sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Educação dos Filhos da Aliança Entendendo nossa responsabilidade

Terceira Parte

Além das Escrituras, as confissões reformadas também apontam para uma educação que glorifique a Deus. Por exemplo, podemos notar alguns princípios no Catecismo de Heidelberg:

No dia do Senhor 38, ao confessarmos o que cremos sobre o 4º Mandamento, lemos sobre “escolas cristãs” que devem ser mantidas. Há algumas discussões sobre o significado de escolas cristãs nesse contexto. Alguns entendem tratar-se de escolas cristãs como sendo o lugar onde as crianças da aliança devem ser educadas, outros pensam que estas palavras se referem ao treinamento de ministros da Palavra conforme o contexto da resposta parece indicar, ou seja, escolas cristãs, seriam o que chamamos de seminários hoje. Mas mesmo adotando essa interpretação como seminários, temos um princípio aqui: a igreja deve investir na preparação de ministros da Palavra. O objetivo desse investimento na preparação de ministros da Palavra é que a Palavra de Deus seja bem entendida. Portanto, pela mesma razão os ouvintes também devem ser preparados para ouvir a instrução da Palavra de Deus. Essa foi uma preocupação do reformador João Calvino, conforme menciona Edson Pereira Lopes ao falar sobre alguns pressupostos educacionais de Calvino:

“O pressuposto básico de Calvino é que a ignorância é a mãe da heresia. Assim, podemos vê-lo questionar como poderia um povo inculto em todas as áreas absorver os ensinamentos de homens bem preparados. O povo também tinha de ser bem preparado para poder receber e apreciar as instruções. Sendo assim, Calvino começou a preparar seu trabalho inicial. A solução era começar a educar as crianças”. 1

Então, à luz do que confessamos no Dia do Senhor 38, do Catecismo de Heidelberg (confira também as perguntas 158 a 160 do Catecismo Maior de Westminster a respeito da pregação da Palavra), fica implícito que devemos educar nossos filhos da melhor maneira possível, para que no futuro, se chamados por Deus para o ministério da Palavra, estejam preparados para cursar um seminário e servir como ministros da Palavra, e se forem chamados para outra vocação, estejam prontos para servir de igual modo, na vocação para a qual Deus lhes chamar, bem como capacitados para ouvir as instruções da Palavra de Deus.

No dia do Senhor 12, p. 32, confessamos sobre nossa responsabilidade como cristãos. Como membros de Cristo, partilhamos Sua unção para poder sermos profetas, sacerdotes e reis (1 Pe 2.9). A implicação disso é que devemos estar bem preparados para pela graça de Deus servi-lo neste mundo da melhor maneira possível. O que nos leva a conclusão de que nossos filhos precisam de uma educação que lhes permita cumprir da melhor maneira possível seus ofícios como profetas, sacerdotes e reis a fim de glorificar a Deus em suas vocações. Este é um princípio do sacerdócio de todos os santos. Quanto a isso, a idéia dos Reformadores, bem como das Igrejas Reformadas é que não deve haver separação entre o ensino seja de matemática, geografia ou história e o ensino das Escrituras. A educação tem de ser vista como um todo, visando o aperfeiçoamento do homem para a vocação para a qual Deus o chamou. A criança deve ser educada para cumprir um papel na sociedade de tal modo que atinja o fim principal do homem, isto é, “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre” (Breve Catecismo de Westminster).

No dia do senhor 48 (confira também a pergunta 191 do Catecismo Maior de Westminster), onde confessamos a respeito do significado das palavras de Jesus na oração modelo - “venha o teu reino”. Pelo que lemos na resposta à p. 123, podemos ver a necessidade de crentes bem preparados para serem instrumentos nas mãos do Senhor. Por exemplo, em nossas orações devemos pedir a Deus que destrua as obras do diabo, todo poder que se levante contra Ele e toda conspiração contra a Sua Palavra. Sabemos que Deus não irá fazer isso por meio de anjos, mas que Ele usa sua Igreja que é “coluna e baluarte da verdade”. A implicação disso, é que devemos ser crentes conhecedores dessas conspirações contra a Palavra de Deus e estar preparados para na força que o Senhor dá, destrui-las com a própria Palavra de Deus. E isso deve acontecer em todas as áreas. Portanto, mais uma vez somos levados a conclusão de que devemos educar nossos filhos de tal maneira que eles possam nutridos com a verdade, servir a Deus neste mundo, manifestando assim, a presença de Seu reino.

Agora, que já vimos esse assunto da educação dos nossos filhos a partir da Palavra de Deus e das nossas confissões, podemos ver o mesmo a partir do voto que fizemos no batismo de nossos filhos 2. Vocês lembram que quando nossos filhos receberam o santo batismo, a nós pais foram feitas quatro perguntas? As duas últimas são as seguintes:

* Vocês prometem e assumem a responsabilidade, como pais desta criança, instruí-la no ensino já mencionado, logo que for capaz de entendê-lo?

* Vocês prometem fazer todo o possível para que esta criança seja instruída naquele ensino?

