sábado, 22 de agosto de 2009

O Senhor dos Aneis



O Senhor dos Aneis 3

O Congresso do Anel


Mais uma vez a igreja tem-se colocado e colocado valores os quais as Escrituras nunca falaram, nem ao menos foram usados pelos apóstolos e se falaram, fora abolido pela cruz; é o caso de sacrifício de animais, sacerdotes, levitas, circuncisão e objetos consagrados a Deus, entre outros.

Esse problema é mais bem visto em igrejas pentecostais e neopentecostais, onde o pragmatismo e a falta de uma teologia apostólica têm dominado a igreja de uma forma terrível. Isso sucede do fato das igrejas não se importarem com qual instituto bíblico (seminário) irão colocar seus membros que futuramente serão lideres, eles apenas se preocupam se o seminário é reconhecido pelo MEC ou não, nesses seminários liberais são feitos lideres desconhecedores da Palavra, e portanto tais igrejas tem caminhado para diversos lugares, menos a exposição e praticas fieis as Escrituras e fazendo desse jeito liberal/pragmático/ateológico, coisas horrendas tem sido suscitadas aos olhos de Deus.

Falo do fato de homens, se dizendo pessoas de Deus, ensinarem a seus fieis a usarem objetos e depositarem sua fé nesses objetos, como se os objetos pudessem fazer algo por seus detentores. Posso citar como exemplos bem conhecidos: o copo com água em cima da televisão, um bolo ungido (já citado pelo Anderson) por um determinado pastel, me desculpem pastor, e também um anel ungido em óleo para trazer compromisso para os solteiros com relação a atos sexuais ilícitos; como se esses objetos pudessem selar um compromisso com Deus, compromisso tal que já fora selado quando aceitamos a Jesus o Cristo nosso Senhor e em quem depositamos a nossa fé.

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A igreja nos últimos tempos tem se parecido mais com o romanismo do que em qualquer outro tempo, pois o ato de se consagrar objetos a Deus vem deles e não somente isso, mas também usar tais objetos como sagrados e o ato de um membro, que tem uma visão cristocêntrica autêntica, não ter tal compromisso com um anel, faz com que toda igreja fale que este membro ou está pecando em atos sexuais ilícitos, ou está pensando em pecar, pois não faz voto do anel. Lembro-me de Paulo e outros fazendo voto a Deus e usando objetos, mas será que eles fizeram com o mesmo intuito que é feito hoje? Vejamos:

  • At 1.26 “... e lançaram em sorte...”, esse ato era feito na antiga aliança como é dito em Êx 28.30 e também em outros textos, existem alguns pastores a falar de um erro nessa decisão, peço a esses que leiam o AT sobre o assunto, pois era algo determinado por Deus para se tomar decisão. Mas por que não usamos tal artifício hoje? O Urim e Tumim (literalmente luz e perfeição) não são mais usados porque sabemos hoje qual a vontade de Deus para a nossa vida como escrita em sua Palavra (2Tm 3.14-17).

  • At 16.3 “... circuncidou-o...”, por que Paulo circuncidou Timóteo, tendo em vista que para Paulo a circuncisão de nada valia para Cristo (1Co 7.18-19; Gl 5.6)? Estaria Paulo se contradizendo? Não! Paulo mesmo explica essa sua atitude como descrita em 1Co 9.20, e em detalhes em 1Co 9.22b-23. Também está incluso nesta descrição o ato de At 21.23-24, o qual fora feito para mostrar a “todos (judeus cristãos em Jerusalém) que não é verdade o que se diz a seu respeito...”, falavam caluniosamente de Paulo e o voto nazireu mostrou a mentira falada por parte dos judeus. E mais tarde Paulo os chamou de “ falsos irmão” (Gl 2.3-4).

Então, nada diz respeito com relação aos feitos de muitos lideres, pelo fato de por fé em objetos e estes trazerem aliança com Deus. Nossa aliança já foi feito em Cristo, somente por Ele (solus Christus), pela sua morte e ressurreição, aceitamos tal aliança pela fé somente (sola fide), pois ela vem apenas pela graça (sola gratia), nisso toda glória tem que ser dada a Deus (soli deo gloria) e não a objetos e nosso único manual de fé e pratica cristã verdadeira que deve ser seguido são as Escritura Sagradas (sola scriptura). Esses são os nossos pilares, toda e qualquer fé que não se apóie em tais pilares, não é e nem pode ser a fé em Jesus Cristo e logo se constitui em outro evangelho, quem prega outro evangelho seja maldito como está descrito em Gl 1.6-9.

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“Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os homens quanto a sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice.”

Charles Haddon Spurgeon.

SOLI DEO GLORIA


Rafael Santos


sexta-feira, 21 de agosto de 2009


Conselhos a Um Jovem Pastor Sobre o Grupo de Louvor de Sua Igreja
Postado por Augustus Nicodemus Lopes às 23:07
“São Paulo, nove de julho de 2006

Meu caro Tadeu,
Fiquei muito feliz com a notícia de que você está pastoreando a igreja de seus pais desde o ano passado. Agradeço a sua carta comunicando o fato e também a confiança depositada em mim, ao expor os conflitos com o ‘grupo de louvor’ de sua nova igreja. Percebo que desde sua posse esse tem sido um dos assuntos que mais o tem afligido. Você foi eleito para cinco anos e ainda há um longo caminho a ser percorrido. Como pastor da igreja, você tem prerrogativas quanto à condução do culto e autoridade para orientar o que vai ser cantado no culto e a maneira como isso vai ser feito. Em alguns casos, o desgaste já é tão grande que não existe mais diálogo possível entre o pastor e o grupo de louvor. Espero que não seja esse o seu caso, e nessa esperança, dou-lhe alguns conselhos.

1) Aconselho que você reconheça que nós, reformados, já perdemos a batalha por um culto simples, espiritual, teocêntrico e equilibrado. O movimento gospel veio para ficar. Nós perdemos, Tadeu, porque erramos na estratégia. Há cerca de dez anos, quando a Igreja Batista da Lagoinha começou a comandar o louvor nas igrejas evangélicas no Brasil, preferimos resistir frontalmente e insistir com nossas igrejas a que ficassem com os hinos de nosso hinário. Foi um erro. Poderíamos, além disso, ter apresentado uma alternativa às músicas deles. Há exceções, mas muitas delas são sofríveis, musicalmente falando, e têm uma teologia fraquíssima. São cânticos permeados de conceitos arminianos, neopentecostais, da teologia da prosperidade e da batalha espiritual, característicos daquilo que é produzido pelos músicos e cantores gospel da atualidade. Infelizmente, não conseguimos oferecer nada melhor desde o início, a não ser apelos para ficarmos com os hinos tradicionais.

2) Comece solicitando ao grupo de louvor uma relação de todos os cânticos do seu repertório e se comprometa a estar em todos os ensaios deles para estudo bíblico a respeito do louvor e da adoração, para analisar a propriedade, a teologia e até mesmo o português desses cânticos. Nesses encontros, aja humildemente e não autoritariamente. Lembre-se que eles estão acostumados a tocar tudo o que querem sem serem críticos do que estão cantando. Procure conduzir as discussões para a Bíblia, como o referencial último de tudo o que vai ser feito no culto. Leve-os a perceberem por si próprios que determinadas letras são inadequadas e a desistirem delas. Nesse sentido, seu maior aliado é o púlpito. Pregue sobre a centralidade de Deus no culto, sobre a necessidade da boa doutrina, sobre o perigo dos falsos ensinamentos, sobre o poder da música para o bem e para o mal e o imperativo de mantermos o culto dentro dos parâmetros bíblicos.

3) Coloque como regra inflexível – se possível aprovada como decisão do Conselho da Igreja – que todos os participantes do grupo de louvor também devem estar totalmente integrados na vida da igreja, participando da escola dominical, das sociedades domésticas, sendo assíduos aos cultos. Mais importante do que tudo, deve ser colocada como condição sine qua non, que suas vidas sejam irrepreensíveis, sendo exemplo para os demais jovens da igreja. Insista que eles devem participar do culto todo e que é inaceitável que após a parte deles, que saiam e fiquem do lado de fora da igreja. Não abra mão disso.

4) Com muito cuidado, procure diminuir o volume com que eles tocam. Domingo à noite fui pregar em uma igreja e sentei-me no primeiro banco, aguardando o momento da pregação. O volume do grupo de louvor estava tão alto que não agüentei – levante-me e sai discretamente. Quando consegui sair do local e chegar do lado de fora, meus ouvidos estavam zumbindo. De alguma maneira, os grupos de louvor têm a idéia de que os cânticos têm que ser tocados e cantados com os instrumentos e o vocal no volume máximo. Uma coisa que você pode fazer para convencê-los de que sempre estão tocando muito mais alto do que é necessário é conseguir trazer um especialista com um medidor de decibéis durante os ensaios para medir o nível de ruído. Isso vai mostrar para eles como muitas pessoas se sentem incomodados – inclusive vizinhos silenciosos que não vão reclamar na polícia, mas que no íntimo já tomaram a decisão que jamais se tornarão crentes.
Em especial, trabalhe com o baterista, procurando convencê-lo que o alvo da bateria não é fazer barulho, mas marcar o compasso da música de maneira discreta, misturando-se com a melodia, a ponto de se tornar quase imperceptível. Esse provavelmente será o seu trabalho mais difícil. Se quiser o testemunho de um presbítero que quase ficou surdo com o volume do grupo de louvor, veja seu testemunho aqui.

5) Uma outra tarefa difícil será convencer o guitarrista principal de que o culto não é show e nem os louvores uma oportunidade dele mostrar solos incríveis de guitarra. Exibições individuais da performance dos instrumentistas apenas chamam a atenção para eles – não para Deus. Como alternativa, sugira uma noite de som gospel, num sábado à noite, onde outras bandas poderão ser convidadas para um festival de gospel. E tenha cuidado para não dar a esse encontro qualquer conotação de culto. Lá eles podem mostrar toda a sua capacidade com a guitarra. Mas, no culto, usem os instrumentos de forma discreta, para acompanhar os cânticos.

6) Tente mostrar para eles que mandar o povo ficar em pé toda vez que assumem o microfone nem sempre fica bem. Às vezes o pastor acabou de mandar o povo sentar. Deixem o povo sentado. Não vai prejudicar em nada o louvor se o povo ficar sentado. Além disso, tem velhos, idosos e pessoas doentes que não conseguem ficar vinte minutos em pé. Eles devem pensar também no pregador da noite, que além de ficar em pé durante o tempo do louvor, vai ficar em pé mais uma hora pregando. Não tem quem agüente.

7) Procure convencê-los a ocupar menos tempo da liturgia. Se conseguir, será uma grande vitória. Uma sugestão que você pode dar nesse sentido é que não repitam o mesmo cântico duas ou três vezes, como costumam fazer. Também, que cortem as ‘introduções’, geralmente compostas da repetição de frases clichês e batidas que não dizem nada. Se você conseguir convencer o líder do grupo que a tarefa dele é cantar e não exortar e dar testemunho, irá diminuir bastante o tempo empregado no louvor, além de poupar os ouvidos dos crentes de ouvir besteiras, frases clichês, chavões batidos, que só tomam tempo mesmo.

8) Outra coisa que me ocorre: insista em que estejam preparados antes do culto. Fica muito feio e distrai o povo quando os componentes do grupo de louvor ficam afinando instrumentos, equalizando o equipamento de som, plugando e desplugando microfones e fios quando o culto já começou. Ensine-os a serem profissionais naquilo que fazem, e que Deus é Deus de ordem.

9) Procure mostrar que eles não são levitas. Não temos mais levitas hoje. Todo o povo de Deus, cada crente em particular, é um levita, um sacerdote, como o Novo Testamento ensina. É uma idéia abominável que os membros do grupo de louvor são levitas. Isso reintroduz o conceito que foi abolido na Reforma protestante de que o louvor e o acesso a Deus são prerrogativas de apenas um grupo e não de todo o povo de Deus. Resista firmemente a essas idéias erradas, que são oriundas das igrejas neopentecostais, especialmente daquelas que se fizeram em cima do movimento de louvor. Tais conceitos apenas servem para que eles se sintam mais especiais do que realmente são e, portanto, intocáveis. Procure incutir na mente deles que aquilo que eles fazem no culto não é mais louvor e mais espiritual do que o cântico de hinos acompanhados ao órgão ou ao piano.

