segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Neopuritanos[1] são semelhantes aos Puritanos, hoje no Brasil?





1. Em nada.


2. Os puritanos eram profundamente conhecedores e praticantes das Escrituras, os neopuritanos apenas sonham com isso e ainda têm muito a percorrer até que isso aconteça.

3. Os Puritanos eram gigantes da piedade, os neopuritanos são pigmeus, não sabem bem como torná-la experimental, mas anseiam por isso.

4. Os Puritanos amavam e zelosamente santificavam o dia do Senhor como os Presbiterianos do passado também o faziam. Neste ponto os neopuritanos, se opondo e enfrentando a “neo-hermenêutica” contemporânea, lutam quase que desesperadamente para estabelecer esta disciplina de vida pessoal e da sua família, por considerar, como os Puritanos, que este é o único dia santo a ser guardado de forma deleitosa como um santo descanso e guardando-se não somente de tudo quanto é pecaminoso, mas até de todas as ocupações e recreios seculares que são lícitos em outros dias (CM p. 158); mas os neopuritanos ainda sonham por alcançar esta prática.

5. Os Puritanos, seguindo o pensamento de Calvino, louvavam ao Senhor apenas com o Saltério. De forma natural e zelosa, defendiam a salmodia exclusiva por considerarem que, assim como o que se lê no culto deve ter um conteúdo inspirado, o cantar também. E faziam assim por questões hermenêuticas esposadas por todos os grandes teólogos puritanos e por aqueles que escreveram a CFW e os Catecismos e o Diretório de Culto. Os neopuritanos buscam esta prática puritano-reformada, mas ainda “engatinham” nisso, pois nem Saltério organizado têm, mas sonham com um saltério Brasileiro para louvar e glorificar a Deus com aquilo que Ele mesmo compôs sem impor isso às consciências daqueles que não têm esta convicção puritana.

6. Os Puritanos e as puritanas nunca permitiram que as mulheres orassem no culto público, nem que ensinassem à congregação, nem pregassem a Palavra. Eles, como Calvino, sempre entenderam que esta era uma prerrogativa dos homens que lideram a Igreja e que ninguém pode delegar esta autoridade à mulher visto que Deus nunca autorizou qualquer concílio ou liderança eclesiástica a assim proceder. Os Puritanos nunca transferiram para a mulher uma atribuição de autoridade própria dos homens por Deus delegada. Os Puritanos faziam assim, não porque achassem que isso era uma prática apenas cultural, ao contrário, era essencialmente uma questão teológica. Os neopuritanos, ainda que concordem com isso, por falta de maior convicção e hábito, por constrangimento e receio, ainda tropeçam, mas sonham com esta prática na igreja de hoje.

7. Os Puritanos levavam muito a SÉRIO o dia do Senhor e o momento de Culto a Deus. Na pregação, nos sacramentos, nas orações, nos cânticos dos salmos e na leitura bíblica. Na adoração tinham aversão a uma postura irreverente e descontraída por entenderem que estavam na presença de um Deus santíssimo; assim o zelo do Senhor os consumia porque sabiam que Deus é fogo consumidor. Criam que isso não deveria ser um traço de uma época, mas uma essencial prática teológica e piedosa. Os neopuritanos estão longe desta realidade, pois, forçosa e frequentemente, assumem, não sem constrangimento e vergonha, a posição Nicodemita[2] de desconsiderar este temor santo que caracterizava o coração puritano. No entanto, sonham e batalham neste sentido, sendo por isso criticados e ridicularizados.

8. Os Puritanos são chamados de os teólogos da santificação e conseguiram experimentar uma vida de pureza. Os neopuritanos se envergonham de sua mediocridade nesta área. Os neopuritanos não sabem o que isso significa na prática. Pecam por apenas admirar a ortopraxia puritana, mas não vivenciá-la. Nesta área, os neopuritanos são uma vergonha, no entanto sonham com dias melhores, sonham com um grande despertamento santificador na Igreja de Cristo associado a um profundo conhecimento doutrinário.