Mas que ensino é este “já mencionado”, sobre o qual lemos nas duas perguntas? É o ensino mencionado na segunda pergunta: “O ensino do Novo e do Antigo Testamento, o verdadeiro e completo ensino da salvação”. Que resposta vocês deram? Creio que vocês disseram: Sim! Então isso quer dizer que no batismo dos seus filhos vocês fizeram um voto de educar seus filhos de acordo com as Escrituras (Antigo e Novo Testamentos). Esse voto é uma coisa muito séria, algo que fizemos diante do Deus da aliança e do povo da aliança. A implicação disso, é que se abandonamos a educação dos nossos filhos, transferindo a responsabilidade para o Estado ou para a escola particular, estaremos violando o 3º Mandamento, e este Mandamento nos diz que se o fizermos, Deus não nos terá por inocentes 3.

É bom lembrar também que esta responsabilidade que os pais assumiram no batismo de seus filhos é mencionada no Regimento das Igrejas Reformadas do Brasil em seu artigo 48, que trata sobre o compromisso dos pais que têm filhos batizados. O artigo 48, diz: Os pais devem instruir seus filhos batizados na doutrina da palavra de Deus, como prometeram quando seus filhos foram batizados, também, se for possível, através de educação escolar baseada nesta doutrina 4.

Então a que conclusão chegamos? A Escritura ensina que os pais devem educar seus filhos para Deus, de acordo com a Palavra de Deus, visando a glória de Deus. Nossas confissões apontam para uma educação que redunde em pessoas preparadas para servir a Deus e ao próximo. Nós fizemos votos, no batismo de nossos filhos de que os educaríamos de acordo com “o ensino do Novo e do Antigo Testamento”. Portanto, se os pais abandonam sua responsabilidade de educar seus filhos conforme a Escritura e para a glória de Deus, eles podem estar desobedecendo a Palavra de Deus, contrariando sua confissão e violando o terceiro mandamento. Então mais uma vez temos de reconhecer que a educação dos nossos filhos é um assunto muito sério. Nossos filhos precisam de uma educação baseada na Verdade, tendo como centro a Pessoa de Cristo e sua Palavra, uma educação que prepare nossos filhos a cumprirem sua vocação a fim de servirem a Deus e ao próximo, uma educação que os habilite a entender bem as instruções da Palavra de Deus, uma educação que redunde na Glória de Deus, e espero que vocês pais reconheçam sua responsabilidade em prover tal educação.

No próximo artigo, iremos analisar os perigos a que expomos nossos filhos quando os submetemos a uma educação humanista. Por hora, o encorajo a orar reconhecendo sua responsabilidade, buscando perdão por sua omissão e a ajuda do Senhor, a fim de possa dar a seus filhos uma educação para a glória de Deus.

Pr. Elienai B. Batista é ministro da Palavra na Igreja Reformada em Cabo Frio RJ, esposo de Maralice e pai de Israel, Joabe e Abner.

Notas:

1 LOPES, Edson Pereira. O conceito de teologia e pedagogia na Didática Magna de Comenius. São Paulo: Editora Mackenzie, 2003.

2 Uma referência as perguntas usadas na Forma para administrar o santo batismo aos filhos, usada pelas Igrejas Reformadas do Brasil.

3 Conforme o Manual Litúrgico (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana. 2ª edição, 1992), utilizado pela Igreja Presbiteriana do Brasil, os pais, membros desta igreja, assumem o mesmo compromisso, no batismo de seus filhos. No manual existem três formas para o batismo de crianças e entre as perguntas feitas aos pais, podemos destacar as seguintes:

“Prometem ensinar-lhe a ler para que leia por si mesmo a Santa Escritura; orar por ele e com ele; servir-lhe, vocês mesmos, de bom exemplo de piedade e religião, e esforçar-se, por todos os meios designados por Deus, para criá-lo na disciplina e correção do Senhor?”

“Prometem encaminha-la pelas santas veredas da cruz, servindo-lhe vocês mesmos de exemplo de piedade, e envidar todos os esforços para livrá-la de más companhias e de maus exemplos; ensinar-lhe a Bíblia, e trazê-la com vocês à igreja regularmente; ensina- la a adorar o Senhor com reverência e a estimar como irmãos os demais membros da igreja?”

4 No Manual Presbiteriano (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 15ª edição, 1999), no tópico sobre os Princípios de Liturgia, lemos o seguinte sobre batismo infantil:

Art. 11 - Os membros da Igreja Presbiteriana do Brasil devem apresentar seus filhos para o batismo, não devendo negligenciar essa ordenança. § 1º - No ato do batismo os pais assumirão a responsabilidade de dar aos filhos a instrução que puderem e zelar pela sua boa formação espiritual, bem como fazê-los conhecer a Bíblia e a doutrina presbiteriana

Pr Elienai Batista

Sola Scripturas

(Pessoal achamos bastante grande a postagem também mas é de enorme importancia por isso encontra-se no blog mas dividimos em três partes)

Deus Abencoe cada leitor!

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