0) Por fim, ore bastante para que os membros do grupo de louvor não sejam filhos de presbíteros e de famílias influentes da igreja, porque se forem, profetizo que sua missão fracassará. Por mais crentes e sérios que os presbíteros sejam, eles não irão contra a sua própria família, e muito menos contra os seus filhos. Você não terá o apoio deles para reduzir, minimizar, limitar e mesmo qualificar a participação do grupo de louvor no culto. Nesse caso, restarão poucas opções. Uma delas é capitular inteiramente e simplesmente deixar o grupo de louvor fazer o que sempre fez, suportando heroicamente, enquanto ora baixinho no culto, ‘Deus, dá-me paciência para que eu possa suportar esse calvário durante o tempo em que fui eleito aqui’.
Outra opção é simplesmente pedir as contas e ir embora para outra igreja, tendo aprendido a importante lição de que a primeira pergunta que se faz ao ser convidado para ser pastor de uma igreja é essa: ‘tem grupo de louvor? Os componentes são filhos dos presbíteros?’
Um velho pastor do Recife costumava se referir ao conjunto da sua Igreja como ‘cão junto’. Espero que não chegue a esse ponto em sua igreja, Tadeu, mas que você encontre misericórdia da parte de Deus para que esse desafio seja vencido e que sua igreja desfrute do verdadeiro louvor durante os cultos.
Um abraço!
Augustus”
*NOTA: A carta é fictícia. Toda semelhança com qualquer situação pela qual algum pastor
miguel silva
Música: Explicatio Textus, Prædicatio Sonora
Parcival Módolo
Quando Martinho Lutero referiu-se à música de boa qualidade como eficiente veículo para explicação do texto, serva, portanto, e não espetáculo por si mesma, estava, na verdade, refletindo parte do pensamento de sua época: música boa agradava a Deus, música má agradava a Satanás, independente de ela estar associada ao culto ou não. Os critérios que definiam a qualidade e a conseqüente utilidade da música eram absolutamente claros. Falava-se, assim, objetivamente, em música própria para adoração a Deus e em música objetivamente imprópria para o serviço litúrgico.

Se Lutero enfatizava a importância da anunciação da Palavra de Deus através da prédica no culto, entendia que boa música poderia fixar as verdades teológicas anunciadas. É neste contexto que deve-se entender sua concessão: "Depois (ao lado) da teologia, à música o lugar mais próximo e a mais alta honra".

(1) É que, para ele, teologia e música pertencem-se, relacionam-se estreitamente, já que música é veículo apropriado para anunciar a Palavra de Deus, e o faz de forma especial, em sons. Entendeu Lutero que do maravilhoso presente divino (donum divinum et excellentissimum) dado exclusivamente aos homens, a união dos sons vocálicos (vox) à palavra (sermo), de música e canto, deviam ser corretamente utilizados para que esses mesmos homens adorassem seu Deus.(2)


"As notas musicais vivificam o texto".

(3) Elas intensificam a força da palavra. Na tradição musical reformada luterana, a música revela o texto. Ela o explica (explicatio textus). Nesse sentido ela deverá ser uma espécie de exegese, uma explanação do texto, um "sermão em sons" (prædicatio sonora). Segundo Lutero, "Deus mesmo fez com que o evangelho fosse anunciado com música".

(4) O cântico congregacional só atingirá seu objetivo se a Palavra de Deus puder ser anunciada, absorvida e preservada pelo povo por meio dele.

(5) É este o "cântico popular" defendido por Lutero para o culto. Um cântico que explicasse o evangelho para o povo e o interiorizasse. "Cântico popular", neste contexto, não se refere à música profana da época, se considerada música má, e portanto, agradável apenas aos ouvidos de Satanás. A música que se canta no culto deve "fortalecer e intensificar o Santo Evangelho e também impulsioná-lo".


Boa Música, Música Má

(6) O conceito de "qualidade", ou a definição do que seria bom ou mau no que se referia à música, era, nos séculos XVI a XVIII, bastante objetivo e claro. Falava-se em música boa e má usando-se parâmetros muito bem determinados e que iam além da beleza do produto final, da intenção de quem o produzira e, até mesmo, da finalidade da obra.
No ano de 1700 foi editado em Hamburgo uma espécie de método de estudo para o baixo-cifrado, técnica musical bastante comum na época. O editor, Friedrich Erhard Niedt, escreveu no prefácio:

...a finalidade e a razão de toda música devem ser somente a glória de Deus e a recreação sadia da alma. Onde isto não é levado em conta, não há música propriamente, e aqueles que abusam desta nobre e divina arte são "musicantes" do demônio, pois Satanás tem seu prazer em ouvir tais coisas infamantes. Para ele, tal música é boa o suficiente, mas para os ouvidos de Deus, são berros infamantes. Quem deseja, na sua profissão de músico, ter a graça de Deus e uma consciência limpa, não desonra esta grande dádiva de Deus, pelo seu abuso.

(7) Niedt nos revela aqui parte do pensamento corrente do seu tempo e que, por sua vez, era uma síntese do pensamento dos dois séculos anteriores. Seguindo-se seu raciocínio, toda música, mesmo a secular, devia ser escrita "para a glória de Deus". Para isso, devia preencher, naturalmente, alguns requisitos. Se o fizesse agradaria a Deus. Mas se não o fizesse, agradaria a Satanás, mesmo que houvesse sido composta para agradar a Deus!


O Princípio da Ordem e do Número


No período do barroco, "boa música" estava associada ao princípio da ordem e do número. Falava-se em "harmonia sonora", uma arte baseada em regras bem determinadas. O princípio da ordem, musical ou não, era divino. O princípio do caos, musical ou não, era satânico. Satanás era, aliás, o principal desestruturador da ordem divina. A música que recebia aceitação e aprovação como "boa" era aquela possível de ser racional e intelectualmente decodificada. Devia "falar ao intelecto". Quando isto acontecia, então podia-se falar em uma verdadeira Ars, ou seja, em Arte no sentido mais restrito da palavra. A Ars Musica baseava-se no princípio da ordem e do número. Se não o fosse, era objetivamente má.

As raízes desta concepção vão até a Idade Média, ou ainda mais longe. Não só a música, como também outras formas de expressão artística, pareciam tentar refletir essa dualidade quase maniqueísta do bem e do mal, do bom e do ruim. Obras da pintura, escultura, relatos de visões que se conservaram escritas, mitos e lendas a partir de figuras bíblicas, nos revelam sempre um universo bipolarizado. Se os templos abrigam imagens de santos e anjos em seu interior, admitem também dragões, górgones e demônios esculpidos no seu exterior. Se as telas, afrescos e retábulos retratam coros de anjos tocando belos instrumentos nos céus, retratam também o lamento e o ranger caótico da música do diabo em esferas mais baixas.

Por causa da sua estrutura ordenada numericamente, a música era apropriada para refletir e até mesmo para representar o cosmos, o universo, a criação divina, que, da mesma forma, estavam ordenados à partir do número. Já no tratado anônimo de música, surgido antes do ano 900, Musica Enchiriadis, encontra-se o princípio: "Na formação da melodia, o que é gracioso e gentil será determinado pelo número, aos quais os tons se condicionam. O que a música oferece [...], tudo é formado a partir do número. Os tons passam rapidamente, mas os números [...], esses permanecem".

(8) Em 1538 escreveu Lutero em seu "Encomion musices": "Nada há sem [...] o número sonoro".

(9) Quase dois séculos mais tarde, em 1707, na época de J. S. Bach, Andreas Werckmeister escreveu: "As proporções musicais são coisas perfeitas que o intelecto pode compreender. Por isso são agradáveis. Mas o que o intelecto não compreende, o que confunde e perturba, isso o ser humano abomina".

(10) Eis aí, em todos esses registros, de diferentes períodos históricos, a definição de boa música e de música má. Era a essa boa música que Lutero se referia quando dizia querer vê-la "explicando o texto" e "pregando através de sons".


Exegese do Texto na Música Vocal
Johann Gottfried Walther, em seu Praecepta der Musicalischen Composition de 1708, afirma que se um compositor quiser "...compor música para um texto específico", deve representar "...não só a idéia geral do mesmo mas também representar musicalmente o significado e a expressão de cada palavra específica".

(11) Walther não estava dizendo nada novo. Estava, antes, refletindo o pensamento de sua época, que entendia boa música como aquela que, organizada numericamente, representasse o texto da qual devia ser serva. Só assim agradaria a Deus.
É assim que deve ser entendida, por exemplo, toda a obra de J. S. Bach. Toda ela é "boa música", toda ela escrita para agradar a Deus, sempre baseada no princípio do número, sempre representando cada palavra do texto, quando música vocal. Por isso "S. D. G." (Soli Deo Gloria), expressão que Bach invariavelmente assinalava no final das suas obras, mesmo daquelas que não eram escritas para o serviço litúrgico.

Bach era amigo e parente de Walther: o avô de Walther era meio irmão da mãe de Bach. Tornaram-se amigos em Weimar, onde ambos trabalharam na mesma época, Walther como organista, Bach como músico de orquestra, e mais tarde Mestre de Capela. Bach foi padrinho de batismo do primeiro filho de Walther. Foi em Weimar, por essa época, que Walther escreveu seu tratado de composição musical. Bach conhecia o conteúdo do volume e certamente trabalhou com

Walther na sua elaboração.
Representar cada palavra do texto era preocupação antiga, anterior a Bach e a Walther. Ali pelo ano de 1606, um grupo de compositores, regentes e teóricos de Hamburgo, reuniu-se para elaborar uma espécie de catálogo de figuras retórico-musicais. Eram cinco músicos conceituados: Nikolaus Listenius, Heinrich Faber, Johann Andreas Herbst, Joachim Burmeister e Christoph Bernhard.

O volume produzido chamou-se Musica Poetica e utilizava-se de expressões gregas para classificar diferentes figuras musicais. Assim, por exemplo, expressões no texto como "Ele ressuscitou" deveriam ser representadas por uma Anabasis (em grego "subida", "ascensão"), uma linha melódica de muitas notas ascendentes. Se o texto, ao contrário, trouxesse palavras que falassem em descida, o Advento, por exemplo, ou quem sabe a palavra "inferno", o compositor deveria utilizar-se de uma Katabasis (em grego "descida"), representada musicalmente por uma longa figura de notas descendentes.

(12) O catálogo Musica Poetica fala ainda em Paranomasia, em Apocope, em Katachresis, em Aposiopesis, em Pathopoeia, em Hypotyposis, em Anaphora, em Kyklosis, em Hyperbaton, em Palillogia e em muitas outras expressões mais, todas elas representando figuras musicais que descreveriam o texto ao qual estivessem associadas.
Essa música agradava a Deus. Essa música era feita na igreja e servia de modelo para a música secular praticada nas cortes da época. Compositores não sacros viajavam distâncias enormes para aprenderem com os músicos sacros, imitarem seu estilo, copiarem suas formas musicais. E é essa a tradição musical reformada. É dessa música que somos herdeiros.

Entretanto, deixamos de ser "referência" há muito tempo. A música secular não mais se espelha na nossa. Os músicos seculares não mais procuram imitar nosso estilo. Ao contrário, nós é que corremos desesperadamente atrás da secularização de nossa música. Nós evangélicos é que buscamos mais e mais modelos seculares para a música do nosso culto a Deus. Não falamos mais em "boa música" e em "música má". Não mais pensamos em música objetivamente boa para agradar a Deus, nem entendemos seu polo contrário como música que agrada a Satanás. Não temos mais critérios objetivos que nos ajudem a falar de um tipo de música verdadeiramente sacra.