9. Os Puritanos foram exemplos de piedade e ortodoxia. Foram gigantes na pregação, na interpretação das Escrituras, no ensino, no magistério, mas também na vida santa e piedosa. Para os Puritanos Presbiterianos a ortodoxia estava representada e hermeneuticamente expressa na Confissão de Fé de Westminster, nos Catecismo Maior e Breve e no Diretório de Culto. Fora disso temiam se colocar na posição vulnerável de uma neo-hermenêutica que viesse a permear os púlpitos e o ensino da Igreja. Hoje poucos escrevem e ensinam teologia de uma forma tão ortodoxa, santa e piedosa como os Puritanos fizeram; hoje poucos meditam nas grandezas de Deus e as vivenciam como eles. Os neopuritanos têm conhecimento deste fato e, por suas incoerências, limitações e fraquezas, coram de vergonha, mas sonham com esta vivência doutrinária e experimental.

10. Os Puritanos pregavam e ensinavam que os dons extraordinários do Espírito Santo foram próprios da era apostólica quando “Os apóstolos, os profetas e os que possuíam o dom de línguas, de curar e fazer milagres, foram oficiais extraordinários empregados a princípio por nosso Senhor e Salvador para reunir seu povo de entre as nações, conduzindo-os à família da fé. Esses oficiais e dotes miraculosos cessaram há muito tempo”[3] e que, sendo a Palavra de Deus suficiente, não existem novas revelações do Espírito. O Sola Scriptura era o grande fundamento dos Puritanos. Os neopuritanos, ainda que concordando com esta verdade e lutando por ela com grande ênfase, a têm no coração ainda de forma mais teórica do que prática; no entanto sonham com a pureza desta verdade: Só a Escritura é indispensável, “tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo” (CFW – 1:1).
11. Os Puritanos não comemoravam Páscoa e Pentecostes porque consideravam que estes dias, tanto quanto as festas dos tabernáculos, das primícias, os sacrifícios expiatórios de animais, etc. foram instituições levíticas abolidas em Cristo. Os Puritanos amavam a doutrina da encarnação do Verbo e pregavam sobre os textos que falam claramente sobre este evento, mas não comemoravam o Natal por ser um dia ou uma festa não ordenada por Deus, além de ter origem pagã e papal. Os neopuritanos, porém, ainda sofrem e caem sob a pressão e imposição reivindicadas pela tradição da cultura cristã dos nossos dias, contudo ainda conseguem pelo menos se manifestar pela supressão desta prática não encontrada na Igreja primitiva apostólica.

12. Os Puritanos não tinham corais e solos no culto, mas o louvor era puramente congregacional. O esplendor dos corais e os cantores do Templo de Jerusalém que seguiam uma orientação levítico-sacerdotal-masculina eram considerados prática cerimonial e que os sacerdotes de hoje (sacerdócio de todos os santos) são todos os crentes que congregacionalmente louvam ao Senhor na simplicidade cúltica Reformada. Os Neopuritanos ainda coxeiam nesta área, mas enfrentado grande oposição, resistência e desprezo, lutam e buscam esta visão puritano-reformada.

Conclusão: Os alcunhados Neopuritanos, ou devem ser encorajados a permanecer no mesmo conhecimento bíblico, convicção doutrinária, fé experimental, luta e piedade de seus pais antecessores que redigiram os documentos de Westminster ou devem ser desencorajados e não tolerados por tentarem ser cristãos como os Puritanos foram: Um suposto introspectivo grupo pietista radical de um período distante da história que, de modo não reformado, minimalista, restritivo e legalista, redigiram documentos eclesiásticos próprios da sua cultura e época — CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, O CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER, O BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER, O DIRETÓRIO DE CULTO DE WESTMINSTER E UM SALTÉRIO (que continha os salmos, hinos e cânticos espirituais “supostamente” recomendados pelo apóstolo Paulo).

[1] Apelido dado pela primeira vez na história do presbiterianismo e do evangelicalismo brasileiro a um grupo indefinido de crentes que lutam por uma reforma da Igreja do Brasil segundo os padrões de Westminster produzidos pelos Puritanos e subscritos pelas Igrejas Presbiterianas em quase todo o mundo. Aqueles que, de forma pejorativa, apelidaram estes irmãos com esta alcunha de Neopuritanos estão a afirmar é que este tipo de puritanismo reformado é diferente, “novo” e “estranho”, aos símbolos de Fé de Westminster ou no mínimo diferente do Presbiterianismo hoje praticado e oficialmente exigido e praticado pela maioria das igrejas Presbiterianas. Ou seja, os aplicadores desta alcunha buscam e vivem um Presbiterianismo diferente dos nossos pais do passado — um “presbiterianismo brasileiro” — como se fosse coerente e sensato viver um neopresbiterianismo com características próprias da cultura evangélica brasileira e da erudição de scolars brasileiros como sendo o padrão de equilíbrio hermenêutico e de prática cristã reformada. Como pode ser isso? Resposta: Caso o presbiterianismo brasileiro afirme que é fidelíssimo aos padrões de Westminster e se oponha à visão puritana explicitada na Confissão de Fé de Westminster e seus Catecismos, somos forçados a responder a esta indagação dizendo que existe um novo entendimento em relação aos Padrões de Westminster e, consequentemente uma “neo-hermenêutica forçosamente advinda de uma reinterpretação deste padrões há séculos já consagrados dentro da herança e tradição reformada.

