. A parte financeira era suprida por seus muitos colaboradores – e também pelo próprio Spurgeon.


A Igreja Batista de Enfield, ao norte de Londres, é apenas um exemplo de uma igreja que deve o seu início, humanamente falando, a Spurgeon. Em 1867, após uma reunião que realizou com algumas pessoas interessadas daquele lugar, os cultos foram iniciados em uma sala em cima de um pub, o Rising Sun [Sol Nascente]. Uma “capela de ferro” temporária foi logo construída, e Spurgeon pregou o primeiro sermão no novo edifício. Havia então 30 membros e a igreja continuou a crescer. Em 1872, uma capela mais permanente foi erguida. Hoje, o elo com Spurgeon é tão forte como antes: Amanda James[1], o ministro titular, formou-se no Spurgeon’s College; o ministro em treinamento, Craig Downes, está atualmente estudando lá. Sob a liderança deles, a Igreja Batista de Enfield continua a prosperar e tem uma forte atuação em missões estrangeiras.


Falando de sua paixão por plantação de igrejas, Spurgeon disse certa vez: É com alegria … que encorajamos nossos membros a nos deixar para fundar outras igrejas; ou melhor, procuramos convencê-los a fazê-lo. Pedimos a eles que se espalhem por toda a terra, para se tornar a semente piedosa que Deus abençoará. Eu creio que enquanto fizermos isso, prosperaremos.


Seu grande coração e sua paixão evangelística brilharam grandemente. Por qualquer padrão, o legado de novas igrejas que ele deixou foi um legado notável.


Notas:[1] Com certeza, Spurgeon ficaria decepcionado com o fato dessa igreja ter se afastado da Escritura nesse ponto e aceitar a ordenação feminina. [N. do T.]


Fonte: The Recorder

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – fevereiro de 2012

Sobre o Autor Peter J. MordenPeter Morden é professor de história eclesiástica e espiritualidade no Spurgeon’s College. Ele já escreveu dois livros sobre Spurgeon: C.H. Spurgeon: The People’s Preacher (Farnham: CWR, 2009) e ‘Communion with Christ and His People’: The Spirituality of C.H. Spurgeon (Oxford: Regent’s Park College, 2010).