Além disso, música não tem mais sido serva da Palavra de Deus, mas sim espetáculo nos nossos cultos. Não mais cantamos teologia: cantamos aquilo que agrada a um ou a outro grupo da igreja. Aliás, música, que sempre foi o elo de ligação entre diferentes gerações, hoje tornou-se o principal fator de discórdia, quando não de separação "intra ou extra-muros" em nossas igrejas. Não mais cantamos nossa fé reformada, não mais cantamos aquilo em que cremos, da forma como cremos. É por este motivo que tanto faz cantarmos os hinos dos nossos hinários ou qualquer outro cântico, de qualquer outra seita, que diga qualquer coisa, desde que nos deixe felizes ou emocionados. E é também por esta razão que tanto faz freqüentar a nossa igreja ou a do vizinho, ou qualquer nova seita que vier.

Não acredito, como músico, que o problema seja, todo ele, causado pela música. Penso que ela é apenas sintoma, reflexo. Temo que haja muito mais a considerar. Mas é também como músico que acredito que a música verdadeiramente sacra poderá nos ajudar a reencontrar caminhos porventura perdidos, a falar da nossa identidade e, certamente, proclamar o nome daquele
quem cremos, por que cremos e como cremos. Nossa música poderá ser novamente explica



Miguel silva

A justificação nas Cartas de Paulo e na Carta de Tiago



George Knight III

Nas cartas do apóstolo Paulo, a doutrina da justificação é o maravilhoso ensino bíblico de que Deus nos aceita como justos em Cristo e perdoa nossos pecados quando nós o recebemos pela fé somente.

O ensino de Paulo

O apóstolo Paulo refuta aqueles que erroneamente pensam que Deus salva as pessoas levando em consideração as boas coisas que elas mesmas fazem, além de sua fé.
Ela faz isso repetida vezes:

Romanos 3:20-22 --- “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de qual pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todo [e sobre todos] os que crêem”. Paulo diz que a justiça nos vem do próprio Deus, independemente de guardar a lei, e vem somente àqueles que crêem em Jesus Cristo.

Romanos 3:28 --- “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independemente das obras da lei”. O apóstolo reafirma que alguém é justificado independentemente das obras da lei.

Romanos 4: 3-5 --- “pois, diz a Escrituras ? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para a justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim, como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”. O apóstolo afirma que Abraão Creu em Deus, e que Deus creditou isso a ele como justiça. Ele afirma ainda que o que trabalha ganha salário, Mas que Deus declara que um ímpio é justificado porque tal pessoa confiou em Deus.

Romanos 4: 13-14 --- “Não foi por intermédio da lei que Abraão, ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo; e, sim, mediante a justiça pela fé. Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa”. Paulo declara que a promessa da salvação que foi dada por Deus a Abraão não foi recebida por se guardar a lei, mas por exercer a fé.

Gálatas 2:16 --- “O homem não é justificado por obras da lei, e, sim, mediante a fé em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois por obras da lei ninguém seria justificado”. Por três vezes Paulo deixa claro que o meio de ser justificado é por nossa fé que é dada por Jesus Cristo, e não em fazer boas obras.
De fato, “Por obras da lei ninguém será justificado”. Observe que Paulo coloca a fé e observância da Lei em oposição uma à outra como meios de salvação: é uma ou outra, não as duas juntas.

Gálatas 3:11 --- “É evidente que pela Lei ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo vivera pela fé”. Paulo declara seu argumento para a justificação que está fundamentada no velho testamento.

Filipenses 3:9 --- “... e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de Lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé”. Nós precisamos da justiça de Deus – de fato, a justiça de Cristo – e isto nos são dado através da fé em Cristo, que é nossa justiça (1Co 1:30, 1Jo 2:1).

É Claro nesta e em outras passagens que a Lei nos declara pecadores com necessidades da justificação de Deus, e que a fé, e somente a fé, é o instrumento pelo qual Deus traz a morte, ressurreição e justiça de Cristo sobre aqueles que crêem, e dessa forma os declara justos.

A Escritura fala disse ato como sendo imputação da justiça de Cristo aos crentes. Isto é, justiça Dele computada na conta deles, embora eles estejam apenas começando a experimentar a transferência da justiça de Cristo a seu homem espiritual. Embora eles sejam pecadores perdoados (é Deus quem justifica o ímpio Rom 4:5), Deus declara-os justos por causa da justiça de Cristo a eles imputada e recebida pela fé somente.

E o que diz Tiago?


Alguns podem objetar o que nós não estamos levando em conta o ensino de Tiago, que declara que de forma totalmente clara: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente” (Tiago 2:24). Sim, a observação de Tiago é tão verdadeira quanto à de Paulo. Para entendê-las melhor, vamos vê-las no seu contexto todo (Tiago 2: 14-26).

“Meus irmão, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”.

Se um irmão ou uma irmã estiver carecido de roupas, e necessidades de alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhe disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dardes o necessário para o corpo, qual é proveito disso?

Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.

Mas alguém dirá: Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras mostrarei minha fé.

Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem, e tremem.

Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?

Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?

Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.

E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.

Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.

E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?

Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.

Como então podemos ver os ensinos de Paulo e Tiago como um todo consistente? Paulo diz que nós somos “justificados pela fé independente das obras da Lei” (Rom 3:28), mas Tiago diz que “Uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente” (Tiago 2:24). Certamente que em face dessas duas afirmativas há uma contradição aparentemente. Mas, como Paulo e Tiago estão escrevendo sobre inspiração de Deus, eles devem estar escrevendo sobre situações diferentes. Talvez eles estejam usando a palavra justificar e fé de maneiras diferentes. Vamos olhar novamente os dois escritores dessa forma como uma possível solução.

Paulo escrevendo a grande promessa de Deus contida em Gênesis 15:6 ele diz:
“Pois, que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para a justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim, como divida. Mas ao que trabalha, porem, crê naquele que justifica o ímpio a sua fé lhe é atribuída como justiça (Rm 4:3-5).

Tiago por outro lado, está escrevendo àqueles que proclamam crer, mas não dá nenhuma evidencia de suas vidas terem sido regeneradas e transformadas pela salvação que Deus dá aos crentes. Note como Tiago afirma isso no começo do seu argumento: “Meus irmãos, qual o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras? Pode acaso semelhante fé salvá-lo?” (Tg 2:14). Tiago está procurando mostrar que a fé verdadeira – a fé que Deus imputou a alguém, (Observe como Tiago também cita Gênesis 15:6 em Tiago 2:23) – se manifesta em boas obras. Tiago diz que Abraão verdadeiramente creu, e, por isso, que Deus tinha verdadeiramente contado como justo, porque Abraão demonstrou a realidade de sua fé (e salvação) ao obedecer a Deus (Tg 2:21-24).

Palavras com diferentes significados

Nós podemos ver a diferenca mais claramente se nós reconhecermos os diferentes modos com que Paulo e tiago usam os mesmos termos. Quando Paulo fala que alguém sendo “justificado”, ele tem em vista o pronunciamento de Deus de que um pecador é justo. Mas quando Tiago usa a mesma palavra, ele tem em vista a demonstração do estado previamente justificado de uma pessoa. Isto é, alguém demonstra, através de sua obediência, o que Deus já declarou sobre ele(Tiago 2:23, citando Gênesis 15:6)

Dizendo de outra forma, Tiago está usando a palavra justificar com o significado de “demonstrar ou mostrar que se é justo, ou inocentar a si mesmo”. Este significado para a palavra em grego é também encontrado em Lc 16:15 e 10:28-29, como também Mateus 11:19, Lucas 7:35, e Romanos 3:4. Em Lucas 16:15, Jesus diz aos fariseus “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece vossos corações”.
Similarmente, nós lemos em Lucas 10:29: “Ele, porém, querendo justificar-se...”.

Tiago está dizendo que alguém pode demonstrar diante dos homens (ou pode inocentar ou justificar-se a si mesmo) que ele tem sido declarado justo por Deus. Uma pessoa pode fazer isso fazendo boas obras, exatamente como Abraão fez ao sacrificar seu filho Isaque. Bem depois de Deus tê-lo declarado justo. Tiago diz que esse período posterior demonstrou que a declaração de Deus em Gênesis 15:6 era verdadeira e se cumpriu (Tiago 2:23)

Quando Paulo fala “Fé”, ele quer dizer confiança genuína e real em Deus. Tiago usa a palavra “fé” querendo dizer algo que precisa que se demonstre ser real na vida de alguém. Ele está tratando com aqueles que parecem expressar aceitação do evangelho, mas que de fato não tem fé ou confiança verdadeira. Dessa forma, os demônios, podem dizer que eles crêem, mas a sua chamada de fé, e qualquer outra fé sem obras é morta e inútil (Tiago 2:19-20). Pelo menos duas vezes, nos versos 18 e 26, Tiago pede àqueles que proclamam ter fé a demonstrarem uma fé genuína, e não uma fé morta, fazendo boas obras. Isto é algo com que Paulo certamente concorda(ver 2Cor 13:5; Gl 5:19-24).

As obras manifestam fé verdadeira

Assim sendo, as palavras de Paulo não contradizem as palavras de Tiago. Paulo também argumenta que a fé verdadeira se manifesta na obediência real.
Ele diz em Romanos 6:1-2 “que diremos pois ? permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós que para eles morremos ?

E Paulo também fala de obras do mesmo de Tiago quando diz em Efesios 2:10 “pois somos feituras dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Mas ele afirma esta grande verdade, de acordo com Tiago, após ter negado que as obras tenham qualquer parte em nossa salvação: “Porque pela graça sois salvo, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não nas obras, para que ninguém se glorie”.
Dessa forma, Paulo e Tiago de modo algum se contradizem, pois eles estão usando palavras com diferentes significados e estão apontando diferentes questões. Nós podemos afirmar com confiança que as palavras de Tiago não contradizem os ensinos claros de Paulo de que nós somos salvos e justificados pela fé, independente das obras da lei. De fato, o próprio Tiago diz que Deus já havia imputado sua própria justiça a Abraão porque Abraão havia crido nele (Tiago 2:23).

O foco de Tiago é que as boas obras de Abraão, feitas como um homen já salvo, e não para obter salvação em Deus, demonstraram ou mostraram que sua justificação era verdadeira e real.

Justiça Divina

É apenas em Cristo que Deus manifesta sua justiça, sendo Ele justo e habilitado para justificar a nós pecadores. Nós lemos desta grande verdade em Romanos 3:21-26.

Mas agora uma justiça de Deus, à parte da lei, foi feita conhecida, à qual a Lei e os profetas testificam. Essa justiça de Deus vem através da fé em Jesus Cristo a todo aquele que crê. Não há nenhuma diferença, para todos que pecaram e se afastaram da glória de Deus, e são justificados gratuitamente por sua graça através da redenção que veio por Cristo Jesus. Deus o ofereceu como um sacrifício de expiação [Uma propiciação], através da fé em seu sangue. Ele fez isso para demonstrar sua justiça, porque havia se contido e deixado os pecados cometidos anteriormente impunes – Ele fez isso para demonstrar sua justiça no tempo presente, assim como para ser justo e Aquele que justifica aqueles que tem fé em Jesus.

Paulo pergunta como Deus pode ter perdoados no passado e não ter punido as pessoas por eles.

A resposta para tais pecados e para os nossos pecados é que Deus os puniu em Jesus Cristo. Desse modo, Deus não esta retirando a afirmativa de que a alma que pecar deve morrer. Antes, Ele teve seu filho morto por essa alma e assim cumpriu as exigências da Lei.

Nós vemos essa verdade também em Romanos 4:25, onde Paulo diz que Cristo “foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação”. O que nós precisávamos fazer para cumprir a Lei de Deus, Deus por nós em seu Filho, punindo nossos pecados em sua morte e provendo nossa justiça em sua vida obediente e ressurreição. Dessa forma nós lemos novamente em 2Cor 5:21 que Deus “Àquele (Jesus Cristo) que não tinha pecado, o fez pecado por nós, para que Nele fossemos feitos justiça de Deus”.

A justificação pode ser recebida apenas através da fé que por sua vez é dada e não adquirida, pois só o Espírito Santo é capaz de produzir tal fé no coração depravado do homem natural, visto que somente pela fé que nós recebemos a justiça de Cristo, como Paulo diz em Filipenses 3:9 “e achado Nele, não tendo justiça própria, que procede da Lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé”.