[2] Uma alusão à Nicodemos, entre os fariseus, um dos principais dos judeus (João 3:1-2) que ocultamente procurou a Jesus, mas ainda permanecendo na prática do judaísmo. O termo "Nicodemitas" foi aplicado a criptoprotestantes franceses que escondiam suas convicções ao assistir a missa e outras ordenanças romanas de adoração. Esses protestantes viviam ocultamente em terras papais e temiam que uma declaração aberta de sua fé lhes traria perseguição ou a perda de suas posses e o status social. Alguns, para se justificar, recorreram ao exemplo de Nicodemos (que veio à noite falar com Jesus), como pretexto para manter suas convicções em segredo, até mesmo ao ponto de fingir serem romanistas no seu comportamento exterior. Calvin rebuked the Nicodemites, by showing that the scriptures require believers to remain undefiled by idolatry (such as the popish Mass). Calvino repreendeu os Nicodemitas, mostrando que as Escrituras exigem que os crentes devem permanecer imaculados da idolatria (como a missa papista). Quase um ano antes da morte do reformador Lutero, Calvino lhe escreveu uma carta pedindo-lhe para escrever em poucas palavras sua opinião sobre os Nicodemitas na França, bem como sua opinião acerca do escrito em que ele, Calvino, rejei­tava sua prática de continuar participando de cerimônias conforme o rito romano mesmo tendo assumi­do uma consciência evangélica. Melanchthon, portador da carta de Calvino, se opôs a entregá-la a Lutero.
[3] MANUAL DE CULTO, da IPB, página 70.

Fonte:revista os puritano ( http://www.blogsptospuritanos.com/.)

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POSTADO POR : miguel silva


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Pecado e Culpa Original‏

Rev. Herman Hoeksema


Essa doutrina da universalidade do pecado por meio de Adão levanta outras questões muito sérias. Pode parecer como se os descendentes do homem Adão fossem as vítimas inocentes de sua transgressão. Ele pecou, e todos eles sofrem e vêm ao mundo com uma natureza corrompida e sem os preciosos dons de conhecimento, justiça e santidade com os quais a natureza humana foi originalmente dotada. Não é isso uma injustiça? Devem os filhos sofrer pelos pecados de seus pais? Não se deve ter piedade dos homens por seu estado deplorável, ao invés de serem condenados por causa de sua impiedade?

Ainda mais, como pode o homem ser considerado responsável por seus pecados e transgressões atuais, se ele nasce com uma natureza que é incapaz de guardar a lei de Deus e que é inclinada a toda impiedade? Eu nasço com uma natureza corrompida, morto em delitos e pecados, e isso certamente não posso reverter. Eu nunca tive uma oportunidade de fazer o bem. Por conseguinte, concluo que não sou responsável pelos meus crimes; não posso ser considerado responsável pela forma como nasci. Eu sou uma vítima de circunstâncias pelas quais mereço receber piedade, ao invés de ser um objeto de ira e condenação. Deus não pode demandar de mim o que não posso e nunca serei capaz de realizar.

Em resposta, devemos lembrar que Deus criou a raça humana não somente como um organismo, com Adão como a raiz e o primeiro pai, mas também como uma corporação legal com Adão como o cabeça representativo. Mesmo de um ponto de vista legal, a raça humana não é um mero agregado de indivíduos no qual cada um permanece de pé e cai como seu próprio mestre, sem ser de forma alguma responsável pelo todo. Pelo contrário, existe responsabilidade comunal, e existe culpa e sofrimento comunal na vida humana. Isso é evidente na vida toda: o individualismo é condenado em todo lugar.

