terça-feira, 14 de agosto de 2012

O silêncio religioso sobre a perseguição cristã


Neste mês, o pastor Youcef Nadarkhani completa mil dias de cárcere em Lakan, uma notória prisão no norte do Irã. Acusado de apostasia, o Sr. Nadarkhani encara uma sentença de morte por não renegar sua fé cristã, que é sua religião desde a infância. Embora ele seja um exemplo de devoção sincera e represente o que acontece com outros milhões que sofrem a mesma repressão, a história dele é pouco conhecida.

A coragem do Sr. Nadarkhani e a tenacidade de seus apoiadores – muitos deles meros fiéis espalhados pelo Twitter e outras redes sociais alertando o mundo para essa situação – lembram grandes campanhas pelos direitos humanos dos últimos tempos: a luta contra o apartheid na África do Sul e a mobilização para ajudar os judeus soviéticos a emigrarem dos países da Cortina de Ferro. Assim como Mandela representou a oposição ao racismo na África do Sul e Anatoly Sharansky exemplificou as justas demandas dos judeus soviéticos, o Sr. Nadarkhani hoje simboliza a situação crítica a qual líderes da Igreja alegaramm que 100 milhões de cristãos espalhados pelo mundo sofrem.
Mesmo assim o Sr. Nadarkhani não tem praticamente nenhum reconhecimento se comparado aos Srs. Mandela e Sharanski. Apesar da crescente brutalidade com que se alvejam os cristãos – atentados à bomba na Nigéria, discriminação no Egito (cristãos são presos lá até mesmo por construírem ou reformarem igrejas) e decapitações na Somália – os americanos continuam amplamente desinformados sobre o quão crítica a situação se tornou, particularmente no mundo islâmico e nos países comunistas como a China e Coreia do Norte.
A principal razão pela qual a opinião pública não foi alertada sobre a perseguição de cristãos é o fato de vários líderes das várias igrejas ignorarem ou tergiversarem a respeito do problema. Se não houver pronunciamentos enérgicos sobre esse assunto, então é falta de realismo esperar que os governos democráticos o façam.
Pegue o Vaticano como exemplo. Em várias ocasiões nos últimos anos, o Papa Bento XVI falou sobre a perseguição de cristãos no Egito, Paquistão, Somália e outros lugares. Mas nem o Papa nem um oficial sênior do Vaticano propuseram uma opção política para combater essa repulsiva tendência. Algumas dessas opções podem ir desde uma vinculação comercial e assistência financeira de modo a demonstrar um comprometimento com a liberdade religiosa, até melhorar a segurança em igrejas e outras instituições ou reforçar a ajuda militar a países como Nigéria e Quênia, onde milícias islâmicas estão aterrorizando os cristãos.
Nos Estados Unidos, cleros de todas as denominações, especialmente os influentes evangélicos, poderiam levantar na Casa Branca e no Departamento de Estado os arquivos sobre a perseguição aos cristãos. As condições são propícias para uma campanha pública organizada e os esforços judiciais em nome dos judeus soviéticos oferecem um modelo valioso.
Vinte e cinco anos atrás, uma passeata em Washington D.C. pela causa dos judeus soviéticos atraiu mais de 250.000 participantes de todos os setores da comunidade judaica. Dado que uma parte significativa dos 250 milhões de cristãos deste país é engajada politicamente, não é exagero acreditar que uma iniciativa semelhante em nome dos cristãos perseguidos poderia atrair uma multidão de mais de um milhão.
Mas para isso acontecer, primeiro é preciso um mar de mudanças no pensamento dos líderes das igrejas ocidentais. Para começar, eles devem se despir da aura de ingenuidade que turva seus testemunhos a respeito das perseguições. Ao longo dos anos sombrios da existência da União Soviética, os bispos ortodoxos se desesperaram com a disposição dos forasteiros para tomar ao pé da letra as suas garantias – oferecida com o olhar nervoso das autoridades – de que a vida não era tão ruim assim. Podemos constatar uma tendência similar hoje em dia em relação ao mundo islâmico.
Líderes cristãos dos países muçulmanos estão preocupados se sobrevivem para um novo dia. Podemos ajuda-los não entrando em diálogos insossos, mas compelindo seus governantes a respeitarem a liberdade de culto, bem como seu desejo de conter a enxurrada de cristãos que fogem da opressão para portos mais seguros.
As igrejas também precisam dar um reset nas suas prioridades. É uma amarga ironia que Israel, o único país no Oriente Médio onde os cristãos podem viver em liberdade, seja o principal foco de opróbrio das igrejas.
Numa convenção anual realizada neste mês, presbiterianos da América aprovaram uma campanha de desinvestimento visando comunidades judaicas na Cisjordânia. O Pastor Nadarkhani não foi sequer mencionado. Nos dias de convenções episcopais, mais tarde, as resoluções sobre Gaza e o processo de paz israelense-palestino entraram na pauta, mas o pastor iraniano foi igualmente ignorado. Quanto aos atentados às igrejas na África e na Ásia, é como se eles nunca tivessem acontecido.
 
Ben Cohen mora em Nova York e é escritor de assuntos relacionados à política internacional.
Keith Roderick é padre episcopal na Diocese de Springfield, Illinois.

Tradução: Leonildo Trombela Junior

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