Sumário

Vamos resumir. Nós somos salvos e justificados – isto é, todos os nossos pecados são perdoados e somos declarados justos por Deus – Quando nós confiamos em Jesus Cristo e temos sua justiça imputada em nossa conta. Nós depositamos nossos pecados em Cristo, e Ele nos concede, e nos imputa, sua obediência justa, e nós somos considerados como vestido em sua justiça e imediatamente declarados por Deus como justificados. E isso tudo acontece a parte de qualquer boa obra que nós possamos ter feito: Deus, “não por obras de justiças praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou” (Tito 3:5). E nós recebemos tudo isso pela fé, quando Deus nos dá um novo coração e uma fé para confiarmos Nele.

Quando exercemos a fé salvífica, Deus nos transforma total e interiormente, pela justiça de Cristo, transmitida a nós para nos fazer santos. Isso é chamado de santificação. Ela começa com a justiça de Cristo sendo colocada em nós, e aumenta conforme vivemos nessa justiça confiando e obedecendo a Deus. Deus justifica o ímpio e o perverso, e os torna santos conforme os santifica.

Apenas desta forma Deus salva a você e a mim !

Sola Gratia!

Fonte: Revista Os puritanos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Quando Vier o Que é Perfeito (l Co 13:8-13)


Este é o texto mais polêmico sobre a contemporaneidade dos dons extraordinários.

Esta palavra, "perfeito", é a palavra que tem sido o ponto crítico na questão da contemporaneidade dos dons extraordinários; especialmente o dom de línguas, profecia e ciência.
Há um livro publicado pela Igreja Presbiteriana* que fala deste tema de línguas e diz na página 15: "Os que crêem na cessação absoluta do dom de línguas têm, as vezes, apelado para 1 Co.13:10 como evidência. Entretanto, esta passagem não pode ser usada como prova indiscutível da cessação das línguas, visto que não é claro no texto que to teleion, "o que é perfeito", se refira quer ao fechamento do Cânon, quer à maturidade espiritual da Igreja, podendo perfeitamente ser uma referência à segunda vinda de Cristo".

A primeira coisa a se estranhar aqui é, que os autores não colocaram um só versículo para dizer que to teleion se refira a segunda vinda de Cristo. Por que? Vamos discutir esta questão que não é simples. No rodapé da página 15 há uma nota que diz: "Uma das dificuldades com as duas primeiras interpretações mencionadas, é que ambas requerem a cessação da profecia e da ciência, juntamente com as línguas, após o fechamento do Cânon ou da chegada da maturidade da Igreja, cf, l Co. 13:8, apesar de que Paulo considera a profecia e a ciência como essenciais para a edificação da Igreja, cf. l Co. 14:3,6".

Há um problema muito sério aqui. Na nossa ótica não vemos no texto o ensino de que línguas, profecias, e ciência cessaram completamente. Não é este o ensino de Paulo neste texto. Línguas na verdade, cessam. Está bem claro no texto. Mas profecias e ciência não cessam, elas irão chegar ao telos.
Muita gente passa "batido" no texto para colocar línguas, profecias e ciência numa só "cesta”, afirmando que todos irão acabar pós época apostólica. Não. Há um detalhe aqui que mui sutilmente podemos observar, pelo verbo que é usado para aniquilar e cessar. Vamos tentar descobrir o sentido de to teleion a partir de uma exegese bíblica. Nada de experiência. Para nós não interessa experiência, pois nunca iremos descobrir o que Paulo está falando através de experiência.

Temos de descobrir o sentido que o apóstolo quer enfocar a partir do estudo da própria revelação. Porque se trilharmos pelo caminho da experiência, primeiro vamos negar a autoridade das Escrituras, e segundo as Escrituras não serão, praticamente, o ponto final, a palavra final. A conclusão será que o Cânon está aberto e as revelações continuam. As implicações serão seríssimas se crermos numa contemporaneidade dos dons extraordinários pois não poderemos crer no final do Cânon Neo-Testamentário.
Há um autor pentecostal que crê da maneira coerente com a doutrina pentecostal. Aliás, todo pentecostal deveria pensar assim com o risco de se contradizer. Jimmy Reinolds leva tão a sério a questão da profecia, da ciência e das línguas hoje, como era em Corinto, que para ele a questão de Cânon não existe. Ele diz que não há fechamento de Cânon pois a qualquer momento poderá ser encontrado um manuscrito no Egito e a Igreja poderá incluí-lo no Cânon. Ele crê na mesma natureza do dom de línguas, profecias e de ciência, da mesma maneira que aconteceu em Corinto, na época de Paulo.

As pessoas menos esclarecidas vão pegar este texto e vão argumentar assim: A ciência cessou? Todos dirão que não. A conclusão seria, então, que línguas também não. Eles colocam todos estes dons juntos. Mas, na verdade, a palavra ciência não se aplica à ciência tecnológica, mas a um dom espiritual de conhecimento revelacional. Se você pensar que é ciênda tecnológica, está afirmando que é o social, o circunstancial, interpretando a Bíblia.

Vamos definir as palavras gregas telos e teleioun, pois são muito importantes para o entendimento do texto.
Telos = fim, conclusão, término e alvo.
Teleion= completo, perfeito, e maduro.No texto que enfocamos (v. 10) encontramos a forma acusativa = teleion. Não podemos nunca confundir telos com teleion, pois não entenderemos o que Paulo quer dizer aqui. Na filosofia, telos pode significar o completar do desenvolvimento intelectual. Geralmente no N.T. quando Deus é chamado de telos, isso significa que Ele abrange o começo e o fim. Vejamos um diagrama para esclarecer:


teleioun telos
*-------->-------->-------->-------->--------> *

ek merous teleion ("perfeito")

*-------------------teleiôsis--------------------------- *

Vejamos a saída de um ponto inicial até um ponto final. Telos é o fim, a conclusão, o término. O teleioun (um participio) significa o que está andando, completando, amadurecendo, aperfeiçoando. O teleioun terá de chegar ao teleion. Há o telos = fim. Tudo que sai do ponto inicial e vai até o telos é o teleioun. Tudo que sai do ponto inicial e chega ao fim, ele é o "completo", "perfeito". A distância que o teleioun terá de percorrer é o que vemos no Novo Testamento grego como a expressão ek merous" - porque em parte conhecemos e em parte profetizamos" (ek merous = em parte). Então, tudo que é "em parte" é o ek merous. Toda extensão do programa do teleiou até o telos e que se toma teleion é chamado de teleiôsis. Tudo que é ek merous não é teleion. É o contraste. O teleiôsis = perfeição (todo o programa). A perfeição é sair do ponto inicial teleioun e chegar até o telos e percorrer todo o espaço para ser o completo (teleioun). É isto que Paulo está falando em 1 Co. 13:10.

A mesma coisa Paulo fala em Romanos 10:4 quando diz que "o fim da Lei é Cristo". Fim = telos. Teleioun = completo. Por que Deus é chamado de telos? Porque ele abrange o início e o fim. Qualquer coisa que atinge o seu telos é teleion, tudo que atinge o alvo é perfeito, tudo que chega à conclusão, chegou à perfeição. No A.T. a palavra kalar = levar ao término, ela foi traduzida por telos, na Septuaginta. No N.T. Paulo a emprega como resultado final, destino último, fim de um processo ou de uma ação (telos). Seu resultado é consumação, aperfeiçoamento, aquilo que é maduro, adulto.
Nos evangelhos sinópticos, nos discursos escatológicos de Cristo, telos se emprega como termo técnico para o fim do mundo (Mt.24:6) e Paulo a usa em 1 Co. 15:22-24. Sempre diz respeito a uma caminhada, a um progredir de um ponto até outro ponto. Telos è o final, a conclusão.
Exemplos:

1. "Fim da Lei' (Rm 10:4). "O fim da Lei é Cristo". O telos da Lei é Cristo!`

A Lei é um processo para a Justificação. Foi dada para ser cumprida.

•——> ——> ——> ———> ———> ——-> * te/os

a LEI V.T. e N.T. CRISTO (cumprida, levada à cabo)


A Lei leva a Cristo, ela é o pedagogo! Por causa do pecado a Lei tem que ir a Cristo obrigatoriamente. Lá ela é o "fim" — > ENCARNAÇÃO, MORTE E RESSURREIÇÃO

A Lei tem de caminhar em direção ao seu telos (Cristo). Como poderíamos interpretar tudo isso?

1) A Lei tem de conduzir a Cristo. Em toda dispensação desde o V.T. até o N.T. Não é a Lei do Sinai. É bom lembrar que a história da salvação não começa com o pecado e sim com a Lei que é apresentada no Éden, quando Deus dá a Adão uma Lei para que, Adão cumprindo-a, tenha o direito à vida eterna como recompensa. A história da Lei começa lá no Éden.

2) O fim da Lei é Cristo porque Ele cumpriria a Lei. Ninguém é encontrado para cumprir a Lei para justificação e isso só é feito por Cristo. Ninguém pode ser justificado pelo cumprimento da Lei. Só Cristo é o que pode entrar neste relacionamento legal, porque o homem depois da queda entra numa relação penal diante da Lei.





A Lei vai até o seu telos, que é Cristo. O fim da lei é Cristo: 1) ou indo até Cristo, ou 2) porque Cristo cumpre a Lei para nossa justificação. Em outras palavras, ou o alvo da Lei é Cristo ou Cristo cumpre a Lei para nossa justificação. Estas duas interpretações estão certas. Alguns acham que esta afirmação de Paulo significa que a Lei não mais é importante e sim a graça. Um autor dispensacionalista, no Novo Dicionário Internacional, disse que "o fim da Lei é Cristo" porque acabou a época da salvação pela Lei (como se a salvação no V.T. fosse pela Lei). Isso é errado.
Em Mateus 24:6 encontramos a questão do fim do mundo. Em 1 Co. 15:22-24 encontramos a mesma verdade, "...e então virá o fim”. A palavra "fim" é telos. Mas Paulo está falando que acontecerão várias coisas que caminharão para o telos.

« ——> ——> ——> ——> ——> ——> ——> * telos
Criação (Adão) —> Ressurreição de Cristo —> os seus na 2a vinda —> Estado Eterno
Redenção da Criação - a perfeição (teleiôsis)


Para se chegar ao telos há todo um processo e toda dispensação do plano de Deus para a humanidade está exatamente aqui neste diagrama. O teleion seria o perfeito, começou e chegou, o completo. A história é teleotógica, caminha para um fim (telos). Ela sai de um ponto e vai até o outro sem voltar. Não é cíclico. Deus determinou um telos. A humanidade caminha neste sentido e "virá o telos".
Visto tudo isso voltemos para os dons de línguas, profecia e conhecimento.

É infantilidade pensar que todas as vezes que se encontrar a palavra to teleion, se deve pensar em segunda vinda de Cristo, ou que significa maturidade ou fechamento do Cânon. Por que? Porque depende do assunto que se está abordando. Telos da Lei; telos da redenção do mundo. Temos de lembrar que telos é um fim, um alvo. Tudo para se chegar no telos se torna teleion. Tudo que chega no telos é teleion. Onde você encontrar a expressão teleion, tem de lembrar-se que algo saiu de um ponto inicial e chegou ao ponto final. Não pense logo em segunda vinda de Cristo ou na perfeição do céu. Estas palavras devem ser entendidas à luz do contexto no qual elas estão inseridas e saber o que o autor queria dizer, isto é, qual o evento que saiu do ponto inicial e chegou no ponto final. Dessa forma se atinge o seu teleion, que pode ser a segunda vinda, a consumação de todas as coisas, ou seja, tudo que fizer este deslocamento de um ponto ao outro até chegar à perfeição.

Mas o que sai de um ponto ao outro não pode ficar no meio do caminho, tem de chegar ao telos, senão não é teleion. Para ser teleion, tem de sair do ponto inicial e chegar ao telos. Doutra forma, se Jesus não é o telos da Lei, não haveria teleion e nós estaríamos perdidos. Jesus é o telos para onde a Lei tem de canalizar (por isso dizemos que a Lei cerimonial pregava o Evangelho - é o pedagogo). Os judeus entenderam tudo errado adiando que a Lei salvava e por isso a ela se "agarraram", mas a Lei não era um fim em si mesma. Não é um telos. O fim em si mesmo era Cristo e não a Lei. A Lei apontava para Cristo. Assim, Cristo é o telos da Lei.