Isso é claramente ilustrado na vida de uma nação em relação ao seu governo. No instante concreto em que os Estados Unidos vai à guerra contra uma nação estrangeira, certamente não é todo cidadão americano que declara guerra contra essa nação. Sem dúvida, por esse ato de declaração oficial de guerra, o governo é responsável diante de Deus. Ao governo é confiada a espada. Ele é o único poder ordenado por Deus que tem a autoridade de manusear a espada, bem como de declarar e travar uma guerra. O soldado que é chamado pelo governo e vai para a batalha não comete assassinato e não é culpado do sangue derramado se mata o inimigo no campo de batalha. Ele meramente manuseia a espada do governo e faz assim em nome do governo. Contudo, isso significa que não existe responsabilidade e sofrimento comunal? Que cidadão em são juízo diria que quando o governo declara guerra, o próprio governo teria lutado melhor suas próprias batalhas? Quando o governo declara guerra, todos os seus cidadãos estão num estado de guerra, e terão que sofrer todas as conseqüências implicadas. Mesmo diante de Deus, uma nação não é um agregado de indivíduos, mas um corpo legal; o governo representa todos os seus cidadãos. Se o governo, para suprir as despesas de uma guerra, acumula um débito de muitos bilhões de dólares, todos os seus cidadãos são responsáveis pelo pagamento do débito; mesmo seus filhos e os filhos dos seus filhos terão que suportar o peso dessa responsabilidade.

Assim acontece em todo departamento da vida. É verdade que existe responsabilidade individual e pecado e culpa individual. É também verdade que nesse sentido os filhos não podem ser considerados responsáveis pelos pecados dos pais. É também verdade, contudo, que existe uma responsabilidade e culpa comunal que percorre as gerações. Deus visita "a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que [o] aborrecem" (Ex. 20:5). Deus criou toda a raça humana em Adão como uma corporação legal representada por nosso primeiro pai. Portanto, ninguém pode dizer que não é responsável pela transgressão de Adão, pois todos pecaram nele e seu pecado é imputado a todos eles.

Essa é a solução apresentada pela Escritura aos problemas do pecado e da morte e de sua universalidade e relações entre si. Todos os homens nascem no pecado porque toda a natureza humana foi corrompida pelo pecado do homem Adão. Através de um homem o pecado entrou no mundo e a morte pelo pecado (Rm. 5:12); assim, todos os homens nascem mortos no sentido pleno. Eles nascem com o poder da morte física tragando-os para a sepultura e com a corrupção da morte espiritual em seus corações, de forma que estão mortos em delitos e pecados quando entram no mundo (Ef. 2:1). A morte é punição: é a execução da sentença justa do juiz supremo do céu e da terra sobre todos.

Se a morte é punição, e se essa punição é infligida sobre toda a raça humana, sobre cada indivíduo antes dele ser capaz de cometer qualquer pecado real, então a razão deve ser que aos olhos de Deus toda a raça humana é culpada com uma culpa comunal, no homem Adão. É assim que as Escrituras nos instruí em Romanos 5:12-14, onde o texto está tratando com o problema da morte universal:

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei. Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir.

É verdade que o texto também fala da universalidade do pecado por meio do pecado de um homem. Mas isso é assim somente em conexão com o problema sério da universalidade da morte: a morte passou a todos.

A morte reina suprema. Ela reinava antes que houvesse qualquer lei. Ela reinou de Adão a Moisés, e reinou mesmo sobre aqueles que "não pecaram à semelhança da transgressão de Adão" (v. 14). Eles nunca tiveram um mandamento especial para guardar ou violar. Nunca tiveram o poder, como Adão, de determinar se guardariam ou não a lei de Deus. Todavia, a morte reinou sobre eles. Reinou mesmo sobre os pequeninos no berço que não podiam discernir entre a sua mão direita e esquerda.

Como esse reinado universal da morte é explicado? É explicado nas palavras "porque todos pecaram" (v. 12). Quando, onde e como todos pecaram: Todos os homens pecaram no princípio, no primeiro paraíso, e por meio do primeiro Adão, que era o representante da raça diante de Deus: "por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação" (v. 18)

Fonte: Reformed Dogmatics, Herman Hoeksema, Reformed Free Publishing Association, vol. 1, pp. 392-395.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O Corpo e Seus Membros




O corpo não é feito de um só membro, mas de muitos. Se o pé disser: “Porque não sou mão, não pertenço ao corpo”, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. E se o ouvido disser: “Porque não sou olho, não pertenço ao corpo”, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria a audição? Se todo o corpo fosse ouvido, onde estaria o olfato? De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, há muitos membros, mas um só corpo. (1 Coríntios 12.14-20)


O plano de Deus é que deveria existir uma dependência mútua entre os crentes; contudo a Bíblia ensina isso primariamente em relação ao ministério público, e não à fé do indivíduo. Diz-se frequentemente, de uma forma ou de outra, que um cristão que está desvinculado de uma comunidade está fadado ao fracasso, mas esse ensino é mais autobiográfico do que bíblico, e é manipulador ao invés de encorajador. Ele é difundido por pessoas fracas ou por líderes que preferem ameaçar pessoas em vez de aprimorar seus próprios ministérios. Ao enfatizarem fé e adoração coletivas, ainda que sua intenção seja supostamente de fortalecer a igreja e seus membros, na verdade seu erro tem sido um fator importante para se perpetuar nos crentes a falta de vigor e compromisso.


O problema é que a sua doutrina equivale a uma negação da plenitude e suficiência de Cristo. Jesus Cristo é suficiente para sustentar e nutrir cada crente em particular totalmente à parte de qualquer outro crente. Há somente um Pai e um mediador entre Deus e o homem, Jesus Cristo. A igreja não é nossa mãe e nosso sacerdote. Antes, cada cristão é um sacerdote divinamente ordenado para a sua posição com plenos direitos de aproximar-se do trono dos céus e receber e administrar tudo o que Deus tem a oferecer por meio de Jesus Cristo. O cristão pode receber tudo de Cristo por meio da fé e pelo contato direto com Deus, sem a assistência da igreja e muito menos a sua permissão. Qualquer doutrina diferente disso é um ataque à suficiência e mediação de Cristo e deve ser considerada heresia.


O foco aqui é o princípio, e não que uma fé isolada é sempre preferível ou que a pessoa deveria deliberadamente buscar esse tipo de fé. E quando a preocupação tem a ver com o princípio, devemos insistir que a doutrina popular que faz da comunidade uma questão de necessidade é uma doutrina que não vem da revelação de Deus, mas da incredulidade e de suposições pessimistas sobre o potencial de um indivíduo perante Cristo. Quando se assume que comunidade é algo necessário para o florescimento ou mesmo para a sobrevivência da fé do indivíduo, encorajar a fé coletiva se torna a mesma coisa que encorajar a fraqueza pessoal. Isso é também um desserviço à comunidade, porque em vez de se reunir por amor, um bando de covardes se reúne agora por necessidade de se deixar arrastar pelos outros.


Jeremias era extremamente solitário, e Paulo teve às vezes de encarar as maiores provações sozinho, mas Jesus Cristo estava com eles e era suficiente para eles. Você diz: “Mas eu não sou Jeremias ou Paulo”. Certo, e enquanto continuar pensando dessa forma você nunca será qualquer coisa parecida com eles. Você não é Jeremias ou Paulo, mas confia no mesmo Jesus Cristo, que é o mesmo ontem, hoje e sempre, e assim não existe nenhuma diferença. Logo, jamais devemos sacrificar a suficiência de Cristo para preservar a importância da comunhão na igreja. E se você não pode passar o dia sem depender de outro homem para sustentá-lo, ao


menos não infecte os outros com a sua incredulidade e fraqueza. Assim também, pregadores que negam a suficiência de Cristo para o indivíduo a fim de preservar a importância da comunidade deveriam ser repelidos. A igreja é de fato plano de Deus, mas não para o propósito de sobrevivência espiritual do indivíduo. Jesus Cristo é suficiente ― mais que suficiente ― para cada pessoa à parte da comunidade. Isso é inegociável.


Quando se trata do contexto público, como em uma reunião de igreja ou tarefas cotidianas da comunidade, o plano de Deus é de fato a dependência mútua, e nenhuma pessoa pode representar todo o corpo ou realizar todas as suas funções. Antes, cada pessoa é posta em seu próprio lugar de acordo com a vontade de Deus. Como escreve Paulo, “De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade”. Não se espera que façamos todos as mesmas coisas ou foquemos igualmente as mesmas coisas. Eventualmente um evangelista poderia enfatizar tanto a primazia do evangelismo que leva todas as outras pessoas se sentirem culpadas por não fazerem tanto quanto ele. Mas ele não está alimentando nenhum órfão. Então aquele que não faz nada mais que alimentar órfãos aparece e faz o evangelista parecer um hipócrita de coração frio. Deus nos colocou em nossas próprias posições, e não devemos definir o corpo como um todo por nenhuma função pela qual estamos obcecados: “Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, há muitos membros, mas um só corpo”.