Vejamos alguns argumentos com respeito aos dons.

1) A palavra telos, nem sempre indica de forma ideal, "perfeito". Todos os pentecostais que trabalham com a questão do telos ou teleion, como sendo o fim do mundo, afirmam que isso ainda não se cumpriu (telos, teleion), pois estas palavras se referem a segunda vinda de Jesus, significa o estado eterno de todas as coisas. Por este prisma temos que chegar à conclusão que os dons vão continuar até o estado eterno. Quando se inaugurar o estado eterno, não haverá mais dons. Mas, nós precisamos averiguar se Pauto está aplicando teleion ("o que é perfeito"), ao estado eterno ou à segunda vinda, como a Cartas Pastorais da Igreja Presbiteriana sugerem, quando diz "podendo perfeitamente ser uma referência à Segunda Vinda de Cristo" (pag.15). Este é que é o problema. A pergunta é: teleion em I Co. 13:10, refere-se à segunda vinda? Isto precisamos examinar.

Quando você pensar em telos, não deve trazer à mente, uma "perfeição moral". Poderemos até fazer isso se pensamos que nossa perfeição moral será atingida quando chegarmos ao telos da glorificação. Se está no processo, é teleioun, mas se chegou ao fim é teleion ou telos.Precisamos ver que o contraste que Paulo faz aqui é entre criança e homem. No v. 11 lemos: "Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino". Há um teólogo que diz que "menino" aqui, é o estado de todos os indivíduos antes da glória. Antes da glória, diria ele, todos são como menino, como criança. Mas o que percebemos aqui, é a ideia de maturidade - menino & homem. Não podemos perder isto de vista. O argumento pentecostal diz que os dons de Corinto estavam evidentes como hoje também estão e acabarão só quando vier "o que é perfeito". O que- é

"o perfeito" no pensamento pentecosta? Resposta: segunda-vinda de Cristo, a glorificação, estado eterno. O ensino pentecostal diz que os dons extraordinários só acabam com a vinda de Cristo. Mas esse "perfeito" já veio ou está ainda para vir?
Podemos concluir que o "perfeito" já veio, pela continuação do contraste no v.11, entre "menino" e "adulto". Paulo está dando ênfase, na questão imaturidade. Não temos com fugir disso!

2) Telos não pode, neste contexto, se referir ao céu.-Pois não há nenhuma indicação disso no texto. Qualquer versículo que usarmos aqui não dará certo para pensarmos em teleion como céu. Se pensarmos assim teremos problemas seríssimos. No v. 12 lemos: "Porque agora vemos como em espelho, obscuramente (em enigma), então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido". Qualquer pessoa que ler este versículo se apressará logo em dizer que aqui há uma referência ao céu. "Porque agora vemos como em espelho, obscuramente (como enigma), mas veremos face a face". Qualquer pessoa e muitos autores, dizem que esta expressão se refere a ver a Deus. Infelizmente John MacArthur diz isso. Mas não é! Tanto a expressão "espelho", como "face a face" são colocadas como opostos e são metafóricos. O que é 'Ver em espelho" ou em "enigma, obscuramente"? Podemos ver uma passagem semelhante em Números 12:6-8. Ali Deus diz que fala a Arão e a Miriã em sonhos, mas a Moisés fala boca a boca.

Há o mesmo contraste: sonho & boca a boca. No texto de Coríntios é: enigma (obscuramente) & face-face. Por que? Porque ele iria olhar no espelho, que naquela época era mostrada uma imagem turva, embaçada, e veria um "enigma", obscuramente, um vulto. A ideia de ver em espelho é como se não visse o teleion, o que é real, o perfeito, o real. Mas o que é ver face a face? Significa não olhar mais em espelho, em enigma, mas ver a sua face verdadeiramente como ela é de fato. Não é ver a face de Deus, como se pensa nos meios pentecostais. Perguntamos: "espelho" é metafórico? A resposta é: sim, é metafórico. Então, por que "face a face" não é? Seria fazer um contraste entre uma coisa que é metafórica e outra que não é. Está tudo errado!

Há um outro erro que se comete aqui. Vejamos a palavra que Paulo usa no versículo 12: "Porque...". Pauto está se referindo ao conhecimento. Podemos ver o contraste entre o verbo ver e o conhecer. Paulo diz que, "Porque agora vemos como em espelho...", mas depois diz: "agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido". Na verdade o que Paulo quer dizer não é ver mas conhecer. Toda a figura de linguagem que Paulo usa aqui do "ver em espelho" e "ver face a face", na verdade não é ver e sim conhecer do mais enigmático ao mais pleno e mais claro. É isso que Paulo quer dizer.Lembramos que o dom que Paulo está falando aqui não é o dom de vidente, mas o dom do conhecimento. Paulo está falando do dom de profecia e conhecimento (ciência). Pauto não discute línguas (elas ficaram para trás) e passa a se preocupar com profecia e conhecimento. Paulo diz que ver como em um espelho, mas depois verá face a face, ou seja, agora eu tenho um conhecimento pequeno, porque ainda é ek merous (em parte; "estou caminhando"), mas vou chegar no conhecimento teleion. Vou conhecer do menor para o maior, do menos para o máximo; do em parte para o completo. Se você diz que isso acontecerá na glória está usando

um argumento pentecostal porque o ensino pentecostal afirma que só vamos conhecer plenamente na glória. Mas em Efésios 4:13-14 vamos compreender se o conhecimento que Paulo se refere é pequeno ou grande, se é para agora ou para o estado de glória eterna. Lemos: "...até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade ao estado de homem feito à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos...". Seria isto só para a glória? Paulo esta dizendo que é só para a glória? Para Paulo o "ter pleno conhecimento do Filho de Deus", não é abarcar a totalidade do conhecimento de Deus. Não é, e nem podia ser. Estas palavras são pesadíssimas.

"Ao estado de homem feito" (andra teleion - aquilo que atingiu seu alvo, maduro, perfeito). Este é o teleion que nós estamos discutindo. Nos dois textos (Co. 13 e Ef.4), todos os mesmos elementos estão presentes, "...plenitude de Cristo...". Você pode pensar que isto só pode ser na eternidade. Mas o versículo 14 diz: "... para que não mais sejamos meninos, agitados de um lado para outro (inconstantes)". Isso não tem nada a ver com plenitude do conhecimento que teremos na glória. Mas o contraste aqui é entre menino e adulto, ou seja, agora (na época de Pauto), "todo conhecimento é revelacional, é profético; é como se Paulo dissesse que os crentes de Corinto não conheciam tudo e que eles dependiam dos dons de profecia e de conhecimento (ciência) para revelar o que eles ainda não tinham: a plena orientação, a plena revelação. Mas iria chegar um momento em que eles se tornariam adultos, não mais meninos inconstantes.

O grande problema é que, muitos têm a mente voltada para dizer que a plenitude do conhecimento, da qual Paulo se refere, é uma perfeição para a eternidade, pois Paulo está sempre dizendo que os crentes devem ir à maturidade, vamos chegar à maturidade. Paulo não está fazendo um contraste entre uma coisa terrena e outra celestial. Não teria sentido, pois, para que Paulo iria fazer um exórdio à igreja, se ele soubesse que os crentes só deixariam de ser "meninos" na glória? Por que Paulo diria para eles que deixassem de ser meninos? Para que um capítulo inteiro neste sentido? Paulo diz na carta aos Coríntios, logo antes do capítulo 13, que passa a mostrar-hes "um caminho sobremodo excelente" e fecha a ideia recomendando que eles sigam o amor (cap.14:1). Como Paulo daria este exórdio, se ele estivesse querendo dizer que o caminho normal para o amadurecimento da Igreja ou da chegada ao pleno conhecimento, fosse só no céu. Seria algo sem sentido ler 1 Coríntios com esta visão.

Os que dizem que nós seremos sempre meninos até chegarmos à glória, perguntamos: Seremos assim porque não sabemos o caminho? Se eu tenho de ser maduro hoje, como Paulo recomenda, mas não sei como, não sei o que é, não me foi revelado por Deus, que culpa tenho eu de não ser maduro, de ser sempre menino? Por isso que os autores pentecostais chegam a dizer que o Cânon não foi terminado, pois se chegarmos a conclusão de que a Igreja não chega à maturidade hoje, teremos de admitir que a mesma natureza e o propósito dos dons extraordinários da época de Paulo, quando o Cânon não estava ainda completo, são os mesmos de hoje; que a Igreja ainda precisa de dons de revelação para completar a edificação dos crentes, pois a Biblia não é suficiente. Não temos como fugir deste pensamento. Isso é um sistema. Se você entrar por este raciocínio, terá de ir até o fim, senão entra em contradição. Você terá de admitir que o Cânon não foi encerrado.Paulo também não está falando de maturidade moral. É necessário que se diga isso. Não é maturidade de relacionamento afetivo.

Não é isso! A maturidade que Paulo se refere é de conhecimento (ciência), "...até que se chegue ao pleno conhecimento do Filho de Deus". Por isso Paulo vai dar ênfase no conhecer em parte, no profetizar em parte (v.9). Porque, se jogarmos a plenitude disso só para a eternidade, estaremos dizendo erradamente que na eternidade nós vamos profetizar. É esta a conclusão a que nós vamos chegar. Seria um absurdo! Mas Paulo está dizendo que nós começamos como criança e terminamos como adulto (to teleion) na questão da profecia e do conhecimento.A profecia não cessou, mas chegou, hoje, a uma dimensão tal que ela é diferente. O conhecimento é de outra dimensão daquela que a Igreja precisava na época de Paulo para ser doutrinada. Os crentes não tinham a Bíblia completa, precisavam daqueles dons para serem doutrinados. Imaginem uma Igreja caminhando sem Bíblia! Era a situação da Igreja naquela época e por isso, havia necessidade destes dons revelacionais, que revelavam a vontade de Deus. Paulo estava dizendo que haveria uma maturidade dessa Igreja em relação ao conhecimento que esta igreja teria de ter e que ela dependeria de toda obra da Nova Aliança.

Não é que desapareceria a profecia e o conhecimento, pois assim não se converteria um pecador, nem haveria Igreja e todos seríamos ignorantes. Por isso que as Cartas Pastorais erram quando elas criticam as interpretações que "requerem a cessação da profecia e da ciência...". Não é isso. O termo grego para cessar é diferente de desaparecer, passar. As línguas cessam e perceba que Paulo nem toca mais no assunto, mas a profecia e o conhecimento serão aniquilados. Como será este aniquilamento? Paulo vai explicar como isso acontecerá.A expressão "face a face e em enigma (obscuramente)" é um contraste entre o conhecimento mais claro e o menos claro; e não entre um conhecimento da terra e o da glória. Ainda quanto à questão do pleno conhecimento "conhecerei como sou conhecido", não se refere ao pleno conhecimento da glória, pois em Efésios 4:13, Paulo fala do andra teleion (homem perfeito).

Você poderia perguntar: como pode o homem ser perfeito? Eu devolvo a pergunta fazendo uma outra pergunta: Se você diz que a perfeição ("homem perfeito", que Paulo refere) é no céu, como é que Paulo usa esta expressão andra teleion? Paulo está dizendo: eu quero que vocês sejam todos ttíeion (perfeitos). Mas se alguém disser que Paulo se referia ao homem que só pode tomar "teitmho" aperrase que poderá tomar o que é sólido no céu, eu lhe respondo que Paulo apresenta a palavra "pleromatos", pleno conhecimento. Isso não é para o céu, porque perfeição no céu é o óbvio, não há nem necessidade de se falar sobre isso, e não era sobre isso que Pauto se referia. Paulo não falaria assim: "irmãos, haverá uma época em que vocês já estarão maduros (no céu) e nâo precisarão mais de um conhecimento em parte". Para que Paulo falaria isso? Não é a sequência natural? No céu não será assim? Por que Paulo usaria isso para fazer um exórdio à Igreja? Paulo usa a expressão "pleromatos to cristo”, a plenitude de Cristo. Este é o conhecimento a que Paulo se refere e é revelada à Igreja. O homem é perfeito no conhecer a Cristo. Sem Cristo não há perfeição. Esta é uma obra do Espírito, aperfeiçoar Cristo em nós.