É aqui que a distinção entre a fé do indivíduo e o ministério público se torna essencial. Como indivíduo, posso realizar em uma pequena escala quase qualquer função no corpo de Cristo, ainda que esse não seja o meu ministério principal. Isto é, posso não ter sido chamado a liderar um projeto nacional para alimentar os famintos, mas eu seria negligente se um pedinte morresse de fome na soleira de minha porta. No entanto, só porque devo alimentar o pedinte na soleira de minha porta, isso não significa que eu deveria liderar um esforço nacional de combate à fome. Em vez disso, talvez Deus tenha me chamado para combater essa confusão ridícula sobre fé pessoal e fé coletiva. Em outras palavras, cada pessoa deveria ser uma crente completa, mas nenhuma pessoa precisa ser uma igreja inteira.


Você pode não pensar em seu dedo mindinho a todo o momento, mas se alguma vez você já o torceu, subitamente percebeu que depende dele o tempo todo. Agora ele dói quando você se levanta, quando se vira, quando caminha. O que acontece se um papel fino corta o seu dedo? Ele dói quando você faz quase qualquer coisa ― dói quando você escreve, quando você dirige, quando você cozinha, quando você lança uma bola ― de modo que “quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele” (v. 26). Da mesma forma, a pessoa que lida com processos burocráticos na igreja, ou talvez faz a contabilidade, recebe pouca atenção; mas imagine o caos se ela for subitamente removida, ou se ela é incompetente ou desonesta.


Para enfatizar uma vez mais o ponto anterior, se você prega na igreja e alguém outro limpa o chão, isso não significa que essa pessoa também limpa o seu chão quando você vai para casa. E se você limpa o seu próprio chão em casa, isso não significa que você deve limpá-lo na igreja, a menos que esse seja o seu emprego. Novamente, Cristo é suficiente para todo crente, para que todo crente pudesse ser completo, mas cada crente não desempenha todas as funções na igreja, de forma que há uma dependência mútua na igreja. Uma teologia da igreja que em


qualquer grau compromete a suficiência total de Cristo ou o potencial e a responsabilidade do indivíduo é uma doutrina falsa.


Ora, uma pessoa pode crescer em proficiência, e um dom pode crescer em poder através da oração, do estudo e do uso regular, mas a capacidade parecerá nativa para ela, e não artificial ou forçada. Uma pessoa que não pode desempenhar, digamos, deveres administrativos pode muito bem receber a capacidade após a conversão, mas isso se tornará natural para ela dali em diante. Um olho é um olho porque Deus o fez um olho. Assim também, para um olho ser um olho, basta apenas ele ser ele mesmo. Ele não tem de ser algo que ele não é nem deveria ser invejoso ou fingir ser outro membro no corpo. É assim que ele funcionará de acordo com o seu verdadeiro propósito e potencial.


Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto (janeiro/2011).

Fonte: http://www.vincentcheung.com/

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POSTADO POR : miguel silva

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Escrivaninha de Lutero



Também não seria seguro para a consciência cristã deixar de perceber que vivemos outros tempos, mas a sinceridade de propósitos, em profunda análise de fé, exige novos Luteros, novas reformas


Um amigo está cursando mestrado em História na USP. Por intermédio dele, Octávio Tostes, tomei conhecimento que seu orientador, doutor na matéria, o informou: na Alemanha existe um espaço, também um conceito, chamado Lugar de Memória. Ali está exposto, como faríamos aqui num museu, um móvel singular. Uma escrivaninha. Não é uma peça qualquer de escritório – é exatamente o lugar onde Martim Lutero se debruçou para escrever as famosas 95 teses, que seriam afixadas à porta do castelo de Wittenberg, insurgindo-se contra o mercado das indulgências. Um protesto, ato que daria início à reforma protestante, em 31 de outubro de 1517. Dezessete anos depois, ficaria pronta, nessa mesma escrivaninha, a primeira edição completa da Bíblia em alemão, por ele traduzida.