"Conhecerei como também sou conhecido", significa como a minha própria face é. Quando vejo em enigma (obscuramente), estou me vendo de forma opaca, mas irei ver como sou conhecido pelas pessoas, como elas me vêem. Não é ver face a face a Deus, pois Paulo não está tratando das coisas da eternidade. Para a época de Paulo, o conhecimento de Cristo não era total. A Igreja dependia da revelação. Por isso o apóstolo diz "agora conheço em parte". A revelação não só era incompleta, como era para um e não era para outro. Mas Paulo diz em Ef 4:13 que tem de ser para a Igreja. Por isso que as línguas tinham de ser interpretadas para todos.

E por que não vinha sobre todos? Porque a Igreja ainda estava exatamente nesta caminhada de conhecer a plenitude de Cristo. Por isso Calvino disse que uma criança, hoje, que aprende sobre Cristo, ela é "doutora" (Ph. D.) sobre qualquer profeta do V.T. Calvino quer enfatizar que essa criança conhece mais de Cristo, o face a face, do que o profeta que só conhecia no espelho, em enigma, obscuramente. A plenitude do conhecimento (Ef.4:13) é exatamente essa plenitude da revelação. O V.T. não serve para ensinar a plenitude de Cristo. Ele prega o Evangelho, mas de maneira tal que quando o homem se depara com a Lei de Deus, esta lhe faz exigências que ele não consegue cumprir. Por isso ele recorre a graça. Esta é a pregação do V.T.. Mas no N.T., como diz Calvino, Jesus é o Sol da Justiça; não são apenas aquelas chispas, fagulhas, do V.T..

Esse é o conhecimento que Paulo está tratando aqui. Nós não podemos perder de vista o tema dom de conhecimento e profecia, pois caso contrário, Paulo estará tratando de um assunto e dando resposta a outra questão que não tem nada a ver com o tema em análise. Paulo não está falando do caminho para a eternidade.Todo nosso esforço aqui é uma tentativa de mostrar que quando a verdade Bíblica foi terminada, foi escrita, a natureza da profecia e da ciência (conhecimento) mudou. Não é mais a de Corinto.

Do contrário teremos, de receber novas revelações, a Bíblia não é exclusivamente a completa e autoritativa Palavra de Deus (Sola Scriptura) e do contrário iremos utilizar outras fontes de revelação que não a Bíblia, para tratar das mesmas verdades. Nós não temos mais profecias e conhecimento revelacionais. O "perfeito" que Paulo fala, é exatamente o que não é mais em parte.

3) A permanência da "fé" e da "esperança" pode nos indicar o contexto em que Paulo enfatiza, pois os dois elementos são característicos da vida cristã e não da vida glorificada. Certo teólogo faz uma interpretação extremamente forçada ao dizer que "a fé no sentido Paulino, ou seja, mais amplo, jamais cessará". Fiquei pensando qual o texto que o autor se baseia para fazer esta afirmação, pois ele não cita. Alguém me disse que talvez fosse "os dons de Deus são irrevogáveis". Mas, eu pergunto, o dom de apóstolo ainda existe? Claro que não. A meu ver só há um texto que fala nisso. "O justo viverá por fé" (Rm.1:17). O autor continua dizendo que "...ela é a aceitação grata e confiante de Deus como Ele é. Com a vinda de Jesus, grande parte de nossa fé será concretizada, mas ainda esperaremos ou confiaremos em Deus para a vida. Nossa esperança estará sempre em Deus". Há dois problemas aqui.

--> Esse conceito de fé não é o conceito de fé Neo-Testamentário. O conceito de fé no N.T. é que fé é a "certeza de coisas que se esperam e uma convicção daquilo que não está presente" (Hb.11:1). Fé na vida cristã é isso. Fé se acaba quando chegarmos na eternidade pois estaremos com aquilo que esperamos e aguardamos (pela fé).

--> O apóstolo Paulo diz que esperança que se vê não é esperança. Como, pois, esperamos uma coisa que já vemos? Então estes dois temas, fé e esperança, são da vida cristã, do dia a dia e não da eternidade. Por isso os pentecostais têm de forçar o texto aqui. Teríamos de procurar onde se encontra, na Bíblia, essa definição de fé e esperança na eternidade. Não há! Seria uma argumentação arbitrária. A verdade é que Paulo, quando se refere a fé, esperança e amor, está se referindo ao que acontece agora. Paulo não está falando de dois tipos de fé, dois tipos de esperança e dois tipos de amor. Paulo não está falando de eternidade.

4) O uso da voz passiva sobre profecias e conhecimento (ciência), bem como a voz média, que trás a ideia reflexiva, nos dá a clara indicação de que o conhecimento, ciência, e a profecia, serão levados a um telos. Em 1 Co. 13:8 lemos que as profecias desaparecerão. O verbo aqui, katargetesontai, está na voz passiva e indica que algo aniquilará esta profecia. Mas as línguas cessarão. O verbo ali está na voz reflexiva, ou seja, cessarão por si mesmas. Nada as aniquilará. O conhecimento (ou a ciência) passará. O verbo é katargetesetai diz que o conhecimento também será aniquilado, algo o aniquilará. Aqui há uma voz passiva novamente, ou seja, sobre profecia e conhecimento, alguma coisa vem para aniquilá-las; elas passarão. Mas as línguas, não. Simplesmente cessam. Não é somente as vozes dos verbos, mas há também o tipo de verbo. Por exemplo, o verbo katargeu, que significa aniquilar e o verbo pauo que significa cessar.

Dr. Carson faz uma critica severa a quem faz este tipo de interpretação dizendo: "Quando analisamos o emprego do verbo pauo, no N.T., descobrimos que ele normalmente aparece na forma média. Na voz ativa, o seu significado léxico é fazer parar, parar, acalmar. Na voz média é parar a si próprio ou cessar. Na voz média, como aparece aqui, pausontai, significa parar a si próprio". Perguntamos? Quem vai parar as línguas? Poderíamos perguntar a Paulo: "Paulo, o que cessará as línguas?" Resposta de Paulo: "Ela cessará a si mesma". Logo nos vem a mente a questão das línguas como um sinal. O sinal está presente enquanto há necessidade do sinal. Não mais havendo necessidade do sinal, o sinal para. Porém, profecia e conhecimento fica diferente, algo precisa para-los. Por isso Paulo diz que "o amor jamais acaba; mas havendo profecias, desaparecerão (algo as fará desaparecer); havendo línguas, cessarão (cessarão por si mesmas); havendo ciência, passará (algo as fará passar)".

O que ficamos sem entender é, se Paulo está tratando de três coisas que serão aniquiladas da mesma forma e desaparecerão do mesmo jeito, por que ele dá um tratamento especial, no v. 9, à ciência e profecia? Ele é claro ao dizer que "em parte conhecemos, e em parte profetizamos". Perguntamos a Paulo: "E as línguas, por que não estão no v. 9, junto com os outros dons?" "Paulo, por que você não disse: em parte falamos línguas?". A conclusão é que as línguas não eram em parte, as línguas eram um dom que não era em parte. Não havia menos e mais línguas. Porque, linguas não caminhavam para um telos como a profecia e a ciência caminhavam. Isso Paulo vai dizer no versículo 10: "Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado".

O que será aniquilado? Resposta: o ek meros, o que é em parte: a profecia e o conhecimento (que eram em parte) (v.9). Paulo não está dizendo que o conhecimento e a profecia seriam aniquilados. A sua forma ek meros (parcial), é que será aniquilada. Por que Paulo não fala mais nada das línguas? Por inferência, nós chegamos à conclusão que nós temos ou não, hoje, o dom de profecia de 1 Corintios? Resposta: Não! Não temos mais este dom revelacional. Por isso, se este dom, hoje, não é revelacional, concluímos que o que era em parte, foi aniquilado. Hoje, o que temos é a revelação completa, a profecia completa. Se dissermos que ainda estamos "no meio do caminho" (ek meros), estaremos no mesmo tempo da época apostólica, quando a Igreja recebia revelação para ser doutrinada, no mesmo pé de igualdade. Não há saída. Por isso que Ray Osborn diz que o Cânon não está completo, porque, se nós chegamos a conclusão que o dom de conhecimento e profecia se aperfeiçoaram, amadureceram, chegaram ao que é perfeito, ao teleion, teremos de admitir que o Cânon já foi completado.

Osborn, como é bom pentecostal não admite isso. Ele acha que o Cânon está aberto para que a Igreja ainda possa receber dons revelacionais, extraordinários. Por isso, quem quer ser sincero com sua doutrina de que o dom de profecia hoje é a mesmo de Corinto, não poderá admitir fechamento do Cânon.Alguém poderia perguntar: quando cessou estes dons extraordinários (línguas, profecias, ciência)? Alguns dizem que foi quando o Cânon fechou. A própria História revela que no segundo século não havia mais nenhum registro de línguas, não havia mais dom de línguas nas igrejas. Mas a evangelização não havia parado, e sim começado. Os pais da Igreja não falam em línguas. As Cartas-Pastorais (Igreja Presbiteriana) falam que as línguas cessaram algum tempo após a época apostólica. Só Montano, o fundador de um movimento apocalíptico cristão, no século II (na Frigia), dizia ter recebido revelação direta do Espírito Santo de que, como representante do Espírito Santo, lideraria a Igreja durante seu último período aqui na terra. Ele era ajudado por profetisas para "renovar" os dons, o poder e os sinais ocorridos durante a era apostólica.

Foi considerado pela Igreja como herege por seus abusos. Ninguém explica porque, já no segundo século, desaparecem as línguas, mas a Bíblia não desaparece. A profecia e o conhecimento, plenos, (Bíblia) não.
Quero dizer que não foram os exageros do Montanismo que fizeram as línguas cessarem. Não foi por isso que elas cessaram. Porque se a Igreja continuasse praticando o dom de línguas, seria exatamente como é hoje. Não há, hoje, os "exagerados"?! E por causa dos "exagerados" nós iríamos abandonar uma prática lícita? Não. Se é prática lícita da Igreja, por que Montano, por causa de seus exageros, levaria a Igreja a abandonar esta prática dos dons de língua? Creio que autores não quiseram dizer isso. Não foi por causa de Montano. As Cartas Pastorais ainda dizem que "Crisóstomo, um teólogo do IV século, testificou em seus escritos que as línguas e outros dons 'espetaculares' haviam cessado tão antes de sua própria época, que ninguém mais sabia ao certo das suas características. Assim, através dos séculos, a Igreja vem servindo a Deus, evangelizando o mundo e sendo edificada sem o pretenso auxílio das mesmas". Os maiores avivamentos da História depois de Pentecostes não ocorreram com a presença do dom de línguas.

O problema é que, quando eu ligo a questão de que Paulo diz que estes dons cessarão e há um momento na História da Igreja que de fato cessam, os Pentecostais dizem que foi por causa da incredulidade que este dom de línguas cessou. Neste caso, temos de perguntar é dom ou não é? Um dom não pode parar por falta de fé, pois não seria dom. Mas, certo pastor muito famoso no Brasil (Caio Fábio), disse que foi porque esqueceram de dar ênfase neste dom pois em cada época, cada teólogo enfatizava tal e qual doutrina, e esqueceram da "doutrina dos dons". Mas nós voltamos a perguntar: é dom ou não é dom? Quer dizer que o dom deve ser busacado, enfatizado, para-que ele "chegue"? Se for assim, não é dom. A Igreja ficaria séculos sem a prática deste dom, sem algo essencial à edificação dos crentes porque os teólogos esqueceram de enfatizá-lo? Não seria dom.

Um outro problema é que, se o dom de língua vem surgir no século XX com os pentecostais, perguntamos: Paulo disse que o dom cessaria e que depois voltaria? Ou diz apenas que cessaria? Por isso é uma grande interrogação estas línguas que estão ai. Elas voltaram porque agora os crentes estão mais "crédulos" ou agora é a época onde se voltou a se dar ênfase neste dom "esquecido"? Se for assim não é dom! Se for assim, os pentecostais estão com a razão, é só buscar quando se quiser e "falar", porque não é dom. É uma técnica aprendida, e vou praticá-la quando desejar. Se é dessa forma, não é o dom de línguas do Novo Testamento. Não tem nada a ver com a teologia Paulina sobre o aspecto soberano do dom. Se fizermos a interpretação que o dom cessou por causa de incredulidade, ficamos com este problema de responder: que dom é este? Se cessou provisoriamente não houve mais Igreja. Se o dom, que era para permanecer até hoje e edificar a Igreja, esta Igreja não deu-lhe mais lugar, então não houve Igreja, pois não tinha edificação. Sempre alguém diz que já viu alguém falar línguas e alguns as interpretam...etc.

Bem, o problema é: você vai interpretar a Palavra à luz da experiência, ou conhece a experiência lá para olhar para a de cá e concluir que realmente estas línguas são as do livro de Atos? Os próprios pentecostais não são unânimes na questão da natureza e propósito do dom de línguas. Existem muitos pensamentos diferentes a respeito. De seis autores pentecostais que consultei, não há dois concordantes. Não há clareza sobre a questão deste dom. Para surgir hoje num padrão diferente do N.T. inevitavelmente ficamos confusos. Por isso não podemos aceitar ipsis literís o modelo moderno de línguas.Carson diz assim: "...nunca transmite de forma não ambígua o sentido, parar por si mesmo e diversas passagens excluem sugestões como a força semântica, imediata, da voz média deste verbo. Por exemplo, em Lucas 8:24, lemos que Jesus repreendeu o vento e a fúria das águas e tudo cessou e o verbo está na voz média e é epaisanto que é o mesmo verbo que diz que as línguas cessam". Mas ele pergunta "quem foi que cessou?".

"Foi o poder de Jesus". O que Carson quis dizer é que não há fundamento exegético para se dizer que as línguas cessam por si mesmas. Mas o dom de profecia e de conhecimento serão aniquilados por um poder de algo que virá e será colocado no seu lugar. Mas o que ele não leva em conta nem responde é uma questão muito séria que há aqui. No v.8 lemos: "...mas havendo profecias, desaparecerão (katargeu); havendo línguas, cessarão (paou); havendo ciência, passará (katargeuf. Depois, Paulo cita, no v.9, "...porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será katargeu - aniquilado". O verbo katargeu novamente. Por que isso? O "perfeito" aniquilará o que é em parte (profecia e o conhecimento). Por isso o apóstolo usa o verbo paou para dizer que as línguas cessarão. Nada as aniquilará, mas o. "perfeito” aniquilará o que é em parte. Agora eu entendo porque Paulo usa este dois verbos. Para fazer um contraste com o dom de línguas que nada o aniquilará. Paulo usa o passivo, mas depois ele explica porque esta usando o passivo: serão aniquiladas (profecias e ciência) - linguas cessarão (paou).

Se o verbo está no passivo, pergunta-se: quem vai aniquilar? Por que serão aniquiladas? O próprio Paulo responde dizendo que quando vier o to teleion, este aniquilará o que está em parte. Carson faz esta critica para evitar os exageros. Digo, porém, que aqui tem razão de ser voz passiva e voz média.Porque profecias e conhecimento continuarão (e línguas cessarão)? Porque chegam no telos. Quem ficar sem chegar ao telos, cessará. É o caso das linguas, que começam, têm um propósito e depois param.

Mas profecia e ciência, continuarão até o telos. Por que profecia e conhecimento permanecem? Por que agora temos a perfeição da profecia e do conhecimento. Vejam que as língua não caminham para o telos. O telos da língua estava lá em Atos, em Corinto, no primeiro século. Mas a Igreja não caminhara sem profecia e sem conhecimento, serão levadas ao "que é perfeito". Não serão mais em parte. Serão aperfeiçoados.


Línguas cessam To teleion -> telos*

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Dons Revelação Parcial Conhecimento e

(na época apostólica) (ekmeros) Profecia plenos { não serão "em parte"}

{ MATURIDADE DA IGREJA}

As línguas cessam por terem sido um sinal e por isso não chegam ao aperfeiçoamento; elas tiveram um propósito e param pois não têm o alvo (teleion) como a profecia e a ciência. Toda profecia e conhecimento que Paulo cita não é pelas Escrituras; são revelações.Há uma colocação que poderia ser feita por alguém. E as passagens que nós não entendemos, elas serão aperfeiçoadas quando? Esta é uma colocação dos pentecostais. Eles afirmam: se o dom de profecia e o dom de conhecimento já chegaram ao teleion, à perfeição, nós, então, já conhecemos tudo? A pessoa será obrigada a dizer que não sabe tudo da Bíblia. Nesse caso eles dizem: então o pleno conhecimento só poderá ser na segunda vinda; não aconteceu; "o que é perfeito" ainda acontecerá, será a vinda de Cristo, ou o céu. Este parece um forte argumento, pois não temos um conhecimento pleno das Escrituras. Como podemos responder a esta argumentação? Onde está a falha desta argumentação?

Como disse Calvino, uma criança hoje quando estuda as Escrituras, é Ph.D. em comparação com os crentes de Corinto, sabe muito mais do que um profeta do V.T.. Na época de Paulo a Igreja caminhava na dependência de dons que revelavam. Então Deus não revelou tudo. O pleno conhecimento, para aquela época, seria exatamente o que conhecemos hoje. Eles tinham o dom de profecia e conhecimento apenas em parte. Não podemos nunca comparar o conhecimento que temos hoje, com o da época de Paulo em Corinto. A plenitude desse conhecimento é sempre uma comparação entre o que a igreja hoje conhece e o que a Igreja de Corinto conhecia. A profecia e o conhecimento, hoje, não são mais em parte. Imagine a Igreja daquela época desejar saber algo sobre a vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos e ter de esperar um domingo para ir à igreja na expectativa de Deus revelar, se quisesse, estas verdades, a alguém que tivesse este dom de profecia e conhecimento para poder aprender. Mas hoje, a qualquer hora, podemos abrir a Bíblia nestes assuntos e tirar as dúvidas. Além disso, várias pessoa, baseadas na Bíblia, estão escrevendo, expondo, analisando a Palavra. Nosso conhecimento é muito maior do que aquele dos irmãos de Corinto. Eles dependiam das revelações.

Há um autor que defende que o ek meros não é o que está em parte, mas o individual. Ele diz que o conhecimento de Corinto era tão pequeno, tão limitado sobre a revelação, que o ek meros significa individual. Ele está tentando dizer que Não era qualquer pessoa que podia conhecer sobre qualquer assunto, e sim uma pessoa, em especial, porque a ela teria sido dado aquele conhecimento que ele teria de passar para a Igreja. Por isso era terminantemente proibido o uso de línguas sem interpretação. Mas Peter Wagner diz que, línguas, eram "um outro lipo de dom": O orar e cantar em línguas. Isso na verdade não tem nenhum fundamento. Nós concordamos que os crentes de Corinto dependiam de revelações de algumas pessoas para sua edificação. Mas é bom dizermos-que Paulo não usa ek meros (em parte) no sentido de individual, mas parcial mesmo, pois depois vem o completo, o perfeito. Não podemos contrastar o perfeito com individual e sim o perfeito com o parcial. O todo com a metade.

Podemos resumir dizendo, que ao contrário da profecia e da ciência, que era ek meros (na época de Paulo), mas quando chegassem ao telos, a forma ek meros de ciência e profecia seria aniquilada. Tendo agora o telos da profecia e da ciência, as línguas não são incluídas no processo ek meros, pois não há nenhum alvo de aperfeiçoamento para elas. Não há, a não ser que o movimento de línguas hoje seja isso, Porém, exegeticamente, biblicamente não se pode provar isso. O que resta é fazer o que os pentecostais fazem: dá um "salto" por cima da Bíblia.

Na verdade, os supostos profetas de hoje se tomaram "sacerdotes" (mediadores) e Deus não fala mais com os crentes, mas falam a estes "sacerdotes". Para os crentes se achegarem a Deus têm de ter sacerdotes, ou seja, mediadores. Mas, perguntamos se o cristianismo de hoje é de mediadores. Ouvimos os supostos sacerdotes de hoje dizerem: Deus me disse para você fazer isso ou aquilo. Mas você deve perguntar a estes "sacerdotes" ou "profetas": que dom é este? No Novo testamento o que é o dom de profeta? Qual a visão Neo Testamentária? No Novo Testamento não se vê esta ordem que nós estamos vendo hoje. Houve um dom de Profecia para Paulo porque ele era apóstolo, tinha credenciais definidas, estava escrevendo a Bíblia, Deus estava revelando toda a Sua história da salvação. Eu não faço parte desta revelação. Eu usufruo as bênçãos desta revelação. Eu sou fruto dessa história. Não temos mais profetas neste sentido. Profeta hoje, é aquele que anuncia o que está revelado, o perfeito, o completo.

Se formos raciocinar pelo caminho do pragmatismo, de que muitos que se dizem profetas estão "acontecendo", então, valem as profecias de Nostradamus, do movimento carismático e tudo seria correto, tudo seria bom porque "funciona”. Este pragmatismo não pode dar certo em relação à Palavra de Deus, porque o próprio Jesus disse que milagres não são certeza da presença do Espírito (Mt. 7). Os magos fazem milagres, as seitas satânicas falam línguas. Portanto, milagres e curandeirismo (que funcionam) não dá credencial para a natureza do que é verdadeiro. A quem usa o argumento de que o movimento pentecostal tem feito a Igreja crescer com toda esta ênfase nos dons extraordinários eu respondo dizendo que a Igreja e vários movimentos históricos cresceram tremendamente, chegando a fazer nações inteiras conhecerem a Cristo sem usar estes dons de línguas, ou qualquer dom milagroso.

5) Se o telos refere-se ao céu, isso quer dizer que não somente conheceremos o todo, mas também profetizaremos plenamente. Isso está certo? Como já falamos, muitos dizem que este conhecimento é o do céu. Mas, Paulo disse que a questão não era só em relação a conhecimento, mas diz que "que conhecemos em parte e profetizamos em parte", mas quando viesse "o que é perfeito" (telos ou teleion}, o que era em parte seria aniquilado. Se telos ou to teleion for o céu, perguntamos: no céu vai haver profecia? Se o que é em parte se torna completo no céu, poderíamos perfeitamente concluir que lá no céu haverá profecia e ciência. Mas, perguntamos se há base escrituristica para fazermos tal afirmação. Não, não há nada na Bíblia que defenda isso. Haverá profecia no céu? Não! Então, este conhecimento não se trata de conhecimento celestial.

6) Teleion não pode se referir neste contexto à segunda vinda de Cristo pelo fato de que a segunda vinda não corresponder a um processo iniciado. Perguntamos: a segunda vinda já começou? Não. A segunda vinda é um teleion? Não, mas é um teleioun, um processo em andamento até o estado eterno e termina. Para que possamos dizer que a segunda vinda é um teleion temos de dizer que a segunda vinda termina absolutamente tudo. Mas dentro deste processo da segunda vinda há a ressurreição de Cristo, a ressurreição dos mortos na Sua vinda, e aí virá o telos quando o Filho entrega o Reino ao Pai. Então a segunda vinda não é o telos, mas o teleioun que caminha para o telos. Teleion é sempre contrastado com ek meros. O que for ek meros não é teleion.

7) As duas ilustrações de Paulo, o desenvolvimento progressivo desde a infância até a maturidade na vida pessoal do apóstolo, serviria melhor para ilustrar o desenvolvimento do corpo de Cristo. A ilustração do ver em "espelho" que Paulo usa: "...então veremos face a face", não pode se referir ao céu, pois a expressão "espelho" é metafórica. Logo, "face a face", tem de ser metafórico também. Também, o que Paulo está dizendo com "ver" ("vemos como em espelho"), na verdade está dizendo "conhecer". Pois depois veremos "face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido". Você me vê "face a face", mas eu não me vejo. Você me vê como de fato eu sou. Mas eu não me vejo porque, quando olho para o espelho, vejo obscuramente e não como realmente sou. Da forma como eu sou "conhecido", eu não me vejo. O "face a face", é exatamente isso. Em Tiago 1:23-24, temos uma pista desta realidade, o Evangelho sendo visto num espelho. O ouvinte que não é praticante da Palavra é comparado a um homem que se vê num espelho. O espelho é o não real.