Protesto, protestantes. Importante saber, neste mês em que comemoramos o Dia da Reforma, que a casa na cidade onde Lutero nasceu – Eisleben, daí o nome oficial ser Lutherstadt Eisleben – é considerada patrimônio da Humanidade desde 1997. Também é importante saber que o povo alemão, que ao longo dos últimos 500 anos nos deu Kant, Hegel, Schopenhauer, Marx, Engels, Nietzsche, Freud, Lukács, Walter Benjamim, Heidegger e Adorno, pensadores que ajudaram muito na compreensão do ser humano, também nos contemplou com Lutero. O historiador francês Pierre Nora criou uma forma, que chamou de “História Presente”, para estudos de objetos da atualidade em que a história ainda estivesse presente – ou seja, resgatar o inventário de lugares, de memória. Esses lugares vão do objeto material e concreto, ao mais abstrato – um lembrete concentrado que “garante ao mesmo tempo a cristalização da lembrança e sua transmissão (...), que caracteriza por um acontecimento ou uma experiência vivida por um pequeno número uma maioria que deles não participou”. O Lugar de Memória marca o lugar onde o simples registro acaba. Ou seja: aquilo que hoje chamamos de memória é na verdade História. A escrivaninha pode ser contemplada (“foi aqui”), porque ali Lutero transformou em palavras pensamentos profundos, como o prefácio à carta de Paulo aos cristãos em Roma. Havia, na ocasião, vendedores de indulgências – ou seja, o perdão dos pecados seria obtido através de pagamentos, o que Lutero considerava um empecilho para o arrependimento de pecadores. Os vendilhões eram ousados. Eram? A repercussão das 95 teses escapou ao controle de Lutero, espalhou-se pela Alemanha. Quiseram queimá-lo vivo. Ele se escondeu no castelo de Wartburg, em Eisenach, graças ao príncipe Frederico, da Saxônia, que o protegeu. É lá que está a escrivaninha. Nossa História precisa ser preservada. Olhemos ao derredor: 1517 não tem semelhanças com 2010? Também não seria seguro para a consciência cristã deixar de perceber que vivemos outros tempos, mas a sinceridade de propósitos, em profunda análise de fé, exige novos Luteros, novas reformas. A Palavra precisa ser mantida intacta. Como disse Lutero, Deus nos ajude.

Percival deSouza
é escritor, jornalista e membro do Conselho Diretor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista



sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A era dos megatemplos



Mais uma vez, a mídia evangélica – e a não evangélica também – é invadida com polêmicas do mundo gospel: construção de megatemplos, líderes se autopromovendo e se autointitulando pastores, bispos, apóstolos e, agora, patriarca.

Estamos em uma era de grandezas, de egos enaltecidos, do evangelho agigantalhado, que promete vida com abundância – não espiritual, mas material – de enaltecimento do povo de Deus, como cabeça e não cauda. E a agilidade com que esses conceitos são formadas, criados, montados e difundidos passa, muitas vezes, despercebidas no turbilhão de informações que recebemos no dia a dia. Não temos tempo de pensar no perigo que o engradecimento de pessoas e coisas nos afastam da simplicidade do evangelho. Perigo não para a vida, mas para a eternidade. Perigo para a alma e para o relacionamento que o cristão deve buscar com Deus.

Não existe nada de mal em uma igreja querer dar conforto ao membro que assiste ao culto. Não é pecado, mas pode ser um exagero megalômano, se pensarmos que “o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens”(At.7:48) e que o próprio João Batista, último profeta a propagar a vinda do Messias e vê-lo face a face, delcarou: “é necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo.3:30).

A última edição de 2010 de Eclésia traz em seu conteúdo matérias que nos fazem pensar sobre isso. Até onde o ‘ide e fazer discípulos’ está sendo levado a sério como um dos últimos mandamentos de Jesus na Terra? E como queremos chegar em 2020, ano que, segundo pesquisas, o evangélico será maioria no Brasil? Com templos cheios, ou cheios do Espírito de Deus?

Isso e muito mais você encontra nessa edição da Revista Eclésia

Boa leitura

Regina de Oliveira Editora

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Natal: incoerência ou coerência?



As Escrituras não ordena especificamente que os crentes celebrem o Natal — não há “Dias Sagrados” pré-escritos que a igreja deva celebrar. De fato, o Natal não era observado como uma festividade até muito tempo após o período dos apóstolos. Só após o século V que o Natal recebeu algum reconhecimento oficial.



Nós cremos que o celebrar o Natal não é uma questão de certo ou errado, visto que Romanos 14:5-6 nos fornece a liberdade para decidirmos se observaremos ou não dias especiais. “ Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. E quem come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus” (Romanos 14: 5-6). De acordo com esses versos, um cristão pode legitimamente separar qualquer dia, incluindo o Natal, como um dia para o Senhor. A liberdade cristã nos fornece escolhas de dias que acreditamos ser importantes de serem lembrados, ainda que esses dias não sejam reconhecido biblicamente.

Por exemplo, Jesus participou dos festejos de datas judaicas que não tinham origem bíblica – a festa da dedicação (Chanucá). Essa era uma data religiosa de origem extra-bíblica, contudo, nosso Senhor não achava errado observá-la.

O apóstolo Paulo foi muito enfático a esse respeito. Esse campeão da liberdade cristã chegou a dizer, de fato, que observar tais práticas era uma parte auxiliar, se não necessária, de seu ministério! Sempre que possível, ele cumpria com os costumes e tradições da comunidade na qual ministrava (1Co 9.19-23). Tais tradições, que não trazem em si nem o bem nem o mal, são perfeitamente permissíveis e até mesmo auxiliares no testemunho cristão.

Não é que eu queira ser negativo, Mas é um pouco perturbador ver cristãos bem intencionados criar problemas onde não existe nenhum. Eles fazem o Cristianismo parecer um sistema legalista de “não toques!” (Cl 2.21). O resultado de tudo isso é um abandono em massa de pessoas que não suportam essa postura radicalista assumida pela igreja. E o que me deixa mais impressionado é que esses reformados de “esquerda”, que baseiam sua posição dizendo que A festa Natalina não tem origem bíblica e que fere o princípio regulador do culto, são os mesmos que comemoram o Reveillon. O que eles não sabem é que o Reveillon é uma festa de origem pagã como o Natal. A comemoração teve origem num decreto do governador romano Júlio César, que fixou o 1 de janeiro como o Dia do Ano-Novo em 46 a.C. Os romanos dedicavam esse dia a Jano, o deus dos portões. O mês de Janeiro, deriva do nome de Jano, que tinha duas faces - uma voltada para frente e a outra para trás.

Os reformados de esquerda critica os cristãos que comemoram o Natal, mas eles caem no mesmo erro quando comemoram e dão importância ao Reveillon. Quando eles tem o ritual de comprar roupas novas, fazer comidas tradicionais da festa, solta fogos e desejam boa sorte para o ano seguinte. Será que isso não é uma forma de comemoração? A Isso podemos chama de “incoerência dos que são coerentes”.

Algumas razões para celebrarmos o natal

Cremos que o Natal proporciona aos crentes uma grande oportunidade para exaltar Jesus Cristo. A temporada de Natal nos lembra das grandes verdades da Encarnação, Recorda as verdades importantes sobre Cristo e o evangelho. O Natal também pode ser um tempo para adoração reverente. As pessoas tendem a serem mais abertas ao evangelho durante as festividades de Natal. Devemos aproveitar desta abertura para testemunhar a eles da graça salvadora de Deus - O Natal é pedagógico. Nossos olhos precisam estar abertos e nossos ouvidos atentos ao que Deus quer nos ensinar através do nascimento, vida e morte de Jesus.

“...O Natal não é uma espécie de mito, mas um evento na história, um evento que tem ramificações incríveis para o futuro... O nascimento de Cristo foi um acontecimento histórico real. Foi um evento com uma mensagem que tem raízes no passado, relevantes no presente e é vital para o nosso futuro” (M.Lloyd Jones).

Agora que escrevi tudo isso, tomarei em paz o meu vinho e comerei o meu peru de Natal.

FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO.



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miguel silva

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Que Dizer da Árvore de Natal?



Árvores verdes eram freqüentemente usadas nos antigos festivais religiosos egípcios e romanos, mas a árvore de Natal é uma tradição relativamente recente. Somente após o século XVI a prática se tornou comum. Um antigo drama medieval, que ocorria na preparação para o Natal, descrevia um pinheiro coberto com maças numa história, concluindo com a promessa do retorno de Cristo.

É creditada a Martinho Lutero a primeira árvore iluminada. A tradição diz que ele tinha visto estrelas brilhantes cintilando através dos ramos de um pinheiro, numa certa noite, quando voltava para casa. Ele cortou uma pequena árvore e colocou velas acessas em seus ramos para imitar o pinheiro que havia visto. Isto se tornou um ornamento permanente em suas celebrações de Natal.Conseqüentemente, a prática penetrou lentamente nas celebrações de outros, e hoje, certamente, é uma sólida tradição.

por :Fred G. Zaspel