8) Se o teleion ("o que é perfeito") não chegou ainda, então não podemos considerar encerrado o Canon e o conhecimento e a profecia ainda são em-parte (ek meros). Mas podemos dizer que estes dons ainda são em parte? Quem se atreve a dizer isso? Se alguém se atrever a dizer que o conhecimento e a profecia são apenas em parte porque só na eternidade será o teleion, então, perguntamos: o que falta ser revelado? Será que esta pessoa tem a visão de profecia e conhecimento como aquilo que eu tenho de fazer amanhã, ou o que acontecerá amanhã... Paulo nem ao menos sonha com isso aqui neste texto. Isto é algo muito sério pois, se você disser que, o conhecimento e a profecia ainda são em parte, então o que fazer do texto Galatas 1.7-8: "Mas, ainda que nós.ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema". Em João 15.15: "...porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer".

processo é assim: Jesus revela Deus aos apóstolos; o Espírito toma os apóstolos e lembra-lhes tudo o que eles ouviram de Cristo. Jesus disse que eles não deviam ficar preocupados a “redigir" nada naquele momento pois o Espirito iria fazer com que eles se lembrassem de todo ensino do Mestre no momento oportuno. Então, este conhecimento é a medida da revelação. Podemos dizer que Paulo não estava diretamente falando do Cânon e sim de que haveria uma maturidade da profecia-e do conhecimento no momento em que a revelação estivesse completa. Mas, chegamos por inferência ao Cânon. O conhecimento e profecias chegariam à sua plenitude quando a Palavra de Deus fosse revelada na sua totalidade.

Quais as novas verdades do processo do teleion? Ele não chegou? Quais as novas verdades e revelações? Os pentecostais crêem assim. Os Mormons também. Eles crêem tanto assim que têm apóstolos ainda e têm profetas, apóstolos, seus escritos...A palavra teleion para os pentecostais significa que alguma coisa, agora, está parcialmente aqui; está se desenvolvendo presentemente e um dia há de se completar. A palavra cabe bem no conceito de revelação progressiva do Novo Testamento ao qual Paulo tinha conhecimento. Paulo tinha conhecimento de que a Palavra iria caminhando até chegar na plenitude de Cristo; Há um autor que defende que "o que é perfeito" não chegou ainda, que diz: "E como podemos estar tão certos de que o Cânon foi completado hoje? Suponhamos que das areias do Egito, os arqueólogos descubram uma epístola de Pauto que ainda não se encontra no Cânon..."

E continua: "parte do que é perfeito teria demorado muito para chegar, mas não seríamos mesmo assim obrigados a reabrir o Cânon e incluir um outro livro? O Cânon não foi, afinal, terminado por-mandamento divino mas pelo critério humano com a Igreja decidindo da melhor forma possível. Quais os escritos a serem incluídos?". Dessa forma ele está dizendo que o Cânon está aberto e que profecias, revelações, coisas novas podem aparecer. Aqui eu vejo um outro problema nas cartas pastorais quando lemos: "A Escritura ensina e a Igreja crê que, em Sua soberania, Deus pode conceder o dom de línguas à Igreja quando lhe aprouver, em qualquer período da História". Eu pergunto: Onde está isso escrito? Alguém poderia dizer que Deus é soberano em fazer o que Ele quer. Mas Ele pode salvar todo o mundo? Para. sermos coerentes responderíamos que SIM! Mas, onde está escrito que Ele vai salvar a todos? Deus pode dar apóstolos novamente à Igreja hoje? Poder, pode, é claro! Mas a Bíblia diz isso? Este é o problema.

Deus pode fazer tudo! O problema é que nós não vamos nos guiar em cima do que Deus pode fazer, mas vamos nos guiar em cima daquilo que está registrado, daquilo que Deus disse nas escrituras que vai fazer e faz. A conclusão que nós chegamos é que, se Deus faz o que Ele quer, a Escritura não é mais o padrão de julgamento de nada. Para que Escritura?! É bom lembrar que assim, Ele poderia, quando bem quisesse, contrariar as Escrituras. Se Deus revela em o que Ele quer em Sua Palavra para que o homem seja perfeito e perfeitamente habilitado a toda boa obra, como Ele iria revelar coisas que não estão na Palavra? Então, que ponto de vista teológico é este que Paulo apresenta nas Escrituras? Lembremo-nos de que a-Palavra é perfeita para que o homem seja perfeito. Por isso, não aceitamos este argumento. Não podemos esquecer que Paulo foi bem claro quando disse que se ele, que era apóstolo, ensinasse outro evangelho, deveria ser considerado anátema. Paulo tinha certeza de que o que a Igreja ia receber era aquilo que os apóstolos iriam dar; a Igreja seria fundamentada na doutrina dos apóstolos, nada mais e nada menos do que isso.

9) Em Coríntios do cap.12 ao 13:10, encontram paralelo muito forte em Efésios 4: 7 a 16. Isto é muito importante, o esboço dos assuntos é o mesmo em ambos os textos; as ideias de Paulo em l Co. são as únicas em todas as suas epístolas. Portanto podemos interpretar l Co.13:10 à luz de Efésios 4: 7-16. Se você tomar o esboço de Efésios 4:7-16 verá que:
Discussão judeu-gentio (Ef. 2- 4)
• Ênfase sobre todos (Ef.4:6)
• Ênfase sobre unidade - unicidade (Ef.4:4-6)
• Unidade no Espírito (Ef.4:3)
• Um corpo, um Espírito, uma Esperança (Ef.4:4)
• Um Senhor, uma fé, um batismo (Ef.4:5-6)
• Um Deus e Pai de todos (Ef.4:6)
• Umcorpo(Ef.2:16)
• Um Espirito (Ef.2:18)
• Dons espirituais (Ef.4:7-11)
• Ilustração da unidade mediante o corpo humano (Ef.4:12-16)
• Crescimento humano ilustra o progresso do corpo espiritual - A Igreja (Ef.4:13-16)
• teleion (Ef.14:13)

l Co 12:14 segue o mesmo esboço.
• . Gregos e Gentios no corpo de Cristo (l Co. 1 2:2-3).
• Tudo em todos (l Co. 12:6 e 12)
• Ênfase sobre um e o mesmo doador de dons (l Co.12:4-14)
• Mesmo Espírito(l Co. 12:4)
• Mesmo Senhor (l Co. 12:5)
• Mesmo Deus (l Co. 12:6)
• Mesmo Espirito (l Co.12:8)
• Um Espirito (l Co. 12:9)
• Um Espirito e o mesmo Espírito (l Co. 12:11)
• Um corpo (l Co. 12:12) '
• Um Espírito, um corpo, um Espírito (l Co. 12:13)
• Dons divinos que vai até o 14 (l Co. 1 2:4-1 1 )
• Ilustração do corpo humano (l Co. 12: 12, 13, 14)
• O crescimento de Paulo ilustra o progresso dos coríntios (l Co. 13:11 )

Vejam que é o mesmo esboço de Efésíos 4. Por isso que a ideia encontrada em l Co.13 não é alienígena, está lá em Efésios; o mesmo tema. Só que os dons de Efésios são dons ministeriais e Paulo está tratando de um dom que vai caminhar para um teleion, a partir da plenitude da revelação. Está claro que o teleion não se refere ao estado eterno de todas as coisas, pois o próprio Paulo indica o processo ao qual ele se refere: "porque em parte conhecemos e em parte profetizamos.





Línguas cessam To teleion --> telos*

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Dons Revelação Parcial Conhecimento e

(na época apostólica) (ek meros) Profecia plenos { não serão "em parte" }

{MATURIDADE DA IGREJA}

Teleiôsis

Nós chegamos a conclusão de que este conhecimento e profecia é o Cânon completo. Por inferência se deduz que seja o Cânon, porque quando as igrejas tiveram toda a revelação de Deus já completa, então elas não precisaram mais da revelação parcial. Ela já chegou ao seu telos. Teleiôsis é a maturidade da Igreja em relação ao conhecimento de Cristo. Paulo diz que quando vier o que é perfeito, este aniquilará o que é em parte. Porque a profecia ainda continua? Ele diz que o que vai ser aniquilado não é o conhecimento nem profecia(Bíblia), porque se estes fossem aniquilados eu não conheceria plenamente a Cristo como diz Paulo em Ef.4:13. Se fossem aniquilados não poderia ter este conhecimento. Mas Paulo diz que foi aniquilado o que era em parte. Ou seja, o.aspecto revelacional da profecia e do conhecimento não existe mais.
Mas, se as pessoas perguntarem sobre o que elas estão vendo nas igrejas e nos programas de TV hoje? Temos de dizer de forma clara que tudo isso não é a mesma coisa da época de Paulo. Profecia de hoje é totalmente diferente dessa profecia de "mediador" ("Deus me disse que isso aconteceria com você se você fizer isso") que existe hoje. Em Corinto era profeta, mas hoje é um profeta? Os profetas de hoje são conhecidos por profetas? Não, mas em Corinto era. Então, a natureza do conhecimento e da profecia de lá é diferente da de cá. E em Ef 2:20 fala que a igreja foi edificada sobre o fundamento de Cristo dos apostolos e profetas, Paulo vai fazer um contraste com Efésios la em 1Co 3:11 que diz que ninguém pode colocar outro fundamento no lugar do que já foi posto...!
Terminando, diríamos que nos primeiros dias da Igreja o conhecimento do homem era incompleto, assim como a profecia. Eles não possuíam equipamento necessário para compreender os grande princípios do cristianismo. Como eles saberiam sobre a segunda vinda de Cristo? Sobre a messianidade de Jesus? Sobre a obra vicária de Cristo. Então eram necessárias as profecias e revelações de conhecimento e que eram apenas em parte, eram parcial. Por que eram em parte? Porque apenas alguns recebiam individualmente estes dons. Por isso Paulo diz que eles tinham de falar para a Igreja. O dom tem de ser para o povo, tem de ser conhecido por todos porque a Igreja não tinha por quem se guiar. Por isso era em parte, só alguns. Você já imaginou que alguém só podia (na época de Paulo) conhecer determinado assunto no dia que Deus quisesse revelar alguma coisa a um irmão na Igreja? O conhecimento era em parte.

Assim a profecia e o conhecimento não foram abolidos, apenas sua forma parcial (ek meros), a qual por ter sido aniquilados, chegaram à sua completação, sua perfeição, sua maturidade (Bíblia). Tanto a profecia quanto à ciênda promovem o conhecimento. Antes do teleion, este conhecimento era em parte, mas depois do teleion, diz Paulo, que o conhecimento continuará. Apenas seu aspecto parcial será aniquilado, mas continua. "Então conhecerei plenamente como também sou conhecido". Isso indica que a ciência e a profecia fornecerá um conhecimento pleno depois do teleion. Ninguém pode dizer o contrário, pois todos são abençoados pelo conhecimento da Palavra. O fato de nada poder ser acrescentado à Palavra de Deus hoje, e não haver nenhum tipo de novas revelações provam que a forma de profecia e ciência em Corinto sofreram um teleion. Nada vai além da Palavra de Deus, o que era diferente em Corinto. Os dons eram milagrosos pois traziam revelações de natureza doutrinária para edificação da Igreja. Eles não tinham Bíblia. Viam em espelho.

As línguas na história sofreram alguma extinção? Essa é que é a pergunta. Será que o Paulo diz sobre as línguas aconteceu alguma vez na História? Sim e logo em seguida, no segundo século. E sobre conhecimento e profecia, o mesmo aconteceu? Não. Mas sobre língua há provas na História que ela cessou? Podemos provar? Sim. Este é o grande dilema da contemporaneidade dos dons extraordinários. Ë bom lembrar que Paulo, no texto, nem cita mais as línguas. Mas o que dizer do ressurgimento das línguas no século XX? A resposta é que a Palavra não fala do seu ressurgimento, mas apenas na sua cessação. Não podemos afirmar que foi por causa da incredulidade pois já havia predição para cessar. Antes da incredulidade, Paulo diz que as línguas cessariam por isso todo movimento de hoje no falar em linguas e profetizar é apenas misticismo barato!.

Pr. Moisés Bezerril
Cartas Pastorais
– Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil.
– Comissão Permanente de Doutrina